Caça ao Tesouro

Caça ao Tesouro


POV Bella

A planilha a minha frente me deixava orgulhosa, cores e ordem deixavam tudo fácil de interpretação. Me dei por satisfeita e guardei as coisas da mesa em minha bolsa, grande, preta e elegante.

Levantei da mesa, ajeitando a saia lápis preta no corpo e colocando a bolsa no ombro, saindo em seguida do escritório vazio.

Do lado de fora, os carros passavam com rapidez pela rua, assim como as pessoas na calçada, sem prestar atenção no mundo ao redor.

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Atravessei a rua com pressa, querendo olhar uma loja de sapatos. Foi quando eu o vi.

Cabelo acobreado, curto e completamente bagunçado. Ele vestia suas roupas usuais, camiseta preta, coturnos, calça justa e a corrente de identificação.

Mas ele não estava sozinho. Haviam duas crianças com ele. A garota tinha cabelos longos e negros, completamente cacheados. Já o garoto, aparentemente mais novo, tinha o mesmo tom de cabelo, mas seus cachos eram mais largos, tão bagunçados quanto os de Edward. As crianças poderiam não parecer com ele, mas os olhos de esmeralda denunciavam o parentesco. Edward sorria largo para as crianças, o garoto no colo e a menina segurando sua mão.

Fui me aproximando hipnotizada por Edward com as crianças, as pessoas ao redor haviam sumido.

Então ela chegou e se aproximou deles, pegando a garota no colo. Os cabelos da mulher eram negros e cacheados, como os da garota e os olhos de Edward brilharam ao vê-la, beijando-a em seguida.

Era a família dele e eu não fazia parte, ele havia seguido em frente, ele não precisava de mim.

Assustada com a imagem à minha frente corri para atravessar a rua, sem olhar para os lados, apenas querendo me afastar dali.

Só percebi o erro quando o carro me atingiu.

***

Acordei com o coração acelerado pelo sonho perturbador, levando algum tempo para perceber que aquilo não era real. Eu tinha muitos sonhos como esse no começo de nosso namoro, dele seguindo em frente e de mim voltando para meu antigo emprego, como psicóloga organizacional e as vezes fazendo serviços administrativos.

Mas fazia algum tempo desde que eu havia tido um pesadelo com aquilo de novo, sobre perder Edward e sobre não acordar para a vida.

Graças aos céus aquilo não era uma realidade, por causa de uma noite e um conselho de um estranho, não tão estranho assim hoje em dia, eu havia colocado minha vida nos eixos novamente.

Um emprego que eu amava, em um hospital psiquiátrico, um apartamento espaçoso com minhas melhores amigas e um namorado incrível, que me amava e se preocupava comigo.

A vida que eu levava antes parecia nunca ter existido diante da vida incrível que eu levava agora.

Pensando nisso levantei animada, ainda mais feliz por lembrar do dia de hoje. Páscoa.

Eu não era exatamente uma pessoa que frequentava a igreja, mas me considerava uma pessoa cristã e fazia minhas orações com certa frequência. E eu amava todos os feriados ligados com a religião, como o Dia de Ação de Graças, o Natal e a Páscoa. Eu não me importava se as datas eram exatamente aquelas, mas amava o significado através delas.

Acreditava que eram momentos propícios para agradecer pelos pequenos detalhes da vida e curtir o momento com aqueles que amamos.

Era uma pena que Esme, Carlisle, Renée e Charlie não haviam conseguido vir passar a data com a gente. Mas eu me esforçaria para fazer aquela data especial, com um almoço feito com carinho e chocolates para todos.

Passei pela sala, procurando meu celular e estranhei a falta de Riley ali. Riley e Bree haviam vindo passar o feriado com a gente, mas Emmett implicou tanto, que Riley estava dormindo no nosso sofá, enquanto Bree dormia no apartamento dos garotos.

Entrei na cozinha, peguei um iogurte, uma dúzia de morangos e fiz daquilo meu café da manhã, pensando no que eu precisava comprar para fazer o almoço.

