Entre o amor e a guerra

E os dias curarão tudo


Terça, 06 de novembro.

"Professor."

Sua vontade de comer era nula naquele almoço, mas engolira qualquer coisa colocada em seu prato para poder rumar para mais uma tarde com Severo - tinha que admitir que estava com tanta vontade de ver seu padrinho quanto queria ver sua tia.

"Malfoy."

Mais uma terça discutindo sobre planos, mais uma terça - a tarde, pois as noites eram muito curtas para tudo que precisava fazer - com Snape recriminando suas ideias e soltando comentários irônicos sobre suas escolhas, mais uma terça em que, não fosse por Ginevra, não fosse pela maldita ruiva grifinória que bagunçara por completo sua vida e suas escolhas, estaria desistindo daquela Ordem, daquele plano que daria muito errado, e dando um jeito de sair daquele meio - fugido, com certeza -, para viver como conseguisse até completar a merda de seus dezessete malditos anos e ter acesso as contas de seu avô.

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Era melhor nem pensar na alternativa - Merlin, ela poderia fugir com ele - e Snape fazia um bom trabalho o distraindo daquela possibilidade - pois tendo o tempo necessário, já estaria planejando a fuga de ambos.

"Como está a Weasley?"

Snape fazia um ótimo trabalho, afinal, perguntas sobre Ginevra Weasley o desfocavam e muito naqueles últimos dias.

"Tirando os hematomas, os arranhões, e o corte na boca que graças a Merlin Creevey conseguiu amenizar," Tinha vontade de socar a parede cada vez que lembrava da incompetência da medibruxa daquela escola em fechar um lábio - era só fechar o maldito corte! "E também os prováveis pesadelos, tirando tudo isso, professor Snape, Ginevra está-" terminava com seu melhor sorriso sarcástico. "Ótima."

"Eu avisei que não seria fácil."

"Deveria ter me avisado sobre o seu plano." Sobre o plano de deixar ao alcance do outro comensal uma poção polissuco, que não fosse pela estupidez de Flint em esquecer de avisar sobre os limites do pub ao seu sósia, Draco teria descoberto apenas no final daquele sábado. "Deveria ter feito diferente." Deveria tê-lo incluído, ao invés de fazê-lo quase infartar, pela segunda e terceira vez - no mesmo dia - naquele semestre.

"Como eu poderia pedir a expulsão de Marcos Flint por causa das desconfianças de um aluno sonserino? Me conte qual seria seu outro maravilhoso plano, por favor."

Ele nunca teve outro maravilhoso plano - ao menos não outro que incluísse Flint vivo.

"Precisava deixar chegar até esse ponto? Até o ponto desse filho da puta-"

"Sim, senhor Malfoy, eu precisava." A voz de Severo era dura e já mostrava sinais de sua típica impaciência. "Eu precisava ter as marcas no corpo da bruxa, e eu precisava de uma aluna pelo menos um pouco traumatizada, e se eu não te tirasse do castelo, você não me deixaria ter nada disso. E então, você não focaria em nada a não ser na maldita Weasley até o final do maldito ano letivo, e me seria inútil!"

Não que ele estivesse sendo útil de qualquer maneira nos últimos dois dias, estragando mais ingredientes do que acertando nas poções - e não que seu foco fosse outro se não a maldita Weasley, mesmo com a ausência de Marcos.

"Essa bruxa é forte, mais forte do que você imagina." Por um momento perguntou-se se Severo também sabia da Câmara e de tudo que a ruiva passara em seu primeiro ano. A tarde com Flint com certeza não era nada comparado ao que Ginevra já passara - e sobrevivera. "Dê um tempo a menina e foque mais em nosso plano. Precisamos dessa poção pronta até o final do mês. Você dá conta dessa parte?"

Sentou-se na cadeira ao lado do ex-professor de poções, pegando uma das facas e começando a picar com habilidade as raízes de mandrágora. Uma tarde sem Ginevra em sua cabeça não deveria ser tão difícil - aquilo, afinal, era para benefício dela também. Ele estar na Ordem dava a mínima esperança para os dois conseguirem acabar juntos, no final - de algum jeito.

