Primeiro Disparo

Dave Relf


17 de outubro de 1962.

Foram 25 minutos andando em loop naquelas pistas espirais que pareciam sem fim. Não viu nada além de uma forte luz branca que o impedia de abrir olhos durante quase toda a viagem. Oliver tinha experimentado uma velocidade de 149800 km/s. Quase metade da velocidade da luz. Sem o campo de força do traje do Dr. Griffin, teria tido sérios problemas.

Abriu os olhos e não viu nem o INFINITY-LOOP, nem a pista espiral onde havia iniciado. Tudo o que via era o espaço vazio.

— Dr. Griffin? Dr. Oliveira? General Baker? - tentou contatá-los, sem sucesso.

Só havia outra explicação para aquilo: ele havia mesmo voltado no tempo. "Aqueles dois cientistas são incríveis", pensou. Agora, assumia os controles da nave e se dirigia para a Terra. Notou não havia mais a Heavely Miracle orbitando o planeta. "Eu voltei mesmo no tempo", pensou Oliver, fascinado. Percebeu que havia um alçapão do seu lado na nave, ao abrí-lo, percebeu que havia um uniforme do exército americano dos anos 60. Serviria de disfarce para se infiltrar no local. Localizou onde ficava a Itália e adentrou o território terrestre. Pousou numa floresta, trocou de roupa e se dirigiu até a base americana onde os mísseis estavam sendo instalados. Ao chegar lá, ficou espantado ao ver todo aquele armamento. E pensar que bastava um botão para que todo aquele material bélico altamente destrutivo fosse acionado.

Haviam vários civis no locais; podia-se ver também várias redes de televisão e seus repórteres fazendo a cobertura do que estava acontecendo. Um jornalista, naquele momento, estava acabando de gravar sua reportagem:

"...e o medo da população aumenta, estamos beirando uma guerra sem precedentes. As questões diplomáticas envolvendo a União Soviética e os Estados Unidos nos próximos dias serão de uma importância fundamental para o futuro da história mundial. Continuaremos fazendo a cobertura televisa, outro dos nossos repórteres neste momento encontra-se na Turquia, e nos informará sobre a agitação por lá.

Oliver olhava tudo aquilo muito assustado, era muita coisa para assimilar; a necessidade de encontrar Dave Relf era enorme. Queria sair dali o mais rápido possível.

— Hey, você! - uma voz chamou a atenção de Oliver, era o general que comandava aquela base. - Identifique-se!

— Soldado Oliver Hayes. - respondeu, nervoso.

— É novo por aqui?

— Afirmativo.

— E por que não está com os outros soldados? Mandei todos ficarem em seus postos!

— Eu estou procurando Dave Relf.

— Dave Relf? Um dos gênios que está trabalhando para o exército americano? Ele está nos Estados Unidos neste momento. Por que acha que o encontrará aqui?

— Tenho informações de que ele estaria aqui hoje.

— Informações? Informações de quem, soldado?

— Se eu te contasse, você não acreditaria.

— Escute, Hayes! Eu não estou com paciência hoje. Você sabe a tensão que estamos passando neste momento! Agora, se dirija agora para seu posto ou sofrerá sérias consequências!

— Sim, senhor! - Oliver saiu. Ele não tinha que assumir posto nenhum; queria encontrar o Dr. Relf, pegar seu manuscrito e voltar para 2040 o mais rápido possível.

O general recebe uma ligação. Era o Presidente Kennedy.

— Senhor? Ligou para saber a situação dos mísseis? - perguntou o general.

— Negativo. - Kennedy respondeu. - Só liguei para dar um aviso. O Dr. Dave Relf deve chegar aí em algumas horas?

— O Dr. Relf virá aqui?

O general lembrou de Oliver. Estranhou que o soldado já soubesse que Dave apareceria por lá.

— Afirmativo. Ele irá apresentar um novo projeto; segundo ele, isso poderá nos dar vantagens bélicas sobre a União Soviética.

— Senhor, imagino que esteja com pressa. Mas permita-me fazer uma pergunta. O população mundial inteira está assustada, acredita que poderemos entrar em guerra?

— Nem eu posso imaginar como será o desfecho disso, general. Se for necessário, atacaremos.

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— Sr. Kennedy, essa é uma situação que o Estados Unidos nunca enfrentou antes; nas guerras anteriores, os conflitos aconteciam a quilômetros de distância do território americano. Mas agora, temos mísseis nucleares instalados ao lado, em Cuba!