— Bom dia, Bella Bee – disse Riley entrando na cozinha. O cabelo molhado entregava o banho recente.

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— Bom dia, Riley. Servido? – perguntei estendendo o pote de iogurte.

— Já tomei café – falou rindo. – Eu deveria esperar você comer, mas eu sou ansioso demais e não sei guardar segredos. Então aqui está – disse me entregando um envelope branco.

— O que é isso? – perguntei arqueando as sobrancelhas.

— Abra e veja – respondeu piscando.

Peguei o envelope em mãos, delicado. Meu nome estava escrito com uma letra bonita, cursiva, que eu logo identifiquei ser de Edward.

Querida, Bella.

Eu sei o quanto você gosta da Páscoa, desde a nossa adolescência você era o tipo de pessoa que comprava chocolates para todos aqueles que gostava. Seus olhos sempre brilhavam ao falar da data e isso é algo que não mudou através dos anos.

Então, hoje eu quero te dar mais um motivo para amar a Páscoa.

Eu espalhei algumas dicas aqui pela Califórnia, você deve seguir cada passo e ao final das dicas, terá uma surpresa.

Boa sorte na sua caça ao tesouro.

Com amor,

Seu Edward.

P.S.: A primeira dica está com o Riley.

Assim que terminei de ler, sorri sozinha para o papel. Eu era uma maldita garota sortuda por ter Edward, com seu dom natural para me fazer suspirar mesmo distante.

— Vamos Riley, me dê a pista – pedi o cutucando.

— Qual a palavra mágica? – perguntou se fazendo de difícil.

— Quanto mais rápido eu achar minha surpresa, mais rápido eu volto e faço lasanha – respondi batendo os cílios.

— Tá aqui – riu me entregando um envelope menor.

— Obrigada – agradeci dando um beijo estalado.

As vezes não ouvimos os conselhos daquelas pessoas que convivem com a gente diariamente, que nos apoiam e nos conhecem. Então tudo o que precisamos é de um desconhecido que abra os nossos olhos.

Riley é isso, o conselheiro improvável em uma balada. O ponta pé inicial. Então achei justo que ele fosse o início dessa jornada.

A próxima dica está no primeiro lugar onde você pisou na Califórnia, vá até lá e ligue para o Riley, ele te dirá o que fazer. Mas não tente burlar as regras mocinha, só ligue para o Riley quando estiver no local certo.

Amo você, Edward.

Assim que terminei de ler o bilhete, olhei ao redor do cômodo e não encontrei Riley. Chamei e procurei pelos outros cômodos da casa e nada. Merda, Edward sabia que eu tentaria trapacear.

Corri para o banheiro, pensando na surpresa e tentando refazer o caminho que fiz assim que cheguei na Califórnia. Bem, o primeiro lugar era com certeza o apartamento.

Troquei de roupa e coloquei uma roupa de meia estação, imaginando que a busca me levaria para fora de casa. Uma saia xadrez curta, meia-calça preta, uma camiseta branca de mangas cumpridas, um cardigã longo, que ia dois centímetros abaixo da saia e botinhas pretas.

Depois de vestida vasculhei cada cantinho do apartamento, desde o quarto das meninas, até a cozinha, o banheiro e o hall de entrada do prédio. A pista não estava em lugar algum, então me obriguei a pensar novamente no meu caminho até o apartamento.

Antes de chegar eu estava dentro de um táxi, mas era improvável que Edward tivesse colocado a pista em um táxi qualquer. E antes do táxi havia o aeroporto. Merda, por que eu não pensei nisso antes?

Peguei o meu carro e dirigi no limite da velocidade permitida até o aeroporto, eu estava realmente ansiosa, eu não era muito fã de surpresas, mas se era algo vindo de Edward eu ficava realmente animada.

Assim que desci do carro e entrei no aeroporto, liguei para Riley.

— Você fugiu de mim – acusei.

