O Protetor

Capítulo 3


O dia não passou muito bem. Nada bem, muito longe disso. Gisele havia ido embora no por do sol, um por do sol atrás, Carlos havia a pedido em casamento, um depois, ela estava indo embora com o ex namorado abusivo. Ele havia ferrado com tudo.

Estava deitado no sofá por horas, faltou do trabalho e nem ao menos se importou de ligar a televisão. Fez um dia que Gisele foi embora, dois dias que havia encontrado com Duda. Uma nova vida, cheia de mistérios super interessantes, mas ele não tinha a menor força de vontade de procurar o Lar Arsalein, muito menos de fugir do Hospital. Foda-se tudo. Xingou, mesmo que há muito não fazia isso.

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Duda entrou na casa como se fosse sua, ela havia saído pelo dia inteiro, mas Carlos pouco se importou.

— Ainda aí... – Duda comentou, olhando para o homem deitado no sofá. Seu rosto estava manchado com algumas poucas lágrimas, e ele não havia nem mesmo trocado de roupa.

— Oi.

— Oi.

Ela vasculhou a mente dele, dando de cara com a imagem de Gisele, deitada na grama, encarando o pôr do sol. Isso lhe deu ânsia.

— Pare de pensar nela, ela quis... – ela ia continuar, porém, percebeu que Carlos não queria ouvir aquilo naquela hora – Bem... Não quer saber o que eu fiz o dia todo?

Carlos apenas acenou com a mão, pedindo para que ela continuasse a contar. Duda se sentou na poltrona, estranhamente feliz pela situação.

— Digamos que eu moro aqui há um tempo, aqui em São Paulo – ela começou a falar, revirando sua mochila – No centro tem muito, muito bandido, estelionatário e cuzões desse tipo. – Carlos olhou para ela incomodado com o palavrão, mas não expressou nada.

— Continue.

— Bem! – ela puxou uma carteira, Carlos se agitou – Calma, eu não roubei nada – ela levantou a mão para protestar – Isso aqui, ele... Bem, eu comprei.

Ela abriu a carteira, mostrando três documentos pessoais diferentes. Dois deles tinham uma foto 3x4 dela, informações diversas como a data de nascimento, nome da mãe, nome do pai e etc. Todos diferentes, eram documentos falsos.

O terceiro, no entanto, foi mais interessante para Carlos. Ele finalmente se levantou do sofá e se aproximou de Duda, pegando o documento de sua mão e o examinando ansiosamente.

— Leandro Martins – ele leu o nome no documento que levava seu rosto, uma foto idêntica à que tinha no seu documento verdadeiro.

— Sim! E eu sou... – Duda pegou um dos dois documentos da carteira – Luísa Martins. Somos irmãos.

— Por que isso tudo? – Carlos leu o documento várias vezes, não só o nome, mas a data de nascimento e o nome dos pais também estavam diferentes.

— Isso vai facilitar bastante quando tivermos andando juntos – Na verdade, era bem difícil para Duda, influenciar uma outra pessoa a ler algo diferente do que ela já estava lendo.

O seu nome verdadeiro já estava nas listas negras de várias delegacias, não podia confiar na sorte pra sempre, muito menos agora que os FAN estavam cada vez mais agressivos.

— Não se se você se lembra, Carlos, mas somos procurados pela polícia. – ela disse, relembrando-o de como a perseguição daquele dia havia passado nos jornais locais – Não só a polícia, como o próprio Hospital. É um milagre que ainda não nos encontraram aqui.

— Sim, mas...

— Confie em mim, seu nome deve estar na lista de procurados, assim como o meu.

Duda sentiu a pontada de ansiedade em Carlos crescer ainda mais. Ela o entendia, também estava nervosa. O que o Vazio estava aprontando? Toda aquela força tarefa atrás dela e ainda não haviam a achado? Ela precisava ir embora, ambos precisavam.

— Amanhã – ela disse, tentando deixar Carlos mais calmo – Amanhã eu irei encontrar o Luiz, você tem que vir comigo.

Ela não queria mais usar sua influência em Carlos, não no momento, pelo menos. Não parecia certo. Então, estava apenas pedindo para que ele a acompanhasse.