"Veritasium em menos de trinta dias?" Sim, Draco sabia tanto como apressar aquilo, quanto como deixa-la ainda mais efetiva. "Acabo até o dia vinte e nove, não se preocupe. Quantos frascos?"

"Setenta. Faça vinte mais falhos, e não esqueça de limpar as penas de Dedo-Duro com o soro que deixei na prateleira."

Assentiu com a cabeça, voltando a atenção as raízes - sabia que precisava deixa-las no tamanho exato, nem muito grande para a fixação ser fraca, nem muito finas para o extrato sair mais do que o necessário. O sonserino era bom naquilo - realmente bom - e seu trabalho naquela resistência era muito mais interessante e útil do que achava que poderia ser. Já estava quase totalmente imerso no seu serviço quando escutou novamente a voz de Severo.

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"Amar um comensal não é fácil, Draco. Aprender isso agora é melhor do que aprender mais tarde - para vocês dois."

—__

Quarta, 08 de novembro.

Entrou pela porta sem fazer barulho algum, mas os olhos do sonserino estavam nela desde seu primeiro segundo ali. Era assim que sempre estavam, agora: nunca a deixando quando presente, quase com medo de que algo acontecesse outra vez, por mais que Flint estivesse à já quilômetros de distância.

Draco provavelmente não sabia, mas ela tinha visto Marcos mais uma vez antes de sua expulsão. Com certeza não sabia, o sonserino teria surtado, tanto quanto sua mãe surtou ao ver o rosto machucado da filha no dia em que todos se reuniram na sala do diretor. Flint realmente era cara de pau, negando até o último minuto antes do veritasium qualquer envolvimento com a grifinória e seus ferimentos - Severo Snape era ótimo no trabalho que fazia, precisava admitir ao ver o resultado daquela poção.

A história a ser contada - e repetida desde sábado pela ruiva - seria a seguinte: Ginevra rolou escada abaixo. Na primeira vez que deixou escapar aquilo - a primeira desculpa que pensou para dar para seu irmão - quase riu em seguida. Ela era desastrada, mas não chegava naquele ponto, e aqueles com certeza não eram machucados de batidas em degraus. Mas Ronald aceitou a história sem muitas perguntas, e não fosse necessária a presença de Molly para a enfim expulsão do aluno sonserino, seria aquela também a história contada a sua mãe.

Hermione e Harry eram uma história diferente, e por um breve momento, considerou que aquilo fosse ajudar na aceitação de ambos - mas claro que um maldito perseguidor sonserino comensal não surtaria um bom efeito nos dois grifinórios, por mais que o bruxo de óculos tenha visto as tantas reações do outro sonserino em questão.

"Você vai continuar com esse bruxo mesmo depois do que aconteceu?"

"Não é como se ele tivesse alguma culpa, Harry! Ele está me salvando desse doente desde outubro!"

"Eu vi bem como Malfoy salvou você hoje."

Quis gritar no meio da enfermaria no último sábado: só ele não via que, não fosse por Snape e sua detenção estúpida, nem mesmo saberia onde Ginevra estaria? Definitivamente o grifinório não fora o herói daquela vez, ninguém havia sido. Tinha que admitir que o plano do professor fora perfeito para dar jeito naquela situação, não fosse pelo fato dela ter sido o sacrifício para aquilo dar certo. Se quisesse nomear um herói, sabia que existia apenas uma pessoa para tal.

Ela mesma, que apesar do enorme susto seguiu com sua vida no dia seguinte.

"Colin e Blaise estão lá fora." disse, olhando ao seu redor: a sala estava repleta de sofás e almofadas naquela noite. "Eu sei que não precisa mais, mas velhos hábitos, você sabe." Sentou-se ao lado do sonserino, lhe dando um beijo rápido nos lábios, não conseguindo deixar de notar o quanto as olheiras pareciam ter aumentado naqueles últimos dias. "Você anda dormindo?"

