O Dia Que Eu Sabia Que Chegaria
Chegou Antes Que Eu Estivesse Pronto
Quando o arrepio me fez cambalear e em seguida a dor no peito, eu sabia que algo acontecera com Yue.
Estava trabalhado e me apoiei na pia, tentando engolir o bolo que se formou na minha garganta, olhando copo quebrado no chão. Meu chefe pareceu ficar assustado e me mandou ir para casa, o que a princípio achei um exagero, entendi quando me olhei num reflexo e notei o quão pálido eu ficara. Mas ao invés de ir para casa que dividia com Yuki, fui para casa do meu pai e da Sakura.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Meu pai estava lá, fazendo o jantar, e ficou contente de me ver, achando fantástica a ideia de um jantar em família, dizendo que ia chamar o Shaoran Li também, mas cortou o falatório quando me notou agitado, perguntando o que havia acontecido, esquecendo-se das panelas no fogo, agora preocupado.
Eu não sabia o que tinha acontecido, e tentei explicar isso para ele, mas o cheiro de queimado nos interrompeu e eu fui para meu antigo quarto, arrumando a cama, com as mãos tremulas e olhando pela janela o tempo todo.
Não demorou tanto assim para chegarem, mas parecia que demoraram uma eternidade.
O Bicho de Pelúcia na forma fodona carregava Yue nas costas e todos pareciam aflitos e abatidos.
Preferi ficar no quarto, repetindo o ciclo de respiração para me acalmar.
Sakura não podia me ver aflito.
Quando chegaram no quarto, Sakura na frente, me olhando ansiosa e temerosa, balbuciando “você não devia estar aqui”, “nada aconteceu”, “melhor você ir para casa”.
Suspirei e cocei os olhos.
— Eu sei, Sakura. Sempre soube, deixa de bobeira e coloca o Yue na cama de uma vez. — Murmurei, a puxando levemente pelo braço e olhando o corredor.
O Bicho de Pelúcia passou por ela e o Pirralho se adiantou para tirar Yue das costas dele, mas passei na frente, o olhando sobre o ombro por um momento e ele deu dois passos para trás.
— Então? — Perguntei, ajeitando Yue.
Ele estava mais pálido que o normal e havia um machucado na cabeça se cicatrizando até que bem rápido, sangue seco nos cabelos e a roupa meio rasgada.
— Ele estava me protegendo. Quando- Ele foi atingido para me proteger. Eu- — Sakura começou a chorar e o Pirralho a abraçou.
Assenti e fui até meu antigo guarda-roupas e pegando uma camiseta e uma calça que eu deixava aqui para quando vinha visitar.
— Pirralho, leva a Sakura lá pra baixo. — Comentei, ainda com os olhos no Yue.
Ele não respondeu, mas em um segundo já saia do quarto com minha irmã abraçada a si.
O Bicho de Pelúcia ainda estava lá, agora na forma “fofa” dele e me circulando.
— Busca água e panos. — Disse o olhando por um segundo quando ele passou pelo meu rosto.
Ele voou porta a fora e eu a fechei.
Troquei as roupas do Yue pelas minhas antigas e ajeitei sua cabeça para o machucado ficar para cima e sentei ao seu lado, olhando a parede.
O Bicho de Pelúcia não tardou a aparecer, batendo na porta com a cara e eu a abri, ele vinha com a amiga da Sakura, Tomoyo, e eu peguei as coisas das mãos deles e limpei o machucado, que já fechara e agora inchava um pouquinho.
— Ele se cura rápido. — Tomoyo comentou, parecendo aliviada, em algum nível.
Assenti, enquanto limpava seus cabelos, observando seu rosto atento.
— Na verdade, ele começou a se curar quando chegou aqui. Eu estava realmente preocupado dele não estar se curando antes, mas acho que só foi uma reação tardia.
“Ou o toque da minha magia quando chegou aqui.”, pensei, pegando outro pano e puxando a mão de Yue e limpando os dedos e a palma.
— Ele deve acordar logo, né? — Tomoyo murmurou com a voz pesada e mais baixo do que antes.
O Bicho de Pelúcia demorou para responder e percebi que eu era o motivo deles estarem tendo essa conversa, uma forma de consolo sem contado.
Suspirei.
— Ele só está descansando agora. Está tudo bem, Tomoyo-kun. — Assegurei olhando-a por um momento e sorrindo.
Ela suspirou aliviada e o Bicho de Pelúcia parou de voar agoniado e se sentou na minha escrivaninha antiga, olhando Yue atentamente.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Não sai do lado de Yue até ele abrir os olhos, quase um dia depois. Eu estava encostado na janela, tentando não ficar olhando o rosto dele de dois em dois segundos, quando ele me chamou.
— Touya-sama, se ficar com essa cara, a mestra vai chorar.
Fechei os olhos e senti como se um peso saísse das minhas costas e sorri para meu reflexo quando abri os olhos, me voltando em seguida para Yue e me aproximando.
Ele estava se sentando, um pouco com dificuldade e agitando as asas amassadas. O ajudei e depois me sentei na ponta da cama, encostado nele, meio-virado para ele e o olhando nos olhos.
— Como se sente?
— Cansado e dolorido.
Assenti.
— Quanto tempo fiquei apagado?
— Menos de um dia, mas pareceu mais que isso, sinceramente.
— Desculpe a preocupação.
Sorri e lhe acaricie a bochecha. Ele pareceu meio em dúvida e afastei a mão e o corpo que eu apoiava nele, me lembrando num estalo que era Yue, afinal, não Yuki.
— Desculpe, força do hábito.
— Eu- Não se desculpe. Está tudo bem. — Ele sorriu e tocou minha coxa, então suspirou. — Quer falar com ele?
Desviei o olhar.
— Não. Pode descansar mais, não se preocupe. Vou tomar um banho e comer algo... Quer alguma coisa?
Ele balançou a cabeça e eu apertei sua mão sobre minha perna por um momento, antes de levantar.
Quando voltei, Yuki estava na cama, olhando para suas mãos, parecendo confuso. Imaginei que fosse a dor ou coisa do tipo, tentando lembrar o que aconteceu, e sorri, me sentando ao seu lado e puxando seu rosto para me olhar, minha intenção era roubar um beijo curto dele, mas algo em seus olhos me fez hesitar, nossos narizes já encostados.
— Está tudo bem? Se lembra quem sou?
— Lembro...
Pisquei confuso e me afastei um pouco.
— Yue?
Ele me olhou entre o surpreso e o arrependido, mas assentiu.
Desviei o olhar para a janela, inspirando com mais dificuldade do que deveria ser necessário.
Sentia como se tivesse levado um soco no estomago.
"Eu sabia que isso eventualmente aconteceria.", pensei aturdido.
Ruby e Nakuru tinham a mesma consciência. Os dois bichos de pelúcia também. Só Yue e Yuki que eram diferentes.
Sabia que eventualmente as consciências se misturariam... Mas acho que eu estava esperando que demorasse ainda... Que eu tivesse mais tempo para-
— Touya-sama...? — Yue me chamou.
Notei sua mão a meio caminho de mim e seu olhar cheio de ansiedade e me amaldiçoei.
— Desculpe, Yue, preciso de um cigarro. Já volto, sim? — Disse, levantando e saindo do quarto sem esperar a resposta.
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