Espirais

7° ciclo da espiral


O barulho de chuva começou a preencher meus ouvidos, estava bem frio, frio o suficiente para o grosso lençol me cobrindo parecesse um pano fino. Acho que havia adormecido em algum momento, não conseguia me mexer bem, meu corpo doía e eu podia apenas ver a chuva caindo em diagonal no vidro enquanto o veículo se movia para cima.

— Brook... - tento falar apenas soltando um gemido fino quase imperceptível

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Levando minha camisa e vejo o machucado enfaixado com o que parecia um pedaço de calça. Apenas fiquei deitada olhando para a janela pensando em como chamar a atenção de Brook para que ela viesse até mim. Com certa dificuldade consigo me levantar me apoiando nas caixas de papelão e abrindo uma fresta da janela deixando que a chuva molhasse meu rosto, me deixando com mais frio.

— Brook...

— Audrey?! - ela se vira rapidamente par trás e pisa rapidamente no freio me fazendo cair para trás e bater as costas no chão, ela pula do banco e corre até a porta de trás - O que está fazendo fora da cama, sua idiota? Está tentando se matar? - me carrega até o colchão

— O que aconteceu?

— Você desmaiou. - suspira me cobrindo com o lençol - Eu te carreguei até o veículo e estamos quase no topo da montanha agora

— Você está toda molhada e sua calça está rasgada. - olho para seu joelho esquerdo exposto

— Eu sei, eu sei, mas damos um jeito nisso depois. - se levanta

— Não vá lá fora, espere a chuva acabar

— Vamos encontrar abrigo lá encima

— Como sabe?

— Eu não sei, só suponho

Ela sai e fecha a porta me deixando sozinha com o barulho da chuva e, novamente, o movimento do veículo, a subida parecia infinita pelo tempo que passei ali sem fazer nada, não tinha força o suficiente para ir até ela ou mexer em alguma das caixas para achar algo para me distrair.

— Audrey. - Brook fala ao meu lado - Você pegou no sono de novo

— Já chegamos?

— Achei um templo abandonado, você acha que consegue ir?

— Talvez. - tento me levantar e caio

— Acho que vai ter mesmo que ficar aqui. - ela tenta se levantar, mas eu seguro seu pulso

— Eu quero ir

— Você é mesmo uma teimosa. - ela se vira de costas e eu me seguro em seus ombros - Segure firme, vamos ter que pegar um pouco de chuva

Ela abre a porta e eu vejo o grande templo coberto por plantas secas e quase caindo ao pedaços, alguns passos foram o suficiente para chegarmos a parte coberta. O local era maior por dentro do que por fora, encontramos vários corredores longos e cheios de portas, Brook tentou abri-las uma por uma, mas estavam trancadas ou não tinham nada dentro.

— Acho que vamos rodar aqui para sempre. - ela diz cansada abrindo uma das portas

A porta que ela abriu levava a um antigo quarto de costura, haviam vários modelos de roupas nele, junto com conjuntos de costura e manequins usando alguns vestidos, Brook parecia impressionada ao entrar, ela me coloca em uma poltrona confortável e começa a olhar pelo local e animadamente pegar as roupas.

— Você gosta? - ela me pergunta colocando um vestido rosa claro com muitos bordados à frente de seu corpo

— Eu avaliaria melhor se você colocasse

— Agora?

— Se você não souber se cabe em você, não poderemos levar

— Você vai mesmo me deixar levar? - ela abre um sorriso

— Se você quiser

— Eu quero! - ela vira de costas e começa a tirar suas roupas de cima, suas pequenas costas ficam expostas mostrando antigas marcas de lutas, o mesmo em suas coxas, elas parecia tão frágil agora, talvez não tenha sido uma boa ideia termos saído do laboratório

— Ei, Brook

— Hm? - ela vira seu pescoço para o lado e me olha por cima do ombro antes de começar a por o vestido

— Acha mesmo que deveríamos estar aqui?