"Durmo o suficiente, bruxa." A resposta veio com mais um beijo - tão delicado, tão como se a grifinória fosse quebrar com qualquer gesto mais brusco. Mas que droga, ela não era feita de vidro, Draco não havia percebido aquilo ainda? "Podemos deixar a oclumência de lado hoje e focar em alguns feitiços."

"Feitiços?" Não era de todo uma má ideia não cavocar sua mente naquela quarta, visto o ocorrido da última segunda. Não havia sido muito agradável lembrar-se dos eventos do último sábado com tanta clareza para nenhum dos lados - ok, ela talvez conseguisse entender um pouco o porquê do tratamento especial nos últimos dias.

"Eu preciso que você saiba se defender." Por um momento pensou em responder que sabia sim se defender, mas outra vez, a tarde da queda lhe veio à mente. "Ajudaria muito para minha sanidade."m

Ela não sabia se defender. Havia treinado incessantemente no seu quarto ano, havia passado por tantas coisas no Departamento de Mistérios, e ainda assim, Ginevra Weasley não sabia se defender de um maldito bruxo que a pegara de surpresa - por Merlin, havia sofrido pior antes do último sábado, como que justo Flint conseguiu fazer tanto estrago? Justo a única pessoa que não deveria ter feito, justo a única que fazendo algo, aumentaria a paranoia do sonserino ao seu lado.

"Gin?" Uma mão gelada colocou alguns fios de cabelo atrás de sua orelha e a fez voltar sua atenção a realidade.

"Podemos não fazer nada hoje?" Sabia que ele protestaria, os lábios finos já estavam partidos para começar um discurso quando a ruiva emendou com olhos pedintes. "Só hoje. Por favor." Por favor, eu não consigo me concentrar hoje. Só me toque, me beije, me trate como se sábado nunca tivesse acontecido.

"Seu lábio está quase curado." A resposta positiva veio naquele comentário, a mão de antes agora em seu queixo, sua bochecha. "Como estão os machucados?"

"Os roxos?" Mas não era exatamente daquele assunto que Ginevra gostaria de falar - não gostaria de sequer falar, na verdade. "Sumindo." E aquilo aborrecia claramente o sonserino.

"Não fale como se não fosse nada, Ginevra."

"Não é nada." E ele ficar aborrecido tinha um efeito dominó nela e em seu pouco bom humor. "Não é nada, Draco."

"Me prove." Então o sonserino queria uma prova? Ela podia dar uma ótima prova - ah se podia.

O toque de suas mãos contra o corpo dele poderia ser classificado como quase violento, a mão pequena empurrando o peito do bruxo contra o sofá sem muito cuidado enquanto sua boca explorava a dele com todo o desejo que a ruiva conseguia colocar no beijo. Foi um insulto quando sentiu as mãos de Malfoy ainda delicadas, ainda apenas acariciando seus fios vermelhos, seus lábios respondendo a urgência dos dela com uma delicadeza quase estranha. Filho da mãe.

"Gin, não." Quis gritar quando suas mãos foram impedidas de abrir os últimos botões da camisa, mas ainda assim seguradas de um jeito tão doce.

"Para de me tratar como se eu fosse desmoronar!" Soltou suas mãos do aperto das dele com raiva, continuando a falar já de pé. "Eu não quebro, porra! Eu não quebrei em todos esses anos, eu não quebrei vendo essa merda no seu braço, e eu, definitivamente, não quebrei depois de ser quase estuprada na porra do sábado!"

Falar alto pela primeira vez aquela palavra foi como um soco no estômago. Por alguns segundos achou que fosse entrar numa crise de pânico igual a que tivera sábado - o aperto no peito voltou, a necessidade de respirar um ar que não vinha. Talvez foram as mãos outra vez segurando as suas que impediram aquilo de ir adiante, talvez fora o toque delicado, as palavras suaves que seguiram.

