O telefone tocou pelo menos cinco vezes antes de ser atendido, fazendo Hayato ofegar ao ouvir a voz de Takeo do outro lado da linha. Olhou rapidamente o visor para ter certeza que havia discado para o próprio número, mas não contava com o fato de outra pessoa atender.

Mikaru? Ainda está aí?— Takeo também conferiu a tela, o contador de tempo marcando normalmente, mostrando que a ligação estava em andamento.

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— Estou. A linha ficou muda por um instante. Izumi está aí? Preciso confirmar algo com ele.

Hayato está no banho… aconteceu alguma coisa?

— Nada de mais. Pode pedir pra ele me ligar de volta? – e de preferência quando estiver sozinho, completou em pensamento. Precisava contar o que aconteceu durante aquele dia e Takeo não poderia ouvir de jeito nenhum!

Sim, eu aviso ele. Mas se é algo da cafeteria, vocês não podem resolver amanhã? Não sei como você está, mas Hayato anda irritado. Por que não descansam um pouco e resolvem isso depois?

— Preocupado comigo, Shiro? – uma ideia louca passou pela mente de Hayato, mas agora já colocava em prática. Supostamente ele não estaria ouvindo, então será que Takeo mudaria a forma de falar com o amigo? Será que ia aceitar as indiretas dele? Sairia muito magoado se o namorado desse indícios de ainda gostar de Mikaru.

Claro que eu fico preocupado. Com vocês dois! Se ficarem doentes, sou eu que tomo conta da cafeteria e não quero nem imaginar como vou me virar naquilo sozinho. Então tratem de se cuidar!

— Mas e se apenas eu ficar doente? Cuidaria de mim? – Hayato beliscou o lábio enquanto se sentava na cama, esperando a próxima reação. O namorado ganhou o primeiro ponto de confiança da noite.

E o seu namorado vai fazer o que? Cuidar do meu?— conseguiu ouvir uma risada curta do outro lado da linha, tentando imaginar a expressão de Takeo – Posso te oferecer uma carona até o hospital.

— Como você está sendo mau comigo…

Mikaru, não. Eu te pedi pra parar com essas brincadeiras. Hayato está estranho comigo e a última coisa que eu quero é dar motivos pra uma briga.

— Ah… desculpe. – Hayato sorriu animado. O dia não foi dos melhores e ainda estava inseguro com relação ao encontro com os amigos de Katsuya, mas ouvir o namorado falando daquela forma com o suposto Mikaru fez tudo valer a pena.

— Tudo bem. A gente se fala amanhã, ok? Se cuida!

— Com quem estava falando?

Takeo olhou para o lado, dando de cara com Hayato que acabava de sair do banheiro e caminhava em sua direção.

— Mikaru queria falar com você. Acho que era trabalho. – estendeu o celular para o namorado, puxando-o pela mão até a cama – Vem, eu seco pra você.

Mikaru não contestou o chamado, sentando na ponta do colchão, o amigo se colocando às suas costas, pegando a toalha de seus ombros e passando-a pelos cabelos molhados. Nunca haviam feito isso por ele antes, nem mesmo sua mãe quando era criança. Era tão calmante. Suspirou satisfeito, olhando para o celular em suas mãos antes de colocá-lo de lado.

— Não quero falar sobre trabalho agora.

— Também acho que não deve. Amanhã vocês vão se ver. Seja lá o que for, pode esperar mais algumas horas.

— Tem razão. Porque se depender daquele viciado em trabalho, eu viro a noite fazendo projetos da cafeteria. Não sei como você aguenta ele. – o carinho nos cabelos era tão relaxante que Mikaru baixou a guarda, se apoiando contra o corpo de Takeo e fechando os olhos.

— Ele é uma boa pessoa, mesmo que você pense o contrário, Hayato. Se ele fosse tão ruim quanto diz, não teria ajudado com a cafeteria, para começar. Não estaria ligando para resolver os problemas. Ele podia ter dado o passo inicial e depois jogado as responsabilidades pra cima de você, mas não fez.

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— Você gosta dele. – não era uma pergunta. Descobrir o que Shiroyama pensava a seu respeito seria interessante. Podia tirar algum proveito da situação.

