Assassin's Creed: Colony

Persona non grata


Itália, Cidade de Roma, ano de 1503.

Uma vez iniciado seu caminho dentro da Ordem, Ettore Sparviero trabalhou furiosamente em prol dos Assassinos.

A luta prosseguia.

Niccolò Machiavelli e Ezio Auditore, reunidos com os líderes das facções aliadas ao Credo, tinham chegado à conclusão de que, para vencer aquela guerra, seria necessário agir estrategicamente. Sua missão consistia em desgastar o poder Templário nas mãos dos Borgia pacientemente, derrubando os aliados de Cesare e Rodrigo, principalmente do primeiro, privando-o de suprimentos e de suas fontes de apoio político, financeiro e militar.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Foi justamente o que passaram a fazer.

Por meio de Egídio Troche, um senador romano frequentador do Rosa in Fiore e que devia dinheiro ao tesoureiro de Cesare, conseguiram confirmar a identidade do banqueiro do Duque Templário: Juan Borgia. Tratava-se de um cardeal corrupto, dado a excessos carnais, como a gula, bebedeira e fornicação. Ajudado por Egídio e pelas garotas que trabalhavam para Claudia, Ezio se infiltrara em uma comemoração noturna organizada pelo cardeal que, surpreendido pelo lendário Mestre Assassino, tombara a seus pés, vítima de sua lâmina implacável.

Aquela primeira vitória era significativa, ainda que pequena.

Ezio trabalhava duramente para consolidar as forças da Irmandade em toda a Roma. Com a ajuda dos Ladrões da Guilda, a pedido de La Volpe, comandou a reforma do La Volpe Addormentata, transformando-a em uma estalagem funcional que, além de gerar lucros, serviria como fachada convincente para a base de operações da Guilda de Gilberto.

Investiu também no Rosa in Fiore, incumbindo Claudia de renovar totalmente o estabelecimento e dar-lhe nova e melhorada aparência. E ainda, a pedido de Bartolomeo, colaborou na melhoria da Caserma Di Alviano, trabalhando nas defesas da cidadela e ampliando os alojamentos dos soldados. Realizaram com sucesso essa renovação graças ao projeto requisitado por Bartolomeo a Michelangelo*(1), um notável florentino que era, ao mesmo tempo e com igual genialidade em todas essas áreas, arquiteto, escultor, pintor e poeta.

Embora jamais admitisse, Leonardo Da Vinci*(2), estimado amigo de Ezio, tinha certo ciúme de Michelangelo. Simplesmente hilário.

Aqui é também importante frisar que o primeiro encontro entre Leonardo e Ettore não foi exatamente o que se pode classificar como amistoso.

O aprendiz tinha acabado de retornar ao esconderijo depois de uma missão bem sucedida no distrito romano de Trastevere.

Estava ansioso para se reportar ao Mentor, narrar seu êxito e deixá-lo orgulhoso. Moveu-se pelos corredores e salões da grande base Assassina, orientado pelo som da voz do Mestre. Percebeu que Ezio parecia mais alegre do que o habitual, rindo alto e conversando animadamente com alguém.

Antes mesmo de se deparar com Leonardo, Ettore já implicava com ele. Cheio de ciúmes filial, perguntava-se quem seria aquele, capaz de conquistar tamanho apreço do Mestre Assassino.

Sua imaturidade juvenil às vezes o fazia parecer uma criança geniosa enciumada do pai, desejosa de atenção. Aproximou-se evitando fazer ruído, parou por um momento e inspirou fundo. Deixou a cabeça descoberta ao jogar o capuz do traje de aprendiz para trás e, como se tivesse ensaiado, surgiu espontaneamente no campo de visão da dupla, que se encontrava no meio de uma conversa sobre amenidades.

— Com licença, Mentor. Ah, minhas desculpas. Não sabia que tinha um visitante. — mentiu — Queria apenas relatar o cumprimento da missão que me confiou.

Nessun problema*(3), meu amigo. Entre, por favor, entre! Quero apresentá-lo a uma pessoa muito querida.