"Respira, pequena." Ela tinha quase sido estuprada e sim, pensar naquilo tirava seu ar - tiraria o de qualquer um, não? "Com calma." Teria sido sua primeira vez. "Devagar. Está tudo bem, não aconteceu nada." E talvez sua última. "Não foi nada Gin, não aconteceu nada."

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Se jogou nos braços do loiro, as lágrimas já escorrendo pelo rosto. Não, não tinha ficado assim assustada no Departamento de Mistérios, talvez todo seu primeiro ano tivesse sido menos aterrorizante do que aquele único momento. E Ginevra, achando que não iria desmoronar, estava em pedaços agarrada ao bruxo que queria socar segundos atrás. Sentiu um soluço que não era seu, e por um momento desejou desenterrar a cabeça daquele peito tão acolhedor - e a voz quebrada que seguiu a fez ver que ela não era a única assustada com tudo aquilo.

"Me desculpa por não estar lá." Não se incomodou mais com o toque delicado, com os dedos passando tão suavemente pelos seus cabelos num cafuné. "Ginevra, ele nunca mais vai te machucar." A promessa veio com um beijo na testa, e então seus olhos acharam outro par de vermelhos, tão quebrados quanto os dela. "Porque eu não vou deixar, e você não vai deixar. Tudo que eu sei que pode te ajudar eu vou tentar fazer você aprender, e você nunca mais vai precisar ter medo, ok?"

Permaneceria o resto da noite - o resto da vida - naqueles braços.

"Ok."

—__

Sábado, 25 de novembro.

"Hoje é um dia de agradecimento." A última coisa que Ginevra Weasley desejava era prestar atenção no discurso do Dia de Ação de Graças feito pelo diretor.

Os dias andavam melhores, claro, mas não significava que andassem exatamente bons. Não haviam mais machucados para lembra-la de Flint mas muitas vezes o bruxo continuava uma constante na sua mente. Os pesadelos já não eram mais diários, mas acordava gritando com mais frequência do que gostaria. Estava apaixonada por um sonserino, sempre tendo que encontra-lo longe dos olhos de qualquer pessoa. E sabia que seu relacionamento tinha tantas chances de ser aprovado por sua família quanto a segunda guerra bruxa tinha de não estourar em breve.

"Eu realmente estou procurando algo para agradecer." Hermione verbalizou o mesmo pensamento que a ruiva tinha naquele minuto.

"Duas."

"Agradeço pelo bolo de chocolate." a filha de trouxas disse, ao colocar o primeiro pedaço da sobremesa na boca - um agradecimento válido.

"Agradeço pelo recesso de Natal estar chegando." Um tempo livre dos estudos, tardes livres sem Animagia, um tempo a mais pelos corredores vazios do castelo - com ele. Talvez Ginevra até tivesse coisas a agradecer.

"Agradeço por estar com todas as lições em dia." Típico, pensou enquanto revirou os olhos: tão Hermione. "O que foi?"

No tempo em que ficara afastada - pouco tempo, mas tempo suficiente - viu a falta que lhe fez aquela bruxa. As duas não eram exatamente próximas no começo, Hermione sempre dando preferência para os dois outros bruxos nos primeiros anos da escola, mas algo mudou em seu quarto ano - terceiro ano da ruiva - e as duas se tornaram boas confidentes. Fora Krum e o primeiro beijo da bruxa? Fora Harry e aquela paixão irritante pela bruxa chinesa? Independente, no final daquele ano, na T'Oca, o tempo era dividido por igual entre a dupla de bruxos e Ginevra.

E por mais que Hermione não exatamente concordasse com o relacionamento da amiga, era espantoso - e um grande sinal da amizade e confiança que uma tinha na outra - como ela se propunha a escutar e - tentar - entender.

"Agradeço por ter uma amiga como você."

"Também agradeço por isso." a bruxa mais velha retribuiu o sorriso. "Como estão as coisas com a fuinha?" E Ginevra quase gargalhou. O apelido que as duas usavam para um certo loiro nunca perderia a graça, mesmo se algum dia fosse descoberto pelo sonserino.

