Ponto de Virada

Capítulo 12


—Não sabia que você ia viajar – ele disse em um tom acusador.

—Eu te falei ontem que precisava sair um pouco daqui – eu respondi olhando as folhas no chão.

—E não ia me avisar que ia mesmo? Você disse que me ligaria, também - ele estava chateado e isso estava acabando comigo.

—Desculpa, eu esqueci – o motorista buzinou, e antes que eu alcançasse a maçaneta, Percy colocou a mão na porta me impedindo de abrir – Percy eu preciso ir - ele me olhava como se eu fosse embora para sempre.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

—Calma é só uma semana – eu disse tentando, sem sucesso, olhar para seus olhos. Ele segurou meu rosto, me obrigando a encará-lo.

—Alguma coisa aconteceu ontem e você não quer me dizer.

Fiquei alguns minutos pensativa, até perceber que eu já tinha a desculpa perfeita para usar.

—Você sabe o que aconteceu, fui traída pelo meu namorado, quer dizer ex-namorado e pela Thalia. Eu não quero ficar encontrando com eles por enquanto.

—E as aulas? Você vai simplesmente faltar? - respirei fundo, não tinha pensado muito nisso, mas uma semana de faltas não ia me fazer repetir.

—Eu já tenho tudo planejado – menti – recupero a matéria rapidinho.

O taxista buzinou novamente e eu me libertei das mãos de Percy. Ele deu uns passos para trás e eu abri a porta do táxi. Parei alguns segundos, joguei a bolsa dentro do carro e dei um abraço apertado no meu amigo.

—Vou sentir sua falta, Sabidinha. Não esquece de me ligar.

—Pode deixar, eu não vou – respondi sorrindo carinhosamente.

—Tem certeza que você não quer uma companhia, tipo, alguém engraçado e bonitão como eu – ele balançou a cabeça fazendo graça e eu me permiti rir. Apesar dele se parecer muito com o pai, eu tinha que lembrar que ele continua sendo meu melhor amigo, e que não são a mesma pessoa. Mas mesmo assim, eu precisava daquele tempo sozinha.

—Tenho sim, apesar de eu adorar a companhia desse hilário bonitão, eu preciso ir só.

Ele deu um suspiro triste e assentiu. Segurei seu rosto e lhe dei um selinho de despedida, ele então me abraçou mais uma vez e me deixou entrar no táxi. Antes que o motorista pudesse abaixar o freio de mão escuto alguém gritar meu nome.

—Ah, só pode ser brincadeira – resmungou o taxista, ele devia ter uns 70 anos e tinha cara de rabugento, apesar de que se estivesse de bom humor ele poderia lembrar meu avô.

—Desculpe, Jorge – disse. Seu nome estava em uma plaquinha embaixo do rádio do carro.

Luke vinha correndo rua abaixo, pedindo para eu esperar. Percy logo mudou a expressão e cerrou os punhos. Eu não queria vê-lo nem pintado de ouro, mas alguma coisa me fez sair do carro para falar com ele. Cruzei os braços e esperei para ouvir o que ele tinha para falar. Mas o Cabeça de alga entrou na frente de modo protetor.

—O que você quer – ele disse sério e pronto pra luta se precisasse.

—Só quero conversar, eu juro – ele disse suplicando.

—Está tudo bem Percy – eu disse colocando uma mão em seu ombro para ele relaxar. Luke observou nada feliz, mas não falou uma palavra.

—Annie, eu nem sei por onde começar – ele estava ofegante pela corrida, mas isso não o impediu de dar início a sua tagarelice – me perdoa é só isso que eu peço. Eu não sei o que aconteceu naquela festa e quando eu acordei na manhã seguinte eu só queria apagar o que rolou, eu nunca quis te magoar. Por favor, acredita em mim. A Rachel – espera, o que? - ficou enchendo a minha cabeça com ideias ruins e vinha com um shot de tequila a cada segundo, e eu perdi a conta de quantos eu tomei. A Thalia também se sente péssima, ela ia vir, mas o pai dela, você sabe como é Zeus, a trancou no quarto e ela não conseguiu sair nem pela janela. E agora eu estou aqui como um cão arrependido, com a cauda entre as pernas e cara de culpado para pedir o seu perdão.

