A Luz Que Ilumina a Escuridão Dentro de Mim

Capítulo 3 - Segunda Rodada da Guerra de Travesseiros


Eles tinham conseguido trazer a madeira que prometeram, mas não parecia ter sido a tarefa fácil que imaginaram. Um filete de sangue escorria por um lado da cabeça de Negi, que estava com a metade direita da blusa destruída. Kaede estava com um corte feio em um dos ombros onde a alça da camiseta tinha rasgado. Setsuna voava alguns metros acima deles, as asas brancas expostas, assim como o abdômen. Sua blusa tinha sido rasgada e o elástico de cabelo aparentemente tinha arrebentado e agora seus cabelos negros esvoaçavam para trás.

— Professor Negi! – Nodoka exclamou horrorizada ao ver seu estado e correu até o garoto. Após absorver a informação, os demais a seguiram – O que aconteceu?

— As criaturas da floresta… tem todo o tipo de coisa lá… - Negi falou com dificuldade, depositando a madeira no chão de qualquer jeito. Kaede e Setsuna fizeram o mesmo – Todo o tipo de coisa mesmo. Vocês não fazem ideia.

— Pior do que um dragão? – Nodoka perguntou alarmada.

— Nem se compara – Kaede falou sombriamente. A amiga levou as mãos à boca assustada.

— Setchan, você está ferida – Konoka aproximou-se da garota, examinando seu estado – O que tinha naquela floresta afinal?

— Nem queira imaginar – Setsuna suspirou – O importante é que conseguimos a madeira. Podemos construir um abrigo agora.

— Como conseguem pensar nisso com todos esses machucados? – Natsumi indagou incrédula.

— Isso mesmo! – Konoka concordou – O abrigo pode esperar. Primeiro vou cuidar dos ferimentos de vocês.

— Mas Milady, o abrigo é para todos nós…

— E nós não teríamos abrigo nenhum se não fosse por vocês – Konoka insistiu, ativando sua Carta de Pacto Regina Medicans, capaz de curar qualquer ferimento – Não sei lutar, então me deixe cuidar dos seus ferimentos, é a única coisa que eu posso fazer. E pare de me chamar de Milady, me chame pelo meu nome, quantas vezes tenho que pedir?

— Está bem… desculpe Konoka. É força do hábito – Setsuna murmurou, deixando que a garota cuidasse dos seus ferimentos.

— E não é que elas se assumiram mesmo? –Haruna comentou enquanto observava as duas – Só falta uma certa pessoa agora… - ela cutucou Natsumi nas costas.

— Não sei do que está falando – a menina virou o rosto para o lado – Só sei que a Konoka tem razão. Meu Artefato não serve para lutar e nem para curar. Me sinto uma inútil nessa ilha – Natsumi suspirou.

— Não se preocupe. É só o nosso primeiro dia – Asakura lembrou – Vamos passar um mês inteiro aqui, você terá muito tempo para se sentir útil.

— Esse é o espírito – Kaede riu.

— Muito engraçado – Natsumi tentou rir com sarcasmo, mas nem isso conseguiu. Aquilo só a deixou ainda mais deprimida – Não quero passar 31 dias aqui, só queria me sentir útil agora…

— Não seja por isso – Kotarô falou. Natsumi e as demais garotas olharam na direção dele e viram que o menino tinha acendido uma fogueira perto dali – Por que não me ajudam a assar esse crocodilo? Não sei vocês, mas eu continuo faminto.

— Agora que mencionou, também estou com fome – disse Asuna.

— Nós não comemos nada desde que deixamos Sunshine Island – Yue lembrou.

— Certo! Então vamos devorar esse crocodilo gigante! – Asakura falou com uma empolgação surpreendentemente grande para quem estava prestes a recolher restos mortais de um crocodilo da areia da praia para assar em uma fogueira. Porque foi exatamente isso que eles fizeram.

Poucos minutos depois, Konoka tinha curado Negi, Setsuna e Kaede, e enquanto os três se ocupavam em construir uma cabana de madeira, os demais assavam carne de crocodilo na fogueira para todos.

Magia era mesmo incrível. Kaede e Setsuna tinham cortado toras de madeira usando uma shuriken gigante e uma espada (instrumentos exagerados para simplesmente cortar madeira, mas era o que tinham para o momento) enquanto Negi unia as toras com cipós no formato de uma cabana enorme através de magia.

Quando terminaram, a comida estava pronta. Os três uniram-se ao resto do grupo para “jantar”. Carne de crocodilo era horrível. Era surpreendentemente macia, mas o gosto era péssimo. Mas comeram mesmo assim, tanto por Negi e as meninas insistirem em nunca mais adentrar aquela floresta nem para procurar comida, quanto por estarem todos famintos. Sem falar que a história sobre como o crocodilo surgiu do nada e como o derrotaram ajudou a distraí-los do gosto ruim da comida. E, uma vez que todos estavam de barriga cheia, tinham começado a ficar com sono. O que na verdade era outro problema.

