Cold Coffee

What now


Capítulo XVIII

Jade

Eu nunca imaginaria que, após revelar uma notícia tão grande como aquela, meus dois amigos me ignorariam completamente e iriam embora, deixando-me sozinha. Mas foi exatamente isso que aconteceu. Depois que o Philip brigou com a gente e a Diana fugiu, fiquei sozinha no dormitório masculino. Pensei em ir atrás da minha amiga, mas ela corria tão rápido que eu nunca a alcançaria. Por isso, decidi voltar para o nosso quarto e esperar por ela lá, onde ela não teria como fugir.

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Quando cheguei no meu corredor, porém, encontrei uma menina loira sentada em frente a minha porta, lendo uma revista. Estranhei de cara, afinal, eu não fazia a mínima ideia de quem era a tal garota e muito menos o que ela estava fazendo ali. Cheguei mais perto e ela ainda não tinha notado a minha presença. Por isso, quando ficamos frente a frente, estalei os dedos no rosto dela, o que fez com que ela levasse um susto e se levantasse rapidamente.

— Oi. — ela disse e sorriu, sem graça.

— Oi… desculpa perguntar, mas quem é você?

— Ah! O meu nome é Julie. — ela estendeu sua mão e eu a apertei. — Eu estava procurando a Diana e descobri que ela mora aqui. E você, quem é?

— Eu sou amiga e colega de quarto da Diana, meu nome é Jade.

— Nossa, me desculpa! Eu estava aqui ocupando sua porta e ainda perguntando quem você era, como se tivesse o direito. — a tal de Julie colocou a mão no rosto.

— Ih, não se preocupa com isso. — achei graça da educação dela. — Mas olha, a Diana não está e, pra ser honesta, nem sei que horas ela vai chegar.

— Jura? Poxa… então deixa pra lá.

— Mas era importante? Eu posso deixar um recado pra ela se você quiser.

— Não era não, — ela falou enquanto guardava a revista que estava lendo na sua bolsa. — eu só queria perguntar como ela se saiu no trabalho dela. Mas esquece, não sei nem se ela se lembra mais de mim.

— Bom, se você diz… — eu não sabia que trabalho era aquele, por isso deixei para lá também. — Você quer entrar, comer alguma coisa? Nós não temos muita comida. Na verdade, acho que só temos Cheetos. — ela riu. — Mas, se você quiser…

— Obrigada pela oferta irrecusável. — Julie brincou e foi minha vez de rir. — Mas preciso voltar pro meu quarto. Tenho um trabalho pra amanhã que ainda nem comecei.

— Então tá, qualquer coisa pode falar comigo. — ela agradeceu sorrindo mais uma vez e foi embora. Depois que ela virou no fim do corredor e sumiu da minha vista, abri a porta do meu quarto e entrei, pensando em como aquela menina parecia ser gentil. Eu não tinha muitas amigas no campus, por isso fiquei com vontade de conhecer melhor a Julie.

Assim que sentei na minha cama, porém, meus pensamentos logo voltaram para a Diana e toda a confusão que estava acontecendo. Como eu não fazia a mínima ideia de para onde ela tinha ido, decidi esperá-la para conversarmos. Peguei meu computador e fiquei vendo uma série para passar o tempo. Mas, após esperar por quase uma hora, estava tão cansada que acabei caindo no sono.

Quando acordei com o meu despertador tocando muito alto no dia seguinte, não encontrei a minha amiga no quarto, mas vi suas roupas do dia anterior penduradas na cadeira da nossa escrivaninha, o que pelo menos me assegurava que ela tinha dormido lá. Tentei procurá-la nos banheiros no fim do corredor e também não a achei. Foi então que eu percebi que aquele dia era uma quinta, ou seja, ela tinha aula mais cedo do que eu.

Sabendo que só conseguiria falar com ela no almoço, arrumei-me e fui para as minhas aulas da manhã, mas não conseguia pensar em nada que não fosse relacionado a toda aquela confusão. Por isso, agradeci muito quando o último sinal tocou, indicando que era a hora do almoço. Saí em disparada para o refeitório e peguei rapidamente minha comida, sentando na mesa em que geralmente eu e Diana almoçávamos. Após uns 10 minutos, ela chegou e se sentou na minha frente, sem falar nada.

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— É… Diana, meu amor. — eu disse e ela me encarou.

— Que foi?

— Como assim, "que foi"? O que raios aconteceu ontem? Você sumiu!

— Eu fui falar com o Leonard, ué.

— Ai, que bom! Pelo menos sua cabecinha ainda tem senso. — falei, e Diana revirou os olhos. — Mas e aí? Ele ficou muito irritado quando você terminou com ele?

— Eu não terminei com ele. — ela olhou para baixo.

— É o que? — me controlei para não gritar.

— Eu e Leonard ainda estamos juntos.

— Você ficou louca? — eu não podia acreditar. Depois de tudo que ele havia feito, ela ainda queria estar com ele? Era impossível!

— Não, Jade, eu não fiquei louca.

— Então por que você ainda está com ele? Você entendeu o que eu te contei ontem? Ele e a tal de Margaret…

— Eu sei muito bem o que eles fizeram, Jade. — ela me interrompeu. — Mas você tem que confiar em mim. Eu tenho meus motivos para continuar namorando com Leonard.

— Que motivos, Diana? Me diz pelo menos um, porque pra mim não tem justificativa.