O pupilo Assassino lançou um olhar avaliativo para o homem que ocupava uma cadeira ao lado de seu Mentor. Aparentemente estava se sentindo em casa, pois segurava uma taça de vinho e tinha as pernas cruzadas elegantemente quando Ettore chegou. Assim que Ezio declarou pretender fazer as devidas apresentações, o desconhecido rapidamente tratou de deixar a taça de lado e se colocar de pé polidamente.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Sendo alguns anos mais velho que Ezio, ostentava no olhar o brilho de um espírito ainda jovem e decidido, embora a castanha barba cheia, bem cuidada e permeada de fios brancos envelhecesse um pouco os contornos seu rosto jovial e delicado. Tinha cabelos castanho-escuros consideravelmente longos, olhos muito azuis e inteligentes. Possuía aproximadamente a mesma estatura de Ezio, era atlético, dotado de uma postura altiva, quase aristocrática. Tratava-se de um homem bonito e que se vestia elegantemente; usava uma boina escarlate e trazia sobre os ombros uma capa bordada da mesma cor.

— Leo, este é o jovem sobre quem mencionei mais cedo. Ettore Sparviero, o discípulo mais dedicado de nosso Credo atualmente.

Onoratissimo* (4), messere Sparviero. — disse o visitante ao inclinar-se garbosamente em uma pequena e cortês reverência — Seu mestre me falou muito bem de você.

O aprendiz o cumprimentou com um aceno de cabeça e um sorriso tão mínimo quanto breve.

Voltando-se para seu jovem recruta, sem esconder sua satisfação Ezio anunciou:

— Ettore, este é meu grande amigo e importante colaborador de nossa Ordem, Leonardo Da Vinci.

A expressão de Ettore mudou instantaneamente ao ouvir isso.

— Da Vinci? — repetiu arregalando os olhos e comprimindo os lábios, recuando instintivamente um passo antes de levar perigosamente a mão ao cabo da espada — Não é esse o homem encarregado de estudar a Maçã e revelar seus segredos aos Borgia? Que inventa armas poderosas e desenvolve máquinas de guerra para o inimigo, deixando-nos em alarmante desvantagem? Como pode permitir que alguém tão vil profane a santidade deste teto e tome vinho em sua companhia, Mentor? Só posso concluir que ele usou os poderes da Maçã para confundir sua mente. Maestro, afaste-se. Vou derrubar este traidor com minha própria lâmina.

Leonardo parecia muito mais envergonhado do que amedrontado.

Ser* (5) Ettore, eu sei que está aborrecido. — balbuciou encabulado, o rosto afogueado, olhos baixos, as mãos se retorcendo embaraçosamente como um menino apanhado no meio de uma travessura — Já esperava ser persona non grata*(6) aqui entre vocês. Mas se puder me deixar explicar...

— Não será necessário, Leonardo. — interrompeu Ezio, erguendo a mão ao interpor-se entre o amigo e o discípulo.

Seu rosto assumiu uma expressão severa quando direcionou um olhar faiscante para o estimado aprendiz:

— Ettore! Parece que é você que não está em seu perfetto*(7) juízo. Eu elogiava seu comportamento ainda agora, e você me constrange assim na presença do meu amigo? Onde estão os seus modos? Faça o favor de se retratar imediatamente.

— Ezio, não há necessidade. Eu compreendo a irritação do jovem. Não me ofendi... — começou Da Vinci, conciliador.

Porém, sem olhá-lo, novamente o Mestre Assassino ergueu a mão para silenciar gentilmente o amigo, enquanto seus olhos negros continuavam indignados e fixos no aluno. Exatamente como um pai corrigindo seu caçula em público.

— Estou esperando seu pedido de desculpas a ele, Ettore. Andiamo*(8)!

O recruta afastou as mãos da espada na bainha e encolheu os ombros, ainda tentando se justificar:

— Mas... mas... Mentor, ele se aliou a nossos inimigos...

— Por meio de coação, Ettore! Cesare obrigou Leonardo a trabalhar para ele, estudando a Maçã e desenvolvendo armas, porque ameaçaram matá-lo caso se recusasse. Por nossa sorte, Leonardo incluiu de propósito alguns defeitos em seus projetos de máquinas de guerra e fingiu-se menos inteligente do que é quando estudou o artefato. Se ele tivesse empregado toda a sua genialidade, não teríamos mais nenhuma chance de vencer os Borgia. Sabe o que ele fez ao invés disso? Utilizou os poderes da Peça do Éden para me encontrar. Se descobrirem que Leonardo veio até mim, ele é um homem morto. Meu amigo está arriscando a vida para se explicar e propor nos ajudar. E você o insultou.

— Tive minhas razões. — retrucou Ettore, na defensiva, ainda resistindo em dar o braço a torcer.

