Harry Potter estava parado junto à porta traseira do camburão, diante da residência do Primeiro-Ministro.

Os oficiais Markov e Campbell o ladeavam, mantendo-o sob sua vigilância, enquanto Turner permanecia junto a retrovisor do motorista, observando Seu colega, o oficial Statham falar com um guarda da entrada.

O garoto desviou o olhar dos policiais e contemplou a casa do ministro.

As paredes azuis e os detalhes brancos das janelas fechadas eram exatamente iguais as que existiam em seu mundo, ainda que parecessem mais desgastadas e um tanto quanto sujas. E mesmo que grandes rachaduras fossem evidentes aqui e ali em sua fachada, era quase inacreditável saber que a antiga mansão aguentara tantos ataques aéreos durante tantos anos de guerra.

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Harry se lembrou de ter lido sobre o prédio em um dos livros de história enquanto ainda estava na casa dos Parker, em Windshill.

Depois da destruição do Palácio de Buckingham, após o fim da monarquia em 1834, aquele era o aquele era um dos edifícios mais notórios de Londres, senão o mais importante.

Assim como acontecia em seu próprio universo, aquela não era apenas uma casa, mas também a principal sede do poder administrativo do país. Em seu interior, o Primeiro-Ministro realizava a maioria de suas reuniões particulares e, portanto, todas as suas decisões importantes eram tomadas naquele lugar.

Seus pensamentos retomaram para a rua, quando percebeu que Statham fazia sinal para Turner.

O oficial deu um aceno positivo com a cabeça e logo depois, foi até Harry e o agarrou pelo colarinho, impelindo-o para frente, com um puxão.

O garoto acompanhou-o em direção a entrada da mansão e galgavam os degraus acima até a porta de madeira escura. Atravessaram-na sob o olhar vigilante do guarda e avançaram pelo hall.

Enquanto caminhavam para o interior da mansão, um homem surgiu de uma portas ao lado, vindo de um saguão e juntou-se aos três. Harry piscou, pois sabia bem quem era.

Tratava-se de um homem muito semelhante à um Comensal da Morte chamado Avery.

— Hughes...

— Que bom que chegou, Statham — disse ele, avançado ao lado do Inquisidor, sem muita emoção. — Ele está em reunião, mas está quase terminando. Vou levá-los até o gabinete em que devem aguardar. Sigam-me...

Ele tomou a dianteira e Statham o acompanhou. Harry sentiu Turner empurrar suas costas, apressando-o e apertou o passo. Hughes guiou-os até a escadaria, a qual subiram andar acima com passos decididos e apressados. Tomaram o rumo de um corredor em direção a ala norte da mansão, em falar entre si.

Harry ouviu o som de uma conversa, em algum cômodo não muito distante.

Apurou os ouvidos e descobriu que era vinda de uma porta mais à frente, logo à direita, que dava para outra sala particular. Estava aberta quando passaram por ela.

— Acredito que margem de lucro será superior ao trimestre passado...

O garoto achou uma das vozes familiar e olhou de relance para dentro.

Havia algumas pessoas dentro da sala, apenas duas delas estavam dentro de seu campo de visão. Todavia, o vislumbre delas foi o suficiente para fazer Harry estacar.

Mal pode acreditar que também estavam ali.

De pé, segurando uma xícara de chá e falando para o grupo, havia um homem elegante idêntico à Lúcio Malfoy.

Harry parou diante da porta, encarando-o com a boca aberta por um instante suficiente para que ele notasse sua presença ali. O duplo do Sr. Malfoy parou de falar e fitou-o com um ar superior.

Um membro do grupo, que estava sentado em uma cadeira no lado oposto da sala, levantou-se para espiar o quem interrompera conversa, fazendo o queixo de Harry cair ainda mais ao ver quem era: Belatriz Lestrange — ou pelo menos uma mulher exatamente igual à ela, ainda que suas feições não tivessem a mesma loucura que a prisão de Azkaban dera ao rosto da Comensal.

Eles o encararam friamente um segundo, antes que Turner desse uma estocada dolorosa as costas de Harry, obrigando-o a se afastar dali.

— Vamos — ordenou, fazendo com que o garoto alcançasse novamente a dupla a frente.

Harry seguiu adiante, com a cabeça baixa e os olhos fixos no chão.

A cada passo que dava, sua cabeça parecia produzir um zumbido incomodo.

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Snape, Dolohov e Rookwood... Travers, Avery, Lúcio e Belatriz...

Desde que fora preso, o garoto encontrara com cópias de meia dúzia de Comensais da Morte. Os rostos deles repetiam-se sem cessar em sua mente e as palavras do Prof. Dumberton de repente o invadiram com um peso esmagador:

"Em uma realidade com versões idênticas as que estão em seu mundo é natural que as mesmas pessoas convivam umas com as outras..."