— Tá... – ele suspirou, não gostava muito da ideia, uma parte dele queria ir procurar por Gisele, pedir perdão pelo que quer que seja. Duda reprimiu essa parte – Você, mocinha, já almoçou, não é?

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Duda olhou para ele como se ele fosse um idiota.

— Tá de brincadeira, né? – ele deu um tapinha no ombro dela, o que a fez se afastar instintivamente – Tá, tá, estou indo! Tira a mão de mim, ouviu?

Carlos deu risada.

***

O resto do dia passou bem, Carlos parecia mais animado com Duda por perto, ela não soube dizer se era por causa dela ou se ele só era carente pela presença de outro ser humano perto dele. Conversaram por um tempo sobre assuntos aleatórios. Carlos gostava de lhe contar sobre seu trabalho, sua vida. Na verdade, ele parecia uma máquina, de tanto que falava. Algumas vezes, Duda quis mandar ele calar a boca, mas ele estava frustrado, triste, então ela resolveu dar isso a ele.

Depois, Carlos foi para a sala e deitou no sofá, disse que não dormiria naquele quarto se Gisele não estivesse com ele. Duda quis xingar, mas se segurou ao máximo. Aceitou, meio que de bom grado, a oportunidade de dormir naquela cama de novo. A noite havia passado calma, e já estava amanhecendo.

Duda ainda dormia quando aconteceu.

A arrancaram de seus sonhos com um puxão, a deixando totalmente desorientada. Os FAN a rodearam e taparam sua boca para que ela não gritasse. Ela se debatia forte, não conseguiu se concentrar, não sabia quantos FAN's a encurralaram, nem mesmo quantos tinham ali de fato. Foi levada até a cozinha, onde um agente do Hospital estava parado, de braços cruzados e com um sorriso no rosto, olhando para ela. A garota estava de pijama e com o rosto bagunçado pelo sono e pela situação. A mão enluvada de um FAN segurava seu rosto com brutalidade.

— Ora! – o homem exclamou. Não era o Vazio, quem era ele? – Você que anda me dando tanto trabalho...

Duda olhou de relance para a sala, Carlos ainda dormia. O FAN a segurando apertou ainda mais seu rosto, deixando-a sem ar. Poucos segundos atrás estava dormindo, relaxada demais, indefesa. E agora estava nas mãos do inimigo. Merda! Merda, merda merda merda merda! Ela repetiu em sua cabeça várias vezes. Perdi.

Maria Eduarda... – o agente se aproximou dela. O homem era um pouco mais baixo que O Vazio, era loiro e tinha um sorriso sádico no rosto. Duda se sentiu enojada ao olhar para ele – Qual seria a reação dele se eu te matasse? – acariciou o cabelo dela – Hein! Trouxer sua cabeça e colocar ela mesa de trabalho do grande Vazio?

Ao ouvir aquilo, um calafrio gélido percorreu seu corpo. Fechou os olhos e chorou, tentando se debater ainda mais. Não era o suficiente. Carlos! Ela gritou em sua mente, tentando alcançar a mente de Carlos que estava no torpor do sono. Era muito difícil acordar alguém assim, ela precisava fazer algum barulho, precisava de algo...

Fechou os olhos e suplicou novamente.

E foi respondida.

Carlos, numa questão de segundos, apareceu e golpeou o FAN mais próximo com um soco que o jogou para cima de outro que estava distraído. Eles não estavam vestindo nenhuma roupa especial, nada que os protegessem da fúria da "explosão" de Carlos, ambos bateram com um som oco na parede e caíram desacordados. Isso alarmou os outros que estavam em volta.

Haviam quatro, fora o agente e os dois que ele havia derrubado. Um deles segurava Duda com cada vez mais força, e os outros três o protegiam, enquanto recuavam para saída. Lentos demais para a velocidade e força de Carlos. Seus olhos prateados percorreram todo o cômodo, os FAN's estavam apavorados.

Carlos golpeou o mais próximo com um chute no abdômen que apenas o desequilibrou, pois ele havia jogado seu corpo para defender o golpe. Mesmo assim, ele gritou de dor. No instante seguinte, o agente apareceu frente a frente com Carlos, sem demonstrar nenhuma hesitação, ele atacou.

