BloodLust

A rainha dos condenados, parte I


Shayera tentou correr para os amigos. Lilith, contudo, apertou seu braço ainda mais, puxando-a para fora. Sem muito o que fazer, tinha que confiar em seus amigos. Diana precisava seguir com o plano. Assim, deixou-se ser levada.

Os vampiros rodearam o grupo. Diana mirou sua besta e atirou, acertando um dos vampiros. Eram muitos para ela sozinha, e tanto J’onn como os outros correram em busca de armas para se defenderem. Bruce apareceu com uma espada, J’onn pegou outra besta e os outros tinham estacas.

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Wally caiu de costas com um vampiro sobre ele. A estaca perfurou seu coração e ele era pó. Wally ficou de pé, vendo a ele e aos amigos cercados. Não percebeu o vampiro atrás dele até ouvir um rosnado. Virou-se. O vampiro foi pular em cima dele, mas congelou no lugar. Na verdade todos eles. Diana aproveitou o ensejo, assim como seus amigos. Logo os vampiros eram poeira.

Wally olhou ao redor. Um homem de cabelos castanhos, alto, vestido num terno cinza, estava na porta. Tinha a mão esquerda erguida, que abaixou quando restavam apenas os garotos e ele. todos o encaravam. Wally sorriu surpreso com a visita, mas feliz com a intervenção na hora certa

─Senhor Destino. ─Disse.

─É bom te ver, Wally. Embora não seja o melhor momento.

─Vocês se conhecem? ─J’onn indagou, ainda com a besta em punho.

─Sou Kent Nelson. ─O homem disse.

─É o tio da Shay.

Diana largou sua besta no chão, assim como Bruce depositou a espada na mesa. Eles se entreolharam.

─Acho que precisamos de uma conversa.

Destino explicou-lhes sobre o porquê de sua visita. Disse que recebeu uma visão, onde Shayera estava com problemas. Também sentia que um grande mal estava à solta. Após ouvir a versão de Diana e J’onn sobre o ocorrido dos últimos tempos, sabia quais os problemas de Shayera. Balançou a cabeça.

─Tinha medo de chegar a esse ponto.

─E você a mandou para perto da única coisa que poderia controlá-la? ─Diana soou agressiva.

Destino deu de ombros, resignado.

─Na verdade, eu a mandei para ficar perto de Wally. ─Todos encaravam o ruivo, que começava a corar. ─Ele sempre teve um bom efeito nela.

─Nós sabemos. ─Era John.

Mas Wally balançou a cabeça, tentando não demonstrar o quanto aquilo o afetava.

─E o senhor achou que eu evitaria que Shay perdesse a cabeça? É muita responsabilidade.

Destino olhou do jovem ruivo para os outros ali presentes. Soltou um suspiro pesado.

─Podemos ter uma conversa particular, Wally?

Ele assentiu. Os outros saíram pouco depois, dando-lhes privacidade. Destino parecia calmo demais, mesmo com toda aquela situação. Parecia saber algo mais.

─Por quê? ─Foi sua pergunta quando sozinhos.

─Vocês sempre tiveram uma ligação. Shayera sempre ouviu você mais que a mim, e eu pensei que... ─Não terminou seus pensamentos. Os sinais ainda eram confusos.

─Pensou o quê?

─Pensei que Shayera era mais forte ao seu lado. ─De fato era verdade. ─É o tipo de amor que só acontece uma vez na vida.

─Não sei tanto se a Shay me ama.

─Vocês sempre tiveram um sentimento de proteção e carinho mútuo. Eu diria que é amor.

Wally suspirou. Ele não queria pensar em amor. Não quando se sentia traído. Ficou de pé, e pegou suas coisas.

─Se não se importa, eu vou embora.

─Estarei em um hotel na cidade.

─Não vai ficar no apartamento da Shay?

Destino balançou a cabeça.

─Sei que precisa ficar sozinho. Amanhã conversaremos com calma. Todos nós.

─Certo...

Destino observou o garoto sair pela porta, sem olhar para trás.

*****

O apartamento pequeno ficava tão vazio sem ela. Wally jogou a mochila em um canto qualquer e foi para o quarto. Ainda estava desarrumado, graças ao pequeno momento que os dois tiveram antes de irem para a escola. Jogou-se na cama, abraçando o travesseiro dela. Estava cansado emocionalmente, por isso fechou os olhos, tentando dormir...

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Wally beijou-lhe o pé, em seguida o joelho, a coxa, e o abdômen. Ele queria explorar cada pequeno pedaço dela, cada cicatriz... E teriam todo o tempo do mundo para isso. Em algum outro momento. Agora, ele só precisava estar com ela.

