Black Cat

One Night


Esguio. Suas patas não deixam rastros sobre as casas da nobre vizinhança. Seu pelo, de tão negro, incorpora a escuridão da noite como uma extensão de seu próprio ser. Parece bailar em seus pulos, insensível às guerras particulares em cada um desses ilustres lares.

Piscinas exuberantes, com luzes espalhafatosas, e mentes vazias. O felino fita, em alerta, os jatos de água em algumas delas. Suas orelhas pontudas alheias aos gritos vindos diretamente abaixo de si. Tampouco, até mesmo os vizinhos fazem vista grossa aos pedidos, sutis, de socorro, então como poderia um gato, mesmo um sem orgulho, se importar?

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Um pássaro, um digníssimo e lindo canário belga, chama a atenção do gato. Seus olhos estão completamente vidrados em um ponto no horizonte, onde ouvira a ave; seus lindos olhos de pupilas arregaladas, escondendo os tons amarelos (seus donos dizem que há tons verdes neles).

O felino, graciosamente, contrai os músculos. Assim como a garotinha, dona do pássaro perdido, em sua casa, tentando resistir, sobreviver, a algo que está além dos limites da definição de crime. Perderá não apenas o pássaro essa noite.

Com a graça de um caçador, que o é, sem dúvidas, o gato se aproxima. Ainda mais esguio, preciso como nunca. Mantém a cauda alinhada ao seu apoio (seja o telhado, seja o muro, até chegar ao telhado de destino). Orelhas abaixadas, olhos fitando o pássaro de penas amarelas. O bote ocorre no mesmo instante que, ali perto, uma navalha corta a pele de uma jovem que já fora tão livre quanto o pássaro (e, assim como o canário, acabara nas garras de algo que chegara sorrateiro e implacável).

A morte não é bonita e, frequentemente, não é rápida. O pobre canário teve esse destino. Serviu de brinquedo, de distração e de diversão para o gato, até que, finalmente, morreu. Fora esquecido no telhado. O felino, erguendo a cauda, com a graça que é comum à sua espécie, seguiu seu caminho pela noite. A morte, inexorável, seguiu seu caminho, trazendo luto aos netos de Sophie, a senhora que morava no fim da rua, à direita.

A noite já estava no fim quando o gato se sentou, na casa imediatamente a onde seus donos moravam, e pôs-se a se lamber. Passava a língua em sua pata, e essa em seu rosto. Não havia mais gritos, não haviam mais abusos, não haviam mais canários, e demônios, se escondendo na noite. O gato estava pronto para voltar para casa, as pessoas estavam prontas para fingir que tudo estava normal.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.