Cotidiano

Viagem espiritual - Parte II


A primeira coisa da qual Shino teve certeza é de que ele não enxergava. Não pelos óculos escuros, de armação mais rústica, mas pela forma como dirigia o queixo para cima, altivo, sem focar o olhar em sua direção. E ainda assim, era como se lhe encarasse direto na alma. Usava um casaco pesado de pele de lobo por cima de uma túnica feita com linho. Na mão direita, um cajado que podia muito bem ser usado como bengala.

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— O que busca, jovem? – A voz reverberou dentro de Shino. Ele sentiu o frio ao redor, as geleiras que se consolidavam como se todo o ambiente tivesse se modificado embora ele tivesse certeza de que ainda estava na presença da velha senhora.

— Esclarecimento. – Shino respondeu, mantendo-se em posição de seiza enquanto o encarava. – Para esse poder que tenta me devorar.

— Como o lobo costumava devorar o homem antes que se tornassem parceiros. – A sombra de um sorriso percorreu os lábios finos. O ancestral apontou o cajado na direção de Shino, a barba rala sobre o rosto dando-lhe um aspecto mais maduro. – A força que o guia é mais forte do que aquela que tenta lhe devorar?

O frio congelava seus olhos. Os insetos sob a pele de Shino mal se moviam e a respiração parecia congelar o ar em seus pulmões.

— O poder que me guia?

— Pelo que luta, garoto? – respondeu-lhe com outra pergunta, misterioso, impreciso.

Pelo que lutava? Por Konoha? Pelo país do fogo? Por sua honra e a de seu clã? Shino refletiu a respeito disso. Teria ele escolhido outro destino se pudesse além do caminho shinobi que fora colocado diante de si por ser o filho único do líder de um clã renomado? A verdade é que não sabia.

— O que te move adiante? – refez a pergunta.

A resposta foi clara em sua mente: o sorriso, quente como o sol, a pele trigueira, os dentes afiados e a expressão suave de Inuzuka Kiba que aqueciam seu coração. Um sorriso pareceu surgir no rosto austero de seu ancestral.

— Apegue-se a essa fonte que lhe faz seguir em frente e nunca mais se perderá nas trevas.

O frio enregelado começou a diminuir. As camadas de gelo foram derretendo conforme a imagem de seu ancestral desaparecia junto de toda aquela neve, fazendo com que retornasse para a sala onde a senhora que invocava espíritos se encontrava, aguardando-o pacientemente.

— E então, conseguiu as respostas que desejava? – perguntou ela, apoiando o peso sobre a bengala. Shino concordou com a cabeça.

— Muito obrigado pela ajuda, Asakura-obaa-sama. – Reverenciou-a novamente.

— Não me agradeça, moleque, apenas não volte aqui com o rabinho entre as pernas outra vez. – O tom dela era sério, mas a senhora sorria ao dizer aquelas palavras.

A resposta sempre estivera ao seu lado, Shino pensou enquanto a imagem de Kiba aquecia seu coração novamente. Agora precisava se apegar a isso e seguir em frente. Não se deixaria ser dominado por aquele poder. Não quando o verdadeiro poder encontrava-se ao seu lado desde sempre.