"A fuinha vai bem." Ela mesma começou a devorar o bolo em seu prato. "Paranoica como sempre." Apesar de bem menos do que há algumas semanas atrás, a bruxa até andava sozinha pelos corredores de Hogwarts sem que ele a puxasse para um sermão - desde que não fosse pelas masmorras. "É engraçado como já me acostumei com esse comportamento." O olhar da amiga nunca era dos melhores quando o sonserino era posto em pauta. "É um bom comportamento, Mi. Ele se importa. Ele com certeza amorteceu a minha queda."

"Agradeço pela fuinha paranoica, também." As palavras da amiga foram quase uma pequena vitória - será que com sua família seria assim, fácil? Porque apesar de não ter sido exatamente simples com aquela bruxa, em sua mente as coisas estavam longe de serem assim descomplicadas com seus irmãos - e principalmente, com sua mãe.

"Agradeço por Harry não ter falado nada para Ronald - aparentemente."

"Acredite, se tivesse falado, você saberia." Ela e provavelmente metade da grifinória, se não do castelo. Provavelmente seus próprios pais já estariam em Hogwarts para entender a situação de sua única princesinha. "Por favor, quando você for contar, me chame. Eu preciso ver essa cena." Outra vez, a ruiva se limitou em revirar os olhos, enchendo mais uma vez o copo de chocolate quente.

Foi um bruxo de cabelos igualmente vermelhos parando em frente a filha de trouxas que chamou a atenção das duas.

"Hermione." o irmão mais novo da bruxa disse, após um breve sorriso para ela. "Podemos conversar um minuto?" Foi engraçado como Hermione fez que sim quase desajeitada com a cabeça, se atrevendo a sorriso apenas após o pequeno levantar de lábios de Ronald. "Te espero lá fora."

O olhar da sexto-anista foi impagável.

"Agradeço por Ronald querer conversar." Ginevra ouviu a bruxa dizer baixo - quase uma prece silenciosa - quando Ronny já estava fora da vista de ambas, e ela mesma silenciosamente ficou grata pela felicidade da amiga.

—__

Havia nevado no dia anterior, quinta-feira, mas não havia conseguido encontrar a grifinória para um passeio nos jardins brancos - e se xingou mentalmente durante toda a noite por tal pensamento ridículo. Passeio no meio da merda dos jardins, sério? Com tudo que estava fodendo na sua vida, ele estava pensando em uma porra de uma trilha no meio da neve com a ruiva?

Com certeza estava, e Draco, apesar de odiar aquele lado suave que a bruxa despertava nele, queria muito dar uma maldita volta pela neve com ela. Talvez fosse só aquela chance que teria - faltava menos de um mês para o Natal.

"Eu realmente agradeço por esses beijos." falou, agradecendo verdadeiramente por aquela boca tirar um pouco de seu foco e substituir por um mínimo de conforto. "Agradeço por essas mãos, também."

A estufa estava úmida, muito mais do que o habitual graças a toda neve já derretida, mas aquele era apenas um detalhe para os dois alunos deitados no chão. Tão linda quando sorria, a bruxa sabia o quanto seu sorriso era cativante? Após o incidente, o sonserino ficara tão mais cuidadoso - a ponto de irrita-la -, e todo seu novo controle o fazia reparar nas mais insignificantes e maravilhosas coisas. Mas pelo menos com ela - ao menos com Ginevra - o bruxo conseguia tirar sua mente por alguns minutos de tudo que dominava sua cabeça.

"Como estão as coisas?" Por isso, nunca gostava das perguntas que eventualmente surgiam.

"Não posso discutir com você, Gin." Assim como não agradam Ginevra as respostas que sempre vinham. "Não faça esse bico. Eu não posso ficar te falando tudo." tentou desviar um assunto, mas acabou tendo seu beijo desviado. "Eu te falo o que posso, bruxa. Estou ajudando Snape com algumas coisas, e fim." disse enquanto a jovem já se colocava sentada.