— O que quer dizer? - sua voz é abafada pelo vestido enquanto ela o passava por cima de sua cabeça

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— Não fomos feitas para isso, deveríamos estar procurando pelos outros cientistas para garantirmos a segurança deles, estamos saindo do foco de nossa criação

— Eu não quero servir outras pessoas nunca mais. - ela se aproxima de mim com um olhar serio

— Entendo. - a encaro de perto, ela apoiara seus dois braços nos braços da poltrona e estava me encarando de cima a poucos centímetros do meu rosto, estico minhas mãos e ajeito o laço no peitoral do vestido - Precisa de ajudar

— Por que não? - ela se levanta e se vira de costas e eu ajeito os inúmeros laços e rendas no vestido

— Acho que esse é apenas para ocasiões especiais

— Então vamos leva-lo para uma ocasião especial, deveríamos pegar um para você também?

— Não acho que seja uma boa ideia

— Por que?

— Acho que não combina comigo

— Não diga isso. - ela vai até um dos armários e rética um vestido longo e azul escuro - Tente esse. - ela o leva até mim e começa a tirar minha blusa antes mesmo de eu dizer alguma coisa

Ela me ajuda a coloca-lo e a ficar de pé para me olhar bem.

— Essas roupas não ficam boas em mim

— Como sabe?

— Eu não fico bonita como você nelas

— Mesmo? - ela se aproxima e ajeita a alça do vestido e fica na ponta dos pés colocando seu rosto perto do meu ouvido enquanto se segurava em meus braços - Acho que você fica mais bonita ainda

Ela deita sua cabeça no meu ombro e me encara, seu rosto estava perto, uma sensação estranha percorria meu corpo, meu estômago parecia doer mais do que pela ferida, eu deveria fazer alguma coisa? Eu não entendia o que meu corpo me pedia para fazer. A cauda de lobo de Brook abanava tranquilamente enquanto sua bochecha roçava em meu ombro.

— O que está fazendo? - pergunto

— Isso significa que eu gosto de você

— Não pode apenas falar?

— Hm..... - ela para pra pensar um pouco - Acho que tem coisas que só podemos demonstrar com o corpo

Brook passou mais algum tempo escolhendo roupas para levar para nós duas, haviam muitas roupas normais além dos vestido grandes e enfeitados, eu fiz o que pude para ajuda-la a levar tudo para dentro do veículo e separa um espaço na caixa para eles.

— Você pulou o almoço, então deve estar faminta, não? - ela pergunta finalmente conseguindo fazer uma pequena fogueira na varanda do templo - Pode comer bastante hoje

Ela esquenta uma lata de sopa e divide para nós duas, coloca mais para mim e me dá as 2 ultimas barras de uma pacote aberto.

— Não precisa fazer isso. - entrego uma barra para ela

— Mas você tem que comer bastante, quase não comeu o dia todo

— Se você não comer pode ficar mal também, ai ninguém cuidaria de mim e as duas morreriam

— Certo. - suspira e pega a barra da minha mão, encara o céu por um tempo - Veja, a chuva está parando

Ficamos vendo as nuvens começando a se dispersarem, mas havia algo estranho, não havia uma nevoa naquela altura, comecei a ver pedaços de um céu azul escuro no espaço entre nuvens, até que elas se distanciam o suficiente para que pudéssemos ver um lindo céu estrelado, ambas o encaramos por um tempo sem dizer absolutamente nada.

— Nós estamos mesmo vendo... - ela diz

— As estrelas....

Ela puxa minha mão e corre para fora, meus pés descalços encostam no chão molhado enquanto ela ria alto e começara a girar segurando minhas mãos.

— Mais de perto

— O que? - pergunto

— Eu quero que vê-las mais de perto, vamos juntas vê-las mais de perto algum dia

Não conseguia entender o que ela queria dizer, ela segurava firmemente minhas mãos geladas com suas mãos quentes e sorria para mim inclinando a cabeça para cima para me olhar melhor, a sensação estranha no meu estômago voltara, não sabia se existia uma resposta certa para o que ela acabara de dizer, mas minha boca pareceu se mover mais rápido que meu pensamento naquele momento.

— Claro que vamos