Sábado, 18 de agosto.

Colocou o frasco dentro da gaveta e a fechou, indo em direção ao cabide onde estava pendurado o vestido esverdeado feito por sua mãe. Tinha se atrasado conversando com Fleur, e a última coisa que queria era demorar mais algum minuto - e quando mesmo havia ficado tão boa em se maquiar? Passar o delineador e o batom com quase perfeição lhe salvara alguns bons minutos.

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Vestiu sua roupa, colocando com pressa os sapatos e xingando ao realizar que não alcançava o maldito zíper. Ah, dane-se, alguém na cozinha com certeza faria aquele trabalho enquanto ela beliscava alguma coisa - sua fome estava ridiculamente enorme naquele dia. Era o nervosismo do irmão favorito estar realmente se casando, sem dúvida, e com esse pensamento na cabeça, desceu até a sala.

A primeira pessoa que achou talvez fosse a última que gostaria que a ajudasse, mas com todas as outras fora de vista, teria que servir.

"Harry!" esforçou-se para sorrir para o bruxo do qual andava fugindo nos últimos dias enquanto colocava seu cabelo para frente e se virava. "Pode me ajudar a fechar, por favor?"

Não pensaria nas últimas conversas, não pensaria naquele beijo, não pensaria em nada além de como ela precisava estar perto do altar em cinco minutos e realmente precisava fechar o vestido, tomar um copo de água e comer algum biscoito em menos de cinco minutos - e quando as mãos de Harry haviam se tornado assim geladas?

"Pronto."

"Obrigada." Mais um sorriso e entrou na cozinha, abrindo a primeira lata que via - biscoitos amanteigados, graças aos Deuses.

"Você está linda." escutou a voz do bruxo ao seu lado após a primeira mordida.

"Obrigada." outro agradecimento, sentindo um leve rubor nas bochechas. Novamente repetiu como um mantra: não pensaria nas últimas conversas, não pensaria no beijo. Não pensaria em nada daquilo e o trataria como um amigo - como tratava Colin!

Mas o olhar que o moreno lhe dava não passava nem perto da amizade, e justo ele olha-la daquele jeito parecia tão errado. Encheu um copo de água, desviando seus olhos dos esverdeados: ninguém além dele deveria olha-la assim.

"Melhor irmos," acabou com a água em um gole, largando o copo sobre a pia. "Já estou bem atrasada, não quero causar nenhum incômodo na cerimônia."

Não foi uma surpresa ele ir atrás dela assim que saíra pela porta dos fundos em direção a tenda. Outra vez o mantra em sua cabeça - mas que droga, era Harry! Harry, o amigo de seu irmão, seu amigo! Por mais que tivessem dividido aquele beijo - que os dois mesmo chegaram a conclusão de ser errado -, por mais que ele a tivesse criticado por ter confiado no sonserino - se criticado por ele ter confiado no sonserino - ainda dividiam uma amizade, não? Não era como se precisasse ficar desconfortável ao lado dele. Ginevra muito bem poderia estar imaginando coisas, por estar tão não à vontade.

Mas então, o grifinório poderia voltar a falar sobre o quanto os dois poderiam tentar - como fizera anteontem. Sobre como pessoas erram no julgamento, sobre o quanto Ginevra deveria estar magoada por ter confiado num maldito traidor - e queria gritar toda vez que ouvia aquela palavra, Draco não havia feito aquilo e ela sabia! E a última coisa que gostaria era estar ao lado de qualquer um que não fosse ele, apesar de tudo.

Ao menos Harry a seguia em silêncio.

E irritantemente a seguiu por um bom tempo, praticamente a festa inteira, ora perto, parecendo interessado no que as pessoas ao redor de ambos falavam, ora com os olhos, enquanto conversava ou com Guilherme, ou com Carlinhos, ou com sua mãe - que não parecia muito feliz na maioria das vezes. Não que a bruxa mais velha estivesse radiante com o casamento num todo, o que a fez relevar a carranca materna.

Acabava com mais um copo de água quando o moreno voltou a sentar-se ao seu lado, ocupando o lugar que antes era de Hermione - que agora tentava dançar com seu irmão. Definitivamente os piores dançarinos.

