Um Caminho Para O Coração

Capítulo 25 — Uma Tentativa de Encontro


Não fazia muito tempo, Emmett chegou do trabalho. Pouco mais cedo que de costume para dar tempo de descansar antes de ir à terapia. Assim que entrou em casa, Olívia fez um pedido que o levou revirar todo o escritório, que um dia pertenceu a Sarah, procurando pelos álbuns de fotografias que sua mãe, Cheryl, montou com lembranças dos primeiros anos de vida de Olívia.

O problema era que não lembrava onde ela tinha deixado. Acabou que os três participaram da busca. Rosalie até pensou em sugerir que ligasse para Cheryl perguntando, mas desistiu quando Emmett deu entender que não existia essa possibilidade.

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Foi dentro do cofre, na prateleira atrás dos livros, que os encontrou. Emmett soube no mesmo instante o porquê de eles estarem ali, o cofre era a prova de incêndios. Cheryl, em algum momento, acreditou que fosse recuperar o equilíbrio emocional, voltando a ser o homem que era antes. Se nesse meio-tempo ocorre algum novo imprevisto, as fotos estariam salvas.

— Você não sabia? — questionou Rosalie, depois de ele abrir o cofre e dar de cara com o que estavam procurando.

— Eu sabia da existência do cofre. Como nunca tive o que guardar dentro dele, não senti necessidade de abrir.

Olívia pulou na frente dele, o olhar curioso, ficando nas pontas dos pés para espiar dentro do cofre e no que tinha em mãos.

— É um tesouro? — quis saber.

Emmett tomou a mão pequena na sua, conduzindo Olívia para o sofá de dois lugares localizado junto à janela com vista para o jardim arruinado.

— E é valioso — garantiu a ela. Com os álbuns de fotografias em mãos, abriu a primeira página de um deles. O álbum do bebê, escolhido por Sarah quando descobriu que estava esperando uma menina. Para sua surpresa, estava preenchido.

Rosalie observou suspirar. Os olhos claros cintilarem com acúmulo de lágrimas. O olhar dele encontrou o seu. Ela soube exatamente o que estava pensando; estava grato por Cheryl ter registrado a primeira infância de sua filha.

A primeira foto, de Olívia recém-nascida, levou a própria criança a questionar.

— Essa sou eu, papai?

Um sorriso desenhou os lábios dele, olhando da bebê na foto, com cabelos finos e vermelhos, para a garotinha de cabelos compridos ao seu lado. Pouco havia mudado em seu rosto delicado; o pequeno nariz arrebitado, e as sardas nas maçãs do rosto pareciam iguais. Hoje, Olívia carregava uma cicatriz abaixo do queixo que o lembrava de quanto foi displicente.

— Sim. Essa é você — Ele tocou a cicatriz, e sua expressão de dor revelou a Rosalie o quanto se sentia mal por isso. Estava se esforçando para não pensar na pessoa horrível que se tornou depois da morte de Sarah.

— Eu era tão pequena assim? — a pergunta de Olívia o ajudou escapar das garras do remorso naquele momento.

— Era sim. Um tiquinho de gente.

Então foi a vez de Olívia sorrir.

Rosalie se aproximou dos dois. Olívia chegou mais perto do pai para que ela pudesse, também, se sentar junto a eles.

— Obrigada, amor — falou Rosalie, pertinho do ouvido de Olívia, que beijou seu rosto antes de voltar à atenção para as fotos no álbum. Emmett assistiu de perto o carinho que compartilhavam.

— Você me amava, papai, quando eu era desse tamanhinho? — a pergunta pegou tanto Emmett quanto Rosalie desprevenidos. Mas, a resposta que deu, fez Rosalie pensar que não podia ter sido melhor.

— Como nunca amei outra pessoa. Quando eu a vi nascer, aquele foi o momento mais precioso de todos. — Seu olhar mostrou que recordava o nascimento de Olívia, a parte que seu coração passou a bater também por ela. A sensação de ter o coração pulsando fora do peito. Se recusando lembrar o que veio depois.

— Ainda bem que a vovó guardou nosso tesouro — admitiu Olívia.

— Sim — concordou Emmett. — Temos de lembrar de agradecer a ela por isso. — eles foram mudando de página, acompanhando o crescimento de Olívia em fotografias que Sarah teria adorado fazê-las.