Entrou todo o caminho, desajeitado, reprimindo um gemido em sua garganta. Tocou a testa dela com a sua, resistindo à vontade de se mover. Shayera riu, para mais tarde suspirar. Não era dolorido como pensou, mas não era de todo confortável. Era diferente, um pouco invasivo, mas ainda era Wally. E ela confiava nele.

─Desculpa, Shay. ─Sussurrou.

Shayera segurou seu rosto, a respiração difícil.

─Tudo bem, Wally. Eu estou bem...

Ergueu-se para ele, apenas para encontrar seus lábios em um beijo, mostrando que estava pronta. Gentilmente, moveu o quadril para frente. Shayera suspirou e retribuiu o impulso. De olhos fechados, deixou os sentimentos e sensações guiarem, movendo-se tão gentil quanto conseguia. Queria que durasse tanto quanto possível. Queria que o tempo parasse para serem apenas eles, eternamente.

─Ah, Deus...

Seu controle ia embora à medida que seu corpo descobria sensações novas. A tensão crescia dentro dela e precisava urgente de sangue. Como se lesse sua mente, Wally deu acesso a seu pescoço. Ela cravou seus dentes, agarrando-se a ele como se sua vida dependesse disso. Talvez dependesse...

Wally acordou, ainda na cama de Shayera. Ele a procurou, e ela não estava. No escuro, as lágrimas desceram violentas. Tudo dela estava lá. As imagens, os cheiros, os sons... Sonhar com a primeira vez em que estiveram juntos não ajudava em nada. Sua Shay os traiu.

*****

Shayera abriu os olhos apenas para se descobrir ainda acorrentada. Deu dois puxões, e nada. Ao menos ainda estava viva, ela só não sabia até quando. O plano agora não lhe parecia uma boa idéia. Seu peito doía, e seus sentimentos eram um tanto confusos. Demorou alguns minutos para perceber que parte daquelas sensações não vinham dela. Wally, pensou.

Ouviu um gemido a seu lado, desviando-a de seus pensamentos por um instante. O dia já amanhecia do lado de fora, por isso os vampiros se reuniam na grande mansão. Quase tão grande quanto o teatro dos vampiros, reunia aqueles que ela imaginava ser o clã de Lilith. Outro gemido e teve que olhar ao redor.

Um casal vampiro se pegava bem na sua frente. A mulher era loira, alta, igual uma modelo. O homem era mediano, de aparência bem comum. Cabelos escuros e olhos mais escuros ainda. Ela não queria, mas era impossível não olhar. Que ótimo! Qual era mesmo o nome deles? Ah, James e Tereza.

O clima esquentava, e a ruiva sentiu suas bochechas corarem. Com o canto do olho, viu Tereza oferecer o pescoço a James. Provocou um arranhão e lambeu o sangue. Shayera resmungou. James parou e olhou para ela com um sorriso malicioso.

─Quer se juntar a nós?

─Não mesmo.

─Então não olhe, garotinha. É feio de sua parte.

─Não é como se eu tivesse escolha.

James e Tereza voltaram ao que faziam antes, sem se importar com Shayera ou os demais vampiros. Eles pareciam alheios à tudo, na verdade. Decidida a ignorá-los também, ela tirou o colar de seu pescoço. O pingente de prata trazia uma foto dela e Wally. James, percebendo a falta de implicância por parte da ruiva, decidiu ele mesmo irritá-la. Cochichou algo no ouvido de Tereza, que assentiu com um sorriso.

A loira movia-se rápido, e num piscar de olhos, Tereza tomou a foto que Shayera segurava. Sorriu, vendo a garota abraçada a um rapaz também ruivo. Eles pareciam muito felizes na luz do sol.

─É seu namoradinho de escola? ─A loira riu. ─Que gracinha!

James aspirou o ar. Sua gargalhada se juntou a de Tereza.

─Sinto o cheiro de um humano sobre você. Está em sua pele e cabelo, assim como dentro de você.

─Me devolve.

Shayera tomou o colar das mãos de Tereza. Devolveu-o ao pescoço.

─Se não soubesse, Tereza, diria que a pequena dampir está apaixonada.

James parou de falar diante do olhar magoado da menina. O riso de deboche indo embora.

─Oh, querida. Você só está aqui por causa dele. ─Pela primeira vez, seu tom era quase preocupado, quase como se entendesse.

─Vamos protegê-la, não é James? ─Tereza voltou a seu lugar perto de James. ─Eu sempre quis ter uma filha.

─Me poupem. ─Shayera disse.

─Vai precisar da gente mais do que imagina.

─E por quê?

─Por causa dela.

James apontou com a cabeça. Shayera se voltou, vendo Lilith debruçada sobre alguém. Não querendo presenciar a cena, voltou-se para o casal.

