Hart

Dia 16


Mais de duas semanas depois das sua internação, Aart já podia andar pelo quarto - não que isso realmente significasse grande avanço. Porém, era reconfortante andar por aquele imenso local e exercitar-se, mais algumas semanas e ele tiraria todas aquelas faixas pelos seu corpo e receberia alta médica.

A porta rangeu no exato momento em que o jovem bisbilhotava a parede esquerda do quarto tentando adivinhar se por trás daquela cortina havia um cofre.

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— O que está fazendo? — o homem questionou tirando seu sobretudo e jogando-o na cadeira usual.

— O que o tédio nos obriga a fazer. Bisbilhotar. — respondeu como se aquela fosse a resposta mais plausível do mundo.

— A cortina? — o homem se aproximou.

O garoto deu de ombros.

— Sei lá. Eu só queria ver algo que eu não tivesse visto todos esses dias.

O homem o encarou, depois olhou para a cortina, arregaçou as mangas da camisa social e puxou o tecido com uma força hercúlea. Logo o grande lençol caiu pesado no chão, porém a atenção de Aart estava onde antes estivera a cortina. Uma janela enorme repousava lá, graciosa. Ele correu para abrir as persianas e seus olhos brilharam com o paisagem lá fora. Era de tirar o fôlego. O garoto jamais pensaria que aquela era uma casa de campo, mas lá estava: um caminho de pedras levava para um bosque ali perto, Aart jurava poder ver um pequeno rio correndo ao longe e um discreto jardim de tulipas.

— Será que eu morri e fui pro paraíso? — deixou escapar.

— Você não morreu. — o homem se afastou da janela e sentou-se em sua cadeira habitual. — E você detesta vir aqui.

— Eu posso reconsiderar esse pensamento. — deixou escapar novamente, mas o homem não fez nenhum comentário dessa vez. — Aart virou para olhá-lo e ele o estava observando. — Por que está me ajudando tanto? — questionou de lá mesmo, recusando-se a se afastar da janela.

— Eu te devo isto.

— É? — voltou a olhar a janela. — Por quê?

— Questões do passado.

A resposta vaga demonstrava como ele não queria continuar com aquele assunto, o que era bem frustrante, na verdade.

— E nós éramos amigos? — quando o homem demorou muito para responder, o garoto foi obrigado a parar de perseguir dois pássaros com os olhos e voltou sua atenção para o outro.

— Algo assim. — murmurou.