Rei

Com maestria você alcançou o topo. Fez homens se curvarem, inimigos caírem, os falsos lhe servirem. Concentrou poder, assumiu o controle da morte, sufocou a resistência. Reuniu uma multidão aos seus pés. A vingança desejada, pintada na realidade de quem conquistou tudo que seu pensamento desenhou.

Mas, ah, meu rei, você não deixou de ser um menino!

A mente contaminada de adulto sustenta uma criança atormentada. Sufoca as cores de traumas e o sangue de pessoas que morreram por seus erros. Esforça-se para convencer que nenhum plano é perfeito e, numa guerra, falhas geram morte.

O homem que é saudado por seus súditos desaba na cama com medo de sonhar. Seu futuro está em suas mãos e tem a mesma cor da qual ele foge mantendo os olhos abertos. Não há espaço para voltar atrás, porém, mesmo a decisão não lhe trouxe paz.

Amarga o seu peito ter que deixar a quem tanto ama. Sairá de cena, colocando-a em seu lugar. Arquitetou outro de seus planos, o mais perfeito entre eles. Carregará consigo o ódio de muitos, erguerá sua preciosa ao trono e ela reinará a paz que não se encaixava a ele.

O rei é um tirano de coração partido que sangra todos os dias. Queimou sua vida para ascender a de outros. Carrega consigo a alegria de saber que sua ausência trará o equilíbrio que ele ajudou a destruir. Porém, no fundo de seus olhos, um traço de tristeza delineia os sentimentos que ele esconde de si mesmo.

O rei que lutou para não ver sua companheira desistir, lança sua própria vida fora pelo ideal de um reino que jamais poderá assistir.