— Eu sabia que você tentaria trapacear, garota – respondeu rindo alto.

— Estou no aeroporto, traidor – falei rindo também.

— Vá até o balcão de informações e procure por Heidi, ela te dará a próxima dica – instruiu Riley.

— Obrigada, Riley – agradeci desligando o telefone.

No balcão de informações havia apenas uma garota ruiva, cabelos presos em um coque alto, batom nude e bastante rímel.

— Em que posso ajuda-la? – perguntou assim que me apresentei.

— Oi, eu me chamo Bella. Meu namorado deixou algo para mim aqui com uma moça chamada Heidi – falei.

— Oh, você não está com muita sorte. Alguns funcionários faltaram e Heidi precisou ficar no guichê de check-in. Não posso te deixar falar com ela diretamente, você vai precisar pegar uma senha – disse a ruiva com um ar de pesar no rosto, como se estivesse se desculpando.

— E como vou saber se vou falar com ela?

— Vai ter que contar com a sorte – respondeu com a mesma expressão.

— Bem, obrigada pela ajuda – falei com os ombros encolhidos.

Andei até o lugar de pegar a senha e sentei para esperar a minha vez, com os dedos cruzados para que eu conseguisse falar com Heidi rápido. A primeira tentativa foi em vão, me levando para um homem qualquer, que não me deixou falar com Heidi. A segunda foi exatamente igual a primeira, e na terceira eu já queria desistir, parecia que não era meu dia de sorte.

Na quarta ficha, finalmente consegui falar com Heidi. A garota era branca, cabelos loiros também presos em um coque, brincos pequenos que combinavam com seu uniforme e um sorriso contido no rosto, ela parecia uma modelo russa.

— Heidi? – perguntei.

— Eu mesma, em que posso ajuda-la? – perguntou ainda sorrindo.

— Meu namorado deixou algo com você – contei.

— Ah, você é a garota sortuda – disse abrindo ainda mais o sorriso. – Seus olhos brilhavam quando me entregou o bilhete, você tem sorte em tê-lo.

— Eu realmente tenho – concordei com um sorriso largo.

— Bem, aqui está o bilhete, acho que você ficou tempo demais aqui – falou me entregando um pequeno envelope creme. – Boa sorte, garota.

Agradeci e me afastei do guichê, dando espaço para alguém que fosse realmente fazer o checkin. Olhei o relógio e vi que eu já havia passado três horas no aeroporto e já era hora do almoço, então decidi ir para uma lanchonete dentro do aeroporto e ler o bilhete de lá.

Assim que pedi meu lanche e sentei em uma das mesinhas do lugar, peguei meu celular e mandei uma mensagem para os meus amigos, pedindo desculpas por desmarcar o almoço e contando sobre a caça ao tesouro de Edward.

Resolvi comer antes de ler o conteúdo do bilhete, então peguei meu lanche e comecei a observar as pessoas ao meu redor. Havia um casal de idosos abraçados, três crianças, que eu imaginei serem seus netos, a frente deles, conversando e brincando.

Olhei também para um trio de garotas, uma loira, uma morena de cabelos bem cacheados e a terceira com um corte Chanel. Elas vestiam moletons dos Buccaneers, um time de futebol americano, e riam de algo, mexendo umas com as outras à medida que se moviam. Elas me lembravam meu próprio trio de amigas, o que me fez sorrir com a familiaridade.

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Ao lado delas havia um casal de adolescentes, que pareciam estar brigados, a garota de braços cruzados e biquinho denunciava isso. Então o garoto falou algo no ouvido dela e ela voltou a sair, roubando uma batata do prato dele.

O casal me lembrou de Edward e eu adolescentes, antes de toda a besteira que eu fiz. O amor puro, as risadinhas ao pé do ouvido, um roubar comida do prato do outro, como qualquer outro casal, mas únicos a nossa maneira.

Há alguns anos eu sentiria inveja dos dois, desejaria voltar para o passado e aproveitar mais aqueles momentos. Mas o que eu tinha hoje em dia, com o mesmo homem de olhos verdes, era mil vezes melhor. Era o agora.

