Tarja Preta
Conselhos Amorosos.
— Eu estou tão magoado! – gritou Edgar chacoalhando Daniel. – Eu nunca levei um fora antes!
— Isso faz parte da vida. – respondeu tentando consola-lo.
— Sei que só nos conhecemos há dois meses, mas já te considero um irmão! – disse Edgar o abraçando.
— Fico lisonjeado... – Daniel tentou se livrar dos braços do amigo, mas não conseguiu já que Edgar é muito maior e mais pesado. - Cara, tem certeza que você está bem?
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— É notório que não. – Gabriela segurou o riso. – Ele deve estar bêbado.
— Não estou não. – Edgar contestou.
Só fazia dois meses desde o primeiro dia de aula e Edgar já estava apaixonado por uma garota do segundo ano chamada Júlia. Apesar de ter conversado com ela apenas uma vez, o garoto havia cismado que ela seria sua nova namorada.
— Eu não aguento mais ser solteiro! – resmungou ele. – Já não lembro a ultima vez que beijei na boca! O que tem de errado comigo?
— Você não tem culpa, como iria adivinhar que ela é lésbica? – perguntou Daniel. - Não é o fim do mundo, você irá se apaixonar por outra pessoa cedo ou tarde.
— Eu não me apaixonei pela Julia! – resmungou ele.
— Então por que está tão irritante? – Gabriela perguntou impaciente.
— Eu levei um fora! – respondeu assoando o nariz na blusa de Daniel.
— Droga Edgar! – esbravejou ele. – Que nojo!
— Ela mexeu comigo, me deixou cheio de cicatrizes e foi embora... – continuou ignorando completamente o amigo.
— O que vocês estão fazendo aqui? – Caio, o porteiro da instituição, se aproximou do trio que estava reunido no pátio da escola. – O sinal já bateu, precisam voltar para casa.
— Tio, estou sofrendo! – Edgar abraçou o velho e começou a acariciar a cabeça do mesmo. – Sua careca é tão brilhante...
— Desculpa. – Gabriela falou tirando Edgar dos braços do senhor de idade. – Ele tem muitos problemas.
— Certo, mas devem resolver isso bem longe daqui. – resmungou Caio.
— Não posso, tenho um encontro com a Márcia. – Edgar falou enxugando as lagrimas.
— Você não estava sofrendo?! – Gabriela perguntou irritada.
— Da um tempo a ele. - Disse Daniel revirando os olhos. - Ele deve estar com gases.
— Vocês irão arranjar problemas para mim. – Caio falou abrindo o portão. – Eu não quero ser demitido! Vamos logo!
— Ok! – Gabriela gritou com rispidez.
Como Edgar se negava a andar, Daniel e Gabriela tiveram de arrasta-lo por praticamente todo o caminho. Irritado, Daniel respirou fundo e lutou com todas as forças para não jogar o novo amigo na frente de um caminhão. “Será que ele não vai calar a boca?”, pensou enquanto Edgar falava sem parar em como Júlia o magoou.
— Onde estamos indo, exatamente? – perguntou Daniel.
— Deixar essa tralha em casa. – respondeu Gabriela referindo-se a Edgar. – Vamos seu idiota, deixe de drama e ande!
— Qual o sentido da vida se não posso beijar ninguém? – perguntou cabisbaixo.
— Chega! – Daniel gritou largando o braço de Edgar, fazendo-o tropeçar e quase cair por cima de Gabriela.
— O que deu em você? – gritou a garota. – Esse mamute quase me derruba!
— Ei! – gritou Edgar. – Vocês são péssimos amigos, sabiam?!
— Ninguém liga! – disseram Gabriela e Daniel ao mesmo tempo.
— Obrigado, me sinto amado de verdade. – resmungou Edgar. – Ninguém parece gostar de mim... Ai! – gritou quando Daniel o deu um tapa na cara.
— Foco, homem! – gritou. – Pare com esse teatro de novela mexicana! Você não tem um encontro hoje com a Maria?
— Márcia. – corrigiu. – Ok, vocês têm razão, afinal sou um homem maravilhoso, engraçado, talentoso...
— E egocêntrico. – resmungou Gabriela. – Agora que sua autoestima já voltou ao normal, quer fazer o favor de mexer essa bunda? O sol está escaldante!
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Após deixar Edgar em casa e acompanhar Gabriela até a residência dela, Daniel finalmente pôde pegar um taxi e atravessar a cidade até o bairro nobre onde morava. “Onde esse garoto se meteu?”, pensou Paola enquanto esperava o filho em um dos restaurantes mais finos da região.
— Aí está você! – falou quando viu Daniel se aproximar. – Ainda de farda? Achei que já tinha passado em casa e tomado pelo menos um banho!
— Desculpa. – respondeu Daniel sentando-se à mesa. – Precisei ajudar meus novos amigos.
— Compreendo. – Paola sorriu bebendo um gole do seu caríssimo vinho. – Então... Vejo que está melhor, não é?
— Melhor? – Daniel perguntou confuso.
— Sim, querido. – ela pegou nas mãos dele. – Das crises de raiva, lembra? Por isso mudamos você de escola.
— Ah... – ele até pensou em responder algo, mas preferiu manter-se em silencio.
— Desde sempre soube que o CAP seria o melhor lugar para você! – ela comemorou. – Fico tão feliz em saber que já está fazendo novos amigos!