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"A cerimônia foi linda. Gostaria de ter uma assim, um dia." disse a primeira coisa que lhe veio a cabeça para evitar se formar um silêncio desconfortável na mesa dividida agora somente com Harry, ocupando a boca com os canapés que ainda haviam no prato logo após.

E outra vez aquele olhar diferente - mas que não durou tanto no dela quanto da primeira vez, para seu alívio.

"Seu irmão parece muito feliz com a Fleum-" o grifinório parou abruptamente, como se tivesse falado algo errado. "Com Delacour."

"Não precisa mais chamar a loira de Fleuma, Harry." De fato, tinha falado algo errado. Depois daquela tarde, nem ela mais poderia odiar a cunhada, a mulher a ajudando justo quando mais precisava de alguém. Queria poder conseguir contar com Hermione outra vez - com Colin outra vez -, desejou com uma pontada de tristeza. "A francesa é boa o suficiente para o meu irmão, eu confesso."

"Eles vão pensar o mesmo de mim."

"O que disse?" Como assim pensar o mesmo dele? Os olhos foram outra vez para os verdes, achando-os desprevenidos com os mesmos sentimentos que estava odiando ver.

"Eu não disse nada, Gin."

"Já disse que não gosto quando me chama assim." o reprendeu um pouco irritada, resolvendo ignorar o sorriso que se formou no canto dos lábios do bruxo.

"Prefere Ginevra?"

"Prefere Weasley?"

Fechou os olhos por um instante, tentando ignorar a voz que conseguia escutar tão claramente em sua mente - queria conseguir também vê-lo com tanta clareza de olhos fechados. Já fazia quase uma semana desde a última vez que se lembrara de qualquer coisa, todas as memórias que Blaise trouxe naquele último domingo só lhe aumentaram mais o aperto no peito - e a maior parte não lhe era novidade. E a maior parte não tinha ele para se ver.

"Gina está bom." respondeu enquanto se servia de mais um canapé.

"Gina, você está desconfortável comigo." Não era uma pergunta - droga. "O que eu fiz?"

Se controlou para não revirar os olhos - simplesmente ótimo. Então Potter queria discutir sobre os últimos acontecimentos - fantástico! Queria pegar a taça de vinho que o bruxo segurava e jogar na cara dele, tamanha raiva repentina que lhe consumiu. Desde quando ele bebia vinho? Desde quando ele podia tomar vinho ao redor de sua família?

Maldição, queria a droga de uma taça de vinho.

"Harry, nós concordamos, ou pelo menos eu achei que houvéssemos concordado," começou, forçando um sorriso no rosto. "Que não tinha como haver nada entre a gente." No segundo seguinte, achou o par de olhos verdes totalmente confusos, o cenho franzido. Por Merlin, teria que explicar tudo oura vez? "Aquela tarde em que nos beijamos e eu não senti nada - até você percebeu." continuou, desviando a atenção para a pista de dança.

"Então você está desconfortável por causa de um beijo?"

Não conseguiu não bufar antes de voltar a falar, o sorriso forçado se esvaindo por alguns segundos.

"Não, eu estou desconfortável porque você está me olhando de uma forma estranha durante toda essa tarde, por mais que tenhamos conversado e eu tenha dito não. Estou desconfortável porque você tentou me beijar outra vez. Eu estou desconfortável porque desde que você chegou, tem me pressionado para saber qualquer coisa que possa te levar até ele, e eu não sei." Respirou fundo uma, duas vezes: não iria chorar. Não iria chorar. "E eu estou muito, mas muito cansada de ser julgada por todos que sabem da minha ligação com Mal-" droga.

Escondeu por alguns segundos o rosto nas mãos, enxugando a lágrima teimosa que insistiu em sair, e no próximo segundo havia uma taça de vinho junto de um chocolate na sua frente.

Ignorou a taça.

"Não vou mais te incomodar com isso, Gina." O bruxo ao menos parecia soar arrependido. "Desculpe." E a desculpa, realmente sincera.