Peguei o bilhete em minhas mãos e finalmente comecei a ler.

Aeroportos podem nos lembrar de despedidas, de rompimentos, de partidas, de dores e saudades. Mas também pode ser sinal de recomeço, de novas chances.

Esse aeroporto representa o seu recomeço e o primeiro passo de volta para mim, acho que tenho bons motivos para gostar dele.

A próxima pista está no lugar onde esse passo te levou, vá para o lugar onde nos reencontramos.

Com amor, seu Edward.

Guardei o papel na minha bolsa com um sorriso no rosto, dessa vez sabendo exatamente onde eu deveria ir.

Jealous Pub, nosso bar favorito, onde Edward e os meninos tocavam nos fins de semana. O bar onde eu havia reencontrado Edward.

Não demorei muito para juntar minhas coisas e sair do aeroporto, jogando a bolsa no banco traseiro e ligando o som em uma música animada. Eu não esperava o trânsito que encontrei, então o caminho rápido que eu levava até o aeroporto, levou o dobro de tempo por ser páscoa, as pessoas queriam ficar perto de suas famílias.

Assim que encontrei o bar, rústico, elegante, percebi que estava fechado, então liguei novamente pra Riley, que disse não poder fazer nada e me mandou ligar para o Caius, o barman gato que me chamou pra sair na primeira vez que entrei naquele bar.

No meio tempo desde que nos conhecemos, ele arranjou uma namorada e agora estava morando com ela, depois de serem surpreendidos com uma gravidez.

Apesar de parecer um mulherengo sem solução, Caius era divertido e completamente apaixonado pela namorada.

— Caius, é a Bella – falei assim que ele atendeu a ligação.

— Oi, Bella – respondeu com um sorriso na voz. – Tudo bem?

— Estou bem sim. Eu meio com pressa, então vou falar logo. O Edward resolveu fazer uma caça ao tesouro pra mim por causa da Páscoa. E uma das dicas no Jealous Pub— contei. – Mas ele fechado, o Edward falou algo pra você?

— Falou sim, Bella. Vou aí abrir, mas achei que você apareceria mais cedo e estou na minha sogra agora - respondeu com desculpa na voz.

— Tudo bem, eu espero – respondi tentando não deixar o desânimo me atingir.

— É melhor sentar em algum lugar, a casa da minha sogra é do outro lado da cidade.

— Estou sentada – respondi com um suspiro.

Finalizei a ligação e aproveitei para entrar na lanchonete ao lado, procurando por um lugar para sentar e por uma bebida gelada. Eu tinha sorte em ter feito amizade com os donos, Garret e Kate, então eu poderia ficar por ali descansando sem incomoda-los, mesmo sendo um domingo de páscoa.

Os dois eram um dos casais mais legais que eu havia conhecido, com um espirito livre, que refletia na ânsia por viajar e praticar esportes radicais. Era doce a maneira com que ele olhava para ela nos intervalos entre atender um cliente e outro. Eu sabia que eles eram casados há pelo menos dez anos, mas a paixão continuava ali, talvez um pouco mais contida, porém ali.

Era como o relacionamento dos meus pais, constante, sincero e amoroso, mesmo depois de tantos anos. Eu sempre quis um relacionamento assim, apesar de não admitir nem para mim mesma por um tempo e quase perdi a minha chance, ao lado de Edward. Mas eu confiava no relacionamento que tínhamos, eu acreditava que meus erros haviam sido enterrados e principalmente, eu confiava no meu amor por ele e no dele por mim.

Passei tanto tempo pensando no meu relacionamento que acabei não prestando atenção no tempo ao meu redor, notando o suco, antes gelado, agora em temperatura ambiente, apenas quando senti meu celular vibrar, Caius me mandando uma mensagem avisando estar de frente para o bar.

Me despedi de Kate e Garret, mandando os dois fecharem a lanchonete e irem curtir o que deveria ser um feriado e pegando gelo para o meu suco.

