Re;Blade

Capítulo 17 - A ameaça


A dor ainda estava lá. Ainda assim, Alonso colocou sua armadura recentemente desamassada.

Enrique olhou para ele do canto do olho. O assessor queria mandar seu senhor descansar, mas sabia que era impossível. Não quando havia uma luta a se vencer.

— Aqui está o que descobriram na floresta, meu senhor. — O conselheiro entregou um pedaço de papel dobrado.

O nobre estendeu a mão para pegar, se contorcendo com a ação. Ele grunhiu, mas ignorou a dor e leu o que estava no papel. A dor em seu rosto perdeu espaço para a expressão sombria enquanto ele descia pela lista.

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— Tudo isso…? — perguntou Alonso, a descrença clara em seu rosto.

— Sim… foi tudo que conseguimos achar no lar deles — disse o homem com uma voz cheia de remorso.

Alonso voltou sua atenção para o papel em mãos.

— Isso é… — Ele não conseguiu terminar a frase.

Mesmo em sua bainha desconfortável na cintura dele, Tetsuko pôde ver o que estava escrito no papel. Para sua surpresa, ela entendeu a estranha carta. Posso ler essa escrita estranha graças às memórias de Fael.

Enquanto lia, Tetsuko pôde ver o motivo por trás do choque de seu portador.

A lista continha muitos itens que um grupo de bandidos não deveria ter.

Bestas, armaduras, armas e flechas eram uma coisa.

Não poderiam ser considerados uma ameaça sem isso, mesmo com o grande número.

Mas não eram todos os grupos de bandidos que possuíam mapas detalhados das terras e castelos próximos.

E tinha mais.

O maior problema eram os últimos itens na lista.

Os soldados tinham encontrado armas de certo dentro da floresta.

Os bandidos planejavam invadir um castelo. Tetsuko entendeu o que se passava. Eles planejavam usar o caos no reino e tomar um castelo…

O grande estoque de comida que os bandidos mantinham na floresta reforçava essa ideia.

E não foi o fim do choque do senhor.

— Como eles conseguiram isso…? — disse Alonso, pegando outro pedaço de papel da mesa.

Estava amassado e escrito às pressas. Mas o conteúdo tinha potencial para destruir o reino.

Anotações detalhadas dos movimentos do exército na área e os inimigos com quem lutavam…

Ainda que a alma dentro da espada não reconhecesse os nomes, ela viu o nome do portador no papel. Os bandidos sabiam que ele atacaria… mas não sabiam quando…

E se os bandidos conseguiram algo assim, só pode significar uma coisa, soube Tetsuko.

Ela também sabia que seu portador chegara à mesma conclusão.

— Traição — murmurou Alonso o que estava na mente da espada.

— Sim… Tem alguém informando os bandidos sobre o reino — disse Enrique.

— Eles até tinham as ordens da nossa partida… como conseguiram isso…?

Um silêncio pesado preencheu a tenda.

O lorde releu o papel várias vezes.

— M-meu senhor, você… você acha que os bandidos poderiam ter alguém dentro do exército? Não significa necessariamente…

— A informação nesses papéis é importante demais… só alguém na alta corte poderia saber de tudo isso…

O conselheiro ficou quieto. Ele sabia que seu lorde estava certo. E também o verdadeiro significado daquilo.

Sim… a única forma dos bandidos conseguirem uma informação desse nível de alguém como um nobre… ou possivelmente até um lorde…

E se meu portador trouxer isso pra corte, vai apenas gerar dúvida em todos… no estado caótico em que o reino se encontra, não tem como poderem lutar contra todas as ameaças e procurarem pelo traidor ao mesmo tempo…

— Senhor! — gritou um soldado antes de entrar com pressa na tenda principal.

O lorde e conselheiro olharam para ele.

Sem parar para recuperar o fôlego, ele ajoelhou-se rapidamente.

— Lorde Dale está vindo, senhor! — disse, com uma voz sem ar. — Ele enviou um mensageiro nos informando de que chegará aqui logo.

Ao escutar o nome, o conselheiro arregalou os olhos.

O senhor fez o mesmo, seu rosto perdendo um pouco da cor que recuperara.

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— O-obrigado — disse Enrique ao se recuperar, mandando o soldado ir embora com um aceno de cabeça.

— Por que o Caos Sortudo está vindo? — murmurou senhor lorde quando estavam à sós de novo, apoiando-se na mesa. — É a última coisa que preciso agora… lidar com ele…

— Não sei, meu senhor. Mas não podemos ignorá-lo — disse o conselheiro, sem esconder a frustração no rosto.