— Estou ciente da situação, general. Já ordenei que os nossos navios bloqueassem a passagem de navios soviéticos na baía de Cuba. Só deixaremos passar aqueles que transportam itens básicos, como alimentos. Os que transportarem qualquer material bélico nuclear, será barrado imediatamente.

— Entendido, senhor!

— Preciso desligar agora.

— Sim, senhor!

O presidente Kennedy desliga.

O general vai até o microfone ligado aos auto-falantes da base.

— O novato soldado Oliver Hayes, apresente-se ao meu escritório imediatamente.

Oliver vai até o escritório do general da base.

— Como sabia que o Dr. Dave Relf viria aqui hoje? - perguntou o general.

— Foi apenas um palpite. - respondeu Oliver.

— Um palpite tão certeiro assim, soldado?

— Pois é.

— Você é estranho. Primeiro, não me lembro de ver você na lista dos recrutas; segundo, já sabia que Dave Relf estaria aqui. Por acaso sabe o motivo dele vir aqui hoje?

— Apresentar um novo projeto bélico, suponho?

O general olhava desconfiado para Oliver.

— Para o seu próprio bem, acho melhor não ser um espião ou algo do tipo enviado por aqueles soviéticos filhos da puta.

— Não sou um espião, general, muito menos soviético. Sou estadunidense e estou aqui servindo o meu país.

— Mas ainda não me respondeu, como sabia que o Dr. Relf estaria aqui hoje?

— Já disse, foi só um palpite.

— E como sabia o motivo da presença dele aqui hoje?

— Por que outro motivo um dos engenheiros mais inteligentes da atualidade estaria aqui hoje, se não fosse para apresentar uma nova arma?

O general pega a lista dos recrutas da base.

— E por que não encontro seu nome na lista? Aliás, por que não encontro nenhum registro seu aqui?

— Provavelmente, algum equívoco nos arquivos do exército americano.

— Dificilmente o exército se equivoca, soldado.

— Dificilmente, mas acontece.

— Só mais uma pergunta, recruta Hayes. Quando te encontrei você estava procurando pelo Dr. Relf, o que quer tratar com ele?

— É uma questão meio pessoal, senhor.

— O mundo está à beira de uma guerra nuclear, soldado. Deixe as questões pessoais para depois. Volte ao trabalho.

— Sim, senhor.

Oliver se retira do escritório. Quando ia passando pelo corredor, viu um homem sendo escoltado por vários soldados da base. Usava um sobretudo, era um pouco magro, e possuía uma bigode cheio; trazia na mão uma maleta. Oliver o reconheceu na hora: era o Dr. Relf!

— Dr. Relf! - deu um grito, tentando chamar a atenção, mas foi impedido por um dos soldados que o escoltava.

— Sinto muito, o Dr. Dave Relf tem outras prioridades agora.

— Não! Você não entende! Preciso falar com ele agora.

O soldado impedia a passagem de Oliver a qualquer custo.

— Talvez ele tenha tempo depois da reunião com o general, mas agora ele está muito ocupado.

Dave entra no escritório que Oliver acabara de sair. O soldado senta-se do lado de fora, esperando que ele saísse de lá.

Uma hora se passou desde a reunião, quando Oliver pôde ouvir o general falando: "sinto muito, Dr. Relf, mas seu projeto é inviável".

Dave Relf sai do escritório, junto com os soldados.

— Dr. Relf! Por favor, preciso falar com o senhor! - gritou Oliver.

— Aquele cara de novo! - disse um dos soldados que escoltavam Dave. - Sinto muito, mas o Dr. Relf não pode falar agora.

Dave prestava atenção naquilo tudo.

— Mas eu preciso mesmo falar com ele! - disse Oliver.

— Escute, recruta! Ou você se afasta, ou seremos obrigados a usar a força bruta contra você. - alertou um dos soldados.

— Ok. Como quiserem. - disse Oliver.

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Oliver dá uma forte cotovelada no rosto de um dos soldados, apagando-o. Dois deles avançam para tentar imobilizar Oliver, mas com a força do seu corpo, o soldado do futuro o empurra contra a parede, dando um soco na cara, enquanto quebrava o braço do outro. Restavam ainda quatro soldados, que resolveram usar suas armas contra Oliver. Porém, ele pega um dos soldados desmaiados e o joga na direção dos dois armados. Outro soldado já estava preparando sua arma também, mas o soldado Hayes consegue impedí-lo, tirando à força a arma de suas mãos. O soldado que restou foge assustado.