"Você parece mais cansado do que antes." Os olhos chocolates outra vez tinham aquele sentimento que antes, era só dele.

"Tenho dormido pouco." Era tão mais fácil na época em que somente o sonserino tinha aquelas preocupações - porque era tão difícil mentir toda vez que tudo ia ficar bem, que tudo se acertaria no final. "Não me olhe assim." Mas o pior era que Ginevra sabia. Ele sabia que ela sabia que era mentira, e sempre fingia acreditar. "Com dó. Não precisa ter dó, bruxa."

O questionamento veio depois de um minuto de silêncio - um minuto querendo chegar perto daqueles malditos lábios rosas e temendo ter novamente o mesmo efeito: outra pergunta.

"Eu posso fazer uma pergunta?" Deveria tê-la beijado.

"Não garanto resposta." Afinal, agora tinha duas perguntas.

"O que você vai falar para sua família?"

Quase riu - porque sim, a sua vontade era gargalhar ao imaginar ele na frente de Lúcio e Narcisa falando qualquer coisa referente aos seus últimos meses. Olá mãe, pai, como foram os últimos meses? Ótimo tempo tem feito. Como estão nossos amigos mais próximos, como está Bella? Ah, a propósito, eu me tornei um espião e por um acaso resolvi me apaixonar - eu sei que Malfoys não se apaixonam, me desculpem - por uma traidora de sangue. Ginevra Weasley, te lembra alguém, pai? Filha de Arthur Weasley. A que você quase matou sem querer.

"Draco?" Daquela vez conseguiu chegar até os lábios rosados antes de responder.

"Que é tudo culpa sua, é claro." brincou, mordiscando o lábio inferior da bruxa, suas mãos nos cabelos vermelhos.

"Eu falo sério." A reclamação veio junto de uma mão que o afastou. Sabia que seus olhos estavam aborrecidos quando, antes de voltar a falar, encontraram os castanhos tão malditamente expressivos e aborrecidos - tão como os dele no momento.

"Eu não sei o que vou falar para minha família, Ginevra, eu nem mesmo sei se minha família vai me escutar!" Voltou a se deitar sobre o cobertor, mas não conseguiu manter a irritação por muito tempo quando a ruiva se aninhou em seus braços, ele novamente notando aquela capa tão grande que a bruxa usava - sua capa. "Você sabe o que vai falar para a sua?" Incrivelmente, ela sabia.

"Vou contar como eu me apaixonei pelo bruxo que me salvou de um psicopata." A história começou com um sorriso naqueles lábios de baunilha, os olhos castanhos enfim perdendo um pouco da preocupação. "Vai ser uma linda história, acredite. E no final todos estarão chorando, e minha mãe com certeza vai querer conhecer o príncipe de Nimbus 2001 prateada." Mais uma quase risada, não mais segurada na última parte. "E quando eu falar seu nome toda a fantasia vai evaporar e a parte masculina vai querer te matar. Sou uma realista."

"É bom ir preparado." A puxou para mais perto, desfrutando do cheiro daquele cabelo. Era incrível como ali naquele lugar os dois conseguiam se perder num mundo só deles - nunca achou que fosse apreciar tanto uma maldita estufa. "Você tem um favorito?" O olhar confuso o fez continuar. "Seis irmãos. Você tem um favorito? Não sei como funciona toda essa dinâmica de irmãos, já que não tenho nem mesmo um."

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"Gui." O nome veio sem hesitação. "Eu amo todos eles, não me entenda errado. Até Percy! Mas o Gui sempre cuidou muito de mim, talvez por ele ser o mais velho." explicou, um sorriso se pondo nos lábios. "Eu sempre fui a princesinha dele. Ele está saindo com aquela francesa agora. Odeio ela." Aquela francesa?

"Delacour?"

"Fleuma não é boa o suficiente para meu irmão." Ginevra confirmou sua dúvida, e mais uma vez o sonserino acabou rindo - como ela conseguia aquilo? Como conseguia, mesmo que apenas por alguns minutos, transforma-los num casal normal?