Na confusão, Duda chutou a canela do FAN com a parte de trás do pé, já emendando com uma cotovelada, fazendo-o solta-la. Ela puxou o braço dele rapidamente e dobrou seu pulso, dando outro chute em sua canela e um rápido golpe em seu pescoço. Ele não teve a mínima chance, Duda aproveitou muito bem seu momento de distração e ele acabou caindo no chão de dor. Ela fez o que sabia fazer de melhor, escapar.

Correu para o quarto de Carlos, que, naquele dia, havia sido seu, e pegou sua mochila e sua arma rapidamente. Estava ofegante e não pretendia atirar, mas sempre funcionava como uma boa ameaça.

Enquanto isso, Carlos tentava acertar o agente com seus golpes, porém, mesmo com seus reflexos anormais, o homem parecia sempre saber onde o próximo golpe. Um cruzado de direita, um de esquerda, golpes mais rápidos do que qualquer ser humano, e, mesmo assim, o loiro se desviava de todos eles com facilidade e com um sorriso sádico constante no rosto.

Os oficiais FAN's saíram de perto, recuando, deixando os corpos de dois dos seus jogados no canto da cozinha onde eles haviam caído. Duda percebeu isso, eles queriam deixar os dois não-humanos lutando, pois sabiam que nunca seriam páreos. Duda ofegou e apontou a arma para eles, seu rosto estava pegando fogo, ela ainda se sentia um pouco cansada por ter acabado de acordar, mas sua raiva era muito maior que isso. Os FAN's se afastaram ainda mais rápido, saindo do sobrado e da vista de Duda.

— Então, era disso que aqueles idiotas estavam com medo? – ele riu, com escárnio – Não consegue nem mesmo me acertar.

Seu corpo se tornou um vulto e, de repente, Carlos levou um soco no rosto. Duda piscou os olhos, desacreditada. Se Carlos não estivesse em sua explosão, ele, com certeza, teria caído com a intensidade do golpe. Sua expressão se tornou ainda mais séria quando tentou desferir um contra-ataque, que novamente falhou. O loiro se esquivou de seu ataque e deu outro soco em seu rosto, seu corpo virou um vulto por poucos instantes, quando ele se jogou para frente, derrubando Carlos.

Carlos levantou os braços, se defendendo dos golpes rápidos e precisos do agente, tão rápidos quanto os dele durante a "explosão". Duda olhou para o agente atacando Carlos e cerrou os dentes. Resolveu atirar. No mesmo instante, seus olhares se encontraram.

O corpo do agente se tornou um vulto e, no instante seguinte, ele estava em pé ao lado de Carlos. O estrondo do tiro ecoou pelas paredes da cozinha, é o buraco da onde o tiro havia penetrado o chão saía uma pequena fumaça e um cheio nauseante de pólvora. Esses poucos instantes foram o suficiente para fazer Carlos se levantar novamente e partir para cima do agente, no entanto, ele já estava preparado. O homem deu a volta se tornando um vulto, e foi na direção de Duda, pegando-a desprevenida.

— Não vai escapar dessa vez! – Duda apontou a arma diretamente para ele e atirou novamente. Outra vez, seu corpo se tornou um vulto e se desviou facilmente.

O agente a agarrou rapidamente pela cintura e ambos os corpos se tornaram um vulto. De repente, Duda já não estava na cozinha, e sim na sala de estar, longe de Carlos. Ela mal teve tempo de protestar, aparecia e reaparecia em pontos diferentes da casa, por Carlos estar o perseguindo.

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— Mas... O quê? Não! – Duda tentou se debater, mas, subitamente, não estava mais na casa de Carlos.

O agente estava no ar, ele havia pulado pela janela da sala. Sem medo, sem preocupação, ele simplesmente pulou. Seus corpos viraram um vulto pouco antes da aterrissagem, Duda estava paralisada de medo. Carlos saltou logo após, sem hesitar. Duda tentou se concentrar, tentou influenciar o agente, mas as letras apareceram em sua mente. F.A.N. Aquele homem era muito bem treinado. Porém, mesmo sendo um agente, não era tão rápido quanto Carlos.