— Eu era tão bonitinha — sussurrou Olívia, atenta a uma de suas fotos quando menor.

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— Você ainda é tão bonita quanto quando bebê. — Rosalie fez questão de dizer.

— Rosalie tem razão — concordou Emmett. — Você continua linda. A menininha mais linda que o papai já viu.

— Eu me pareço com a mamãe.

— É idêntica a ela — Emmett afirmou.

Ao final do primeiro álbum, Rosalie percebeu que ele não estava bem. Estava lutando com as emoções. Se esforçando em frear lembranças que lhe faziam mal.

— Ollie? — tentou Rosalie. — Tudo bem se você e o papai continuarem vendo as fotos em outro momento? Acho que está na hora de ele ir para o compromisso dele.

— Ele tem de ir à terapia? — sondou a menina. — Para deixar de pensar em coisas que deixam a gente triste?

— Isso mesmo, meu amor.

— Tudo bem, então. Você pode ir, papai.

Emmett se esforçou em não demonstrar que estava sofrendo.

— Obrigado, amorzinho — agradeceu.

— Preciso ir ao banheiro — Olívia saltou do sofá, disparando até o corredor e assim desaparecendo de vista.

Levou um minuto inteiro para que um dos dois voltasse a falar.

— Se não fosse minha mãe — Emmett iniciou —, minha filha hoje não teria uma só fotografia de seus primeiros meses de vida. Dos primeiros aninhos. Não mereço seu amor.

Rosalie estendeu a mão, tocando a dele sutilmente.

— Você não estava bem. Sua mãe sabia disso, por isso fez as fotos e guardou num local seguro. Ela sabia que um dia você iria querer vê-las. Afinal, é sua mãe.

Ele apertou os olhos ao dizer as próximas palavras.

— As fotografias ficaram seguras, mas quanto a minha filha… ela estava segura? — Ele voltou olhar os álbuns repousando no colo. — O pai de Sarah tinha razão, eu não a merecia. Assim como não mereço Olívia.

— Por que está falando isso? É claro que é merecedor do amor das duas.

Emmett balançou a cabeça, negando.

— Sarah adorava vídeos caseiros. E eu fui incapaz de fazer um só vídeo mostrando o desenvolvimento de nossa filha.

— Ainda pode fazer muitos vídeos. Tanto que não terá onde armazenar. Você pode fazer isso por Sarah. Mas pode, sobretudo, fazer por você e por Olívia.

Olívia parou na porta do escritório, admirando as mãos de Rosalie nas mãos de seu pai. Com um sorriso no rosto cruzou o espaço que os separavam. Suas mãos pequenas se juntou as deles.

A realidade levou Emmett a quebrar o momento de união.

— Eu vou ter de ir agora. Rosalie vai ficar com você até eu voltar.

— Tudo bem, papai.

— Nós vamos nos divertir, não vamos Ollie?

— Sim — uma garotinha de sorriso travesso deu a resposta que Rosalie buscava.

Rosalie deixou Olívia na sala assistindo desenho animado na televisão enquanto acompanhava o pai dela até a varanda.

— Pense que ainda terão muito tempo. Anos inteiros pela frente. Momentos lindos pelos quais valha a pena ser lembrado.

Emmett moveu a cabeça, aceitando suas palavras de incentivo.

— Vamos, sorria. — Ela lhe deu um cutucão na lateral do corpo. Foi difícil, mas ele conseguiu. — Fraco — Rosalie avaliou. — Tenho certeza de que consegue fazer melhor.

Ele até tentou, mas acabou entrando em outro assunto.

— Ainda não consegui ninguém de confiança para ficar com Olívia por algumas horas enquanto saímos.

— Eu não quis falar nada antes, para não pensar que estou desesperada.

— E não está? — ele brincou. Rosalie presenciou o sorriso do qual estava falando, desenhar os lábios dele.

— Engraçadinho. Ainda não cheguei nesse ponto.

— O que não quis me falar antes, para não parecer desesperada? — ele insistiu, e parecia se divertir com o mau jeito com que reagiu à brincadeira.

— É Alice, que trabalha na escola como assistente da diretora.

— Sei quem é. Mas o que tem ela?

— Conversando com ela mais cedo, soube que vai ficar com a sobrinha amanhã à noite. Parece que os pais da menina vão estar em Raleigh, alguma coisa assim.

O modo como a olhava demonstrava não estar entendendo.

