Interlúdio

Questões de Família, parte I


Não era preciso muito para saber que os garotos estavam confusos. Eles se entreolharam, em seguida, fitaram John e Rex, afinal, a cena toda acontecia com os pais deles. Os dois garotos não queriam acreditar no que acabavam de presenciar. John imaginava que seus pais começavam a se aproximar, mas aparentemente estava errado. E Rex não conseguia nem pensar que sei pai fazia aquilo com sua mãe.

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Shayera se afastou do Lanterna Verde, pronta pra se explicar, mesmo sem saber como. No entanto, ao contrário do que esperou, a fúria de Rex não veio para ela. Confuso, o rapaz olhava do pai para Shayera, e em seguida para John. Mesmo que o rapaz não tivesse culpa, era a mãe dele, o que só aumentava a raiva que sentia há alguns anos.

─E olha que eu quase te considerava um amigo de novo. ─Disse, e ganhou os olhares confusos dos amigos ao redor. Continuou, toda a raiva contida saindo. ─Deve ser de família. Sua mãe te ensinou direitinho a...

John empurrou Rex, tão confuso que não conseguia manter-se calmo como gostaria.

─Não mete minha mãe no meio! ─Gritou. ─Seu problema é comigo, não com ela. Você pode falar de mim, pode tentar me humilhar, mas você não fala da minha mãe, nem das minhas irmãs!

─Ou o quê?

John riu e ficou de costas. Sem pensar duas vezes, ele se virou e acertou um soco em Rex. Ele queria fazer aquilo por tanto tempo, e tudo que passou nos últimos meses, somado com a cena que acabou de presenciar, levaram-no ao limite. Rex caiu devido à violência do soco que levou, e logo John vinha sobre ele, contudo, Jason deteve o amigo.

─Não vale a pena, cara.

Rex riu enquanto limpava o filete de sangue do canto da boca, e se colocava de pé.

─Isso aí, cara, não vale a pena. Todos sabemos o quanto sua mãe é uma vadia.

Jason manteve o aperto mais forte, enquanto John queria de todo jeito bater em Rex. Ele estava cheio, e aquela foi a última gota. Kira e Terry tiveram que segurar Rex, pois ele também queria uma briga. Martha se colocou entre John e Rex, nesse meio tempo, a confusão já ganhava muitos olhares curiosos dos demais leaguers.

─John! ─Martha era séria. ─Se afasta, por favor.

O ruivo ainda tentou se soltar, avançando na direção de Rex, e Jason tinha dificuldades em mantê-lo no lugar. Martha nunca viu o amigo com tanta raiva antes. John tentava ser sempre calmo, mas ela sabia que ele não gostava que falassem da mãe e Rex passara dos limites.

─John!

Ouviu gritarem seu nome mais uma vez, e em meio à fúria cega, ele reconhecia a voz de Lily e Martha. Fitou as duas garotas, respirando, tentando se acalmar. Jason o soltou, e John deu as costas, abrindo caminho pelo grupo e lançando olhares para Martha e Rex à medida que se afastava. Quando o amigo não estava mais em seu campo de visão, Martha enfim se voltou a Rex. Ela o empurrou, ao que o garoto cambaleou, mas se manteve de pé.

─O que você tem na cabeça? ─Ela gritou.

─Foi ele qu... ─Tentou se justificar, porém Martha o interrompeu.

─Você é tão estúpido que não percebeu que o John passou o último ano tentando se desculpar com você. E eu já estou cansada das suas disputas com ele. ─Aproximou-se mais. ─Se mexer com ele de novo, vai se ver comigo.

─Não tenho medo do seu pai. ─Retrucou.

─Deveria ter medo de mim.

Ela então saiu, abrindo caminho e seguindo na direção que John foi.

─Eu nunca falei nada, mas se chegar perto do John outra vez, ou mesmo da Li, vai se ver comigo também. ─Jason falou enquanto seguia seu caminho. Ele não via Lily na multidão, então decidiu procurá-la.

─Pegou mal, hein, Rex.

Terry esbarrou em Rex, também indo embora. Honey apenas balançou a cabeça, não concordando com as atitudes dele. Pouco a pouco, os garotos foram saindo.

─Estão todos do lado dele? ─Indagou.

Kira abriu a boca para falar, mas desistiu.

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─Não tem nada para ver aqui. ─Ela dispersou os que ainda estavam no corredor, que aos poucos foram saindo, restando apenas ela e Shayera.

─Acho que estou perdida. O que houve com eles?

A menina marciana se voltou à sua tia.

─Essa garota, Katy, namorava o Rex, mas se jogava pra cima do John também. O Rex achou que era culpa do John, e eles brigaram feio. Os dois foram parar no hospital. O Rex ganhou um ódio mortal pelo John, e o John ficou muito mal com tudo. Ele ia pedir pra Martha namorar com ele, mas nunca chegou a acontecer. E isso faz mais de um ano. Pensei que com toda a coisa de viagem no tempo eles estavam superando, mas parece que me enganei.

Shayera olhou incrédula para Kira.

─Tudo isso por causa de uma garota? ─Shayera indagou.

─Até a guerra de tróia começou por causa de uma mulher. Você mesma deveria saber, não é tia Shay?

A indireta direta pegou forte. Kira estava certa, no entanto, o centro não era ela.

Shayera encontrou o filho na sala de treinamento. A porta se fechou atrás dela, e John continuava na mesma.

─Vai me dar uma lição, mamãe? ─Seu punho atravessou o saco de pancadas com o qual havia lutado há algum tempo. A areia escorria para o chão.