As ruas do bairro estavam vazias naquela hora da manhã. Algumas pessoas que acordavam naquela hora já haviam acordado e ido, as crianças, que tinham escola naquela hora, também já estavam lá. Ninguém para assistir quando Carlos saltou como um artista de circo, fora do campo de visão do agente, e pousou próximo a ele, agarrando Duda e a puxando rapidamente. Menos de um segundo depois, ele saltou para trás, tão alto quanto se tivesse saltado de um prédio.

— Idiota! – Duda chamou o agente, enquanto era levada de volta por Carlos. Quando ele encontrou seus olhos, ela mostrou o dedo do meio para ele e riu.

***

O tempo era curto, muito curto. Carlos saltou de volta à janela da sala, e esperou, impassível, enquanto Duda pegava seus documentos falsos e outras coisas rapidamente. Enquanto ficava com os olhos prateados, parecia estar em transe. Apenas gritava ou grunhia. Duda resolveu não questionar.

Passou pelos corpos dos dois FAN's desacordados — Ou mortos, ela não sabia bem — na cozinha sem remorso algum. É bom que Carlos não veja isso em uma situação normal... Ela pensou, quando Carlos passou por ela e nem sequer dirigiu o olhar para os corpos. Ele não falou palavra alguma, mas Duda sabia que sua arma ficaria muito melhor nas mãos dele, então ela a entregou a ele, que apenas acenou com a cabeça, ainda sem muitas expressões.

Os dois desceram correndo até a garagem compartilhada. Carlos entrou em seu carro em instantes e o ligou. Duda mal teve tempo de entrar no carro e ele ja estava andando, isso a irritou um pouco, mas ela preferiu se preparar para o que estava por vir. Colocou o cinto de segurança e espiou enquanto esperava ver o agente e os outros FAN's os perseguindo.

Nada disso aconteceu.

Quando saíram pela rua, os FAN's e o agente loiro não estavam mais lá, eles haviam batido em retirada. Duda suspirou de alívio e relaxou no banco. Os olhos prateados de Carlos, depois de alguns minutos, também sumiram.

— Meu Deus! – Duda bocejou – Isso foi intenso... Me deu mais sono ainda.

Carlos ainda parecia preocupado.

— Aquele homem, aquele é o agente que você estava me falando?

— Não, esse é outro, outro agente. Os poderes são diferentes também. – ela explicou – O primeiro tinha poderes telepáticos como os meus, esse, não sei, parece mais algo físico.

— Tome muito mais cuidado com este – sua voz estava bastante séria – Ele... Não estava, realmente, querendo te capturar.

— Como assim?

— Estava nos testando, eu consegui perceber isso. – ele olhou para a rua, dirigindo por várias ruas que nunca havia passado, pensando em despistar qualquer um que pudesse seguir seu rastro – Ele estava sempre sorrindo, como se estivéssemos fazendo exatamente o que ele queria. Ele também sorriu quando eu te peguei de volta. E...

— Carlos... – Duda o interrompeu, falando em sua mente – Esqueça isso, já passou.

Ele ficou visivelmente mais aliviado.

***

A contra gosto de Duda, Carlos parou num shopping depois de uma hora dirigindo. Ainda era de manhã, as lojas estavam abrindo uma a uma e eles eram as únicas pessoas que andavam por lá fora os lojistas e os seguranças.

Maria Eduarda quis abandonar o carro em algum beco e pegar algum transporte público, mas Carlos foi completamente contra isso. Não tinha nenhum lugar que pudesse deixar o carro de fato, mas não queria se livrar dele, afinal, havia investido tanto tempo e dinheiro nele que só o pensamento de abandona-lo o deixou muito frustrado. Duda resolveu não insistir. No shopping tinha um preço para deixar o carro 24h no estacionamento. Poderiam ir buscá-lo mais tarde, quando tudo tivesse resolvido.

Pouco a pouco, outras pessoas começaram a andar pelo shopping; todo tipo de pessoa. Duda evitava lugares lotados, se sentia mais segura nas ruas, nos becos ou nas casas chiques que já tinha se dado o luxo de ficar. No máximo, ia para o centro, onde todo tipo de coisa poderia ser encontrada. Agora, estava apenas sentada, de cabeça baixa, lutando contra o sono.

— Que tipo de comida você costuma comer? – Carlos perguntou, despretensioso.

— Tudo que seja rápido e gostoso. – ela grunhiu, respondeu enquanto tentava descansar com a cabeça entre os braços, apoiada na mesa.