— Megan e Olívia são amigas agora, não são?

— Sim. E é muito bom que tenha uma miga de sua idade.

— Alice sugeriu deixar Ollie com elas. Podemos pegá-la na volta ou ela pode dormir por lá. Meu avô também pode ficar com ela. Mas, acho que Ollie gostaria mais de estar com Megan.

— Você confia em Alice para ficar com Olívia?

— Confio — respondeu sem hesitar.

— Então, você pode dizer a Alice que aceito o convite para Olívia brincar com Megan na casa deles.

— Isso significa que vai me lavar para jantar fora amanhã?

Ele inclinou o pescoço, com uma expressão que dizia estar se divertindo.

— Tem certeza de que não está desesperada por um encontro comigo?

— Tenho a impressão de que se continuar assim, o suposto encontro será cancelado.

Emmett ergueu as mãos, mostrando se render.

— Não está mais aqui quem falou.

— Não mesmo. — alertou Rosalie. — Porque está a caminho para a cura de suas dores emocionais. — Moveu a mão indicando que seguisse adiante. — Seu terapeuta o aguarda.

Emmett se virou para sair, lembrando-se de olhar para ela outra vez e agradecer.

— Obrigado, por não desistir.

— Nunca — afirmou Rosalie.

Emmett desceu os degraus da varanda. Olívia apareceu na porta para chamar por Rosalie. As duas entraram em casa juntas, e a porta se fechou deixando a brisa fria onde deveria ficar; do lado de fora.

Olívia estava tão encantada com o fato de terem encontrado suas fotografias que não aguentou esperar pelo pai para terminar de ver todas. Buscou os álbuns no escritório levando para sala para ver com Rosalie.

— Eu não me lembrava de ter todas essas fotos — mencionou a menina.

Sentadas juntinho uma da outra, Rosalie virava a página quando necessário.

— É que você era ainda mais novinha. É quase impossível lembrar.

— Sinto falta da vovó — lamentou Olívia.

Rosalie fez um afago em seu rostinho que, de repente, ficou triste.

— Eu sei, meu anjo. Eu sei…

— Você acha que algum dia a vovó virá nos visitar?

A pergunta levou Rosalie pensar no telefonema que fez para a mãe de Emmett. Esperava que sim, que um dia Cheryl tomasse a decisão de visitar o filho e a neta. E que esse dia, não fosse daqui alguns a anos.

— Não desista de acreditar, Ollie.

Olívia sorriu para ela. Após um tempo vendo e revendo fotografias, se cansou e voltou assistir desenho animado. Pegando no sono com a cabeça no colo de Rosalie, que, por sua vez, cochilou com a cabeça no encosto do sofá.

A televisão ainda estava ligada no canal infantil quando Emmett chegou da terapia. Deixou as chaves no aparador ao entrar e o agasalho, no gancho.

Encontrou os álbuns de fotografias na mesinha de centro ao se aproximar para pegar o controle da televisão. Dobrou-se pegando Olívia adormecida do colo de Rosalie, se demorando ao olhar de perto no rosto dela. Pensou que realmente era uma linda mulher. Era difícil entender porque o noivo a trocou por outra. Pior ainda, a própria irmã. Pegou-se pensando que tipo de irmã faria algo assim? Uma coisa ele tinha certeza; o noivo dela era quem tinha saído perdendo. Rosalie possuía qualidades que ele dificilmente encontraria em outra mulher.

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Talvez fosse o sortudo, afinal. Conseguiu que aceitasse seu convite para um encontro, depois da forma como o conheceu. Pensou não ser merecedor da companhia dela, e logo a vida daria um jeito de separá-los. Foi pego de surpresa pelo forte desejo que Rosalie permanecesse em sua vida e na de Olívia.

Subiu a escada levando a menina adormecida para a cama. Teve o cuidado de colocá-la embaixo das cobertas e deixar em suas mãos o cobertorzinho e a ovelha de pelúcia. Beijou sua testa ao se afastar. Se lembrando de fechar as cortinas e apagar a luz do teto antes de sair. A luz noturna oferecendo o aconchego de que precisava para uma noite de sono agradável.

Novamente na sala, se viu sem querer acordar Rosalie. Ela parecia cansada. O desejo de ficar apenas olhando para ela, falou mais alto. Recolheu a manta que esteve aquecendo Olívia, cobrindo os braços de Rosalie. Tendo o mesmo cuidado em afastar a ponta que ficou cobrindo seu queixo.