"Eu não consigo, Harry, e eu sinto muito. Queria que fosse assim fácil parar, e não sei nem porque, mas realmente não consigo tira-lo de mim." Deu uma mordida no quadrado de chocolate, tentando focar no sabor ao invés do choro que queria sair. Mais uma vez forçou um sorriso - seria mais fácil não chorar com um sorriso nos lábios, não? "E eu não faço ideia da onde ele está, ou o que aconteceu naquela noite, mas mesmo se soubesse eu nunca, mas nunca falaria nada pra você, porque ele me salvou - me salvou de verdade. Porque se não fosse por ele eu não sei nem se ainda estaria viva. Porque eu amo esse sonserino, e eu amo tanto que me dói todo dia não tê-lo perto, não saber o que aconteceu, não-"

"Está tudo bem." o moreno a interrompeu, pousando uma mão sobre a dela. "Não precisa mais falar, está tudo bem." Aqueles olhos de repente estavam tão preocupados. "Está sentindo? Eu ia achar você." Outra vez.

Maldição.

Aquele era o dia em que Flint fora expulso, pelo que suas poucas recordações e pelo que as memórias de Creevey e Zabini lhe davam de referência. Não se lembrava ao certo do ocorrido, mas a sensação era quase tácita - tão forte que ainda disparava seu coração, que no momento já doía de tão forte bater.

Só percebeu o quão forte apertava a mão que segurava a sua quando esta a puxou para cima.

"Uma dança, e eu deixo você ir." Era um bom preço.

Uma dança e Ginevra voltaria correndo para seu quarto - esperava que com os dois pés inteiros, visto que Harry era tão bom em valsas quanto seu irmão. Mas surpreendentemente, o rapaz havia melhorado aquela habilidade, que parecia tão desajeitada no ano do Torneio Tribruxo.

"Posso te pedir uma coisa?" a frase veio após um tempo de silêncio, sua continuação antes mesmo de receber qualquer resposta positiva. "Quando eu sair, fique do lado de seus irmãos. Não fique sozinha."

Não ande sozinha.

Fechou os olhos com força, por que justo hoje todas aquelas memórias do sonserino vinham invadir sua mente? De todos os dias que poderiam vir, justo hoje, justo no meio de tanta gente, justo quando precisava manter o sorriso irritante nos lábios.

Engoliu um soluço e se deixou encostar a testa no ombro do bruxo - a música estava acabando, para seu alívio. A música estava acabando e ela não precisaria cumprir aquele pedido estúpido - que coisa mais paranoica de se pedir, não fique sozinha, como se a ruiva tivesse seis anos ao invés dos dezesseis recém-feitos.

Respirou fundo ao ouvir enfim a última nota, já pronta para quebrar aquele contato físico que tanto incomodava quando sentiu o cheiro de grama, e seu coração que antes batera tão acelerado agora com certeza parara por um segundo.

Não achou nenhum bruxo de cabelos platinados ao seu redor - a festa não estaria correndo normalmente se houvesse. O cheiro não vinha de alguém próximo, não - vinha dele.

Harry tinha um cheiro cítrico. Definitivamente era do rapaz que vinha o cheiro tão familiar. De olhos fechados, até mesmo conseguia fingir que o perfume era o mesmo que o aroma tão ansiado durante os últimos dias - últimos meses. Era idêntico - com certeza o cheiro do sonserino vinha de algum perfume, que por uma piada sádica do destino, o grifinório decidira usar justo hoje.

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Foi quando sentiu as mãos tocarem sua cintura de um jeito que só uma pessoa fazia que seu coração parou pela segunda vez - e se obrigou a ficar de olhos abertos, para provar para si mesma que sua imaginação com certeza estava fora de controle. A vida era mais fácil de olhos abertos, sempre.

Nem sempre. Não quando a expressão nos olhos verdes era uma que só vira no par que tanto ansiava achar. Se imaginasse aqueles olhos cinzas, conseguiria vê-lo na sua frente. As mãos, os olhos, todas aquelas memórias. E outra vez, aquela boca estava tão perto.

Sacudiu a cabeça, quebrando enfim o contato.

"Preciso de um banheiro." De um banheiro, um quarto, um cômodo sem ninguém para poder enfim deixar algumas malditas lágrimas caírem antes dela voltar para a festa.

Olhou para trás e a visão do bruxo com uma expressão triste foi a última coisa que registrou antes da explosão - e de repente estava no chão, o corpo de Fred a cobrindo, tomando para si o estrago maior.

"Fique atrás de mim, Gina!" Mal escutou enquanto era levantada e puxada para um canto pelo gêmeo, um raio verde passando a centímetros de sua cabeça.