— É... Eu também. – ele deu de ombros. – Obrigado. – disse para o garçom que tinha acabado de entregar o cardápio.
— Essa escola é maravilhosa! Realmente encantadora!
— Verdade, o melhor lugar para adolescentes rebeldes, problemáticos e... – o sorriso de Paola desapareceu.
— Não gosto quando fala assim. – disse interrompendo-o. - Fica parecendo que seu pai e eu o colocamos em uma espécie de reformatório.
— Mas é exatamente isso. – ele respondeu carrancudo.
— Querido, achei que gostasse do novo colégio.
— E gosto. – ele suspirou. – É só que odeio a forma que você tenta mentir para si mesma e para mim.
— Mentir?
— Sim, mãe. Tenta se convencer que sou um garoto normal que estuda em uma escola normal... Olha para você! Odeia que eu diga o significado da sigla CAP!
— Não odeio não! Só acho desnecessário dizer que...
— CAP significa Colégio para Adolescentes Problemáticos? – perguntou interrompendo-a.
— Que tal mudarmos de assunto? – perguntou Sérgio aproximando-se e juntando-se a eles. – E aí filhão, como foi seu dia? – perguntou enquanto sentava-se ao lado do filho.
— Ótimo. – respondeu seco. – Podemos adiantar? Tenho vários trabalhos para fazer e prometi ligar para um amigo pela noite.
— Mas ainda está de tarde! – Paola falou chateada.
— Eu sei, mas é que tenho muitos trabalhos mesmo. – mentiu Daniel.
— Tudo bem... – Sérgio suspirou. – Se quiser ir para casa, sua mãe e eu levaremos seu almoço.
— Obrigado, pai. – Respondendo forçando um sorriso. – Até mais tarde.
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Daniel estava cochilando quando o celular começou a tocar. No inicio, o garoto apenas ignorou o aparelho, porém, a persistência do toque acabou tirando-o do sério, fazendo-o finalmente atender o telefonema.
— Alô? – perguntou de mau humor.
— Poxa cara, estou te ligando há uma década! – resmungou Edgar do outro lado da linha. – Pensei que iria me ligar!
— Ah, oi. – disse depois de bocejar. – Desculpa, acabei pegando o sono. Mas e aí? O que aconteceu lá com a Márcia?
— A mesma coisa de sempre... – respondeu Edgar.
— Que mesma coisa? Você comeu lasanha?
— Por que eu faria isso?
— Você sempre está comendo lasanha... – ouve uma pausa.
— Ok, eu comi lasanha, mas não aconteceu apenas isso, ok? Eu troquei alguns beijos com a Márcia.
— Finalmente esqueceu a Júlia?
— Júlia? Quem é essa? Nem conheço mais! – ambos riram. – Continuando, estávamos trocando uns beijos quando do nada a Márcia me disse que os pais dela estavam no trabalho. Então colocamos um filme e...
— Que filme? Quero assistir também!
— Sei lá Daniel! Eu estava distraído pensando nela pelada. – respondeu o garoto. – Mas voltando ao assunto... Continuamos nos beijando enquanto o filme rodava e eu fiquei impaciente! Falei tudo na lata para ela, que eu queria algo a mais, então ela deu um sorrisinho e foi trancar a porta do quarto. Posso afirmar que foi a tarde mais louca de minha vida!
— Nossa, que excepcional. – falou sonolento. – Bom para você.
— Você está tão animado que chega a me dar sono. – resmungou Edgar. – Acho que está precisando arranjar uma namorada para deixar de ser tão entediante.
— Bem, eu sou um cara de família, não conheço tantas garotas quanto você... – Daniel riu. – Talvez eu precise de um pouco de experiência.
— Eu concordo! Como conseguiu ficar com apenas três meninas em toda a sua vida?
— O que posso dizer? Acho que elas não me acham atraente.
— Deixe de coisa! Você sabe que é lindo! O problema está em sua forma de agir! – Edgar respondeu animado.
— Você me acha lindo? – Daniel deu risada.
— Claro! Se eu fosse uma garota...
— Ok, não precisa continuar. – disse interrompendo o amigo. – Mas não é apenas beleza... Você acha que tenho um papo legal?
— Claro que sim! – respondeu. – Tenho de admitir que às vezes você fala muita besteira, isso afasta as garotas.
— Talvez você tenha razão... Mas o que posso fazer?
— Ficar calado? – Ed perguntou rindo. – O que estou dizendo é: Você tem de ter mais atitude, entendeu?
— Sim, mas como irei convencê-las?
— Nada de conversas sobre você mesmo ou sobre sua família... Você tem de falar de coisas que as interesses até o papo ficar mais quente.
— Você fala como se fosse um jogo de vídeo game.
— Claro, está obvio que eu sou o ultimo lançamento do The Sims 4 e você é o The Sims 1.
— Você joga The Sims?
— Claro, é meu jogo favorito!
— Vivendo e aprendendo. – riu Daniel. – Obrigado pelos conselhos.
— Por nada! Tenha uma boa noite.
— Você também...
— Desliga primeiro.
— Não, desliga você. – respondeu Daniel revirando os olhos.
— Os dois juntos, ok? – Edgar perguntou cheio de expectativa.
— Ok. – Daniel suspirou. – Um, dois e... – os dois garotos desligaram os celulares juntos.
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