— Todas elas equivocadas, tenho certeza. — devolveu Ezio, exasperado. — Precisa melhorar sua maneira de pensar, Ettore. Seu hábito de fazer julgamentos instantâneos ainda pode custar a vida de alguém. Seja humilde e tome isso como lição. Leonardo não é inimigo. Pelo contrário. Você nem faz ideia de quantas vezes os inventos desse homem ajudaram nossa Ordem, salvaram minha vida. Se Leonardo não tivesse me oferecido tamanho auxílio nos tempos difíceis, seu mentor não estaria aqui, vivo. E se eu não vivesse até os dias de hoje, é provável que você também não, Ettore. Machiavelli inicialmente não aprovava minha ideia de recrutar noviços entre os cidadãos injustiçados de Roma, o que significa que dificilmente interferiria caso visse os guardas estripando você em praça pública. Ao salvar minha vida, indiretamente Leo também estava preservando a sua, garoto. O mínimo que ele merece é o seu respeito.

O recruta abaixou a cabeça e fez silêncio por um momento, refletindo.

— E se ele contar a alguém a localização de nosso esconderijo, mesmo acidentalmente? — questionou então o teimoso pupilo num fio de voz, sem olhar diretamente para os dois homens diante de si.

— Eu não farei isso. — assegurou Da Vinci, sincero.

— Mas e se ele contar? — insistiu Ettore, ignorando propositalmente o visitante e olhando altivamente para o Mestre, em desafio.

— Não acontecerá. Se chegar a acontecer... — a voz de Ezio era firme, e ele não olhou para o velho amigo quando afirmou em seguida — Eu mesmo matarei Leonardo. Com minhas próprias mãos. Ele está bem ciente disso.

Ettore olhou de Ezio para Leonardo, que estava de pé, pouco atrás do Mentor.

O artista não parecia preocupado ou intimidado. Na verdade, mostrava-se descontraído e cordial. Empunhava outra vez a taça de vinho pela metade, a qual ergueu em direção ao aprendiz Assassino em um brinde silencioso, meneando a cabeça de forma bem humorada. Logo em seguida, levou a taça até a boca para tomar mais um gole e, assim, esconder um sorriso discreto.

Aquela, pensou Ettore, era a postura de um homem sensato o bastante para nunca despertar a ira de alguém como Ezio Auditore.

O jovem considerou que aquele poderia ser um bom exemplo a ser seguido. Ele também não gostaria de provocar desnecessariamente a fúria do Mentor. Ademais, a última resposta do Mestre Assassino em relação à possibilidade de deslize do amigo satisfizera plenamente o discípulo enciumado.

Finalmente dando-se por vencido, ele tombou a cabeça, ruborizado de vergonha e disse, mal conseguindo olhar para o homem que caluniara:

Perdonatemi*(9), messere Da Vinci.

— Va bene, ragazzo.*(10) Ficou no passado. — sorriu Leo, amigável.

As feições de Ezio se abrandaram e seu olhar ia de um amigo a outro enquanto esboçava um sorriso aprovador.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Mas espero que compreenda minha indignação. — reiterou o jovem, mal humorado — Aquelas armas de fecho de roda que você criou para os soldados dos Borgia... Têm precisão, alcance e potência diabólicos! Os telhados e as ruas de Roma estão infestados de atiradores portando aquela coisa, e em mais de uma ocasião escapei por muito pouco de ter minha cabeça arrebentada por seus tiros.

Sí! Ma certo!*(11) — apressou-se o artista em dizer — Claro que compreendo. E lamento todos os transtornos que meus inventos causaram, tanto a você quanto à Ordem. Como Ezio explicou, eu tive que dar algo aos Borgia se quisesse permanecer vivo. Morto eu não teria utilidade a ninguém. Mas te dou a minha palavra, Ettore: vou me redimir por esse erro, e recompensá-los apropriadamente o quanto antes.

Assentindo, o recruta aproveitou o momento para informar o Mentor sobre os detalhes da missão e depois solicitou licença para se retirar, sendo surpreendido pela recusa de Ezio. Sem entender, olhou para Da Vinci, pedindo silenciosamente uma orientação.

— Eu não estava brincando quando afirmei que pretendo me retratar com vocês. Com “o quanto antes” eu quis dizer literalmente “”, “agora”.