O loiro vestia uma camisa social azul, de mangas curtas e uma calça escura, os cabelos que eram na altura dos ombros quando conheci, hoje estavam curtos e arrumados com gel.

— Sua sogra continuou implicando com seu cabelo? – perguntei rindo depois de dar um beijo em sua bochecha.

— Implicando é pouco – disse revirando os olhos. – Da última vez que fui lá ela me chamou de garota cinco vezes e ainda disse que se fosse para a filha namorar alguém de cabelos compridos, que pelo menos fosse uma menina de verdade.

— Sua sogra é um pé no saco – dei risada.

— Não, ela é os dois pés mesmo – concordou.

— Espero que o bebê seja um menino e que goste de deixar o cabelo grande igual você – comentei enquanto ele abria mais uma porta.

— Melhor ainda, que seja uma garota que ame cabelos curtos – disse com um brilho sonhador nos olhos.

Assim que entramos no bar, obviamente vazio, deixei o sentimento de nostalgia me abraçar.

Lembrei do medo que eu senti ao entrar no lugar, quase dois anos atrás. Da tentativa vã de me acalmar com batatas e drinks. Recordei a sensação de vê-lo de perto depois de tanto tempo, de querer toca-lo, de me arrepiar ao ouvir sua voz. O sorriso dele, branco, irônico, torto, invadiu minhas lembranças. E então eu soube exatamente onde procurar a próxima dica.

Andei pelo salão vazio, porém com as mesas montadas e caminhei até a pequena mesa que sentei aquele dia, e que era o lugar onde eu e Edward costumávamos ficar quando íamos sozinhos para o bar. Lá estava ele, o envelope creme com a cursiva letra de Edward.

Oi, Bae

Levou muito tempo para achar esse bilhete?

Assim que coloquei os olhos no Jealous, me apaixonei por esse pub. Cantar nele pela primeira vez foi além das minhas expectativas. Mas no dia em que você me reencontrou, tornou esse lugar mais especial.

Eu poderia descrever cada sentimento que passou por mim quando te vi. O medo, o desafio, a surpresa, a saudade... Mas o que realmente me dominou foi o sentimento que eu achei que havia desaparecido. Entretanto continuava lá. O amor que eu sentia por você, lá no fundo do meu peito, se reacendeu apenas em olhar para você.

Naquele dia eu só queria você, mas precisávamos conversar. Vá para o lugar de nossa primeira conversa.

Seu, Edward.

Segurei o bilhete entre os dedos e sorri, eu sentia que estava mais próxima de descobrir o que era a tal surpresa.

Eu me despedi de Caius, desejando boa sorte com a sogra e caminhei pelo caminho até a praia.

Assim que cheguei lá deixei com que meu amor pelo mar me abraçasse. A praia estava deserta e eu não fazia ideia de onde eu procuraria pela próxima pista, mas eu me deixei observar a paisagem ao meu redor por alguns momentos.

O barulho do mar, ver as ondas quebrando e observar os tons de azul me transmitiam paz. Eu não tinha isso em La Push, mas graças a Deus eu tinha minha Califórnia.

Eu sabia que em algum lugar a minha direita o píer estava lá, com suas barracas típicas e a famosa roda gigante, que eu era apaixonada. Era um dos meus lugares favoritos, depois da praia em si.

Observei o mar mais um pouco, pensando em onde procurar pelo bilhete. Afinal eram seis quilômetros de praia, apesar de esse ser o ponto onde eu e Edward nos acertamos.

Mandei uma mensagem para Edward

Me dê uma luz

— Uma moeda por seus pensamentos – disse um senhor. Ele me lembrava o meu avô, com os cabelos grisalhos, uma camisa de mangas curtas e suspensórios.

Ele tinha um sorriso suave, mesmo assim formava marcas ao redor de seus olhos cinza. O cheiro suave de colônia pós barba, o cabelo arrumado e os óculos de aros dourados davam-lhe um ar ainda maior de familiaridade. Era realmente como se eu estivesse lidando com meu próprio avô.