Sentou no sofá oposto, sem fazer barulho ficou observando ela dormir.

Levou um tempo para Rosalie despertar, percebendo que Olívia não estava mais com ela. A consciência disso a fez dar um salto, chamando pelo nome da menina.

— Ollie? — Se assustou ao perceber Emmett olhando para ela. Voltando a sentar, encostando a mão no peito onde batia acelerado seu coração. A respiração ficou pesada tornando difícil respirar.

— Desculpe — Emmett pediu. — Não queria te assustar.

— Desse jeito vai me fazer ter um troço. — respirou, aliviada. — Onde está minha menina?

— Na cama.

— Você a levou?

— Sim.

— Há quanto tempo?

— Alguns minutos.

— E, durante esse tempo, esteve aí sentado sem fazer nada?

— Estava te olhando dormir — admitiu.

— Isso é o quê? Algum tipo de fetiche?

— Por alguma razão, me senti em paz observando você dormir. Foi como pertencesse a esse lugar.

Isso a fez lembrar que logo teria de voltar para casa, em Atlanta. Mas, por agora, apenas a casa do avô.

Ajeitou a postura, agora que estava mais tranquila.

— Preciso voltar. Meu avô deve estar preocupado com minha demora.

— Até me ofereceria para te levar, mas Olívia está dormindo.

— Estou com meu carro. Rapidinho estarei lá.

— Não está com sono?

— O susto me fez despertar.

— Desculpe — ele tornou a pedir. E pareceu envergonhado.

— É só não fazer mais isso. — Ela tinha um leve sorriso estampando seu rosto ao pedir.

— Prometo tentar.

— Que bom.

— Só não garanto conseguir.

Ela sorriu, recolhendo o agasalho e sua bolsa. Emmett a acompanhou até a porta. Um olhou no rosto do outro, sem saber o que fazer a seguir. Passado um instante, foi Rosalie quem abriu a porta.

— É… eu vou indo então.

— Rosalie… — Ele chamou num tom cauteloso.

Quando se virou, foi como esperasse alguma coisa dele.

— Tudo certo para amanhã? — Emmett arriscou. — Alice vai mesmo ficar com Olívia?

— Sim. Mandei uma mensagem e ela respondeu confirmando. Você só terá de levar a Ollie no horário combinado. Como vou estar aqui quando chegar do trabalho, posso ir com vocês até lá. Depois você me leva no meu avô para que possa me trocar.

— Por mim, tudo bem.

Ela assentiu. — Boa noite, Emmett.

— Boa noite, Rosalie.

Rosalie se virou, pronta para sair da varanda. Emmett permaneceu onde estava esperando para ela entrar no carro. Rosalie tropeçou num emaranhado de galhos secos no gramado sem vida, olhando discretamente para trás disfarçando o mau jeito.

— Você está bem? — Emmett pediu.

Ela balançou a mão. — Tudo certo. — respondeu.

Antes de entrar no carro olhou para trás uma vez mais. Emmett permanecia no mesmo lugar, olhando para ela. Voltando para dentro apenas quando o carro se afastou na rua.

Ocupou o mesmo sofá onde Olívia e Rosalie estiveram sentadas antes. Recolheu um dos álbuns de fotografias da filha olhando cada uma delas com carinho. Decidiu guardá-las novamente no cofre até que tivesse porta-retratos onde deixar uma ou outra a vista.

Talvez fosse preciso uma mudança no quarto de Olívia antes disso. Resolveu guardar junto com as fotos de Olívia, algumas de Sarah. Aproveitou também para incluir o pendrive onde armazenava alguns vídeos caseiros. Depois de Olívia, aqueles eram seus maiores tesouros. Enquanto estivessem no cofre, estariam protegidos.

Antes de ir para o quarto, resolveu fazer um lanche na cozinha.

[…]

Emmett estacionou a caminhonete em frente a casa onde Alice esperava por Olívia. Rosalie estava com eles na velha caminhonete. Seu carro ficou estacionado na frente da casa de Emmett, depois de dizer que não fazia sentido saírem em carros diferentes quando estava indo para o mesmo lugar.

Rosalie se virou para olhar Olívia no banco de trás.

— Está animada, meu amor? — pediu.

Olívia sorriu em resposta.

