Queimada

Rachel foi a primeira a estranhar o fato do di Angelo não ter aparecido ainda, então ela suspeitou que ele tivesse ido embora no meio da noite e os largado ali, e que provavelmente tinha perdido a hora.

Porém, caminhou pelos corredores e foi até sua sala, abrindo a porta sem bater e encontrando Nico deitado na sala ao lado de Thalia, que parecia querer acordar, mas ainda dormia, apertando sua pantufa em um transe esquisito.

— Gente... — ela chamou, vendo a estagiária bocejar a abrir os olhos sonolenta, notando a ruiva ali e arregalando os olhos, pulando do sofá corada, enquanto Nico acordava com o susto da menina sair do sofá daquela maneira.

— Rachel! O que houve? — o di Angelo questionou, passando as mãos nos olhos e mirando o relógio, descobrindo que estava vinte minutos atrasado. — Desculpe! Demorei para dormir ontem, preocupado com a empresa.

— Que mentira, a gente dormiu logo! — Thalia rebateu, sendo fulminada pelo chefe, que estava torcendo para que sua secretária estivesse sonolenta o suficiente para não pensar em nada malicioso no momento, já que não estava preparado para insinuações absurdas logo cedo.

— Todos já voltaram ao trabalho... — a ruiva murmurou, tendo um sorriso de canto que dizia muito.

— Tudo bem, eu já vou! Pega um café para mim? — o chefe se levantou, arrumando a calça de moletom preta no corpo e suspirando.

— Pego sim — Rachel assentiu, fechando a porta e os deixando a sós novamente.

— Eu to com sono... — Thalia murmurou inocentemente, sentando no sofá e encarando o di Angelo, que rolou os olhos negros e negou em reprovação.

— Agora você fica com sono, né?

— É claro, alguma hora a gente precisa ter sono, né? — ela retrucou, subindo suas pernas em cima do sofá.

Nico negou, mas mesmo assim saiu do escritório e a deixou para trás, sabendo do medo da garota pela sala, tendo certeza que logo mais ela estaria atrás dele, o que aconteceu.

— Temos um problema! — Annabeth parou o chefe, surgindo em sua frente de supetão, fazendo-o arregalar os olhos.

— Logo de manhã? — resmungou, mas assentiu.

— Então, precisamos de uma vinheta para a revista — a Chase contou, alternando o olhar entre uma Thalia descabelada e o moreno.

— Tá...e qual o problema? — ele franziu o cenho, não entendendo.

— Ninguém tem ideia para uma! — a loira disse exasperada.

Nico se virou para Thalia, porém antes que falasse alguma coisa, a morena o cortou:

— Acabei de acordar, estou com sono!

Ele assentiu, se virando de volta para a loira.

— Todos na sala principal, quem sabe temos alguma ideia em conjunto e misturamos tudo? — ele ordenou, e a Chase saiu para avisar que se reuniriam na sala. Ele voltou-se para a estagiária. — Vai arrumar esse cabelo, vai!

Thalia assentiu, saindo dali e indo em direção ao banheiro, dando um jeito em seu visual, soltando os dois rabinhos em seu cabelo e o deixando solto.

Depois de alguns minutos, todos estavam reunidos na sala principal, se encarando em busca de que alguma ideia caísse do céu, o que não aconteceu, gerando um silêncio súbito e testando a paciência da Grace, que depois de vinte minutos quieta, não se aguentou e bateu a mão na mesa fortemente, se levantando e assustando todos.

— Já chega, assim não dá!

— O que foi? — Silena, a que estava mais próxima da menina, questionou.

— Nós não vamos ter uma ideia assim, encarando o negócio! Temos que estar distraídos e sem pensar no trabalho — respondeu, cruzando os braços.

— E como você pretende fazer isso? — Reyna arqueou as sobrancelhas em desafio.

Thalia pensou por alguns segundos, tendo uma ideia e deixando a sala correndo, indo até o armário que havia pego roupas para Nico no primeiro dia de trabalho e pegou uma bola verde que estava ali, voltando animada.

— Faremos uma brincadeira! — ela entrou na sala, erguendo a bola com um sorriso.

— Espera, o que? Nico?! — Reyna disse indignada, mas o chefe apenas deu de ombros.

— Vamos! Afastem a mesa! — Thalia pediu, dando um pulinho no lugar.

— Afastem a mesa! — Nico entrou na onda, se levantando e ajudando os homens a empurrar a mesa, abrindo um espaço. — O que você planeja, Grace?

— Faremos dois times e jogaremos queimada..., porém, não tem essa de sair do jogo! Se você for queimado, você tem dez segundos para dar uma ideia para a vinheta, qualquer que seja, se não, você paga uma prenda! — explicou, vendo todos assentirem.

— Então vamos tirar time! — di Angelo parou na frente da Grace, olhando de leve para baixo, já que ela era dez centímetros menor que ele.

— Ah..., ok... — murmurou, olhando em volta. — Par ou ímpar?