Mas os dois bruxos estavam longe, muito longe da normalidade.

"Eles vão pensar o mesmo de mim." Mentira: pensariam muito pior. Mas se recusava a sair do mundo de paz construído naquela tarde. "Eu tenho outra coisa pra você."

Quando viu os olhos chocolate crescerem, teve certeza do quanto valeu a pena aquele pequeno esforço. A corrente de prata foi colocada ao redor do pescoço da bruxa, ela em seguida pegando o medalhão que esta sustentava.

"O que esse colar faz?" A pergunta veio num tom de brincadeira, a bruxa hesitando por um minuto em abrir o camafeu prateado.

Foi a mão dele que ativou a abertura, e não evitou um sorriso quando os olhos aumentaram ainda mais de tamanho, no segundo seguinte a própria grifinória deixando a felicidade extravasar pelos lábios. Dentro da joia, uma foto tirada às escondidas dos dois mostrava Ginevra segurando o rosto do loiro entre as mãos enquanto o beijava com uma delicadeza apaixonada - a foto perfeita, precisaria ainda agradecer o filho de trouxas.

"Ele faz você não me esquecer."

—__

Sexta, 01 de dezembro.

"Bom treino!" escutou assim que entrou no vestiário masculino, que tinha esperança em encontrar vazio após enrolar por tantos minutos no campo de quadribol - mas que inferno.

"Você está dando um capitão melhor do que Flint, Malfoy." Montague falou quando o loiro sentou-se em um dos bancos, largando a capa verde no chão, já tão sujo de terra. Mas que inferno, a última coisa que queria era começar uma conversa. "Estão falando que a bruxa que o denunciou era aquela menina Weasley." Ainda mais uma que envolvesse justo aquela bruxa - puta que pariu.

"Quem disse isso?" A pergunta saiu despreocupada, por mais que queimasse de raiva, e a resposta fez seu sentimento dobrar.

"Parkinson." Nem mesmo prestara atenção nas últimas fofocas que corriam na sua casa naquelas últimas semanas, por quanto tempo sua maldita ex-namorada estava espalhando aquilo - e como ela sabia?

"Não foi a pobretona, acredite." Tentou manter o tom de desdém - desde quando lhe doía chama-la de qualquer coisa minimamente ofensiva? - enquanto pensava em alguma resposta para tentar anular a droga daquela especulação. "Foi uma lufana que ele estava comendo." Afinal, Flint estava saindo com uma bruxa da Lufa-Lufa antes de outubro, pelo que bem lembrava. Não estava? "Eu não vou falar quem é, Montague." emendou ao ver o moreno esperando uma continuação.

"Sem graça. Vai para a festa de hoje a noite?"

Merda.

"Um banho e estarei lá." A última coisa que gostaria era de pisar no salão comunal de sua casa naquela noite.

Se livrou enfim dos protetores de joelho e cotovelo, os arremessando para perto da capa, Montague - o último sonserino além dele ali - finalmente saindo porta afora. Já achava aquele tempo usado com quadribol um desperdício - e apenas continuava pois era praticamente sua única forma de aliviar um mínimo de suas preocupações. Agora tinha a droga de uma festa - que ele não sabia por que diabos Snape continuava sabendo e deixando acontecer - para fingir participar, para tentar ficar menos neurótico arrancando alguma informação de algum sonserino bêbado - às vezes nem mesmo ele entendia como conseguiam contrabandear tanta bebida para dentro daquela escola.

Seus filhos definitivamente não estudariam ali. Se é que viveria o suficiente para ter filhos.

Só pare de pensar.

Já chutava suas botas quando escutou a porta novamente abrir, e estava preparado para soltar um xingamento para qualquer que fosse o bruxo quando viu aquela cor tão única de cabelo.

"Você sabe o quanto fica desejável com esse uniforme?" Ginevra, no meio do banheiro masculino, usando a sua capa - a que gritava sonserina, com o verde na parte interna -, o quanto a grifinória tinha perdido a noção naqueles últimos dias?

