Há poucas pessoas que Victor deixaria falar na cara dele o quão ruins eram suas ideias. Chris era uma delas.

Ele esteve ao seu lado quando Victor quis adotar Yuri. Ele o defendeu de todas as pessoas que o criticaram por adotar uma criança ainda solteiro. Victor devia muito ao suíço.

E agora, na visita quase repentina de Giacometti a São Petersburgo, ele se perguntava onde estava aquele apoio.

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— Como assim você quer mais um filho? - Christophe perguntou abismado do banco do passageiro.

— Eu não quero mais um filho, eu só não descartei a possibilidade de um terceiro. - Victor respondeu calmamente.

— Victor, mon ami, eu te perdoei quando você ligou com a naturalidade de quem anunciaria a chuva de tarde para falar sobre o novo bebê que você adotou. Um bebê fofo, aliás. Agora você está me dizendo que quer mais que dois? Se o que você estiver usando for legalizado, eu quero um pouco.

— Que horror, Chris. - Victor riu enquanto parava o carro em um sinal vermelho - O que tem de errado com mais de dois filhos? Os Leroy devem ter uns quatro.

— São héteros, Victor, eles não contam. - o loiro revirou os olhos. - Eu estou preocupado com você. Quer abrir uma creche sozinho.

— Não vou abrir uma creche. - ele fez uma careta - É só que... Eu achava que Yura seria o único quando o adotei. Mas conhecer Yuuri mudou tudo. Sabe o amor à primeira vista que eles falam? É quase o mesmo, mas não foi aquele amor, foi outro, muito mais precioso pra mim. Então eu não posso fazer planos apenas para dois meninos, pois pode acontecer de novo. - ele, bem lá no fundo, sabia e sentia que não haveria outros mais. Ele se sentia verdadeiramente completo com seus Yuris. - Mas relaxa, ok? Eu sei me cuidar. Contente-se com seus dois sobrinhos.

Chris ainda olhou para ele por um minuto completo antes de suspirar com um sorriso.

— Sabe, chérie, às vezes eu sinto falta dos tempos em que nós saíamos mais e só voltávamos para o hotel depois de beijar três nacionalidades diferentes. - ele riu com a lembrança - Mas então eu lembro do brilho nos seus olhos quando finalmente assinou os papeis de adoção e entendo que está muito melhor assim. Você estava feliz, Victor. Era uma coisa que eu não via há muito tempo. A paternidade te salvou.

Victor sorriu porque era verdade. Uma grande e agridoce verdade. Talvez ele estivesse caminhando em direção a um abismo nos anos finais de sua carreira. Era tudo tão... vazio. Se ele não encontrasse uma luz rapidamente, quem sabe o que teria acontecido.

Yuri lhe deu uma luz. E depois, Yuuri mostrou que duas luzes era melhor.

— Sentimentos à parte, eu ainda vou manter seu nome de contato como Angelina Jolie. - o loiro disse dando de ombros.

Victor fez uma careta.

— Chris, não.

— Vou, sim. Linda, poderosa, está melhor solteira e adota a primeira criança que vê pela frente. É você, Victor.

— Cala a boca.

Após mais alguns minutos na pista, eles finalmente chegaram ao seu destino. A creche onde os meninos estudavam.

— Yuuri é um pouco tímido com estranhos, então não se sinta mal se ele começar a chorar do nada perto de você. - Victor disse assim que passaram pela entrada a caminho das salas de aula.

— Yuri literalmente me chamou de "feio" assim que nos conhecemos. Não dá pra ficar pior que isso. - seria uma tendência os filhos de Victor terem uma aversão inicial a ele?

O primeiro que eles foram buscar foi Yura. Ele estava desenhando com outros dois meninos até a professora o chamar e ele se levantar, pegando sua mochila e outra folha de papel dobrada.

— Papa, olha o que eu fiz! - ele disse animadamente mostrando o papel aberto, ignorando Christophe completamente - Eu fiz sozinho!

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— Uau! - Victor disse com um sorriso enquanto analisava a obra de arte. Era uma colagem com aquelas dobraduras de várias pessoinhas de mãos dadas que Victor nunca conseguiu fazer. - Ficou incrível, Yuri!

— Eu não ganho um "oi", também? - Chris disse em seu russo ligeiramente gasto abaixando-se no nível do garoto.

