Barbies criam meninos gays

C'mon barbie, let's go party


Capítulo Único – C’mon Barbie, let’s go party

(...)

Quando eu tinha sete anos sai com minha mãe e alguns primos para comprar alguns brinquedos no shopping. O vovô e a vovó estavam juntos também. A gente ria bastante enquanto corríamos pela praça de alimentação até a loja. Entramos correndo por todos os corredores olhando tudo. Eu lembro de uns bichinhos de pelúcia maiores do que eu na época ― sinceramente tudo era maior que eu naquela idade.

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Meus primos foram para a sessão de carrinhos, brinquedos que faziam barulho, pistas de corrida. Eu fui pra sessão das bonecas. Eu sempre gostei de carrinhos, até hoje tenho uma coleção de dar inveja de HotWheels a quem olhar, mas eu também gostava das bonecas.

Lembro que eu olhei para uma delas. Vestido rosa-choque, rodado, cheio de brilho e cabelo laranja encaracolado. Eu sorri pra boneca segurando ela com muito carinho. Eu corri pra mamãe e mostrei a boneca pedindo para ela comprar.

Ela sorriu pra mim e assentiu dizendo que a boneca era muito bonita. Eu sorri de volta e corri até meus primos mostrar o que eu ia comprar, queria que todos vissem. E então começou a discussão na loja.

Eu parei e vi quando meu avô apontou o dedo no rosto de minha mãe e gritou com ela dizendo que eu não podia levar uma Barbie, que era brinquedo de menina. Me faria bicha.

Minha mãe o encarou, e desbocada como era, respondeu um simples “Se você acha que uma boneca transforma alguém sexualmente é porque não se garante”. Depois disso ele explodiu gesticulando com violência.

Eu corri até ela ficando entre eles, com medo dele machucar a mamãe. Quando fiquei mais velho eu perguntei para ela se ele já havia lhe agredido. Ela sempre sorria e mudava de assunto. Acho que era sua forma silenciosa de concordar comigo.

Depois disso ela me levou embora do shopping, rosto irritado e vermelho. Eu no banco de trás com a boneca em mãos. Queria chorar, a mamãe estava triste e eu não entendia o porquê. Qual o problema da boneca?

Quando chegamos em casa ela olhou pra Barbie com um olhar nervoso e irritado. Agachou-se na minha frente retirando a boneca das minhas mãos. Fechei os olhos achando que fosse brigar comigo, me xingar. Igual o vovô.

Entretanto ela fez algo bem diferente:

― Não passe a escova no cabelo dela, senão os cachos vão se desfazer. ― comentou com a voz doce que sempre amei.

Quando abri os olhos ela sorria. Aquele sorriso que dizia que tudo ficaria bem. Aquele sorriso que eu tanto sinto falta.

Tenho essa Boneca até hoje. Toda vez que eu olho para ela lembro um pouco da minha mãe. Forte, decidida ― sem papas na língua ― e que me amava acima de tudo. Aquela não foi minha única boneca. Mamãe me deu outra de Natal que vinha com um cavalo. Ela parecia bem cara, mas mamãe somente sorriu.

Quando eu cresci entendi porque eles haviam brigado com ela. Bonecas são brinquedos de menina. Transforma garotos héteros em gays.

Minha Barbie fica na estante da minha sala e eu sorrio sempre que olho para ela, porque ela não me fez ser nada. Eu nasci como nasci. Minha sexualidade não se espelha em brinquedos, em palavras de pessoas impares. Ela é minha e somente minha, e minha mãe me ensinou isso. Silenciosamente e da maneira dela.

Atualmente, quando meu filho me pediu uma eu também lhe dei. Porque eu sabia que a única coisa diferente da boneca das meninas para as dos meninos é que elas eram mais estilosas e caras.

E que eu continuei o mesmo, com ou sem o toque de rosa-choque.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.