─Não é meu estilo. O que acha de lutar comigo? Assim você espairece e não acaba com nosso material.

John deu de ombros. Ao mesmo tempo que era culpa dela, não era. Ao menos esfriava a cabeça. Sua mãe o conhecia muito bem...

*****

Shayera riu junto com John enquanto o rapaz contava coisas sobre a família deles. Ele contou um pouco da infância, das irmãs, e tudo o mais que ele não havia contado antes. Há muito pararam de lutar, e o rapaz só falava um pouco mais da família. John estava deitado, e ela estava sentada, observando o filho. Ele notou o olhar e retribuiu com um sorriso.

─Nossa família parece bastante desequilibrada. ─Disse, após ouvir muitas das histórias épicas de John, especialmente de quando ele era pequeno.

─Somos pirados, você precisa ver. Mas adoramos você e o papai.

─Tenho certeza que sim. ─Ela sorriu, pensativa.

John ficou um pouco mais sério, e fitou a mãe.

─Por que nunca nos contou que namorou o tio John?

─Como eu vou saber? ─Retrucou. ─Ainda não sou exatamente a mãe de vocês.

─Não é sua melhor desculpa. Mas você deve ter seus motivos.

─Eu imagino que algum dia nós teremos a resposta. ─Shayera apoiou o queixo em uma das mãos. ─Você gosta dela, não é? Martha?

─O que mais me magoou é que ela foi falar com o Rex.

─Só para dizer que ele era um idiota, e que o mataria se chegasse perto de você outra vez. ─Shayera disse. ─Um passarinho me falou sobre vocês dois.

─Kiwi?

─Kira. Por que não diz a Martha o que sente?

John desviou o olhar de sua mãe para o teto. Soltou um suspiro triste.

─Talvez no dia que admitir que gosta do papai.

─Eu nunca disse que não gostava.

─Mas também não admite que gosta. Deve ser mesmo um problema de família.

Shayera abriu a boca para falar, mas Martha apareceu na porta logo em seguida, pedindo silenciosa para entrar. A ruiva assentiu e ficou de pé.

─Deixe que eu me resolva com o Wally. Já você e Martha precisam conversar.

John fitou a mãe saindo e viu Martha na porta. Voltou a encarar o teto, enquanto ouvia os passos da garota se aproximando dele.

─John. ─Sua voz agora mais suave. ─Me desculpa, eu...

─Tudo bem, Martha. É sério.

─Se está tudo bem, por que evita me olhar?

Seus olhos azuis pousaram nos dela.

─Acho que mereço.

─Para de se culpar, John. As pessoas que se importam com você sabem a verdade, o resto não importa. ─Fez uma pausa. ─O que está tentando provar?

Ele tinha inúmeras respostas para aquela pergunta. Provar que não agia sempre por impulso. Provar que poderia ser fiel a alguém. Provar que era melhor do que alguns diziam. No entanto, fitando Martha, a resposta gritava em sua mente.

─Que sou bom o bastante para você.

─Você já é.

Tocou-lhe o rosto. Martha se curvou sobre ele, seus cabelos negros esfregando em sua pele. Logo, os lábios macios dela estavam contra os dele. Ele envolveu os braços nela, puxando-a para perto. Pela primeira vez em muito tempo, aceitou o contato sem relutar. Ele a queria por tanto tempo, e era um tolo por deixá-la longe.

Separaram-se para respirar, e pegaram um sorrindo para o outro. John sentia como se um peso enorme fosse tirado de suas costas, e ele enfim conseguia ficar com a garota que amava. Ele a amava tanto tempo que nem sabia como começou, mas desde a primeira vez que a viu, sentia algo e só foi aumentando à medida que o tempo passava.

Voltaram a se beijar, e num momento de ousadia, Martha se viu subindo para o colo dele. Porém John a deteve.

─O que você está fazendo?

─Esperamos a vida toda por isso, John. Não quero esperar mais.

─Alguém pode chegar e ver a gente. ─Argumentou.

─Então é bom irmos rápido...

Martha beijou seu pescoço. Era como se cada parte adormecida de seu corpo acordasse sob os toques da garota. Ela não precisava pedir uma segunda vez...

*****

─Isso foi... uau!

─Muito! As garotas tinham razão sobre você.

─Só há uma garota com quem eu quero estar a partir de hoje.

Martha riu contra o peito de John. Gostava da sensação de sua pele contra a dele, especialmente pela fina camada de suor que os cobria. Estavam ainda deitados sobre o tatame, tentando acalmar a respiração. A camisa de John estava jogada em algum lugar da sala, e as roupas de Martha estavam amassadas, e eles estavam felizes, muito felizes.

Ela alisava a tatuagem que ele tinha nas costelas, e sentia o corpo dele se arrepiar com seus toques. Traçou palavras em sua pele, esperando que ele entendesse o que ela escrevia.

─Espero que não tenha ninguém vendo as gravações das câmeras. ─Ela riu, finalmente pensando no que acabaram de fazer. John juntou-se a ela.

─Não tenho nenhum problema em me expor, mas espero que não tenham visto você. ─Bateu a mão na testa, gargalhando mais forte. ─Sou um homem morto. Tio Bruce vai me matar.

─Eu protejo você, meu anjo.

Encontrou seus lábios em um novo beijo. Oh, aquilo era bom. Agora ela sabia por que Lily e Jason nunca se separavam. Estar com quem se ama faz seu peito vibrar com uma emoção nova. John puxou-a contra ele, mantendo Martha em seu abraço.

─Eu te amo...