Amem
#SomosTodosSafados
— Calma, tio não era nada de mais.
— Nada de mais? Vocês estavam transando no meu sofá — vociferei.
— Não estávamos transando, foram apenas uns beijinhos — Lucas tentou argumentar.
— Sim, uns beijinhos muito inocentes… Tão inocentes que a Michele estava sem blusa.
— Tio, desculpa. A gente se deixou levar…
— Vocês se conhecem a pouco tempo para estarem tão íntimos assim… Sei que os jovens tem um fogo fora do normal, mas vocês deveriam ter respeitado a minha casa. Isso aqui não é um motel não.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Isso não vai mais acontecer, eu garanto — pronunciou-se Lucas.
— Assim espero. Agora acho melhor que você vá embora, Lucas.
O rapaz deixou a casa. Então Michele e eu ficamos sozinhos e a menina declarou:
— O senhor não deveria nos julgar tanto.
— Eu não estou julgando ninguém, Michele. Eu estou apenas me mostrando contrário à promiscuidade que estava acontecendo aqui.
— Quem o senhor acha que é pra falar de promiscuidade? — indagou em tom desafiador.
— O que? Por que está falando assim comigo? — interroguei.
Eu não conseguia compreender o comportamento de Michele. A forma como ela falava era extremamente desrespeitosa.
— Será que devemos perguntar ao padre Miguel? Talvez ele saiba nos responder.
— O que ele tem a ver com isso? Eu não estou entendendo onde você quer chegar.
Naquele momento meu coração começou a bater absurdamente rápido. Não sabia como, mas Michele sabia da minha safadeza com Miguel. Meu Deus, como ela poderia saber daquilo?
— Tio, por favor, pare de se fazer de desentendido. Eu sei que o senhor e o padre Miguel têm um caso.
Naquele momento, foi como se eu tivesse recebido um tiro no peito. Ela realmente sabia. Senti-me imensamente envergonhado, se tivesse sido possível, teria cavado um buraco no chão para me esconder.
— Por que você está dizendo isso?
— Porque é verdade. Hoje de manhã, quando eu fui arrumar o seu quarto, encontrei um caderno debaixo da cama, acabei me deixando levar pela minha curiosidade e li algumas páginas.
Ela tinha achado o meu diário. Maldita hora que eu inventei de escrever diário. Como pude ser tão estúpido?
— Você não deveria ter feito isso.
— Desculpe, mas eu fiz. Eu nunca ia imaginar que aquilo era um diário e que o senhor era gay.
Fiquei sem palavras, me sentia muito mal por ela ter descoberto a minha tão secreta homossexualidade. Depois de um breve tempo em silêncio, Michele, num tom mais respeitoso e compreensivo, questionou:
— Por que vocês não largam a Igreja?
— Michele, acho que você não leu o bastante, porque senão ia ver que eu não me orgulho nem um pouco dos meus sentimentos pelo Miguel.
— Sim, eu vi que o senhor diz isso no diário, mas pelo que o senhor escreve também dá pra perceber que o ele é o amor da sua vida.
— A minha relação e a do Miguel é algo completamente inaceitável.
— O senhor está dizendo que o amor é algo inaceitável?
— Eu sou um padre, Michele, eu não deveria andar por aí me agarrando com outro padre, isso é algo imundo.
— Largem a igreja e vão se amar, assim vocês não terão mais que cumprir o celibato.
— Não é tão fácil assim.
— Eu não acredito que o senhor vai perder o amor da sua vida por causa da igreja — declarou indo para o seu quarto e me deixando só.
A confusão que habitava em mim era tremenda, eu precisava compartilhar aquilo com o Miguel, pois apesar dele ser a minha motivação para o pecado, ele também era meu amigo e única pessoa com quem eu poderia compartilhar aquela dor.
Liguei para ele, que rapidamente atendeu.
— Alô?!
— A Michele sabe de tudo, eu tô desesperado.
— Calma, a sua sobrinha não vai te denunciar pro Papa não, relaxe.
— Miguel, ninguém deveria saber disso. Eu estou morrendo de vergonha. Será que ela contou algo pro Lucas?
— Eu mesmo falei pro Lucas sobre isso.
— O que?
— Nós somos primos e amigos, compartilhamos segredos.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Isso não era pra você contar nem pra sua sombra.
— Pelo amor de Deus, Paulo você queria que eu guardasse isso só pra mim? Eu iria enlouquecer.
— Você já enlouqueceu quando resolveu contar essa safadeza para alguém.
— Paulo, você acha que eu não sofro? Você acha que para mim é lindo ser um padre homossexual? Acha que isso não me causa nenhum tipo de confusão? Você não é o único sofrendo com essa situação não.
— Então o melhor é acabarmos com isso.
— Você quer terminar comigo?
— Terminar com você? Como assim terminar? Nós nunca tivemos um relacionamento, o que aconteceu entre nós foi uma safadeza.
— Eu tenho uma proposta melhor: ficarmos juntos. Largar a igreja de vez.
— Você ficou louco?
— Não, eu quero poder viver do lado do homem que eu amo. Amanhã mesmo vou comprar duas passagens para nós. Se você me amar de verdade vai ir junto comigo — disse, desligando o telefone.
Miguel parecia realmente estar determinado a fugir. Enquanto eu não fazia a menor ideia de que atitude tomar.
Passei a noite em claro, não conseguia esquecer a conversa com Miguel, pela manhã, consegui finalmente raciocinar melhor e tomar uma decisão.
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