— O que quer comer?

— Como assim? – ela perguntou curiosa.

— Ué, a gente precisa almoçar, certo? – ele estava alegre, muito diferente do Carlos de olhos prateados de mais cedo.

— Ah... – aquela era a primeira vez que alguém oferecia qualquer ajuda a ela, sem precisar de sua influência.

Ela não sabia o que responder.

— Eu... Eu...

— Que tal, comida japonesa? – ele sugeriu.

— Ah, pode ser!

Carlos então acenou e saiu da mesa.

— Fica parada aí, eu já volto.

Ele saiu, deixando Duda debruçada na mesa. Ele riu, tudo aquilo era fora do seu mundo. Ele nunca se sentiu especial, nunca se sentiu poderoso, e lá estava ele agora, fugindo de homens super poderosos com uma garota que ele mal conheceu há três dias. O que o Carlos de semana passada falaria pra ele agora?

Não dava pra negar, a vida estava muito mais emocionante naquele momento.

Ele chegou no balcão da culinária asiática e pegou o cardápio. Folheou despreocupado e escolheu um prato qualquer que matasse a fome. Quando se dirigiu para fazer o pedido, no entanto, algo pareceu estranho.

A atendente olhava para ele com terror, um olhar assustado, ela parecia paralisada de medo. Carlos a encarou em silêncio por alguns instantes, não sabia bem o que fazer, seu cérebro ainda não havia processado a informação. Ela estava com medo dele, por quê?

— Carlos! – Duda chegou rapidamente ao seu lado – Vem, vamos embora! Agora! – ela o puxou, sem deixar tempo para discussão.

***

Duda entregou um boné para Carlos, e insistiu para que ele vestisse. Não voltaram para o carro, pois sabiam que iria ser rastreado, entao foram direto ao metrô, rumo ao centro da cidade, Carlos estava sendo guiado, dessa vez, por Duda.

— Meu Deus... – Carlos olhou a fotografia no celular de Duda e levou a mão na boca, chocado.

Seu rosto estava numa manchete de um jornal eletrônico relativamente famoso, com grande alcance. Procurado, ele agora era procurado pela polícia por diversos crimes, tais como sequestro, assassinato e etc. Isso era inacreditável, mas, lá estava seu rosto estampado na manchete. O que seus pais diriam?

— Fique de rosto baixo, não faça contato visual, ande como alguém que está atrasado pro trabalho. – Duda falava baixinho para Carlos, que estava sentado, e ela estava em pé na frente dele.

— Você parece ter muita experiência nisso... – ele comentou, meio desanimado.

— Sou procurada em algumas cidades – ela olhou para cima e sorriu ironicamente, relembrando – É engraçado pensar nisso, quem sabe até o fim da vida eu não seja alguém mais notório!

— Eu queria viver minha vida numa boa, parece que isso tá fadado a nunca acontecer...

— Ah pelo amor de Deus! Caralho, Carlos! – ele olhou pra ela um pouco surpreso, ela se tocou que acabou falando alto demais e aproximou mais o rosto. Sorte que o vagão não estava cheio – Digo, Leandro, vamos nos tratar pelos nomes do documento, pra não ter muito problema.

Ele assentiu, ainda olhando pra ela.

— Mas, por favor – ela colocou a mão no rosto, irritada – Para de choramingar, cara. Você tá vivo, não tá só sobrevivendo, você tá se sentindo vivo de verdade, eu consigo sentir isso – ela tocou a própria cabeça, relembrando-o de seus poderes – Cara! Vamos sair dessa, e você vai ter sua vidinha normal chata pra caralho de volta, se for isso mesmo que você queira. Mas, por enquanto, tenta não ser esse poço de tristeza e frustração que você tá sendo, beleza? Enche o saco isso...

Ela se afastou para não chamar mais atenção, mas Carlos viu que ela estava irritada. Ela estaria lendo sua mente esse tempo todo? Ele não tinha como saber.

Duda revirou os olhos naquele exato momento. É, ele tinha como saber.

— Vamos dar um trato nessa baixa autoestima – ela comentou, depois de uns minutos, parecia animada novamente – Você vai dar um trato nesse visual!

— Tá brincando?!