— Estou apenas pensando no meu namorado – contei.

— Temos uma garota apaixonada por aqui – sorriu o senhorzinho. – Eu sou Joseph, mas você pode me chamar de Joe.

— Olá, Joe. Eu sou a Bella.

— Gostaria de contar sua história para um velho intrometido?

Ponderei por alguns segundos, pensando na caça ao tesouro estagnada. Bem, ela poderia esperar um pouco, já que eu não fazia ideia de onde procurar a próxima pista. Falar não faria mal.

— Se você não ligar de ouvir uma história longa – respondi rindo.

— Não há nada mais que eu queira fazer – respondeu-me também sorrindo.

— Nós nos conhecemos quando eu era uma adolescente tentando fugir de uma cidade no interior. A única coisa na minha mente eram os estudos, até ele chegar. Os cabelos grandes, os olhos verdes, roupas escuras e o inseparável coturno. As pessoas o chamavam de perigoso, de inconstante, mas não demorou para que ele fosse constante nos meus pensamentos – comecei contando.

— Uma nerd e um badboy? – perguntou rindo.

— Quase isso. Mas ele também era um nerd, em um momento estávamos estudando juntos e no seguinte estávamos namorando. Mas eu parecia não enxergar o que estava diante dos meus olhos e me deixei levar pelos comentários maldosos das pessoas da minha antiga cidade – contei com pesar.

— Nada como uma boa cidade pequena para estragar relacionamentos – comentou.

— Sou prova disso – concordei com um pequeno sorriso. Falar disso não doía como antes, era apenas o passado agora. – Depois disso minha vida virou uma bagunça. Eu consegui entrar na faculdade que eu queria e fiz boas amigas, mas eu apenas segui a corrente, sem me importar de verdade com o que eu estava fazendo. Quando dei por mim, minha vida estava uma bagunça.

Eu respirei fundo nessa parte, lembrando dos detalhes e das decisões tomadas as pressas. Foram decisões arriscadas, mas que me levaram para o hoje e eu não poderia querer outra coisa.

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— Certa noite eu sai para dançar com as minhas amigas depois de um dia ruim. Quando cheguei lá, recebi um conselho de um desconhecido e no dia seguinte estava mudando toda minha vida – lembrei rindo. – Larguei o emprego horrível que eu estava, comprei um apartamento novo com as minhas amigas, peguei um avião e vim para a Califórnia. Parecia loucura, mas eu precisava disso. Eu encontrei Edward aqui, propositalmente, e conversamos nessa mesma praia.

— E se resolveram? – perguntou Joe.

— Sim, estamos juntos novamente há quase dois anos – contei orgulhosa. – Eu continuo morando com as minhas melhores amigas e ele com os dele, que inclusive estão namorando entre eles a quase tanto tempo quanto nós.

— Amigos que namoram amigos, parece um bom grupo – apontou ele.

— E é – concordei. – Eu amo a vida que eu tenho agora, não poderia ser melhor. Eu tenho um bom emprego, ótimos amigos e um namorado incrível. Eu amo tanto Edward e eu sei que ele sente o mesmo, é tão bom ser amado.

— Eu vejo em seus olhos, doce Bella. Eles brilham enquanto você fala de seu Edward. É o mesmo olhar que eu vejo nos olhos da minha Elizabeth – contou me, seus olhos brilhando. – E bem, acho que eu tenho algo para você.

Assim que ele falou isso, remexeu o bolso da calça alinhada, tirando um familiar envelope bege do bolso.

— Edward nunca deixa de me surpreender – comentei rindo e pegando o envelope.

— Eu costumo trazer meu cachorro para passear com frequência por aqui, seu rapaz me pediu ajuda – me confidenciou. – Ele é um bom garoto e te ama muito.

— Eu também o amo – afirmei sorrindo.

— Agora vá, abra sua pista. Esse velho vai te dar um pouco de privacidade – disse se despedindo e saindo andando.