Mas no segundo seguinte o irmão jazia estuporado - abençoados sejam os jatos vermelhos - estirado no chão, e ela era forçada a se jogar para a esquerda a fim de desviar de mais uma azaração - eram luzes vermelhas e não verdes que via agora, luzes vermelhas e não verdes. Quando se deu conta já estava longe do irmão desacordado, e aquilo estava sendo tão diferente do último dia em Hogwarts, tão mais caótico, tão pior.

A sua direita via um círculo se fechar onde imaginava que Harry estaria junto com os melhores membros da Ordem - e rezava para haverem apenas luzes vermelhas saindo das varinhas, pois além do garoto que sobreviveu com certeza metade de sua família estava ali.

Era mais sábio correr para fora da tenda que cairia a qualquer minuto, não era?

Estava do lado de fora no segundo seguinte, onde seguiam combates tão intensos quanto os inicialmente vistos.

Era sábio se transformar? Ela poderia se transformar? E transformada, não seria muito mais fácil ser atingida por algum feitiço, tamanho era sua forma animal?

Ela poderia morrer mesmo na sua forma de animaga se atingida pela maldição da morte, não poderia?

Deve ter demorado cinco segundos em suas indagações, mas foram cinco segundos de desatenção no meio de uma batalha. E a desatenção nunca tinha um preço barato, soube quando sentiu uma ponta pressionar seu pescoço. Aquele fora o erro número um.

"Eu achei uma ruivinha." Não precisou olhar para trás para saber quem falava ao pé de seu ouvido: lembrava muito bem a quem pertencia a voz rouca, quase histérica. "Deixa a sua varinha cair e me obedeça, pobretona nojenta."

Fechou os olhos e obedeceu, a varinha pressionada contra o pescoço não lhe dando qualquer outra alternativa. Naquele instante se amaldiçoou por não ter usado antes o conteúdo daquele frasco - seria tão mais fácil saber. Seria tão mais fácil responder aquilo com orgulho, sem nenhuma outra preocupação além de sua maldita vida.

Desesperador: se importava com algo que nem mesmo sabia ser verdade.

"Por favor, não me machuque." Era uma súplica, e agradeceu quando a varinha passou do seu pescoço para seu rosto, um pequeno corte na sua bochecha sendo o único ferimento vindo de Bellatrix - até o momento.

"Eu gosto assim, bem quietinha." A madeira pontuda não mais fazia contato com sua pele, mas nunca deixava de ser apontada para si. "Colabore sardenta, e quem sabe se eu gostar de você, até posso convence-lo a te poupar no final." O rosto daquela bruxa era perturbador de se olhar, os dentes afiados e amarelos a deixando com um sorriso de arrepiar a espinha. "Sangues-puro andam tão raros."

"Eu faço o que quiser," Não acreditava que falava aquelas palavras. "Só não me machuque."

O sorriso aumentou ainda mais, na mesma proporção que os olhos arregalaram. Fechou os seus, na sua mente infinitas possibilidades. Traia sua família. Traia Potter. Sirva como uma armadilha. Venha comigo. O que escutaria?

Duas mãos agarraram seus ombros sem a menor delicadeza, mas a voz rouca não se fez mais presente.

E então ela viu cinza, era tudo que via. Olhos acinzentados, cabelos platinados, parecia até mesmo sentir o toque que tanto lhe fazia falta. Viu com uma clareza espantadora o sonserino a segurar pela cintura na biblioteca. Viu a enxurrada de penas de algodão doce, o poema escrito na caligrafia perfeita tão conhecida, a vez que ele a esperou na porta da detenção. Viu os lábios tão próximos num dia de chuva, os dois dividindo enfim aquele primeiro beijo de verdade, não dando a menor importância para as roupas cada vez mais molhadas. Viu as crises de enxaqueca - era por isso que as mãos viviam nas têmporas? -, viu o braço ensanguentado e a garrafa de firewhisky vazia, viu o dia em que ele lhe deu o par de brincos encantados. O dia que gritara com ele no meio do corredor, a tarde que ele a salvara de um ataque de pânico, a noite em que trancaram a porta do vestiário. Todas as tardes e noites que seguiram. A detenção. A última vez que o vira, quando ele prometera voltar - e todos deveriam ter acreditado mais que o sonserino voltaria.

