Acasos

Você acredita em destino?


Se a moça do café não demorasse tanto
Pra me dar o troco

Nunca acreditei em acasos. Sempre fui o tipo de cara que levou a vida com tranquilidade, regido pelos moldes certos e por minhas crenças. Mas naquele dia, enquanto esperava pelo meu troco, tive que dar o braço a torcer a respeito de algumas coisas.

− Aqui, Senju-san, desculpe a demora. – A moça abriu um sorriso solicito e, bebericando meu café, apenas acenei com a cabeça, enquanto saía, já atrasado para o trabalho.

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Se eu não tivesse discutido na calçada
Com aquele cara louco
E ó que eu nem sou de rolo

Saí, apressado para ir até meu carro, quando ouvi o grito. Mal tive tempo de sair do caminho da bicicleta, o copo de café escapando das minhas mãos e manchando meu terno e a camisa social.

− Ei, você não olha por onde anda?! – ralhei, focando o olhar no garoto que apenas encolheu os ombros, me dando a língua.

− Quem manda ficar no caminho, jii-san?! – Deu uma gargalhada e seguiu seu caminho.

Quanta ousadia!

O que estava acontecendo comigo naquele dia para estar tão movido pelas minhas emoções?

Se eu não tivesse atravessado
Aquela hora no sinal vermelho

Corri no trânsito, atravessando o sinal vermelho para ganhar tempo. Por sorte, sempre tinha uma camisa reserva no meu carro, e troquei-a antes de chegar ao trabalho. O episódio ainda ficou na minha mente. Poucos segundos. Foram poucos segundos que me fizeram cruzar com aquele garoto e ter minha camisa favorita manchada.

Como o acaso era uma coisa engraçada, não é? Mesmo quando não acreditamos nele, ele está ali.

Se eu não parasse bem na hora do almoço
Pra cortar o cabelo
E ó que eu nem sou vaidoso

Passei o dia pensativo sobre isso enquanto esperava minha vez para cortar o cabelo. Seria possível que poucos segundos fossem capazes de mudar uma vida inteira? Um troco um pouco mais demorado, um rapaz irritante que cruza o seu caminho, um farol vermelho... céus. Quando penso na minha irresponsabilidade e no acidente que poderia ter causado!

Neguei com a cabeça, sentando-me na cadeira do barbeiro.

− E aí, o mesmo de sempre? – Kakashi perguntou com um sorriso no rosto belo, os cabelos tingidos de branco arrepiados para cima.

− Eh... – Olhei-me no espelho, perguntando-me se deveria mudar algo, se deveria ser mais como Tobirama, que simplesmente vivia a vida como bem queria, sem se importar com o amanhã. – Hai, Kakashi-san, o mesmo.

− Hai, hai! – Kakashi começou com o trabalho, o olhar tranquilo focado no trabalho.

− Posso perguntar algo? – Parecia tolo, é claro, mas não consegui me conter.

− Claro.

− Você acredita em acasos?

Em resposta, Kakashi apenas sorriu, repicando as pontas de meus cabelos.

− Acredito que existe um motivo por trás de tudo. Veja eu, por exemplo. – ressaltou. – Encontrei o amor da minha vida após um assalto no ponto de ônibus. Não tinha um mísero centavo para embarcar e ele pagou minha passagem. Estamos casados há quatro anos, eu e Gai.

Hashirama sorriu. Será que algum dia encontraria alguém assim?

Eu não teria te encontrado
Eu não teria me apaixonado
Mas aconteceu

Foi mais forte que eu e você

Fiquei com esses pensamentos na mente o dia todo, até que saí do trabalho. Resolvi parar na lavanderia para deixar meu terno e a camisa social, pois não conseguiria tirar aquelas manchas sozinho em casa.

− Da próxima vez, tente solução de água e bicarbonato de sódio. Faz essas manchas sumirem na hora.

Ergui o rosto para encarar a dona da voz ao meu lado. Nossos olhares se cruzaram e ela sorriu para mim. Fiquei calado por um tempo, boquiaberto. Não sabia se diante de sua informação, ou da beleza exótica: os cabelos ruivos, presos em dois coques altos sobre a cabeça; os olhos igualmente vermelhos como pedras de rubi e a pele de alabastro. Os lábios pintados de carmesim exibiam um sorriso gentil.