— Ah, tio Chris. - Yuri realmente nem tinha notado o outro adulto ali.

Ele gostava de Chris, mas não dos abraços dele. Porque a barba pinicava e ele usava perfumes muito fortes. Então cumprimentos se resumiam a um high-five e uma bagunçada de cabelos.

— Tem chocolate? - o mais novo perguntou com expectativa. Chris sempre tinha os melhores doces.

— Sim, eu trouxe guloseimas o suficiente pra você e o seu irmão. - Chris já sabia, por Victor, que Yuuri comia tudo sem resistência. Talvez uma pequena aversão a legumes. Explicava por que ele tinha bochechas tão cheias.

Com a menção ao irmão, Yuri fez uma careta.

— Ele vai comer tudo! Yuuri não sabe dividir! - ele reclamou. Yuuri tinha apenas uma alegria na vida e era roubar suas preciosas balas e biscoitos. E ele chorava quando Yuri tentava pegar uma!

— Ele acha legal tudo que você faz porque você é o mais velho, Yura. - Victor disse pegando sua mochila e caminhando até a sala do berçário.

Chris aproveitou para saber mais sobre a visão de Yuri sobre aquela nova realidade.

— E como é ter um irmão, chaton?

Yuri revirou os olhos.

— Ele é muito chato. Ele só sabe chorar pra tudo e não me deixa brincar sozinho. Ele é muito burro, também.

O mais velho riu ao entender o russo básico e infantil de Yuri. Ele mesmo não foi o irmão mais velho mais receptivo do mundo quando sua irmã Simone nasceu nos seus seis anos, mas pelo menos ele sabia que haveria um bebê. O que Victor fez foi ligeiramente errado.

Mas as caretas de Yuri eram muito fofas.

— Quando você não pode contra o inimigo, você se junta a ele. - Chris disse baixo, esperando que sua pronúncia não tenha sido tão ruim e aproveitando que Victor estava alguns passos a frente.

O menino franziu o cenho.

— O quê?

— Você pode usar Yuuri para conseguir as coisas que você quer. - o suíço não se sentia culpado por ensinar Yura a ser um manipulador. - Eu tenho uma irmã. Eu aprendi que eles davam tudo pra ela porque ela era mais pequena e fofa. Quando se tem um irmão, você tem duas chances de conseguir presentes. E se vocês aprendem a dividir, tudo que é dele é seu também.

Yuri pareceu pensar seriamente sobre o que ouviu. Ótimo, Christophe acabara de criar um monstrinho aproveitador. Mas certamente melhoraria a relação dos dois. Ele conseguiu regalias graças aos olhinhos brilhantes de Simone até os vinte anos.

Eles chegaram a uma sala maior e com habitantes menores. Muitas cores, muita baba e choro e aquele desenho russo estranho da menina com o urso passando na TV. Christophe admirava a paciência desses profissionais.

Victor mal se conteve ao pegar um Yuuri levemente sonolento do colo da professora.

— Oh, meu zaichik brincou tanto que cansou? - Victor disse com aquela voz enjoada de pais corujas que todo mundo acha ridículo, menos os próprios pais.

— Ele começou uma rebelião generalizada na hora do lanche que levou meia hora para limpar. - a professora disse com um sorriso de lado. - Não nos processe se encontrar cenoura amassada no cabelo dele.

Yuri olhou para o bebê com olhos arregalados. Yuuri era um rebelde aventureiro, bem lá no fundo. Por que ele fazia coisas legais só quando Yuri estava longe?

— Lamento o trabalho extra, Srta. Cherkhova. - Victor disse com um pequeno sorriso. - Até amanhã.

— Até, Sr. Nikiforov. Tchau, Yurachka.

Yuuri fez algum som de despedida, mas não fez muito esforço em sair de sua posição no colo de Victor.

— Você vai me deixar segurá-lo ou não? - Christophe perguntou rondando o outro até poder olhar Yuuri nos olhos.

— Ele está com sono, não acho que...

— A-po! - Yuuri magicamente acordou e agora olhava para Chris como se ele fosse o novo messias.

— Hum? - Victor piscou algumas vezes para menino. Não era isso que ele dizia quando se conheciam?

— Isso não parece sono. - Chris disse com um sorriso, abrindo os braços - Oi, Yuuri. Você quer vir pro colo do tio Chris?