— Eu sei, eu sei…

Alonso cobriu o rosto com uma mão e respirou fundo.

Quem é esse Caos Sortudo? Quis saber Tetsuko. Ainda que não se importasse com as pessoas daquele mundo, a reação de seu portador atiçou sua curiosidade.

— Você já o conheceu pessoalmente? — perguntou o lorde em voz baixa depois de um tempo.

— Uma vez, na festa de casamento da sua prima… ele parecia… velho demais para a idade… mas, mesmo assim, sua presença…

— A presença dele deixa qualquer um… desconfortável demais — terminou Alonso, encolhendo-se. — Como se tivesse algo rastejando debaixo da pele…

— Sim… Ainda lembro daquele dia… Mas ele pode ajudar com a situação. — Enrique tentou ser otimista, embora sua expressão dissesse o contrário.

Alonso soltou uma risada fraca.

— Com a reputação dele, pode pôr tudo a perder para nós… pode até ser minha ruína.

O silêncio reinou novamente na tenda.

— A-As histórias sobre ele são reais…? — perguntou o conselheiro após um tempo. — Só ouvi os boatos…

Alonso se serviu de um pouco de vinho e bebeu lentamente.

— A maioria é verdade — disse o lorde, com um tom sombrio. — O apelido, Caos Sortudo, não é sem motivo. Ele é um homem de sorte tremenda… mas seu sucesso foi graças a queda de outros… ou até a morte de alguns…

— E-Então… o que aconteceu com o irmão e sobrinho dele…?

Alonso engoliu em seco e seus olhos perderam o foco.

— Sim… os herdeiros originais do castelo que agora pertence ao Caos Sortudo… Lembro do irmão dele… era o que você imaginava de um senhor… forte e justo… Eu estava lá no dia… na caçada em que ele morreu… era quase um homem e meu pai permitiu que eu os acompanhasse…

— E… como a sorte de Lorde Dale estava envolvida…?

Alonso olhou para o conselheiro com uma expressão sombria.

— Não consigo esquecer do que aconteceu até hoje. Quando o falcão mergulhou para atacar a presa, o caçador tentou atirar nele de imediato, mas não conseguiu. Ele esperou para atirar, mas o pássaro foi na direção do cavalo dele. O animal se assustou e perdeu o controle. A besta caiu das mãos do caçador e, quando acertou o chão, atirou sozinha… a flecha atingiu o senhor na parte de trás do pescoço… ele morreu na mesma hora…

Enrique engoliu em seco e agarrou o colarinho de suas roupas.

Isso é…um azar e tanto, pensou Tetsuko.

— E… quanto ao sobrinho…?

O lorde balançou a cabeça, solene.

— Também foi trágico… A ama de leite dele comeu algo estragado. Camarão ou algo do tipo, o irmão ganhou em um jogo de cartas nas docas. O bebê tomou o leite dela e no dia seguinte… nunca mais acordou…

A voz do lorde sumiu, servindo-se de outro copo.

Caos Sortudo, pensou a alma na espada. Mas certamente alguém acharia essas mortes suspeitas, não é mesmo? Esse tal de Dale se tornou um senhor graças a duas mortes estranhas…

O conselheiro deu voz aos pensamentos de Tetsuko.

— Sim… todos ficaram com suspeitas… Pessoas investigaram… especialmente os amigos mais próximos… mas ninguém jamais encontrou qualquer coisa. Nem uma única prova ligando Dale às mortes do irmão mais velho e sobrinho…

— Então a sorte dele significa a ruína de outra pessoa…

— Sim… Houve mais casos… situações estranhas… mas o apelido Caos Sortudo já circulava…

O silêncio reinou outra vez.

O lorde terminou de beber o vinho e olhou para o copo.

— Não acredito que ele está vindo para cá agora… talvez seja o jeito do destino dizer que chegou a minha hora… e não completei nem vinte e cinco anos…

— Meu senhor. N-Não deveríamos mandar Lorde Dale para longe? Dizer que não podemos recebê-lo adequadamente no momento… ainda estamos perseguindo os bandidos… e você não se recuperou…

— Bem que eu queria. Mas ele tem poder demais na corte interna, até com a infâmia… recusá-lo não é uma opção… não ao menos que desejemos lidar com as consequências.

Ambos ficaram em silêncio enquanto aguardavam pela chegada do nobre conhecido como Caos Sortudo.