—Primeiro, não acredito que você se deixou levar pelo o que a Rachel te falou. Segundo eu espero que você saiba que mesmo que eu te perdoe, eu nunca, NUNCA, vou esquecer o que você fez – eu mantive a mesma expressão, o que me deixou orgulhosa, eu tinha sido bem fria, mas eu não ligava. Com tudo o que estava acontecendo, meu emocional estava indo para o lixo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

—Eu entendo Annie, mas eu sei que a gente ainda pode dar certo – seus olhos brilhavam de esperança.

—Eu achava que você já tinha entendido – seu rosto murchou e ele se preparou para o que eu tinha para dizer - não existe mais nós, Luke.

Seus olhos encheram de lágrimas e ele abaixou o rosto.

—Eu nunca quis que isso acontecesse, eu sempre pensei que a gente seria para sempre. Mas o que eu fiz vai me perseguir para o resto da vida. Toma – ele tirou uma carta do bolso e me entregou – eu esperava que não tivesse que te dar isso, lê quando estiver sozinha, está bem? - ele me perguntou secando as bochechas.

—Tudo bem – respondi pegando a carta.

Luke então parecer notar, finalmente, o carro grande e amarelo que estava atrás de mim.

—Você vai sair? - ele me perguntou, olhando para o táxi - com ele? - suas sobrancelhas juntaram um pouco mudando sua expressão para brava.

—Não que seja da sua conta, mas ele só veio se despedir de mim. Vou viajar – respondi e sua expressão suavizou – Inclusive eu preciso ir.

Dei um último abraço em Percy e acenei para Luke, que continuava com uma cara que me dava pena, mas eu não cedi, mantive minha expressão séria para ele e entrei no carro, que finalmente começou a andar.

—Desculpe a demora, Jorge.

—Não se preocupe – ele respondeu me olhando pelo retrovisor de forma compreensiva, seu rosto tinha suavizado e ele sorriu para mim – se quiser desabafar, estou ouvindo.

—Acho que não, mas obrigada – eu não queria me abrir para um estranho, pelo menos era o que eu achava, mas não demorou 10 segundos para eu contar a minha vida inteira a ele. Desde quando conheci Percy até a traição. Só deixei de fora o pai dele. Não conseguia contar isso a alguém ainda.

Foram umas três horas de viagem, com direito a choradeira e muitos lencinhos de papel para conter a cachoeira. Jorge me escutou pacientemente enquanto eu jogava muita coisa entalada, ele até tentou me dar conselhos. Quando estávamos quase chegando bebi um pouco de água e tentei disfarçar a cara de choro com um pouco de maquiagem. Sorte que já estava tarde e eu esperava que a pouca luz da noite ajudasse a esconder mais.

A casa da minha tia era maravilhosa, o quintal dava para a praia e ficava em um bairro tranquilo. O único barulho que se conseguia ouvir era das ondas. O sobrado parecia um chalé de interior o que tornava tudo ainda mais acolhedor. E quando eu vi minha tia sair com os braços abertos para me receber a vontade de chorar tornou a voltar, mas eu segurei.

—Se não é minha sobrinha favorita – ela disse me dando um abraço de urso que talvez tenha me sufocado um pouco.

—Como vai tia Mara? - disse tentando me soltar.

—Vou muito bem, traz suas coisas para dentro que eu vou tirar o bolo do forno. De banana seu favorito, certo?

—Sim – respondi salivando com a lembrança daquele bolo maravilhoso que só ela sabia fazer.

Tirei as malas do táxi e me despedi de Jorge.

—Obrigada por me ouvir – eu disse sorrindo – boa viagem de volta.

—Não tem de que. E eu sei que vai dar tudo certo – ele já ia entrando quando se virou para dizer alguma coisa – se precisar de alguma coisa é só me ligar – ele disse estendendo um cartão com seu número - Sua mãe já me pediu para vir buscá-la depois, mas se precisar...

—Pode deixar.

Ele assentiu e entrou no carro para ir embora. Fiquei observando ele desaparecer no horizonte e saí do transe que nem sabia que tinha entrado. Fui atrás da minha tia, sedenta pelo bolo e para esquecer um pouco dos problemas de casa.

Quando entrei na cozinha meus priminhos vieram correndo e abraçaram minha cintura, eu tinha esquecido como eram fofos. Minha tia estava sentada na mesa e de frente para ela estava um garoto que eu não conhecia. Olhei para ela confusa, pedindo para me apresentar.

—Ah, Annie, esse aqui é o André.