Perplexo e cada vez entendendo menos, o rapaz voltou seu olhar para o Mestre, que explicou pacientemente:

— Leonardo está aqui por sua causa, Ettore. Por causa de você e sua família. Contei-lhe sobre o que houve à Giuliana, e ele se propôs a vir até aqui ajudar. Além de cientista, matemático, inventor, astrônomo, engenheiro, geólogo, anatomista, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico, Leo também é um pintor de extrema genialidade.

— Não acredite em tudo o que Ezio diz. — corou Da Vinci com um sorriso modesto — Ele gosta de me superestimar.

— Estou falando apenas a verdade. — garantiu Ezio, e continuou — Com suas habilidades, Leo nos ajudará a encontrar Giuliana. Você lhe descreverá sua irmã do modo mais preciso que conseguir, e ele fará uma pintura, algo que ele chama de retrato falado*(12). A partir desse retrato, faremos cópias e espalharemos por nossas guildas em todas as cidades, ampliando assim o alcance de nossa busca.

— Faria isso por mim? — sussurrou Ettore com a voz embargada ao mirar os olhos azuis do artista.

— Sem sombra de dúvidas. Alegra-me saber que, a despeito das tentativas dos atiradores Borgia, sua cabeça continua no lugar, pois só desse modo serei capaz de conhecer as feições de Giuliana através de seus olhos, Ettore. — gracejou Da Vinci, a fim de desanuviar definitivamente a atmosfera de desconfiança e animosidade que se formara ali desde o princípio da conversa — Mas me fale de sua irmã, meu jovem amigo. Ela se parece com você?

Depois de pensar um pouco sobre a pergunta, puxando uma cadeira para perto de Leo, Ettore respondeu:

— Os olhos dela são iguais aos meus. Talvez o nariz também. Ela puxou mais ao meu pai, sabe? Já eu vim ao mundo com semblante parecido com o de minha mãe. Enfim, Giuliana tem por volta de dezoito anos hoje. Possui uma pinta de nascença no queixo, e os cabelos são lisos e compridos, levemente ondulados. Os fios são dourados como o meu cabelo, embora o dela seja de tonalidade um pouco mais escura...

E Ettore passou a próxima hora descrevendo todos os pormenores físicos que conseguia se lembrar da irmã.

Leonardo Da Vinci não o interrompeu uma vez sequer. Permaneceu o tempo todo prestando atenção na descrição, como se bebesse as palavras do rapaz. Às vezes tombava a cabeça para o lado, a fim de escutar melhor e encorajar Ettore a continuar falando. Alisava pensativamente a barba bem cuidada enquanto ouvia. Tomou alguns goles de vinho durante a narrativa, sem nunca desviar os olhos de seu interlocutor.

Molto bene*(13). — exclamou depois de algum tempo, ao perceber que o rapaz já não tinha muito mais a acrescentar — Acho que terminamos. Agora o resto é comigo. Passei muito tempo fora, preciso voltar antes que os homens dos Borgia estranhem minha ausência prolongada. Com todos os detalhes que me deu, irei trabalhar na pintura em meu ateliê e logo mando notícias.

— Você não vai anotar nada do que eu disse? — quis saber Ettore, estupefato.

— Está tudo devidamente anotado. — respondeu Da Vinci sorridente, tocando a própria fronte com o indicador ilustrativamente — Bem aqui.

Diante do olhar de incredulidade do discípulo, Ezio resolveu intervir:

— Ettore, vamos dar um voto de confiança ao Leo, sí*(14)? Se ele diz que é capaz de se lembrar de tudo o que você lhe contou, é porque ele de fato é.

O jovem Sparviero concordou com um gesto de cabeça.

— Agradeço muito por sua atitude, signore*(15) Da Vinci. Se não precisam mais de mim, pretendo me retirar agora.

— Suba até o telhado e verifique o pombal, por favor. Talvez haja mensagem nova de nossos aliados. — solicitou Ezio.

— Certamente. Mentor, maestro Leonardo, scusatemi*(16).

Ezio e Da Vinci acenaram com a cabeça educadamente e o rapaz os deixou.

O artista então, quando teve certeza de que Ettore já não podia mais ouvi-lo, voltou-se para o amigo, comentando com empolgação:

Ma quanto bello é questo ragazzo!*(17) — e suspirou ao completar, os olhos brilhando sonhadoramente — Ah, se Salai e eu não fôssemos tão próximos...