— Gosto, Mikaru é meu amigo. E nem pense em insinuar que é algo a mais porque não é.

— Se algum dia a gente terminar e ele ainda te quiser, você voltaria com ele?

— Não… não é o mesmo sentimento de antes, Hayato. Me importo com ele, gosto de conversar, mas é só como amigo. Tanto ele quanto eu mudamos; a personalidade, os gostos, o modo de pensar sobre várias coisas. E mesmo se eu não tivesse te conhecido, nada garante que ainda estaria com ele. A gente podia ter terminado por vários outros motivos na adolescência. Sem falar que não estou pensando em terminar com você, então tire essa ideia da cabeça.

— Foi só uma pergunta.

Mikaru estava pronto para se afastar, com medo que aquela proximidade desse margem para outra mais íntima, quando Takeo parou de secar seu cabelo e o abraçou pela cintura, a cabeça pousando em seu ombro.

— Eu gosto do seu cheiro…

Tarde demais. Havia se distraído e agora o guitarrista estava perto o suficiente para agir sem que ele conseguisse revidar. A mente começou a trabalhar com urgência, procurando uma desculpa para sair dali, mas sentiu seu corpo arrepiar com a respiração dele batendo em seu pescoço.

— Eu quero sorvete.

— O… o que? – Mikaru chegou a virar o rosto para encará-lo, sem ter certeza de ouvir direito.

— Sorvete. Vamos lá na esquina comprar?

O sorriso foi tão infantil e o olhar pedinte, que Mikaru não conseguiu não sorrir junto, acenando em concordância e relaxando novamente.

— É a sua vez de pagar! – Takeo rolou por cima da cama, praticamente pulando do colchão e parando próximo ao guarda-roupa, retirando a roupa que usava para dormir e pegando outra para sair.

Mikaru apenas concordou, se divertindo com aquela reação enquanto se arrumava também, satisfeito com aquela mudança de comportamento.

* * *

Mikaru ligou para Hayato apenas na manhã seguinte, após Shiroyama deixá-lo na estação para pegar o trem. Takeo iria trabalhar no sentido oposto e chegaria atrasado se fosse levá-lo até a cafeteria, mas o empresário não se importou, agora que já sabia fazer o percurso sozinho.

— O que você queria falar comigo?

O que…? Quem…

— É o Mikaru, seu vocalista de merda! Ainda está dormindo? Tem noção que já são quase oito? Você deveria estar indo trabalhar!

Ah… eu costumo dormir até tarde…

— Então? Qual o assunto? – Mikaru estava perdendo a paciência, mais ainda por se ouvir no telefone com aquele tom de voz moroso.

Ah, o passeio de ontem. Queria falar sobre os amigos de Katsuya.

— Sei. Quantos me chamaram de velho e quantos fizeram insinuação ao status?

Hayato ficou em silêncio, pois não esperava que Mikaru tivesse tanta noção da situação, mas parando para analisar, ele não era bobo. Sabia o que poderia esperar daquele encontro.

Você tinha razão… eles foram legais, mas deu pra sentir algumas olhares desconfiados.

— Por isso eu não queria ir. O que mais aconteceu?

O restante da tarde fiquei na casa dos seus sogros. Não falei muito com eles, mas a irmã do Katsuya é uma fofa, me fez lembrar da Hana, minha irmã. Nós até brincamos com o jogo de chá dela.

— Você o que?!

O que? Você disse que todos eram bons com você, só retribui como imaginei que fizesse. Ela até disse que vocês montaram um quebra-cabeça juntos.

— Uma atividade de lógica não é o mesmo que um brinquedo de criança! – Mikaru massageou a têmpora, suspirando fundo. O dia prometia não ser muito bom – O que mais fez pra me passar vergonha?

Não te passei vergonha, fiz você ser gentil com ela. Até o Katsu achou divertido.

— Já te pedi para não chamá-lo assim! Tsc… vou pegar o metrô, nos falamos no café. – e desligou, sem esperar mais explicações.

Aquele vocalista idiota ia ver só. Uma coisa era tratar a menina bem e outra completamente diferente era agir feito um idiota para agradar qualquer um.