— Ímpar — o di Angelo disse convicto, fazendo-a rolar os olhos e jogar os dedos, contando e vendo que ele tinha tido sorte e iria começar. — Ok, eu fico com o Percy.

— Leo — Thalia apontou para o garoto, que veio para o lado dela.

— Connor — o chefe olhou para o indicado, que assentiu e foi para seu lado.

— Escolhe a Annabeth, ela e o Percy são bem competitivos, vai tornar o jogo mais emocionante — Leo orientou em seu ouvido, fazendo-a rir.

— Annabeth! — Thalia bateu palmas e apontou para ela, que deu um sorriso de canto e veio para o lado da morena.

— Piper — o di Angelo cruzou os braços.

— Travis — ela chamou.

— Silena — Nico deu um sorriso maldoso, sabendo que Thalia teria que ficar com Reyna em seu time.

— Rachel? — Thalia murmurou, não gostando nada da Arellano estar presente no seu time, pois já tinha planejado um ataque certeiro.

— Ela não está no jogo — o chefe deu risada, vendo a estagiária se virar de costas e caminhar para a outra extremidade da sala.

— Deixa eu começar com a bola, porque vão pensar que eu vou jogar no Percy e eu miro em outra pessoa! — Annabeth murmurou baixinho para a Grace, que assentiu e passou a bola para ela, que tomou a frente encarando o moreno de olhos verde-mar intensamente, quicando a bola no chão.

Porém, como combinado, a loira ameaçou jogar no Jackson e jogou para o lado contrário, acertando o rosto de Silena, que ficou desnorteada.

— Dez...nove...oito... — Thalia começou a contar, fazendo a menina balançar a cabeça e tentar focar em alguma coisa.

Silena pegou a bola e começou a falar, porém a Grace já tinha chego no um, então sobrou para ela pagar uma prenda.

— Não vale! Você contou muito rápido! — Nico interviu, apontando o dedo para a estagiária.

— O que foi, di Angelo? Não aguenta perder? — Thalia jogou, e o moreno sentiu como se a bola tivesse acertado em cheio em seu rosto.

— Silena me dá essa bola! — o chefe se virou para a menina, que arregalou os olhos de leve.

— Ela tem que pagar a prenda! — Annabeth deu um sorriso.

— Eu sei o que ela pode fazer! — Piper deu um sorriso malvado, se aproximando de Thalia e apoiando um dos braços em seu ombro. — Irmãzinha linda da minha vida, bom, como a gente divide apartamento, eu meio que já estou acostumada a ouvir você...gemendo, fazendo coisas com o seu namorado. Por que não demonstra isso durante quinze segundos para todos presentes?

— Sua traidora! — a irmã não sabia onde enfiar a cara, já que estava tão vermelha que um pimentão.

Thalia não estava muito diferente, já que estava com os olhos arregalados ao ver o nível que chegariam as prendas, enquanto Nico apenas negava em reprovação com um meio sorriso, já conhecendo esse lado de todos ali.

— O que? O prédio inteiro já ouviu você fazer isso, então porque não fazer aqui? — Piper alfinetou de novo, vendo a garota suspirar derrotada e negar em reprovação.

— Anda, Silena! Vai logo com isso para a gente continuar o jogo! — Nico pediu, e ela tampou o rosto, começando a fazer o que deveria, levando as pessoas a rirem.

— Isso é para você aprender a fazer essa porra baixo! — Piper exclamou assim que a irmã terminou, arqueando as sobrancelhas vitoriosa.

Silena tentou acertar a irmã com a bola, mas Annabeth pegou a bola com uma facilidade tremenda, jogando em Nico, que pareceu acordar e desviar do treco verde no último segundo.

Os próximos minutos se resumiram nisso, a loira pegando a bola e praticamente jogando sozinha, já que sempre que miravam em outras pessoas ela surgia na frente e pegava a bola, o pessoal do outro time desviava e ela pegava de novo.

Até que Nico se virou para Percy:

— A gente tem que parar essa garota! Percy, faz alguma coisa!

— Eu posso quebrar uma regra do escritório? — questionou.

— A gente tá jogando queimada dentro do escritório! Faz o que você quiser, mas só para ela! — pediu, vendo-o se esgueirar pelo canto da sala, tentando passar despercebido pela loira.

Assim que estava perto o suficiente, e ela livre da bola, o Jackson a puxou pela cintura e colocou seus lábios em um beijo, pegando-a de surpresa.

Nico pegou a bola rapidamente e jogou em Leo, que estava distraído, acertando-o em cheio.

— Dez...nove...oito... — ele começou a contar, imitando a Grace, que arregalou os olhos e olhou para seu amigo.

Annabeth notou o que tinha acontecido, acertando a canela de Percy e se afastando irritada.

— ZERO! — Nico gritou, dando um pulinho.

— Aí! — Percy choramingou, sentado no chão.

— Nada de aí! A gente se acerta em casa! — a loira retrucou, apontando o dedo na cara do namorado e marchando de volta para o time.

— Eu não acredito, Leo! Estou decepcionada com você... — Thalia fez um bico, negando em reprovação.