— Nem pense nisso, Leonardo. — advertiu Ezio com uma risadinha — Ettore Sparviero o mataria agora mesmo, sem piscar, se ao menos imaginasse o que está se passando em sua cabeça neste momento.

O artista pareceu um pouco decepcionado.

Suspirando, conformado, disse:

— Uma lástima. Ele tem olhos verdadeiramente impressionantes. Luxuriantes, eu diria. E seu aspecto lembra o de um anjo... — e então uma ideia repentina iluminou seu rosto.

Voltando-se para o Mestre Assassino, perguntou:

— E se eu convidasse Ettore para ser meu modelo, Ezio? Você acha que ele aceitaria posar para mim?

O Assassino pensou por um instante.

— Bem, creio que desde que você permita que Ettore permaneça vestido enquanto você pinta seu retrato, talvez ele concorde em aparecer em seu estúdio qualquer hora dessas, Leo.

Ambos riram.

— Venha, velho amigo. — chamou Ezio — Eu o acompanho até a porta.

***

Poucos dias se passaram desde o primeiro encontro de Ettore com Leonardo Da Vinci.

O rapaz viu Ezio feliz da vida com uma encomenda que recebera do amigo. Reuniu os irmãos para lhes mostrar as novidades providenciadas pelo inventor.

Entre os novos equipamentos havia: uma lâmina oculta dupla, com a qual seria possível realizar com eficácia dois assassinatos ao mesmo tempo, uma pequena pistola retrátil que podia ser atarraxada ao bracelete, uma lâmina envenenada, uma braçadeira metálica para o antebraço esquerdo, uma luva de couro extremamente aderente, que permitia agilidade na escalada em praticamente qualquer tipo de superfície, e uma besta que, embora pequena, se mostrava poderosa e resistente, acompanhada por seis dardos envenenados reutilizáveis e de efeito quase instantâneo.

Após as demonstrações, quando todos já se afastavam, Ezio pediu que Ettore aguardasse um pouco.

Uma vez a sós, Ezio retirou também do baú um papel enrolado em forma de canudo, preso com um laço, como se fosse um projeto arquitetônico.

— Leo concluiu o retrato falado de sua irmã. — falou, estendendo o papel para o aprendiz — Ele quer saber sua opinião, porque apenas você pode dizer se isto retrata Giuliana de forma fidedigna. Estou apenas aguardando sua aprovação para que façamos as cópias e as enviemos a todos os nossos associados, estejam perto ou longe daqui.

Meio cético, Ettore virou-se, rompeu o laço e passou a desenrolar a pintura. Assim que visualizou a imagem, parou estático, permanecendo em silêncio perturbador.

— E então? — perguntou Ezio, ansioso. Respeitara o espaço do amigo; da posição em que se encontrava, não era capaz de enxergar o desenho e, mesmo se fosse, de nada adiantaria, já que nunca vira Giuliana Sparviero na vida.

Os lábios de Ettore se moviam na tentativa de formular uma resposta, mas não emitiam som. Estava chocado demais para conseguir articular alguma palavra. O papel tremia em suas mãos. Seus olhos verdes estavam arregalados.

Em cores e traços vivos e estupendos, sua bela irmã, reproduzida com perfeição ali, parecia olhá-lo de volta de dentro do papel, o olhar doce e meigo de sempre e um leve sorriso nos lábios macios. Quem visse aquela pintura jamais acreditaria que Leonardo Da Vinci nunca antes encontrara pessoalmente a moça retratada. Era impossível crer que aquela garota não fora pacientemente sua modelo por horas a fio.

— É ela! — finalmente Ettore ouviu-se dizendo com a voz trêmula e embargada de emoção — Simplesmente perfeito! Mestre Leonardo é um homem tocado pela mão de Deus!

E então, quando a onda de sentimentos que o assaltava tornou-se impossível de controlar, lágrimas quentes formigaram-lhe os olhos antes de rolarem livremente por seu rosto jovem. Com algum esforço, disse:

— É a minha irmãzinha que vejo neste papel, Mentor. Faz tempo que a levaram e eu... Sinto tanto a falta dela...

Ezio tomou delicadamente a pintura em suas mãos, colocou de lado, aproximou-se e abraçou fraternalmente seu discípulo.

— Nós vamos encontrá-la, meu amigo. — encorajou, partilhando sua tristeza — Ainda vamos encontrar Giuliana.