Não demorou para Joe se afastar realmente de mim, então abri o envelope com cuidado. O coração acelerado por estar próxima da recompensa.

Eu não conhecia esse lado meu, tão fã de surpresas e de caçadas. Mas tudo isso podia ser apenas Edward, a animação por ter algo dele superando todas as aflições de não saber o que me esperava.

Confiança era o nome disso.

Eu lembro das tardes depois da aula em que você decidia estudar em La Push. Lembro da expressão relaxada em seu rosto só de ouvir o som da água. Da expressão hipnotizada que você tinha no rosto observando as ondas quebrando e do olhar sonhador quando falava de Califórnia.

Essa praia significa recomeço, perdão e novas chances. É limpeza de alma e sonhos realizados. É vida.

Então que tal uma nova perspectiva dessa vista? Dizem que olhar as coisas de cima ajuda.

Com todo amor, Edward.

P.S.: sua surpresa está bem perto.

Olhar de cima, essa também era fácil. A roda gigante do píer era o último lugar onde eu deveria ir.

Meu coração estava acelerado enquanto eu corria até meu carro, não havia chance alguma de eu andar todos esses quilômetros até o píer.

Eu não me importava de ter andado o dia todo através da cidade, pegando trânsito e filas enormes. A fome não existia. Eu só queria ver Edward, eu só queria estar com Edward.

Através do carro eu vi o dia dar os primeiros sinais do pôr do sol, me lembrando de que eu passei o dia inteiro em uma busca.

Desci do carro depois de mandar uma mensagem para Edward avisando que eu estava no píer e corri através dele, torcendo para não encontrar ninguém no caminho.

As barracas pelo trajeto não importavam, apenas a roda gigante de tirar o fôlego.

Assim que cheguei perto o suficiente, estranhei a falta de uma fila, já que era a atração mais movimentada. Apesar de não haver fila, havia um funcionário com uniforme preto com mangas vermelhas.

— Bella, eu estava esperando por você – me cumprimentou sorrindo. Eu reconhecia o rapaz das minhas visitas frequentes, mas ele saber meu nome me surpreendeu.

— Por mim? – questionei.

— Com certeza – confirmou. – Vem, sobe – falou me ajudando a subir no carrinho da roda gigante.

Eu queria perguntar de Edward, mas o rapaz não dava espaço para as minhas perguntas.

— Mantenha seu corpo para dentro do carrinho – advertiu ele. – Não olhe para este lado enquanto o carrinho estiver em movimento, mas quando ele parar lá em cima, você pode olhar.

Assim que terminou de falar o homem fechou o meu carrinho, esperou eu colocar meu cinto e fez o carrinho começar a subir, no mesmo instante que Westside do The Kooks começou a tocar bem alto.

Eu estava obcecada por aquela música desde que um cliente do pub havia pedido para Edward cantar, então eu o obriguei vez ou outra para cantar para mim. A voz de Edward era sexy, quente, profunda. Perfeita. Só de lembrar eu já sentia meu corpo arrepiar.

E a cada vez que ele cantava essa música meu coração dançava, me fazia lembrar que ele era meu melhor amigo e que eu o amava.

Eu aproveitei a música e observei o pôr do sol, as ondas quebrando no horizonte, o azul da água se misturando com o laranja do céu. Mas assim que senti o carrinho parando, não resisti por muito tempo e virei para o lado.

A visão que eu tive me deixou confusa, um amontoado de pessoas que formavam um quadrado. Poucos segundos depois as pessoas levantaram um pedaço de papel, juntas formando uma placa: Você é minha melhor amiga*.

Foi apenas o tempo de eu ler aquilo, para que todos virassem as folhas e uma nova frase aparecesse: bem, nós podemos sossegar*

Dessa vez demorou um pouco mais, para que eles trocassem as folhas por uma nova e formassem uma frase nova. Começar uma família*.