Yuuri nem piscou antes de estender os braços para o outro homem. Ok, Victor estava com ciúmes agora e nem podia disfarçar. Seu amigo apenas riu.

— Tímido com estranhos, hein? - o loiro disse achando graça do interesse que Yuuri tinha nele, desde as mãozinhas em seu nariz até puxar seu cabelo. - Pare de me olhar feio, Victor, seu filho tem bom gosto.

— Isso certamente tem uma explicação plausível. - o russo disse cruzando os braços.

— A explicação é eu ser uma ótima figura paternal, obviamente. - ele disse com certo sarcasmo. Chris não era o melhor com crianças e ele não pretendia adicionar uma a sua família tão cedo. Mas até ele tinha que admitir que aquele bebê era uma graça - Você consegue dizer "Chris", pequeno Yuuri? Vamos lá: Chris.

Kiss! - Yuuri disse com um sorriso animado enquanto tentava puxar o cabelo do suíço.

Oh.

Oh.

O sorriso de Chris desmanchou porque ele não esperava aquilo. Não de uma forma tão fofa. Chris acredita que virou diabético naquele dia.

— Minha santa mãe, essa criança é muito preciosa. - ele murmurou de olhos ligeiramente arregalados e bochechas coradas. - Encontre seu terceiro filho, Victor, esse aqui é meu.

— Oi? - Victor disse momentaneamente esquecendo seus ciúmes enquanto checava a mochila de Yuuri, para garantir que não esqueceram nada.

— É isso mesmo, Yuuri é o escolhido para continuar a linhagem dos Giacometti. - ele disse com um sorriso misto de êxtase e encantamento. - Ele me chamou de "Kiss", Victor. Kiss! Já viu alguma coisa mais pura que essa? Arranje outra criança para cumprir a sua cota de pirralhos, estou levando Yuuri para Zurich.

— Yay! - um Yuri mais animado do que devia comemorou. - O porquinho vai embora!

— Menos, Yura. - Victor disse levemente chateado por seus filhos ainda não terem a melhor das relações. - E pare de falar besteira, Chris, ele só disse o seu nome.

— Mas ele me chamou de "Kiss"! - o loiro rebateu infantilmente, segurando a criança mais forte contra si. Ele virou-se para o menino e disse em alemão baixo - Eu vou te encher de chocolates de qualidade e criá-lo numa tradicional fazenda suíça, pequeno Yuuri Giacometti. Eu vou te exibir para todas as minhas amigas em Zurich e elas vão derreter quando te virem.

— Christophe, não fale línguas que eu não conheço perto dele. - Victor disse já estressado com todo aquele amor. - Devolva meu bebê.

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— Você quer voltar para a Angelina Jolie, liebling? - Chris olhou de Yuuri para Victor com aquele sorriso moralmente questionável de quem não deveria ficar perto de glitter ou pó colorido.

E Yuuri é um traidor, de forma que continuou abraçado ao seu novo adulto favorito com um sorriso que de tão fofo chegava a ser maléfico.

— Yuuri.~ - Victor prolongou o nome teimosamente, estendendo os braços em sua direção. - Eu sou o seu papai, não o Chris.

— Kiss! - Yuuri repetiu o nome quase como se estivesse desafiando o pai.

Aquilo já estava irritando Yuri.

— Hey, você tem que obedecer o papai! - o menor falou segurando o pé do bebê.

E aquilo pareceu fazer o mais novo refletir, porque logo ele estava se remexendo nos braços do suíço pedindo pra descer.

— Yu-ah!

Espera.

Yuuri dispensava Chris por Yuri, mas não por Victor.

— Yuuri, por que você não me ama? - Victor murmurou choroso enquanto Yuuri tinha uma aparente conversa séria com Yuri. O mais velho parecia entender um pouco.

Chris colocou uma mão em seu ombro em sinal de apoio ao mesmo tempo em que dizia:

— Por favor, não fique na fossa porque você foi dispensado por um bebê.

— Mas é o meu bebê! - ele resmungou com um bico.

O loiro suspirou.

— No fundo, você continua o mesmo, Victor. Não quero nem ver quando ele for pra faculdade.

A próxima parte Victor disse em inglês:

— Chris, vai se foder.

É, Victor era um pai emotivo.