Heavy.

Heavy in Your Arms


And is it worth the wait
All this killing time?
Are you strong enough to stand
Protecting both your heart and mine?

O vento gelado cortava meu rosto, a ferida aberta ainda me trazia dor — uma dor menor que a de ser a causa da morte de todos que já amei, eu confesso, mas ainda era uma dor que me incomodava muito — e tudo que eu queria nesse momento era ouvir uma voz amigável, uma voz conhecida, uma voz.

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Era carregado em silêncio, ninguém falava nada. Nós dois sabíamos que aquele seria o fim. Era um consenso-não-falado que morreríamos naquela noite, o único problema é que a hora que aquilo ocorreria era uma incógnita.

Eu pesava em sua corrida, isso eu percebia. Mesmo que ele nunca fosse admitir isso, eu o atrasava e o tornava um alvo fácil. Ele era pouco mais rápido que os monstros, mas ainda mais lento que humanos — e de todo o meu pouco conhecimento de sobrevivência, esses podem ser ainda piores.

O cenário ao redor parecia um filme de terror: o céu era um crepúsculo sem cores, as nuvens escondiam o brilho do sol, a neve caia forte e congelava meu corpo onde tocava, me fazendo não só gastar energia para me manter consciente, mas também aquecido.

Finalmente o silêncio foi quebrado.

— Você consegue andar? — Ele olhava para mim preocupado, mesmo depois do que aconteceu.

— Sim, só não sei se meus órgãos vão decidir continuar no lugar deles — Ri. Ele odiava esse tipo de humor e eu sabia disso. Eu não queria que ele continuasse.

— Não é hora pra piadas. Você consegue ou não andar? — Ele parou abruptamente, me colocando sentado, com as costas apoiadas em uma árvore. Ele estava visivelmente cansado, respirava fundo e de forma controlada.

— Eu não preciso. — Falei enquanto olhava para o céu, que agora era mais noite que dia.

— Não seja estúpido, eu ainda posso te salvar, você sabe disso.

— Esse é o problema.

— O que você quer dizer com isso? — Todo o clima pesado só pareceu piorar. Agora o maior problema não era tentar me manter vivo, era explicar aquilo para ele sem parecer um babaca.

— Você é o problema. — E eu consegui falhar miseravelmente em não soar babaca.

— O que você quer dizer? Eu—

— Isso. Você é o problema. Você não desiste de mim. Eu já te dei tantas chances de você simplesmente me abandonar, antes de... antes de eu estragar tudo. — Só percebi que chorava quando senti minhas lágrimas escorrendo. Eu sempre achei que se chorasse nesse clima minhas lágrimas congelariam e arrancariam minha pele. Acho que por um tempo desejei isso.

Logo após isso ele se sentou ao meu lado, esquecendo que esse era o fim do mundo e cada segundo contava. Por algum motivo, parecia que seus segundos comigo valiam a pena, mesmo que eu não acreditasse nisso.

— Você sabe porque nunca te abandonei? — Suas palavras saiam pesadas. Parecia que cada uma daquelas palavras doía, uma dor que ele não aceitava sentir.

— Porque você me odeia e queria me ver de perto quando morresse? — Brinquei, e, pela primeira vez, ele riu. Não uma risada forçada, não uma risada genuína, uma risada nervosa.

— Porque, mesmo que eu quisesse, eu nunca conseguiria. Você vive com piadas sombrias sobre seu desejo de morrer e ser abandonado, mas seus olhos parecem pedir socorro. E parecem soltar um tipo de encanto em quem os observa por muito tempo.

Um silêncio mortal se instalou. A lua começou a ser visível, parecia que a neve ia cessar por um tempo.

— Você ainda tem noção de meses? — Perguntei sem o olhar.

— Sim, por que?

— O mês ainda é o mesmo? Sabe, da ultima vez que eu te perguntei.

— Sim, esse é o último dia, por que?

— Bem, essa é a segunda lua cheia do mês. Acho que é uma boa data para descansar, sabe. No fim do ciclo lunar.

Ele me olhou assustado, como se não esperasse por aquilo.

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— O que você quer dizer com isso?

— Bater as botas.

— Mas-

— Shh. Não complica. Hoje em dia é luxo escolher o dia, ainda mais um dia tão importante pra... Não sei, a terra? A lua? — Ele me olhava, procurando um sinal de ser uma piada. Não era.

Mais uma vez o silêncio se instalou.

— Posso te perguntar uma coisa? — Ele me olhou fundo nos olhos, dessa vez não tinha como não o encarar.

— Por que você quer tanto morrer?

— Bem, você viu o que aconteceu antes? Repita isso mais duas vezes.

Ele não sabia o que falar. Parecia tentar procurar algo para falar que fosse me ajudar, procurava a isca que tirasse minha alma desse mar de culpa.

— Você pode me ajudar — Falei sério — Corte meu sofrimento, é difícil ficar sem reclamar com esse corte aberto. Sabe, dói.

— Você quer tanto isso?

— Sim.

Mais uma vez um silêncio. Dessa vez não foi cortado. Ele se levantou e pegou sua faca. Olhou para os meus olhos por alguns segundos e eu ouvi o som da faca cortando o ar enquanto apreciava o brilho da lua azul.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.