─Não tenho medo dela.

─Pois deveria.

*****

Wally saiu discreto da reunião entre J’onn, Diana e Destino. Clark e Bruce ficaram, mas ele preferiu se afastar. Sentou no chão, entre os livros.

─Sei que está pensando na Shayera.

Wally olhou para cima e viu John parado ao lado dele. Assentiu.

─É estranho que eu não esteja com raiva dela? Frustrado sim, mas não com raiva. ─Confidenciou.

John balançou a cabeça, sentando ao lado do amigo.

─Shayera é a sua garota. Você a conhece há mais tempo, é normal que saiba como ela age.

─Eu tinha oito anos quando nos conhecemos. Shay tinha dez. Ela e o tio salvaram a mim e os outros de uma coisa. Desde então, eu estava atrás dela. Sempre procurava encontrá-la, para ficar perto dela. ─Ele parecia perdido em memórias. ─Espero que ela esteja bem...

*****

Os vampiros abriam caminho enquanto Lilith passava entre eles. Ela os olhava de cima a baixo. Tereza tinha James descansando entre suas pernas, e Shayera sentada ao lado deles no chão. Era patético. Ela sentia o amor que eles compartilhavam.

Num movimento rápido, tinha Tereza presa pelos cabelos. Tanto James quanto Shayera tentaram atacá-la. James teve seus braços presos por três vampiros, e Shayera ainda estava presa. Lilith sacou uma estaca e perfurou o coração de Tereza. Ela estendeu a mão para James, em choque. James se soltou dos vampiros que o prendiam e correu para Tereza, mas ela já se desmanchava em pó. Apenas o anel que usava permaneceu, em meio à poeira.

─Agora, o amor não existe. ─Lilith debochou. ─Voltará a ser um vampiro, James.

Ele caiu, pegando o anel. Seu coração estava em pedaços. Sua metade neste mundo se foi, e ele queria segui-la para o outro lado. Não agora. Lilith pagaria primeiro. Era uma promessa. Olhou para Shayera, que ainda tentava se soltar das correntes para se aproximar dele. Se a pequena ruiva dampir fosse enfrentar Lilith, sua lealdade seria para ela. A partir daquele momento, era um dos soldados de Shayera.

*****

Ela não sabia quanto tempo se passou. As horas pareciam dias, e embora estivesse ali há menos de dois dias, sentia como se passasse meses. Morria de saudade de Wally, até mesmo dos outros. No entanto, tinha que esperar. Não colocaria tudo a perder. A noite caía, e com ela, hordas e mais hordas de vampiros chegavam. Shayera olhou ao redor. Sentia as vibrações de poder que aquelas coisas emanavam. Eram em sua maioria muito poderosos.

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─Ei, James. ─Chamou. ─O que são todos esses vampiros?

─Lilith exigiu uma reunião com os representantes das casas reais. O sacrifício será hoje a noite.

─Sacrifício?

─Pela traição. Não se preocupe. Não deixarei que cheguem a você.

Ela sentiu seu corpo tremer. Uma premonição do que viria. Olhou ao redor. Havia um homem de cabelos loiros e compridos que acabava de chegar. Era corpulento, baixo, vestido em roupas do século XVI. Quando seus olhares se cruzaram, Shayera sentiu uma certa familiaridade, como se o conhecesse, embora nunca o visse antes. Ele lhe sorriu, e ela se viu retribuindo.

─Marcus! ─A voz de Lilith chamou o homem. Apesar da cordialidade, ela parecia irada. ─Você veio!

─Não tive escolha, Lilith.

─Acho que podemos começar.

Dito isso, Marcus, assim como três outros vampiros, um velho de feições asiáticas, um belo homem de cabelos compridos, e outro que parecia um garotinho foram cercados. Uma mulher negra usando vestido de couro manteve a cabeça erguida enquanto também era levada para o centro.

─Não! ─James gritou, mas dois vampiros agarraram os braços de Shayera e a levaram para o centro, junto com os representantes dos outros cinco clãs.

Os cinco foram obrigados a se ajoelhar perante a vampira. Seu olhar era um misto de fome e raiva. Os demais vampiros se reuniam ao redor.

─Seus clãs traíram sua rainha. Pagarão com suas vidas.

─Você não é nossa rainha, Lilith! ─Marcus gritou. Os outros reais acompanharam seu grito de protesto. ─Aproveite seu tempo neste mundo, pois será pouco.

Uma flecha em chamas atingiu uma das vigas do salão. Era o sinal. Shayera riu e ergueu a cabeça. O tapa veio certeiro. Mas Shayera continuou a rir, talvez até mais alto.

─Qual o motivo de tanta insolência?

─Eu vou matar você, Lilith.