"Você é louca." E talvez ele fosse tão louco quanto, ao olhar para a ruiva e sorrir - quase vitorioso. "Definitivamente." Porque sim, Draco esperava que algumas pessoas tivessem visto a capa que não condizia com a casa da bruxa. "Não que eu já não desconfiasse disso. Colloportus." E a porta bateu, ele colocando a varinha no monte que se tornava suas roupas.

"Eu tinha companhia até cinco minutos atrás, antes do par se certificar de que não havia mais ninguém no campo além de um outro sonserino e repetirem o seu gesto no banheiro ao lado." a grifinória começou a explicar, já andando até ele. "Achei que não fosse gostar que eu voltasse sozinha, paranoico do jeito que é."

"E desde quando você se importa com o que eu gosto, bruxa?"

"Eu sempre me importo com o que você gosta." A resposta veio enquanto ele arrancava as luvas, a ruiva parando na sua frente - tão pequena. "Por que não me disse que vai voltar para casa no Natal?" Mas que droga, Zabini.

"Porque eu não quero pensar muito nisso." Com um olhar, conseguiu ver o humor da bruxa em relação a situação - tão ruim quanto o dele. "Não me olhe assim, não é como se eu fosse embora sem me despedir de você." Tão preocupada quanto ele. "E eu vou voltar em janeiro." terminou, levantando-se e enfim capturando aqueles lábios.

"Promete?"

"Prometo." Ela sabia o quanto o bruxo não tinha a menor certeza do que prometia? Era por isso que o puxava para mais um beijo, para tentar esquecer a mentira, para tentar bloquear os pensamentos ruins que Draco também tanto tentava?

Gemeu naquela boca quando sentiu a língua da bruxa nos seus lábios, as pequenas mãos vagando pelas suas costas - desde o acontecimento na Floresta Proibida, seu cuidado com a grifinória era tamanho, que nunca mais havia encorajado aquilo. Mesmo quando ela o procurava, naqueles primeiros dias, suas respostas haviam sido sempre desanimadoras - calmas, tão diferentes da que dava agora, voltando para o banco com a ruiva em seu colo.

"Eu ainda preciso de um banho." disse, pensando por um segundo - e apenas um - se não seria melhor afastar a bruxa. Com os movimentos que a grifinória fazia ao mexer os quadris, ele realmente precisava de um banho, e com certeza não demoraria para aquela necessidade ser perceptível.

"Eu sei." E outra vez, por um segundo achou que a jovem fosse deixa-lo ir para a água - fria - quando se levantou, mais uma vez de pé na frente dele.

"Eu realmente não me importo, mas talvez você queira se virar." Mas a resposta que teve quase tirou sua respiração. "Gin?"

A capa - grande demais para ela - foi parar junto da dele, assim como o suéter usado pela bruxa - e a cada botão aberto daquela camisa, Draco sentia seu coração bater mais rápido. As pintas cobriam aquele corpo inteiro, e por Merlin, desde quando começara a achar sardas tão sensuais?

"Você precisa de um banho, não?" Não objetou quando as mãos que abandonavam a camisa no chão molhado foram até sua camiseta suada e a fizeram juntar-se as demais peças de roupa. "Isso vai ficar no caminho." E então ela o puxou para cima, o sonserino mais uma vez obedecendo até sentir as mãos no botão de sua calça. "Isso também." Foi quando suas mãos pararam as dela que a pergunta veio. "O que foi?" Viu a coragem deixar os olhos castanhos por um instante.

"Você lembra o que eu disse sobre peças de roupa, não lembra?" Mas no final daquela frase, voltou um sorriso definitivamente sonserino para aqueles lábios quando as mãos tiraram o primeiro botão de dentro da casa. Então o segundo, e o terceiro.

"Se eu tirar mais alguma sua," E a calça também acabou no chão, e Draco sabia que nunca na vida quis tanto alguém como queria aquela maldita ruiva. "Me prometa que não vai querer parar."