Viu aquele último olhar.

Viu amor.

E ao sair daquele transe, teve a certeza, ao ver os olhos desacreditados da bruxa mais velha, que do mesmo jeito que conseguira todas aquelas memórias de volta, a comensal também tivera acesso a tudo aquilo. Erro número dois: deveria sim ter praticado mais Oclumência, quando teve a chance.

Bellatrix estava presa em seu desvaneio, e foi nessa desatenção que Ginevra enxergou sua chance, agachando-se e tocando a varinha, lançando o feitiço no segundo seguinte.

"Crucio!"

A ruiva nunca havia sequer treinado aquele feitiço. O sorriso doentio voltou, a morena parecendo prestes a gargalhar enquanto raios negros morriam ao seu redor.

Erro número três: deveria tê-la estuporado.

"Você tem que querer, sardenta idiota!" Não teve coragem de olhar ao seu redor, e sabia que não teria tempo de estupora-la com sucesso antes de qualquer contra-feitiço - e o começo da próxima palavra a deixou com um nó na garganta, o coração acelerando ao mesmo tempo em que um zumbido fino tomava conta de sua audição. Merlin, a faça desmaiar antes de- "Avada-"

"Estupefaça!" E no segundo seguinte, via a comensal ser arremessada para trás, se chocando já desacordada contra o tronco de uma árvore.

Harry?

"Harry!" Fazia tempo que não ficava feliz ao ver aqueles olhos, mas ele não parecia retribuir o sentimento. Não, definitivamente: enquanto ela lhe dava um sorriso, o bruxo a olhava com a maior das irritações.

E mais um feitiço cortou o ar - verde.

"Que merda você está fazendo?" O grifinório gritando daquela forma era estranho. "Que merda Ginevra!" O grifinório a puxando pelo braço, enquanto duelava de um jeito muito melhor do que vira da última vez, era completamente estranho. "Você quer me matar do coração, cacete? Fica atrás de mim!"

Comensais pareciam estar em um número cada vez menor, mas os poucos que sobravam e viam o garoto que sobreviveu junto dela faziam de tudo para chegar até os dois. Mais um raio vermelho - apenas jatos de luz vermelha eram disparados contra o bruxo e ela, agora - e se surpreendeu quando um verde saiu da varinha de Harry - e errou o alvo por pouco.

"Estupefaça!" Mas aquele havia sido acertado com precisão.

De repente estavam atrás d'A Toca, o moreno parecendo procurar desesperadamente algo na grama, alta naquela parte do jardim, os olhos alternando de segundo em segundo do mato para ela.

"Harry-"

"Eu preciso te tirar daqui." ele dizia, respirando fundo enquanto corria as mãos pelos cabelos - agora ainda mais bagunçados. "A chave de portal era para estar no chão." o bruxo pinçou o nariz, inspirando devagar mais uma vez antes de xingar. "Porra!"

"Nós precisamos voltar-"

Engraçado o que o acabou denunciando no final.

"Eles querem você também, eu preciso te tirar daqui, bruxa!"

Depois de ouvir aquilo, se perguntou como não percebera antes. O comportamento paranoico, os palavrões, aquelas manias tão peculiares, as mãos. Aquele maldito cheiro cítrico.

O sonserino era tão bom em Poções.

Draco não viu as duas lágrimas que caíram no instante que a ruiva fez a identificação, ou o ar que lhe pareceu faltar por um momento, muito menos percebeu a visão que ficara turva - ele deixou-se preocupar-se mais em achar a chave por cinco segundos, e ela deixou-se ser invadida por aquela maldita felicidade.

Erro número quatro: cometeu o mesmo engano duas vezes.

E de novo havia uma varinha pressionada contra seu pescoço, mas dessa vez não veio uma voz - e estar de olhos abertos quando o bruxo a viu prisioneira segundos depois foi quase tão ruim quanto sentir a madeira pontuda na sua jugular.

O desespero nos cinzas não era boa coisa.

"Quieto Potter, ou eu a mato." E entendeu o sentimento no momento em que a voz se fez presente, revelando quem a prendia - era a última pessoa que gostaria que estivesse atrás dela.