— Eu nunca brinquei na casa de uma amiga antes.

— Eu sei. — Rosalie estendeu a mão entre os assentos alcançando o joelho de Olívia fazendo um afago.

Emmett também se virou para olhar para ela.

— Se você não gostar de ficar aí, é só pedir para Alice telefonar. Então eu venho te buscar. Na sua mochila tem nosso número de telefone. Mas, Alice também tem.

— Eu gosto que agora você não fica bravo com a Rose — Olívia notou.

Rosalie e Emmett se olharam. Gostando que fosse verdade o que disse.

— Então? — Rosalie chamou. — Pronta para se divertir com a Megan? — Estava entusiasmada por Olívia ter uma amiga de sua idade. E que fosse real.

— Sim, eu estou.

— Ótimo! Vamos lá, meu amor.

Rosalie saiu do carro junto com Emmett. Ele foi ajudar Olívia sair também. Rosalie colocou a mochila nas costas dela, em seguida, segurou sua mão pequena. Os três seguiram juntos pelo caminho estreito que levava à porta da frente.

Diante a porta fechada, Olívia olhou de um para o outro. Rosalie percebeu que estava insegura agora que estava tão perto de se despedir deles.

— Tudo bem se você não quiser ficar.

— Eu quero — Olívia respondeu. Depois, levantou a vista para olhar para o pai. — Eu não vou dormir aqui vou, papai?

— Não. Eu volto para te buscar mais tarde.

— Com a Rose?

O olhar de Emmett encontrou o de Rosalie. Ela ainda segurava na mão da menina.

— É. Com a Rose — garantiu, sem deixar de olhar para ela. Olívia percebeu que se olhavam. Um leve sorriso quis surgir em seu rosto, acompanhado de satisfação.

Emmett a ergueu o suficiente para que conseguisse tocar a campainha. Ao voltar colocá-la no chão, Olívia buscou a segurança de sua mão e a de Rosalie outra vez. Os dois observaram balançar o pezinho para frente e para trás, aguardando que abrissem a porta.

Um barulho de chave girando na fechadura, e a porta foi aberta. Megan surgiu toda sorridente, seus cabelos escuros, presos no alto da cabeça num rabo de cavalo perfeito. Olívia usava o mesmo penteado, sem terem combinado. Ela olhou da amiga para Rosalie. E naquele momento, Rosalie soube o que estava pensando. Piscando um olho para Olívia quando ela lhe sorriu.

— Olívia! — Gritou Megan.

Alice surgiu logo atrás da sobrinha. Compartilhando do mesmo sorriso.

Rosalie quase pôde ouvir o barulho das engrenagens funcionando. Na primeira oportunidade, ela lhe encheria de perguntas.

— Seja bem-vinda, Olívia — saudou Alice. — Estávamos ansiosas por sua visita.

Rosalie se abaixou para se despedir de Olívia.

— Vai ficar tudo bem — garantiu.

A menina balançou a cabeça, aceitando.

Rosalie a abraçou, aproveitando para falar ao seu ouvido.

— Tudo okay com o cobertorzinho?

— Sim — Olívia respondeu em voz baixa.

— Eu te amo, minha pequena.

— Eu também amo você.

De pé ao lado delas, Emmett observou o modo como se queriam bem. Quando Rosalie se levantou, ele deu um beijo e um abraço em Olívia.

— Divirta-se.

Olívia deu um passo receoso em direção à porta. Megan saltou no lado de fora, segurando sua mão enquanto falava.

— Minha tia fez cupcakes pro nosso lanche noturno.

Olívia deu uma última olhada nos dois, antes de Megan carregá-la para dentro da casa.

— Se acontecer alguma coisa… Se ela quiser ir embora por algum motivo. Você me liga que eu venho buscá-la. — Rosalie lembrou.

— Não vai ser necessário. Você vai ver.

— Ela não tem experiência alguma em brincar na casa de uma amiguinha. — Emmett foi quem falou dessa vez.

— Vai ser uma experiência divertida, garanto aos dois. Vocês se preocupam demais. Vão aproveitar a noite de vocês, porque Olívia vai aproveitar a dela. Dou minha palavra.

De volta à caminhonete, Emmett falou:

— Não sei se foi uma boa ideia deixá-la… E se algo acontecer? Não posso permitir que machuquem minha filha outra vez.

Rosalie ergueu a mão tocando de leve a dele ao volante.

