Espirais

6° ciclo da espiral


Eles me disseram que o medo trás à tona a real natureza de nós mesmos, eu me lembro disso, os cientistas me ensinaram que a sobrevivência pessoal era mais importante que a sobrevivência de qualquer outro que não fosse meu mestre, também me lembro de vários membros da minha equipe, espécimes imperfeitas que não pareciam ter muito poder, sendo brutalmente aniquilado pelos monstros com os quais lutávamos. Seus gritos por ajuda se misturavam com o alto som de suas carnes rasgando e ossos quebrando, enquanto suas lagrimas se misturavam com o sangue.

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— Um... sonho? - sussurro para mim mesma após abrir os olhos - Por que diabos eu me lembraria disso agora?

— Bom dia. - Brook fala deitada ao meu lado encarando o teto com uma barra de ração na boca

— Bom dia. - me inclino para o lado ficando um pouco encima dela tentando me esticar o suficiente para pegar o pacote aberto de ração ao lado dela

— Você poderia ter apenas pedido

— Serve como um alongamento matinal. - digo puxando o pacote para perto e pegando uma das duas ultimas barras

— Eu vou dirigir primeiro? - pergunta se sentando na cama

— Eu posso ir se quiser

— Não tem problema, eu quero ir lá fora mesmo

Ela vai para fora, abro as cortinas e olho para fora enquanto termino de comer, era um dia como todos os outros a nevoa continuava deixando tudo escuro como de costume, era como se ainda fosse noite, pego o relógio encima de uma das caixas e vejo que são 8 da manhã. Escuto Brook ligar o veiculo e começamos a nos deslocar, fiquei alguns minutos do lado de dentro entediada encarando as caixas perto de mim, mas logo desisti e abri a janela que me permitia falar com ela.

— Estou indo ai. - digo

— Devo parar?

— Não precisa

Eu passo pela janela caindo de cabeça para baixo no banco e tentando me ajeitar com dificuldade enquanto Brook tentava fingir que não ria.

— Isso parece uma coisa que eu faria, não você. - deixa escapar uma leve risada

— Não me sinto como eu mesma hoje

— Não? Alguma coisa boa aconteceu?

— Não sei se pode ser considerado uma coisa boa, acho que foi o sonho que tive

— Então foi um sonho bom?

— Um péssimo sonho e isso me fez perceber o quanto eu gosto de como as coisas estão agora

— Eu também gosto de estar aqui. - sorri - Queria que voltássemos para aquela biblioteca um dia

— Provavelmente um dia voltaremos para ela, afinal, você mesma disse que vivemos em uma espiral

Pego o livro com a capa de couro que estava no colo dela, ela costumava não desgrudar dele, abro em uma pagina qualquer apenas passando os olhos pelas letras que não entendia.

— Você está ficando melhor em dirigir. - murmuro ainda encarando o livro

— Não que eu tenha muita escolha, não quero sobrecarregar você

— "A mestra nos deu conhecimento"....

— O que?

— Aqui. - eu viro o livro para ela - "A mestra nos deu conhecimento"

— O dono desse livro também tinha um mestre?

— Talvez, mas não sabemos que tipo de mestre, pode ser um chefe, um dono ou aqueles mestres antigos que contaram para nós em historias antigas

— Queria que pudéssemos apenas aprender logo a ler isso

— Acho que as coisas não foram feitas para serem tão simples

Continuamos quietas por algum tempo, procurei por mais alguma palavras que pudesse ler, mas não obtive sucesso, em algumas horas saímos da floresta, mas não encontramos uma cidade dessa vez, paramos ao pé de uma montanha, uma enorme montanha com uma velha trilha que levava até seu topo.

— Acha que conseguimos subir com o veiculo? - ela pergunta

— Deveríamos dar uma olhada na trilha antes, ela pode ser desregular e isso seria um problema para o veículo

Saímos do veículo e demos uma pequena caminhada pela trilha que subia em espiral, era bem espaçosa, a grama seca sob nossos pés e as flores e folhas mortas pelo chão me davam certeza que aquele lugar devia ser lindo a milhares de anos atrás.

— Acho que é o suficiente, deveríamos voltar com o veículo? - pergunto logo ficando em silêncio escutando o barulho de passos na grama

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Um monstro caminhava lentamente até nós, seu corpo magro e nu estava ensanguentado e cheio de feridas, podia ver os ossos quase expostos em sua pele, seu rosto fino e o sorriso largo exalavam uma aura maligna e assassina.

— Audrey.... - ela tateia pelo espaço entre nós procurando por minha mão e a segura com força

— Não vamos lutar, não temos motivo para isso por enquanto. - tento dar um passo para frente, mas era como se uma forte pulsação tivesse tomado conta de todo meu corpo

Aquela criatura avançou para cima de nós duas, dentes e garras afiadas foram a primeira coisa que vi após sentir o cheiro de sangue.

— Au.... drey... - Brook encara meu estômago, a criatura havia cravado suas longas unhas em mim, elas entraram até a base de seus dedos, o gosto do sangue me subiu até a boca

O monstro retira as unhas de dentro de mim rapidamente e eu caio se joelhos, não sentia meu corpo direito, apenas consegui ver de canto de olho que ele se aproximava de Brook, que estava paralisada pela cena que acabara de ver, talvez tenhamos ficado muito tempo sem treinamento ou muito tempo sem presenciamos a morte de perto, isso pode ter se tornado um problema em nosso desempenho em matar aquelas coisas. Olhando para o outro lado vejo o caminho livre para que usasse minhas ultimas forças para fugir dali, eu sabia que conseguia correr até o veiculo sem que ele me alcançasse, a ameaça da morte trás à tona nossa natureza covarde e miserável, Brook não era minha mestre, a vida dela poderia ser usada como distração para que eu me salvasse naquele momento, então por que quando me levantei eu não corri para o lado contrário?

— Não... encoste nela... - digo com dificuldade fazendo uma voz ameaçadora, seguro a parte de trás do cabeça dele e a viro rapidamente escutando seu pescoço quebrar, aquele sorriso bizarro congelado sem eu rosto agora me encarava e eu apenas deixo a criatura cair da borda da montanha

Ando com dificuldade até ela a prendendo contra a "parede" da montanha, apoio minhas duas mãos entre a cabeça dela para me impedir de cair.

— Por que... você fez isso? - lágrimas começam a se formar em seus olhos e cair por suas bochechas, seu nariz fica vermelho e a voz mais fina e fraca - Você poderia ter morrido

— Eu não sei.... achei que apenas seguíamos impulsos naturais

— Você é naturalmente idiota. - ela chora alto e passa seus braços pelas minhas costas me envolvendo com seu pequeno corpo e esconde o rosto no meu ombro

— O que está fazendo? - pergunto

— Isso não importa agora! - grita com a voz fraca levantando a cabeça para me encarar com os olhos vermelhos

— Desculpe

— Como pôde ser tão descuidada? Você está sangrando tanto que qualquer coisa poderia te matar agora mesmo, o que tem de errado com você? Por que apenas não ágil como é o normal e fugiu para se salvar? - eu me inclino um pouco mais para frente perdendo para o peso do meu corpo, que parecia ter triplicado para minhas pernas, e encosto a testa em seu ombro

— É normal querer salvar algo importante para você