Operação Jardim Secreto

Vamos a Colheita


Após a vergonha de ter sido repreendido pela professora, Adrien endireitou-se rapidamente, abaixando a fronte de modo que os fios loiros cobrissem seus olhos. Constrangido, desejou que tal gesto ajudasse a disfarçar o rubor que preenchia sua face.

Contudo, foi justamente tal ato que fez com que ele visualizasse, o objeto que provocara toda aquela situação: A famigerada bolinha de papel, que agora, descansava sobre sua cadeira.

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Insatisfeito, apanhou a bolinha e desdobrou-a, a fim de, talvez, identificar o engraçadinho que lhe acertara. Contudo, surpreendeu-se com o conteúdo da folha.

— O que é isso, cara? - Nino, curioso como sempre, indagou.

— Parece uma conversa codificada. - Respondeu, sem encará-lo.

Aproximando-se sem ser convidado, o DJ passou a ler as linhas junto com o modelo. E o cenho de ambos se franzia, conforme a leitura avançava. Os dois estavam tão compenetrados, que ignoravam completamente o fato de que uma certa asiática sentada logo atrás, encontrava-se a beira de um ataque.

— De quem é isso? - Indagou o moreno, cochichando.

— De várias pessoas, pelo visto. - O loiro respondeu o óbvio, fazendo o amigo revirar os olhos.

— Não diga! - Nino foi tão irônico o quanto permitia o tom baixo que precisava usar para falar sem atrair o ódio da professora. - Onde encontrou? - Resolveu mudar a pergunta, a fim de extrair alguma informação decente.

Agreste aguardou alguns segundos, antes de responder, temendo ser novamente repreendido pela professora.

— Alguém acertou minha cabeça com isso. - Contou, ao perceber uma brecha na vigilância da Senhorida Bustier.

— Coitada dessa pessoa. - Nino lamentou, compadecido pela mancada. - Errou feio o alvo.

O modelo chegou a abrir a boca para tecer mais algum comentário sobre o assunto, mais o sinal que anunciava o fim das aulas da manhã ressoou, fazendo com que todos se levantassem, apressadamente.

— Turma, não se esqueça. - A Senhorita Bustier teve que praticamente gritar para ser ouvida em meio ao reboliço em que a sala se convertera - Hoje é o último dia para que vocês decidam o que farão no festival cultural. Aproveitem o almoço para se reunirem e decidir e, me passem a resposta até o fim das aulas da tarde. - Sentenciou para, em seguida, começar arrumar o próprio material e deixar a sala.

Adrien pegou as suas coisas e saiu calmamente, com Nino caminhando ao seu lado. O papel com a estranha conversa encontrava-se dobrado em sua mão direita, esquecido, uma vez que já estavam discutindo outro assunto. Sequer reparara que algumas pessoas de sua sala desciam as escadas praticamente correndo. Ou melhor, somente atentou para o fato ao ver Alya gritando para que Marinette esperasse.

Uma vez que não era realmente estranho o fato da blogueira sair aos berros pelo pátio da escola, os dois amigos apenas seguiram seu caminho, tomando assento em um dos bancos do pátio, enquanto esperavam a fila do refeitório diminuir.

Foi aí que o loiro lembrou-se do papel, novamente desdobrando-o.

— O que é isso? - Ou modelo ouviu, ao mesmo tempo que sentiu a maltratada folha ser arrancada de sua mão. Antes que pudesse evitar, viu Kim, de posse do bilhete, e Max, que encontrava-se ao seu lado, lerem o conteúdo.

— Que educação heim! - Ironizou o DJ, ante a folga dos colegas de classe.

— Que viadagem é essa Adrien? - Kim perguntou, enquanto seguia a leitura.

— Isso não é meu! - Defendeu-se, automaticamente.

— Então de quem é? - Max indagou, curioso.

— Não sei. - O modelo deu de ombros. - Me atingiram com uma bolinha de papel na aula e, quando eu abri, encontrei isso. - Narrou resumidamente.

— Quem são essas pessoas? - Kim parecia anormalmente instigado pela situação.

— Também não sabemos cara. - Nino respondeu, irritado. - É uma conversa codificada, justamente por isso.

— É, pelo conteúdo, é fácil perceber porque essas pessoas queriam manter a identidade em segredo. - Ironizou Max, ajeitando os óculos de grau.

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— Quem queria manter segredo? - Ivan, aproximou-se, assimilando o assunto aos pedaços. Nathanael vinha ao seu lado, sem, entretanto, tirar os olhos de seu caderno de desenho.

“Ótimo”, Adrien regozijou-se internamente. Aquilo estava virando uma conferência.

— As meninas que escreveram isso. - O atleta respondeu, passando a folha para Ivan, que lia de sobrancelhas arqueadas.

— Como sabe que foram as meninas que escreveram? - Nino tentou desviar o foco da conversa, um tanto compadecido pela situação das colegas de classe. Unindo a conversa contida naquele papel com algumas informações que ele juntara pouco a pouco, já tinha deduzido uma boa parte do que poderia ter acontecido.

Contudo, exatamente como esperado, todos os seus colegas de classe lhe encararam como se ele fosse um alienígena. Com exceção de Nathanael, que continuava desenhando.

— Ok, todos os meninos da sala estão aqui. Algum de vocês escreveu isso? Porque eu não fui. - Kim afirmou, enquanto, aparentemente, conferia suas atualizações no próprio smathphone.

Não demorou muito para que todos os colegas também negassem a autoria do bilhete, inclusive o ruivo desenhista, manifestando-se pela primeira vez desde que chegara ali.