— Calma. — Seu olhar encontrou o dele. — Se não confiasse em Alice jamais teria sugerido que deixasse Olívia com ela. Ela vai ficar bem. — Percebeu soltar o ar devagar. — Relaxe um pouco.

— Tudo bem. — Ele girou a chave na ignição. Rosalie teve de afastar a sua mão para que tivesse espaço. — Acredito no que está dizendo.

Rosalie cutucou na lateral de seu corpo, tentando uma forma de fazê-lo se descontrair.

— Ela vai se divertir — sua voz soou animada.

O toque de seus dedos levou ao corpo dele uma corrente de calor reavivando instintos e desejos. O corpo se retraindo ao toque. O desejo de tomá-la nos braços, uma consequência.

— Desculpe… — Rosalie avaliou a expressão no rosto dele ao afastar a mão.

— Não peça desculpa por algo que nós dois gostamos.

Seus olhos carregavam um tipo de selvageria que Rosalie desejou experimentá-la. Seu corpo se aqueceu antevendo carícias, mãos de pele grossa tocando sua pele macia. Desejando que ele a beijasse uma vez mais. Mas ele reservou o momento para mais tarde, porque passou a dirigir. Ao menos foi isso que ela desejou ter acontecido.

[…]

Emmett aguardou no sofá da sala de Norman, Rosalie ficar pronta. Norman e ele conversaram como velhos amigos.

— Estou pronta. — Ela entrou na sala, minutos depois.

Emmett se sentiu ansioso como há muito tempo não acontecia. Suas mãos ficaram inquietas. Estava mesmo prestes a ter um encontro, depois de tanto tempo sozinho. E ela era tão maravilhosa, em sua aparência física, e também como ser humano. Do mesmo modo como Sarah havia sido. Teve a sensação de ter estado todos esses anos esperando por ela.

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Estava enferrujado no que dizia respeito a sair com alguém. Só esperava não cometer nenhum erro grave, que a fizesse se afastar dele. Em relação à Olívia, ele sabia, estavam emocionalmente ligadas. Podia jurar que era para sempre.

Ele se colocou de pé. O olhar o tempo todo em Rosalie. Norman facilmente percebeu que estava fascinado por sua neta. E, a julgar pelo modo como Rosalie ficou sem jeito, deduziu que ela também por ele.

Norman se levantou. Tentando um jeito de desfazer o constrangimento de ambos a sua presença. Chegou mais perto de Rosalie, tomando as mãos dela na sua.

— Divirta-se.

Rosalie finalmente deixou de olhar no rosto de Emmett para olhar no avô.

— Obrigada, vovô.

— Qualquer coisa, sabe que pode telefonar para mim.

Rosalie beijou seu rosto.

— Te amo — murmurou. — O mesmo serve para o senhor também. Me ligue, se precisar.

Emmett ainda reparava nela, quando Norman se dirigiu a ele.

— Cuide bem de minha neta. Ela é meu tesouro.

— Não se preocupe, cuidarei bem dela.

Rosalie cruzou a sala para ficar ao lado de Emmett.

— Vou confiar em você rapaz.

— Agradeço pelo voto de confiança. — Então olhou no rosto de Rosalie. — Vamos?

Ela se encaminhou para a porta. Ele estava logo atrás. Não segurou sua mão como desejou que tivesse feito. No entanto, abriu a porta da caminhonete para ela entrar. Surpresa com o gesto de cavalheirismo agradeceu com um sorriso no rosto.

Emmett se colocou atrás do volante sob o olhar avaliador dela. Desde que saíram da casa dele para deixar Olívia com Alice, reparou que usava perfume, sua camisa e agasalho eram novos.

Nenhum dos dois disse qualquer palavra até chegarem ao destino.

O estacionamento onde deixou o carro era pouco iluminado. Em sua maioria, ocupado por caminhonetes e motocicletas.

Rosalie não soube o que esperar, não conhecia o lugar. Pelo luminoso na fachada, acreditou que se tratava de um bar. Para sua surpresa, não estava enganada.

Não esperava que a levasse a um lugar caro ou mesmo sofisticado, não era o perfil dele. Mas um bar, frequentado por motoqueiros, achou que era um pouco demais.

Olhou ao redor. O ambiente com pouca luz, cercado de mesas e um bar onde um homem negro, quase tão alto quanto Emmett, com algumas tatuagens pelo corpo, servia bebidas alcoólicas aos clientes. Em sua maioria, homens.