Harry sentia as pernas estremecerem conforme seguia pelo corredor. A súbita compreensão do que o aguardava deixava-o aflito.

Eles chegaram ao gabinete, um cômodo elegante e organizado, decorado com móveis e quadros antigos, relíquias de tempos há muito passados.

Turner fez Harry se sentar em uma cadeira em frente à mesa do escritório, mas tanto ele quanto Statham esperaram de pé, logo atrás dele, em uma postura firme e digna. Mal parecia que um deles havia torturado um adolescente poucas horas antes.

Assim que se acomodaram, Hughes os deixou, fechando a porta atrás de si ao sair.

Harry ficou encarando a madeira lustrosa da mesa enquanto aguardava, a boca seca e as mãos suando enquanto apertava o tecido grosso da calça.

A espera pareceu imensamente longa, ainda que apenas alguns minutos tivessem transcorrido desde que se sentara ali. E quando, por fim, a porta se abriu novamente, ele respirou fundo reunindo toda sua coragem.

— Primeiro-Ministro.

— Senhor...

— À vontade oficiais — respondeu uma voz masculina.

O Primeiro-Ministro atravessou a sala em direção a cadeira de espaldar do lado oposto da mesa e assim que em fim se posicionou diante de dele, Harry ergueu os olhos lentamente e fitou seu rosto.

De todas as pessoas que havia se deparado naquele mundo até o momento, a visão daquele homem foi a única dentre todas que não o espantou, pois o garoto já suspeitava que estaria ali. Esperava encontrá-lo. A presença de seus servos o denunciara.

Voldemort não exibia a máscara disforme que se tornara seu rosto depois de anos de Magia Negra. Ao contrário, preservava o rosto bonito e carismático de Tom Riddle, agora um adulto e a figura mais importante e influente do país.

Sua face não era de encovada como um crânio, nem sua pele tinha o tom branco de giz. Seu nariz não eram apenas duas fendas como as de uma cobra e suas pupilas não eram traços verticais. Suas feições eram simétricas e bem feitas, com um ar saudavelmente pálido e o porte de quem fora um atleta na juventude.

Era o que Voldemort deveria ter se tornado: uma duplicata perfeita do próprio pai.

Ele sustentou o olhar do garoto por um instante. Em seguida, sorriu-lhe de forma amigável.

— Então você deve ser o jovem Harry — disse ele, sua voz educadamente baixa e clara, muito diferente do tom agudo e frio que o garoto conhecia tão bem. — Sou o Primeiro-Ministro, Thomas Ryder.

O garoto se aprumou na cadeira.

— Eu sei quem é.

— E sabe porquê está aqui, Sr. Parker? Ou seria Sr. Potter?

Harry permaneceu em silêncio.

O Primeiro-Ministro fez uma pausa curta para dar-lhe a chance de responder e continuou:

— Eu mandei trazê-lo porque ouvi relatos muito interessantes à seu respeito, senhor...

—... Potter.

Harry hesitou um instante antes de responder, mas decidiu que devia usar seu verdadeiro sobrenome. Não queria envolver mais os Parker naquela loucura.

— Potter — repetiu ele, recostando-se em sua cadeira, com um sorriso simpático.

Harry remexeu os dedos enfaixados de forma inquieta sobre o tecido calça.

Já havia se dado conta de que as pessoas naquela realidade tinham o mesmo caráter daquelas que viviam em seu próprio mundo.

E ele conhecia bem Voldemort. Não apenas pelo fato de tê-lo enfrentado mais de uma vez, mas também porque Dumbledore passara metade daquele ano letivo mostrando-lhe as memórias das fraudes e tramoias praticadas por Tom Riddle.

Então, quando mirava o homem diante dele, sabia bem que por trás de sua expressão compassiva e seu sorriso cativante e seus modos afáveis, havia um ser sem escrúpulos, disposto a qualquer coisa para conseguir o que desejasse.

Não seria enganado por aquela duplo dissimulado.

— Você foi encontrado com documentos falsos, Sr. Potter — continuou Ryder com voz mansa. — E durante o interrogatório, contou uma história realmente intrigante ao oficial Statham, segundo o relatório que recebi...

— Então ele deve ter lhe dito que eram mentiras — comentou Harry.

Por alguma razão, não achava uma boa ideia que Ryder descobrisse a verdade sobre o lugar de onde viera. No entanto, o Primeiro-Ministro parecia ter uma mente muito mais crédula do que seus Inquisidores, pois afirmou:

— Sim. Mas ao contrário do oficial Statham, eu não acredito que sejam mentiras, Sr. Potter. Teria de ter muita criatividade para inventar tal fantasia, além de uma grande estupidez para contá-la no meio de um interrogatório formal. E francamente, quando olho para você, não creio que este seja o seu caso.

