A reason to live

A reason to live — capítulo único


O revolver mirava a cabeça de seu oponente - na testa - bem no meio dos olhos, como se ali fosse surgir um terceiro olho e ela quisesse se precaver de tal anomalia. Os olhos, que mais pareciam caramelo derretido de seu oponente a encaravam docemente, ele não se sentia intimidado, muito menos parecia correr algum risco de vida com a ameaça que sofria. A portadora da arma tão pouco se importava com tamanha atenção, o observava com um olhar questionador. Depois, o revolver passou a descer gentilmente pela face do rapaz, esgueirando-se por seu pescoço até finalmente parar em seu peito, bem onde deveria estar localizado seu coração.

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— Toto... - tudo que se podia ouvir era um sussurro vindo dos lábios daquela que segurava a arma.

— Tudo bem, nee-chan. Está tudo bem, essa será a nossa promessa - disse com um sorriso apaziguador, os olhos dourados que lembravam caramelo derretido. Como se assim tentasse amenizar o turbilhão que se passava na cabeça cabeça da garota.

Porém tal excitação não era estritamente necessária. A arma nas mãos da garota não era verdadeira, era um revolver de brinquedo que Toto havia comprado com os casts que tinha de sobra. Ter o mockingbird como amigo resultava em uma surpresa atrás da outra. Na realidade, aquilo se aplicava a "promessa" que ele acabara de mencionar. Uma promessa um tanto suicida, mas que se comparada a realidade de ambos, nem tanto assim.

O seu primeiro encontro havia sido obra do acaso. Eram meros desconhecidos, ela corria risco de vida e ele a salvara, ótimo, mas nem tanto. Acontece que ela não queria ser salva, para ela, ter de morrer não seria nada além do ciclo natural de sua vida e ela só queria acelerá-lo. Não haviam motivos para ela continuar a caminhar na Terra. "Yosuga não quer viver mais, não assim", era o que ela sempre pensava. Mesmo assim, mesmo não sabendo disso, ele a salvara, Toto a salvara.

O motivo disso era a razão do revolver de brinquedo, era uma razão para ambos viverem.

— Então Yosuga pode matar Toto a qualquer momento?

— Sim, e eu vou deixar a nee-chan em fatias.

No pouco tempo em que conviveram, Toto sempre chamou Yosuga não pelo seu nome como a própria tinha o hábito de fazer, mas sim por "nee-chan". O motivo ela desconhecia, mas para ele era como um resgate das lembranças que haviam sido arrancadas de si contra sua vontade, quando entrou na Deadman Wonderland era como se um outro capítulo de sua vida desse início, um capítulo nada agradável. E Yosuga surgira de repente, como uma substituta para a irmã que ele perdera para a morte.

Tal promessa era irracional, claro, mas ambos pouco se importavam se tal razão era sã ou não. A justificativa estava ali, era algo para eles poderem desfrutar da vida, um motivo para vivê-la. Ou melhor, um motivo para ela, Toto já havia encontrado a sua razão e ela estava agora abaixando o revolver deixando que um riso abafado lhe escapasse os lábios.

— Ela nem é de verdade - se referia a arma.

— Mas serve como motivo para você? - aqueles caramelos intensos a encaravam.

Ele tinha acabado de sair do banho, vestia somente a bermuda, em seus ombros jazia uma toalha. Não era nem de longe a imagem ideal para uma declaração daquelas mas era melhor do que nada. Yosuga sorria genuinamente, um daqueles sorrisos que ele raramente a via dar. Normalmente ela ficava quieta, lendo seus romances de mistério, sua voz só era ouvida quando Toto puxava uma conversa, ou contava o final de um de seus livros - coisa que a irritava profundamente - o que importava era que agora pelo menos, ela parecia mais vivida, não tinha aquele olhar melancólico nos olhos.

— Sim, enquanto Yosuga puder encher Toto de buracos, ela não deseja mais morrer. Não enquanto não fizer isso.

— Nós morreremos juntos, nee-chan.

Porém, tal promessa absurda não pode ser cumprida. Não da forma como eles haviam planejado.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.