O entardecer, marcado por um céu vermelho e ventos cada vez mais frios, deixava uma cena simples onde um mestre treinava seu aluno com um toque dramático. Talvez, dramáticas fossem as circunstancias.

O pequeno garoto com cabelos vermelhos lutava com fúria utilizando suas marionetes contra uma estranha substancia escura e metálica. A substância tomava formas e parecia repelir todos os ataques, até mesmo os mais brutos, enquanto o pequenino permanecia atacando e concentrado para não receber nenhum dano. Tal criança era Sasori e seu mestre, o que controlava a areia de ferro, era o terceiro Kazekage.

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Aquele treinamento pesado era um hábito recém adquirido pelos dois. Durava horas a fio, normalmente sendo interrompido quando o ruivo se deixava cair na areia, sem forças, e era levado para casa praticamente dormindo.

O Kazekage, longe do que fazia parecer, não era um homem frio e nem mesmo duro, ele apenas tomou esta iniciativa para manter seu jovem pupilo longe de pensamentos ruins e, também, por reconhecer o grande potencial que ele possuía ainda novo.

“Parecem até pai e filho...”

Sim, pareciam!

Enquanto Chiyo queria manter o neto cada vez mais seguro e isolado dentro de um quarto, entretido em seus projetos, aquele homem queria fazer ele sentir o vendo no rosto, a irritação ser extravasada e a felicidade em dominar tão bem a arte das marionetes.

— Isso é um pedido de misericórdia? — em um tom brincalhão, o mais velho encurralou Sasori, apontando uma grande lança escura para ele.

— Não, deixo você vencer hoje... — o ruivo respondeu indiferente, sentando-se no chão e recuperando o folego.

— Pelo visto anda me deixando vencer sempre! — o homem riu e sentou-se ao lado da criança.

“Deve ser tão divertido...”

Tudo o que o Kazekage recebeu foi uma cara emburrada de criança com sono que, a esta altura, já estava praticamente dormindo. Quando a crise de risos passou, ele levantou-se e começou a recolher as marionetes do pequeno.

— Todos os dias, mesmo ganhando, eu quem tenho que juntar tudo, é? — como das outras vezes, o tom era de brincadeira e tentava imitar uma falsa raiva.

— A vida é difícil... — Sasori resmungou, se deitando na areia e pronto para dormir por lá mesmo.

— É, realmente ela é... — o olhar se tornou um tanto pesado e, pela primeira vez, ele falou sério — Mas o meu dever como Kazekage é tornar tudo melhor, certo? — um sorriso singelo se formou, mas logo uma face irritada tomou conta do semblante — Sasori! Não durma enquanto eu dou lição de moral! — acabando de juntar os pergaminhos das marionetes, ele foi até o “pirralho” — Ei, nanico! Droga... Todo dia isso, Sasori? Você faz de propósito, só pode... — sem esforço algum, ele pegou a criança no colo — Horas treinando para, no fim, falar sozinho e ainda ter que levar o esquentadinho babando no meu ombro! — um suspiro foi dado e seguiu-se um sorriso — Acho que deixo as coisas fáceis até demais...

“Eu também quero deixar as coisas fáceis...”

— Kazekage-sama... Ei, Kazekage-sama! — como se já não fosse o bastante os chamados, as batidas que pareciam querer derrubar a porta fizeram com que o homem se levantasse apressado e fosse ver o que estava acontecendo — É aquela criança de novo, está incontrolável!

Sem mais nada precisar ser dito, Gaara saiu o mais rápido que conseguiu pelas ruas de Sunagakure, até encontrar a mesma areia escura e metálica que viu em seu sonho. Não foi difícil achar, já que as pessoas corriam em direção oposta daquela pobre criança sem controle como, anos e anos atrás, fugiam da areia sem controle de Gaara.

Melhor do que ninguém, ele sabia tudo o que aquele garotinho estava passando e o quão doloroso era se sentir sozinho, ele sabia como era difícil, como ser olhado e temido daquele jeito deixavam marcas profundas e dolorosas. Ele sabia, acima de tudo, que precisava deixar as coisas mais fáceis para aquela criança.

Os ventos fortes formavam uma névoa espeça e escura, junto a areia de ferro. A cada passo era mais difícil dar o seguinte. A cada segundo, era mais difícil não ver a si mesmo naquele garoto, que o encarava com semblante raivoso e pronto para se defender.

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Gaara continuou sua caminhada e, quando julgou ser o momento certo, fez algo que nunca se imaginou fazer com um desconhecido, mas que sempre admirou quem conseguia: deu um abraço naquela pobre criança. Abraços não eram mais sinais de fraqueza para o Kazekage, pelo contrário, ele via nos abraços uma proteção tão forte que nem mesmo sua areia era capaz de proporcionar.

“Eu quero deixar as coisas fáceis...”.

Com este pensamento ainda em mente, Gaara começou o diálogo da melhor forma que podia:

— Vou lhe ensinar como usar o seu poder — a voz calma saiu em tom sério, mostrando o quão comprometido ele estava com aquela afirmação — Qual seu nome?

— Shinki...

“Eu quero deixar as coisas fáceis para você, Shinki...”.

No fim das contas, passar uma manhã tediosa entre cochilos e leitura dos diários dos antigos Kages do País do Vento serviu da melhor maneira possível.