— Já te falei que você precisa confiar em mim, amiga. Eu sei o que estou fazendo.

— Sabe mesmo? Porque eu acho que você ainda não entendeu que esse relacionamento é abusivo, Diana! Se toca, por favor. Não dá mais pra fingir que não é, porque é sim. E você precisa sair dessa! — ela ficou sem ação por alguns segundos, mas essa era a verdade e ela sabia disso.

— Jade, confia em mim. Não dá pra eu terminar com ele, pelo menos não agora.

— Como eu posso confiar em você se você mesma não confia em mim? Me diz como eu posso te ajudar! Eu sou sua melhor amiga, você sabe que pode me contar tudo.

— Dessa vez eu não posso, Jade.

— Nossa, — me levantei da mesa. — então tá, Diana. Faca como você quiser. Mas depois não venha dizer que eu não te avisei, porque eu avisei sim, e muito mais do que uma vez.

Fiquei esperando ela dizer mais alguma coisa, mas ela não respondeu nada, o que me chateou mais ainda. Então eu peguei meu material e fui embora, largando o meu almoço inacabado na mesa. Saí do refeitório pisando duro e andei pelo campus até achar um banco vazio onde eu poderia me sentar longe dos outros universitários, tendo apenas os meus próprios pensamentos como companhia.

Comecei a refletir sobre a minha vida naquele momento e me irritei mais ainda ao perceber que tudo estava uma confusão. Como tudo havia mudado em pouco mais de dois meses? Até o início das aulas, a Diana e eu compartilhávamos tudo. Mas, com o passar do tempo, cada vez mais nos afastávamos e eu nem sabia o porquê. E não era só ela: Philip também estava distante. Será que eu havia perdido meus dois melhores amigos sem ao menos saber o motivo?

E ainda tinha Luke. Não, meu estúpido coração ainda não tinha conseguido esquecê-lo, e a cada dia que se passava eu percebia que não seria tão fácil como foi com os outros garotos de quem eu já havia gostado. Tudo com Luke era diferente, era muito mais intenso. A paixão, os sentimentos, as borboletas no meu estômago quando eu o via, a vontade de estar perto… e a dor por não poder estar.

— Oi. — levei um susto quando vi um garoto sentado ao meu lado no banco. Estava tão envolvida nos meus pensamentos que nem tinha o visto chegar.

— Oi. — respondi e olhei para o menino, notando seus cabelos loiros e seus olhos azuis. Ele era bonito, mas não foi isso que chamou minha atenção. Eu sabia que o conhecia de algum lugar, mas não sabia de onde.

— Tudo bem aí? Estava te observando de longe e você parecia estar irritada com alguma coisa.

— É, eu… — quis desabafar de uma só vez, mas eu nem conhecia o garoto, ou pelo menos eu não lembrava de conhecê-lo, por isso disfarcei. — Não é nada demais. Estava chateada, mas já passou.

— Que bom. Uma menina bonita como você não merece se chatear. — senti minhas bochechas ficarem vermelhas. Ele estava flertando comigo?

— Obrigada, eu acho. — ele não falou mais nada, e minha curiosidade estava me matando. — Desculpa perguntar, mas eu acho que te conheço de algum lugar.

— Ah, sim. — ele sorriu. — Nós somos da mesma sala de História da Arte.

— Isso mesmo! Já te vi nas aulas. Mas você sempre senta lá no fundo.

— É, digamos que eu não sou daqueles alunos que gostam de participar das explicações. — ele respondeu e estendeu sua mão. — Eu sou o Mark, por sinal.

— Jade. — cumprimentei-o.

— Que nome mais bonito. E combina bastante com você. — corei mais uma vez.

— Obrigada. E que curso você faz, Mark?

— Estou no primeiro período de Artes Visuais. E você?

— Arquitetura. — respondi e nós começamos a conversar sobre nossas vidas.

Passaram-se alguns minutos, e eu já havia me acalmado. O Mark era muito engraçado e gente boa, além de ser bem bonito. Percebi também que durante a nossa conversa ele flertou bastante comigo, mas eu não flertei de volta. Apesar de saber que um simples flerte não significava muita coisa, ainda não queria me relacionar com ninguém, pelo menos até eu tirar um certo garoto da minha cabeça.

Logo o sinal bateu, indicando que já era hora de ir para as aulas da tarde. Nós nos levantamos e caminhamos juntos, pois nossos próximos tempos eram no mesmo prédio. Quando chegamos, ele me acompanhou até a porta da minha sala. Eu agradeci a ele por ter me ajudado a me acalmar e me despedi. Mas, antes de eu entrar, ele segurou meu braço e eu parei de andar, olhando para ele.

— Se não é pedir muito, posso salvar seu número no meu celular? — pensei em negar, mas ele deve ter percebido, porque logo completou. — Já entendi que tem alguém morando no seu coração no momento, mas isso não nos impede de ser amigos, ou impede?

— Claro que não. — finalmente respondi, sorrindo. Então, nós trocamos nossos números e nos despedimos pra valer.

Entrei na minha sala me sentindo mais leve. O Mark parecia ser uma ótima pessoa, e eu gostaria bastante de ser amiga dele, ou, quem sabe, talvez até algo mais. Até porque, após aquele último mês repleto de confusões, tristezas e brigas, ele havia sido a única pessoa que havia me feito sorrir. E isso eu não esqueceria.