Naquela altura eu já havia entendido, meu coração acelerado com a compreensão de tudo

A frase em seguida não era um trecho da música, mas foi o suficiente para que meus olhos não aguentassem segurar as lágrimas.

Casa comigo? Foi a última frase que eu vi, quando a roda gigante começou a descer e eu deixei as lágrimas me inundarem.

Eu soltei o cinto com pressa, correndo do carrinho assim que ele parou. Do lado de fora estava Edward, um joelho no chão e o outro dobrado, a mão segurava uma caixinha vermelha.

— Sim, sim, sim! – gritei pulando em cima dele e nos derrubando no chão.

Eu sentia que as palavras não eram o suficiente, então apenas tomei os seus lábios nos meus. Queria que ele sentisse o amor, sentisse a gratidão, a devoção, o desejo. Queria que ele sentisse tudo que eu sentia transbordar do meu coração.

— Vamos, deixa eu colocar seu anel em você – pediu Edward tentando nos levantar. O sorriso dele era largo e brilhante, ele era brilhante.

Assim que ele achou o anel, que havia parado no chão depois do meu abraço de urso, colocou ele em meu dedo. O anel era lindo, delicado, mas ao mesmo tempo glamoroso, de prata e com lindas esmeraldas.

— Você gostou? – perguntou esperançoso.

— É lindo! – exclamei encantada.

— Foi da minha avó – me confidenciou. – Mas se quiser, podemos comprar um novo.

— Eu amei esse – respondi apertando o anel no peito, como se alguém fosse tomar de mim.

Os momentos seguintes foram de parabéns, minhas amigas vindo primeiro e comemorando o pedido comigo, então os seus namorados. Riley, Bree, Kawanne, Alec, alguns amigos do serviço, Caius e a namorada grávida, Joe e uma senhora que imaginei ser a sua Elizabeth e tantos desconhecidos, provavelmente pessoas que apenas estavam no parque e foram usadas por Edward.

Eu me sentia uma espécie de celebridade, mas só queria comemorar com meu agora noivo.

— Vamos dançar – pedi para ele.

— Aqui? – perguntou incrédulo.

— E você tem um lugar melhor? – retruquei sorrindo.

— TJ, repete Westside! – gritou Edward.

E como em um filme, a música voltou do começo e algumas pessoas ao nosso redor começaram a dançar.

Edward pegou a minha mão e me rodopiou pelo píer, seu sorriso largo refletindo o meu.

— Vamos sossegar – cantarolei para ele.

— Começar uma família – me devolveu ele. Eu era uma coisinha desafinada, mas ele conseguia ser sexy até brincando.

Bella, você definitivamente é uma sortuda.

— Não está brava por eu ter feito você andar o dia todo? – perguntou.

— Como eu poderia? – devolvi.

Meu coração parecia tão cheio que eu sentia como se a qualquer momento eu fosse transbordar, eu não conseguia guardar meus sentimentos para mim.

— Obrigada – falei quando o tal TJ mudou a música para uma lenta, minha testa agora encostada na de Edward.

— Pelo que?

— Pelo melhor pedido de casamento, por me perdoar sem pensar, por me fazer feliz. Por me amar – respondi.

— Obrigada você. Por voltar para mim, por me amar, por fazer meus dias melhores. Por dizer sim – devolveu.

Não havia motivos para que os pesadelos continuassem, pois eu havia acordado a tempo e mudado o destino, consertado os erros do passado. Edward teria crianças para mimar, mas seriam as nossas.

De manhã, quando comecei aquela busca, imaginei que receberia uma dúzia de chocolates e beijos. Mas eu havia ganhado muito mais com aquela caçada. Eu havia recebido uma promessa de felicidade e amor, de companheirismo. E aquilo com certeza era melhor do que meia dúzia de chocolates.

— Eu amo você – disse ele.

— E eu amo você – devolvi.

E eu amava mesmo. E continuaria amando por todas as caçadas, todas as viagens, no sossego, de frente pro mar...

E principalmente, o amaria na Califórnia.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.