O forte cheiro de cigarros e álcool não passou despercebido.

Foi cautelosa ao caminhar entre a multidão. Sentiu os olhares masculinos, e isso a deixou desconfortável.

Passaram por uma mesa de sinuca a caminho do bar. Um dos motoqueiros, de cabelos compridos, com tantas tatuagens que ela não tinha como contar, provavelmente uma terminava na outra, umedeceu os lábios olhando ela passar. Por garantia, ficou o mais próximo possível de Emmett. Só esperava que ele não a deixasse sozinha. Infelizmente, foi o que aconteceu. Emmett se perdeu no meio da multidão enquanto fazia o pedido ao barman.

Assustou-se quando sentiu alguém tocar seu ombro. Ela se virou, olhando a figura intimidadora. Era o mesmo homem que umedeceu os lábios a sua passagem.

— Posso te pagar uma bebida?

— Obrigada. Meu acompanhante está cuidando disso.

— Não estou vendo ninguém com você.

— Ele está logo ali. — Ela tentou ao máximo localizar Emmett no meio da multidão desesperada por bebida rodeando o balcão. Pânico estava se formando dentro dela. Não deveria estar naquele lugar, muito menos ser deixada sozinha. Não conseguiu acreditar na má sorte em perder Emmett de vista.

— O que uma mulher tão bonita está fazendo sozinha? — insistiu o motoqueiro.

— Ela está comigo — a voz de Emmett soou em algum lugar no escuro. Então, quando olhou novamente, estava atrás do homem. A expressão ranzinza de volta ao rosto como quando Rosalie o conheceu. Uma cerveja e o drink que ela pediu, em cada mão.

— Tire suas mãos de cima dela — Ele foi bruto ao sugerir que se afastasse. O olhar raivoso.

Rosalie imaginou que não demoraria explodir em fúria. Ela se esquivou da mão em seu ombro, esbarando em alguém logo mais atrás.

— Não deveria deixar sua garota sozinha — provocou o desconhecido, cheio de tatuagens. — Ele procurou a presença de Rosalie. — Se ficar sozinha de novo, me procure.

— Ela não vai procurar por você. — Emmett rosnou.

Percebendo que não iria acabar bem, Rosalie se colocou no caminho. Respirando aliviada ao ver que o outro se afastou.

Emmett deixou as bebidas na mesinha cuja altura passava alguns centímetros de sua cintura.

— Você está bem? — pediu, avaliando o rosto dela na pouca iluminação.

— Sim. — Rosalie balançou a cabeça. — Por um momento pensei que tivesse me abandonado aqui.

Emmett chegou mais perto, segurando sutilmente sua cintura.

— Eu não faria isso — disse. Sentiu que estava tensa. E, cautelosamente, encostou a mão na lombar dela aproximando-a ainda mais de seu corpo.

Rosalie se permitiu aproximar, descansando ambas as mãos no peito dele. Reparando a respiração ficar afetada pela proximidade. Ele aproximou o rosto de seus cabelos, aspirando ao aroma. E se viu desejando levá-la a um lugar mais tranquilo.

Nos braços dele, Rosalie se sentiu protegida. Não podia negar que sentir o aroma do perfume dele de perto foi melhor que imaginou.

— Me desculpe — ele pediu. — Não deveria tê-la trazido para um lugar como esse. Não sei onde estava com a cabeça. Eu realmente estou fora de forma.

Rosalie levou na esportiva. Apertando o músculo no braço dele ao falar.

— Para mim, você parece ótimo.

O toque despertou desejo em ambos. O olhar dele vidrado no dela. Alguém esbarrou neles, dissolvendo o momento.

— É melhor irmos embora — Ele pareceu culpado ao sugerir que fossem embora.

— Não tomei meu drink ainda. Você bem poderia me ensinar jogar sinuca, já que estamos aqui.

— Você tem certeza? — ele parecia não acreditar que desejasse mesmo fazer isso.

— Sempre quis jogar sinuca.

— Se você realmente quer.

— Pode apostar que quero.

Emmett teve de segurar o impulso de agarrar ela ali mesmo onde estavam. E não assustá-la mais do que já tinha conseguido por uma noite.

Acabaram que tiveram de esperar um pouco até a mesa de sinuca ser liberada.