Harry ficou encarando-o.

— Por que estou aqui? — indagou, por fim.

O ministro fez sinal mínimo para o oficial Turner, que abriu a porta e deixou a sala.

— Bem, Harry... Posso chamá-lo de Harry?... Bem, depois que o oficial Statham constatou irregularidades em seus documentos, ele ordenou uma pequena investigação à seu respeito antes de prendê-lo. Um de nosso agentes o seguiu, Harry, até a casa de um velho conhecido meu... Diga-me, como está o Alfonso Dumberton?

O estômago de Harry afundou. Ryder continuou:

— Soube que a saúde dele anda fraca. É uma façanha admirável um homem conseguir atingir à idade dele nos dias de hoje. Mas o fim chega para todos, tanto que ele não teve receio de entregar-lhe um livro absolutamente ilegal.

— Não sei do que está falando — o garoto mentiu, ainda que soubesse que era inútil.

— Que tal não mentirmos um para o outro, Harry? Tornará as coisas mais simples para todos — propôs Ryder, mirando-o com indulgência. — A polícia encontrou o livro em sua mala. E lembre-se que foi seguido. Nossa agente constatou que conseguiu o livro depois de sua visita à Dumberton.

Harry estava se perguntando como poderiam ter tanta certeza, quando ouviu o som da porta se abrindo novamente e os passos de duas pessoas entrando. Turner voltara e estava acompanhado.

— Você? — exclamou Harry, ao ver a mulher loira se aproximar.

Ele não a conhecia.

Vira-a apenas uma vez, no dia anterior, quando ela de escorregar na calçada congelada, lançando as compras do mercado pela neve afora. Harry aparara sua queda e ela acabara rasgando a mochila de Ronald. Só agora entendia que aquilo fora apenas um estratagema para descobrir o conteúdo da mochila que ele carregava.

— Eu o trouxe para o senhor — disse ela, satisfeita, parando ao lado da cadeira do garoto e estendendo o pesado livro que carregava consigo.

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— Obrigado — agradeceu Ryder, ao apanhar o livro. E acrescentou: — Harry, está é a oficial Alissa Campbell. Você já deve ter conhecido o irmão dela, o oficial Adriel Campbell.

Harry franziu o cenho para a mulher, que exibia um ar triunfante, como se tivesse prestado um grande serviço para o Primeiro-Ministro. Ryder, por sua vez, depositou o grande livro sobre a mesa e percorreu os dedos cumpridos pela capa dura.

— Fui informado sobre toda esta situação, assim que os objetos chegaram à perícia — disse ele. — Mas apenas para esclarecer à todos nesta sala, diga-nos onde encontrou este livro, oficial Campbell?

— Em uma mala, em um quarto de hospedaria, senhor — respondeu Campbell, prontamente.

— E ela pertencia a este menino?

— Sim, senhor, Primeiro-Ministro — afirmou com convicção. — Fomos enviados para apanhar os pertences do garoto a mando do oficial Statham, que estava investigando-o. Já sabíamos que estava em posse do livro, pois eu mesma havia visto carregando-o em uma mochila após deixar a casa de Alfonso Dumberton, senhor.

— E achou algo a mais na mala do garoto, oficial? — continuou, mirando o volume.

— Sim, senhor. Encontramos uma caixa que continha objeto bastante um peculiar. Levamos para análise e comprovamos que se tratava, de fato, da esfera descrita em um dos capítulos do livro.

Harry sentiu olhar dos presentes recair sobre ele. Voltou a fitar a mesa sem enxergá-la realmente e engoliu em seco.

— E trouxeram a esfera? — inquiriu o Primeiro-Ministro.

— Trouxemos, senhor. Está aqui — disse Turner, aproximando-se e colocando a pequena caixa sobre a mesa, ao lado do livro. — Eu estava presente, quando a encontramos junto aos pertences do garoto.

— E havia mais alguma coisa?

— Só um pergaminho antigo em branco, senhor. Não conseguimos obter evidências de nenhuma possível mensagem oculta nele. Ainda assim está guardado nos arquivos.

"Droga, apanharam o Mapa do Maroto também!", pensou Harry, aflito. Como faria para recuperá-lo?

— Meu irmão também confiscou um pequeno pedaço de madeira talhado que o menino carregava sempre consigo. Também está guardado com os demais provas do caso.

"Então minha varinha estava junto com o mapa. Ainda bem que não se desfizeram dela", refletiu ele, por um breve instante de alívio.

Foi o suficiente para atrair a atenção de Ryder.

— Acredito que não negará que estes objetos estavam com você, meu jovem. Disto todos aqui sabemos. Agora só quero que me responda: Aquilo que disse ao oficial Statham durante o interrogatório é verdade ou não?