Dave Relf viu toda a cena, e também ficou espantado com a habilidade de Oliver. Pensou em fugir, mas temia acabar como o resto dos soldados ali.

— Não se preocupe, Dr. Relf. - disse Oliver. - Não vou te machucar. Preciso falar com o senhor.

Oliver segura o braço de Dave e o leva correndo para longe dali. Nesse momento, o general saia de seu escritório. Viu seus homens desmaiados e o soldado Hayes fugindo. Furioso, vai até o microfone dos auto-falantes.

— Atenção todos os soldados da base! Ordeno que capturem o recruta Oliver Hayes, aparentemente, ele está tentando fazer algo de mau ao Dr. Dave Relf.

Enquanto isso, Oliver e Dave continuavam fugindo.

— Posso saber o que você quer comigo? - perguntou Dave, ofegante, por causa da corrida.

— Eu te explico depois, agora temos que encontrar um local para nos escondermos.

Eles entram numa sala, onde na porta estava escrito "APENAS PESSOAL AUTORIZADO". Oliver consegue arrombar a porta. Lá dentro, havia um militar, que não fica nada feliz com a atitude de Hayes.

— Ei! O que estão fazendo aqui? Não sabem ler? Está escrito que apenas pessoal autorizado pode...

Antes do homem acabar a fala, Oliver o atinge delicadamente no pescoço, desmaiado-o.

— Você gosta de botar as pessoas para dormirem, não é? - perguntou Dave, sarcasticamente.

— É uma das minhas habilidades. - respondeu Oliver.

— Você sabe onde estamos? No centro de controle da base.

— Sim, já percebi.

— Tome cuidado, esses botões podem acionar qualquer um desses mísseis

— Já sei disso, Dr. Relf.

— Agora, pode me dizer o motivo por ter me trazido aqui?

— Resumidamente, preciso dos seus manuscritos.

— O quê? Está louco?

— Não precisa ser todos eles, apenas aqueles que se referirem ao projeto Another Way.

— Como sabe do projeto Another Way? Você não estava na reunião.

— É uma longa história. Mas por favor, preciso do seu projeto!

— Quer saber? Eu deveria ter fugido juntamente com aquele soldado.

— Espera! - Oliver segurou o braço de Dave para evitar que fosse embora. - Por favor, Dr. Relf! Eu necessito dos seus manuscritos.

— Por que isso é tão importante para você?

— Ok, ok. Eu te digo. Eu sou um viajante do tempo, vim do ano de 2040, para recuperar os manuscritos do seu projeto, que misteriosamente se perderam no futuro.

Dave olha nos olhos de Oliver.

— Por que não me disse logo? - disse Dave. - Se eu soubesse que era algo tão importante eu teria entregado a você antes.

— Sério!?

Dave olha sério para Oliver.

— Ah, saquei, estava sendo irônico, não é?

Nesse momento, um soldado armado entra no local.

— Muito bem! Não se mova! Renda-se agora ou eu atiro! - ameaça o soldado.

— Por favor, Dave, me passa o manuscrito agora e acabamos logo com isso! - implora Oliver.

— Muito bem, foi você quem pediu! - diz o soldado.

O militar atira contra Oliver, mas acaba errando a mira, acertando na perna de Dave, que cai agonizando no chão. Não demora muito, e o Dr. Relf perde a consciência.

— Meu Deus! Dr. Relf, o senhor está bem? - perguntou o militar, preocupado.

Oliver aproveita e pega a mala onde Dave escondia os manuscritos. O militar tenta atirar, mas sua munição havia acabado. Decide então se jogar em Oliver para tentar imobilizá-lo, mas o soldado Hayes consegue desmaiá-lo usando o mesmo golpe no pescoço usado para parar o militar anterior.

Porém, antes do militar cair desmaiado, ele dá um impulso e empurra Oliver para o outro lado. O soldado Hayes cai exatamente em cima de um dos botões conectados aos mísseis.

Um alerta ensurdecedor começa a soar pela base, o míssel nuclear que estava programado para atingir uma área próxima a Moscou é lançado. Todos, inclusive Oliver, olhavam assustados para o céu, vendo aquela enorme poderio bélico se dirigir à uma das cidades mais importantes da União Soviética.

O primeiro disparo tinha sido dado.