— Cara, esse bilhete é muito, muito interessante! - Guardando o celular, o atleta tornou a apanhar o papel, encarando-o como se fosse um prêmio. - Quero só ver quando descobrirmos quem é essa tal de Lótus e as outras garotas. - Comentou, em tom malicioso.

Pra que fazer isso? - Ivan interviu, de forma irritada. - Para debochar da pobre coitada e alimentar mais um akuma? - Perguntou, acabando por descontar em Kim uma frustração pessoal.

— Calma aí, cara! - Kim ergueu as mãos, como se estivesse para se defender. - Só estou curioso.

— Você pode guardar a sua curiosidade e as suas especulações para si. - O roqueiro declarou. - Assim ninguém sairá constrangido. - Concluiu, distanciando-se do grupo.

De forma semelhante, tão calado como chegou, Nathanael afastou-se, seguindo Ivan pelo pátio, mas não sem antes lançar um último olhar preocupado sobre os colegas que permaneciam reunidos.

— E vocês? Estão dentro? - Kim questionou, revezando o olhar entre Adrien e Nino, que permaneciam sentados no banco de madeira.

— Eu meio que concordo com o Ivan, sabe. - O modelo respondeu.

— É cara. - O DJ o apoiou.

— Cara, como vocês são frouxos! - Exclamou o atleta, revoltado. - Como não sentem curiosidade de saber quem é essa Lótus e esse tal de Botão de Ouro por quem ela é apaixonada?

— Na verdade, só temos que descobrir quem atende pelo codinome de Lótus e das outras flores. - Max tomou a palavra, atraindo a atenção dos colegas.

— Ué, por quê? - A testa de Kim vincou-se, demonstrando a sua incompreensão.

— Por que está mais que óbvio que o Botão de Ouro é o Adrien! - Respondeu, impressionado com a falta de tato do amigo.

— Sério? - O maior parecia realmente surpreso.

— Achou que fosse quem? Você? - Nino debochou. Assim como Max, percebera de imediato que o codinome “Botão de Ouro” referia-se ao próprio amigo.

— Vocês não podem afirmar isso. - Adrien, um tanto envergonhado, argumentou.

— Cara! - Nino retomou a palavra, levantando-se. - A menos que elas estejam se referindo a alguém de outra classe ou, quem sabe, de outra escola, só pode ser você, sim! - Alegou, categoricamente. - Tenho certeza que nenhum outro garoto da nossa sala seria bom o bastante para ser chamado de “Botão de Ouro”. - Concluiu, sinalizando as aspas com os dedos, ao mesmo tempo que um sorriso de escárnio preenchia seus lábios.

O loiro sentiu o rosto queimar pelo constrangimento. Tinha certeza que estava completamente vermelho.

— Bem, você pode não estar realmente interessado em saber, mas já deu para ver que está envolvido no assunto, ainda que não queira. - Max comentou, olhando diretamente para o modelo. - Por isso, vou te contar algo interessante: Eu vi a Alix jogando, várias vezes, uma bolinha de papel por cima da minha cabeça, para acertar a Juleka, o que mostra que elas estavam participando da conversa, assim como, provavelmente, Mylène e Rose, uma vez que sentam junto as outras. - Contou. - Faça o que quiser com essa informação. - Emendou, dando de ombros.

— Não pretendo fazer nada. - O loiro respondeu, levantando-se. - A propósito, eu fico com isso. - Avisou, tomando o bilhete das mãos de Kim e colocando-o no bolso de seu Jeans, antes que o outro pudesse alcançá-lo - Se vai mesmo constranger alguém, que seja sem a minha contribuição. - Falou, decidido. - Eu vou pra cantina. Você vem Nino? - Indagou, sem esperar a resposta para começar a caminhar na direção indicada.

— Claro, "Botão de Ouro". - Disse o moreno de pronto, abrindo um sorriso zombeteiro.

— Ah, cala a boca! - O modelo exclamou, enquanto se afastavam.

Kim e Max, apenas observaram os colegas de classe se distanciarem, o primeiro visivelmente irritado com a atitude do Agreste. A tensão que exalava de si era palpável, sendo facilmente percebida por Max.

— Você não vai desistir não é? - O menor perguntou, em tom reprovador. As vezes, tinha que repassar mentalmente os motivos que firmavam a sua amizade com o atleta.

— Não mesmo. - Kim afirmou. - Essa é a chance de mostrar ao Adrien que ele não está acima de ninguém e pode passar vergonha, como todos nós. - Declarou.

— Mas ele levou o bilhete! - O menor argumentou, na esperança de que o amigo desistisse do que quer que estivesse planejando.

Contudo, abrindo um sorriso esperto, o atleta apanhou o próprio smartphone e desbloqueou, exibindo na tela um foto meio tremida mas, ainda assim, legível, do bilhete levado por Adrien. Max sentiu o próprio queixo cair. Sequer percebera que o amigo registrara aquela foto.

— Quando… - Começou a perguntar, mas foi interrompido antes que concluísse.

— Quando Ivan estava lendo. - Contou, fazendo com que Max notasse que, realmente, era visível na fotografia que o papel estava sendo sustentado por um dedo polegar.

— E o que pretende fazer? - O menor indagou, sabendo que arrependeria-se de ter perguntado.

O sorriso de kim alargou-se ainda mais.

— Mostrar essa conversa para alguém que vai adorar expor todas essas florzinhas. - Concluiu, olhando para o canto mais afastado do pátio, onde uma loira e uma ruiva, que eles conheciam muito bem, encontravam-se conversando. - Vamos Max! A operação colheita acabou de começar! - Determinou, caminhando em direção as meninas.