— Assim chega a doer meu coração! — o Valdez retrucou, levando a mão ao peito.

— E qual vai ser a prenda desse delícia? — Connor brincou.

— Acho que está na hora de Leo e Reyna resolverem as diferenças, né? — Silena indagou com um sorriso malvado.

— Concordo, Silena! Esses dois precisam aprender a trabalhar juntos! — Nico deu corda, dando risada da careta do menino.

— Então, Leo, mostre do que você é capaz para a Arellano — Silena finalizou, fazendo-o arquear a sobrancelha.

O Valdez tirou o celular de dentro do bolso e mostrou para a Reyna.

— Olha essa planilha que eu montei...montei sozinho! É disso que eu sou capaz!

— Interessante! — Reyna assentiu em concordância, evitando dar risada, já que não queria saber do que Leo era capaz de verdade.

— Cara, todo mundo sabe que não foi nesse sentido que eles estão falando — Percy resmungou, se levantando meio mancando.

— Não? — Thalia se virou confusa, fazendo todos rirem.

— Ok, todo mundo, menos a Thalia — se corrigiu, lançando um sorriso para a garota.

Annabeth puxou Leo para um canto, falando baixinho em seu ouvido:

— A Reyna sempre te colocou para baixo, prova para ela que ela está errada!

Para entoar a frase, a loira acertou um tapa no bumbum do latino, que se encolheu de leve e arregalou os olhos, mas mesmo assim caminhou até a garota que estava cabisbaixa.

Leo puxou a menina para si, levando uma das mãos para o cabelo dela para ter certeza que ela não iria sair de seu aperto, selando seus lábios com brutalidade e não pedindo permissão para beija-la.

Todos da sala não conseguiram esconder a surpresa com a pegada do latino, então se encaravam sem saber exatamente o que fazer, enquanto Thalia tinha os olhos arregalados observando os dois se pegarem quase a sua frente.

Annabeth caminhou até ela, puxando-a para um abraço e dando tapinhas em sua cabeça, que estava na curva do pescoço da loira, murmurando que ela não precisava ver o que estava acontecendo, enquanto todos começavam a rir.

Leo separou o beijo para ver o que estava acontecendo, começando a rir ao ver como Thalia estava com a loira.

— Vamos voltar para o jogo? — Reyna murmurou meio perdida, se desvencilhado do abraço do Valdez e saindo de perto dele.

O jogo continuou por muito tempo, várias prendas foram dadas e algumas ideias esquisitas também, porém, depois de um tempo, Annabeth se cansou.

— Já chega! — ela resmungou, enquanto se jogava no chão de modo dramático. Porém, seu cérebro acendeu como uma lâmpada e ela levantou correndo, indo para a mesa e abrindo o notebook ali. – Eu tive uma ideia!

— Qual? — Nico chegou ao lado dela, vendo-a digitar rapidamente no navegador.

— Revistas caindo, enquanto uns efeitos passam, aí a última que for cair, é a capa da semana — ela deu um sorriso, se julgando gênia.

— SIM! — Thalia deu um gritinho animado, pulando no lugar. — Viu, eu disse que o jogo iria ajudar!

— Você é boa, garota! — Nico elogiou a estagiária, que arregalou os olhos e corou, abaixando a cabeça para esconder suas bochechas vermelhas. — Como você consegue ficar constrangida tão fácil e não é virgem?

E como se a secretária do chefe sentisse o cheiro da malicia, ela abriu a porta segundos antes dele perguntar, dando um sorriso malicioso com gosto e dando um pequeno gritinho.

Todos se viraram para o di Angelo, que estava com os olhos arregalados ao perceber o que tinha perguntado para a menina, que estava tão vermelha que ele jurava que ela iria explodir qualquer momento.

— Vou no banheiro! — Thalia gritou, abrindo espaço e passando por Rachel, correndo para longe da sala.

— Como você sabe que ela não é virgem? — Rachel questionou com a voz cheia de malicia, não conseguindo se aguentar ao pensar coisas improprias.

— Ela me contou! — Nico respondeu rápido, passando pela secretária e ignorando os olhares sugestivos e maliciosos que todos estavam mandando para ele, sentindo suas bochechas arderem.

***

— Finalmente, sexta-feira! — o di Angelo comemorou, sentado em sua cadeira na sala principal, ao lado de Thalia, mirando o painel de lucros subir cada vez mais.

— Você é um gênio, garota! — Silena abraçou Thalia pelos ombros, que deu um sorriso tímido de volta.

— Então, o que você achou de acompanhar tudo o que fazemos em uma semana? — Nico questionou, voltando sua atenção para a estagiaria.

— Bom, tirando todos os desastres que eu cometi, todas as coisas ruins e todas às vezes que você ameaçou socar meu rosto...foi bem legal! — Thalia respondeu, dando uma risada.

— Então eu vejo você segunda, né? — ele questionou, arqueando uma sobrancelha.

— Pode ter certeza que vai ver sim — a Grace respondeu, se levantando e acenando para todos os chefes ali, se retirando da sala, determinada a ir embora.