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− Vivo sujando minhas blusas com café. – justificou. – Se não aprender a cuidar dessas manchas, ou abro uma tinturaria ou vou à falência!

Não consegui evitar rir de seu jeito espontâneo, da maneira leve como ela falava embora sequer nos conhecêssemos. Não acreditava em acasos, mas naquele momento, senti que um cruzava o meu caminho.

Talvez eu estivesse errado.

Aí eu disse
Quer que eu faça um café?
Ou faça minha vida
Se encaixar na sua?
Aqui mesmo na rua

− Senju Hashirama. – estendi minha mão, após entregar a camisa e o terno para a mulher da lavanderia.

− Uzumaki Mito. – respondeu, o sorriso ainda nos lábios.

− Sei que pode parecer inusitado, mas... gostaria de tomar um café? Minha casa é aqui perto... se não for muito ousado da minha parte. – Tentei sorrir diante daquelas palavras. Não queria parecer um cafajeste como meu irmão mais novo, Tobirama.

Mito olhou para mim, e me perguntei se não teria exagerado com o pedido.

− Oh, seria ótimo. Preciso mesmo esperar pela minha irmã para irmos ao Tanabata Matsuri. – Os olhos brilhavam em minha direção. O que era aquela estranha sensação que ela me causava apenas com o olhar?

Somente naquele momento, reparei que ela estava vestida com um kimono branco sem estampas preso por um obi amarelo. E aquilo era tão incomum naquela cidade!

Seria aquele encontro algo mais além de um mero acaso?

Engoli em seco, enquanto caminhamos em silêncio para o carro que eu disse estar estacionado ali perto e dirigi até minha casa.

− Sempre venho aqui no bairro e nunca te vi. – disse ela. – Seria mero acaso?

Novamente o acaso. Sorri de canto.

− Achei que isso não existisse até poucos minutos.

Estacionei o carro, o olhar curioso dela vagando até o interior da casa, talvez pensando se aquela teria sido uma boa ideia. Sentia meu coração palpitando forte no peito enquanto passava o café.

− Não desconfio das tramas da vida. Ela sempre nos surpreende. – Ela sorriu novamente, brincando com as mangas do kimono quando repousei uma xícara fumegante diante dela. – A minha trama disse que eu encontraria um homem como você hoje.

Arqueei as sobrancelhas, engolindo em seco.

− O que mais a sua trama te disse? – perguntei, curioso, os dedos tentando disfarçar o quanto estavam trêmulos ao segurar firmemente a xícara quente.

− Que ele me acompanharia até o festival.

Não sabia se estava mais surpreso por sua maneira de pensar ou pelas palavras que me dizia. Mas acabei sorrindo.

− Parece que suas previsões vão se realizar. Me dê dez minutos.

Fui até o quarto, tomando um banho rápido e vestindo a única roupa que tinha para festivais desse tipo, mesmo que não fosse muito dado a esse tipo de comemoração. Quando voltei, Mito sorriu para mim, ajeitando a gola do meu kimono, um tom mais claro que a hakama vermelha.

− Perfeito. – disse ela e ofereci o braço em sua direção. – E além de tudo, um cavalheiro. – Deu um risinho.

Era pra ser agora
Quando é pra acontecer
Tem dia, lugar e tem hora

− E sua irmã? – Não queria, mas perguntei enquanto buscávamos um lugar para assistir ao Hanabi .

− Ela vai ficar bem. – Mito respondeu. – Hime sabe se cuidar. Além disso, tenho certeza de que ela tem companhia de um certo alguém.

Fiquei curioso a respeito disso, mas apenas sorri.

− Mito?

− Hm?

− Acho que acredito em acasos agora.

Ela sorriu de volta para mim, segurando firmemente em meu braço.

− Espero que isso signifique que muitos outros cruzarão nosso caminho. – ela disse, e sentei-me ao seu lado enquanto assistíamos à queima de fogos.

− Tenho certeza que sim. – Estendi para ela uma flor que havia tirado do solo e ela sorriu. – Qual o nosso próximo acaso, Mito-san?

− Acho que você vai me beijar. – ela murmurou, os lábios tão próximos aos meus que senti seu hálito quente em meu rosto. Não me contive e a beijei, sob a luz dos fogos de artifício que explodiam acima de nós.

Se acasos fossem tão bons assim, os queria para sempre em minha vida.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.