Mesmo no caos que estava o campo de batalha, uma coisa conseguiu perceber: ninguém queria matar Harry Potter - talvez ninguém pudesse matar Harry Potter. Mas o bruxo que a segurava tinha motivos para querer aquela morte - poderia até mesmo fazer parecer um acidente.

Mas que droga.

Puxou um ar que pareceu não vir - não, não vinha o suficiente de oxigênio naquela inspiração - e de repente, a bruxa não conseguia mais respirar. Merlin, não conseguia respirar, mas o bruxo mais velho apenas apertou mais a varinha, um braço firme ao redor de seu pescoço não a permitindo se mexer.

"De joelhos." O comando foi obedecido no mesmo instante pelo bruxo mais novo - e como das outras vezes, como antes, na explosão, seu ouvido zumbia e sua visão se enchia de pontos pretos.

"Ginevra, vai ficar tudo bem." A poção precisava parar de fazer efeito agora. Ela precisava falar alguma coisa agora, mas tudo que conseguia fazer era respirar pesado enquanto seus olhos enxergavam com cada vez menos capacidade.

"Olha pra mim."

Não conseguia acreditar na situação. Não conseguia respirar.

"Foca em mim, Ginevra."

Tanto tempo, para vê-lo e perde-lo em segundos. Era Draco, não era? Era mesmo seu sonserino, certo?

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"Olha pra mim, bruxa!" A voz pediu o mais alto que podia, e para seu desespero, viu Lucio acertar um chute na boca do rapaz, fazendo os óculos redondos voarem longe: ainda era a cara de Harry.

"Respira devagar, Gin." o bruxo ignorou a ação e continuou falando, cuspindo sangue antes das próximas palavras. "Devagar, ok? Está tudo bem."

Puxou o ar uma última vez antes de prender a respiração. Devagar. Devagar, pense, fale, ele vai mata-lo. Ele não vai matar o próprio filho. Fale que é Draco. Fale que é uma mentira.

E se não fosse?

Poderia estar tão enganada assim?

De um segundo para o outro a varinha já não estava mais em seu pescoço, mas apontada para a cabeça do moreno enquanto ela era arremessada no chão, o rosto arranhando em alguns gravetos perdidos no mato alto.

"Está tudo bem, Gin." Precisava conseguir falar. "Está tudo bem. Você está bem." Apareceriam mais bruxos em uma questão de minutos, até segundos - sabia -, mas não seriam necessariamente aliados. Ou os aliados não apareceriam a tempo. "Não a machuque."

"Você não está em condições de dar ordens aqui, garoto insolente." Já via um brilho sair da ponta daquela varinha.

Não era vermelho.

Abra a boca, Ginevra.

Afinal, havia perdido qualquer centelha de sorte naqueles últimos meses.

Diga que não é Potter.

Precisava falar. Precisava falar mesmo que estivesse errada. Mas primeiro, precisava conseguir falar.

Merlin, por favor, por favor me ajude.

"Procure."

E como daquela vez, podia respirar novamente, seu coração conseguia bater num ritmo aceitável, e seus olhos o achavam com clareza outra vez - e Draco sabia que ela sabia. Aquela força invisível que os puxavam um para o outro contava da certeza da bruxa, e o olhar ainda verde se tornou apenas mais desesperado.

"Quieta-" E ele sabia - realmente se conheciam bem - qual seria a ação seguinte da bruxa.

"É seu filho!" gritou quando viu o homem começar a movimentar a varinha.

"Cala a boca, Ginevra!"

"Lucio, não é Harry Potter! É seu filho!" Nem mesmo precisava ter dito pela segunda vez antes dos primeiros fios platinados começarem a se mostrar, denunciando a verdadeira identidade, o comensal de anos sustentando um olhar tão desesperado quanto o de Draco. "É Draco, por favor-"

Fechou os olhos e agradeceu - dessa vez foram apenas dois segundos de desatenção. Foi o último erro daquela noite.

"Abaixa!" Os olhos abriram no mesmo segundo, mas ao invés de seguir o comando, virou a cabeça para a esquerda e achou uma bola de onde parecia sair uma fumaça branca. "Abaixa Ginevra, abaixa!"

Foi puxada para o chão, o barulho de outra explosão seguindo. E o mundo ao seu redor mais uma vez ficou mudo enquanto tudo que via, como vira antes, era cinza.