— Ei, acho melhor irmos para a cama – Negi sugeriu, esfregando os olhos sonolento – Amanhã de manhã podemos pensar melhor no que fazer para sobrevivermos nessa ilha. Embora não tenha “camas”, literalmente… - ele acrescentou.

— Como assim? – perguntou Asuna.

— Bem, só havia madeira suficiente para construir a cabana. E, como somos muitos, ela precisava ser grande – Kaede explicou – Por isso não sobrou madeira suficiente para construir móveis nem nada do tipo. Por dentro é só um enorme espaço vazio.

— Está dizendo… que vamos todos dormir juntos…? – Natsumi perguntou, temendo a resposta.

— Receio que sim – Setsuna respondeu, parecendo tão desconfortável com aquilo quanto ela.

— Isso não vai prestar – Asuna resmungou.

— E a confusão começa em três, dois…

— Muito bem – Haruna interrompeu a contagem regressiva de Konoka – Parece que a partir de hoje dormiremos em uma cama gigante durante 31 dias. Não há uma cama de fato, mas isso é um mero detalhe. E, se vamos todos dormir juntos, significa que alguém vai ter que dormir ao lado do professor Negi. O que significa que está na hora de desempatar aquela guerra de travesseiros inacabada!

Haruna ativou o poder do seu Artefato Imperium Graphices e o usou para algo completamente inútil, começando a desenhar vários travesseiros como uma louca, que arremessou na direção das amigas. Inacreditavelmente, elas acabaram entrando na onda e continuaram com a guerra de travesseiros que tinham começado em Sunshine Island.

— De novo isso? – Setsuna franziu as sobrancelhas – O resultado é óbvio… será que elas não aprendem?

— Talvez não dessa vez, Setchan – Konoka discordou.

— Como assim?

— Da última vez tínhamos que dividir duas pessoas em cada quarto, então acabamos decidindo colocar o Negi e o Kotarô no mesmo quarto, já que eles são os únicos garotos do grupo, lembra? – Konoka recordou – Mas agora é diferente. O Kotarô pode acabar dormindo perto de qualquer pessoa dessa vez – ela olhou fixamente para Natsumi, que sentiu um arrepio na espinha.

— Não tenho certeza se entendi o que você quis dizer… - Setsuna murmurou, perguntando-se se era mesmo aquilo que ela estava pensando.

— Setchan, você é tão inocente! – Konoka agarrou-se ao braço dela, sobressaltando a garota. Ainda assim, Setsuna percebeu um travesseiro voando na direção delas e o cortou ao meio com a espada – E exagerada como sempre – Konoka acrescentou.

— S-Seja como for, não vou participar dessa guerra de travesseiros. Vou dormir – Setsuna adentrou a cabana, sendo seguida por Konoka.

Natsumi também não estava participando da guerra de travesseiros. Estava encostava em uma árvore perto da barraca, observando as amigas se engalfinhando, enquanto Negi tentava fazê-las se acalmar, em vão. Olhou para o lado e viu que Kotarô estava sentado em uma pedra, rindo da cena, a cauda agitando-se levemente de um lado para o outro. Natsumi lembrava-se de ter lido em algum lugar que alguns garotos gostavam de assistir meninas brigando entre si. Perguntou-se se esse era o caso dele.

— Ei, Kotarô – ela chamou – Não vai dormir?

— Eu ia, mas a Setsuna e a Konoka entraram primeiro. Eu não quero ficar lá dentro sozinho com elas e interromper o que quer que elas estejam fazendo – o garoto encolheu os ombros sem graça – Acho que vamos ter que dividir o quarto de novo. Desculpa.

— Não precisa se desculpar! Não é culpa sua.

— Mas é que eu era o único que queria vir para essa ilha desde o início, e agora estamos presos aqui, então parece que é culpa minha – Kotarô respondeu – Mas também não significa que você precisa dormir perto de mim, certo? Você pode ficar junto das outras meninas dessa vez – ele riu sem graça.

— Acho que sim – Natsumi respondeu vagamente. Na verdade havia outra coisa preocupando-a, mas ela não sabia como perguntar - Kotarô… aquilo que a Haruna disse antes, sobre você estar escondendo alguma coisa quando te perguntamos como você sabia que carne de crocodilo era comestível… é verdade? Você está escondendo alguma coisa?

— Por que está perguntando isso agora? – Kotarô desviou o rosto para o lado – Sabe que não pode acreditar em tudo que a Haruna diz. Olha só o que ela fez, usou o Artefato dela só para criar uma guerra de travesseiros idiota.

— Eu sei, mas… ela parecia ter razão nesse caso – Natsumi insistiu – Não precisa me contar o que é. Mas você está escondendo alguma coisa, não está?

— Você ficaria surpresa – ele sussurrou – Se soubesse o tipo de coisa que já fiz antes de te conhecer…

— O que…?

— Olha – Kotarô apontou na direção das outras meninas, como se nada tivesse acontecido – Elas terminaram.