A Árvore da Montanha

Capítulo 1 - Alyshie


Iwatori Midoriyama teve sete filhos. Seis garotos, e uma garota.

Não era rico, e a cada filho, mais fina sua carteira se tornava, mas não importava. Kalyani queria uma família grande. Iwatori faria qualquer coisa que a esposa lhe pedisse, pois a amava acima de qualquer coisa no universo.

Mas não teve tempo suficiente. Kalyani morrera jovem, depois de complicações no sexto parto, deixando o marido e sete filhos para serem criados numa pequena casinha no topo de um morro.

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Iwatori também amava os filhos, e os criou tão bem quanto pôde, mas perdera a luz de sua vida ao perder a esposa, e vivera perdido pelos anos posteriores. Assim que seu filho mais velho passou a cuidar da casa, se desligou do mundo, tornando-se pouco mais que um epulário, mal notando o que os filhos faziam ou como cresciam. Não demorou muito a seguir a esposa e morrer de saudade, deixando a casa para os sete irmãos se virarem.

No começo, eram sete crianças perdidas. Tinham comida pra alguns dias, água e teto, mas nenhum adulto pra lhes guiar. As brigas eram súbitas e constantes, já que nenhum aceitava ordens dos outros, e cada um tinha suas próprias ideias.

Então, a comida acabou. Somente após passar fome por dias as crianças se domaram, e passaram a obedecer uma única voz. A do irmão mais velho, que conseguira comida na cidade, e portanto, tornara-se o novo líder da família.

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— Temos comida! Oooh, todo poderoso irmão, você conseguiu novamente~ Deveria escolher primeiro. Afinal é o maior~~ — Tsutao era extrovertido e carismático, e estava sempre tentando convencer alguém de alguma coisa. Geralmente, convencia as pessoas de que seus caprichos eram o certo a se fazer.

— Hah. Seguindo essa lógica, você seria o segundo. Antes de mim. — Tsutao era o terceiro mais velho, mas era mais alto que seu gêmeo, Baki. A expressão no rosto do segundo irmão o fazia parecer misterioso, e ele falava pouco, mas isso o deixava popular na escola. Daiichi fez todos continuarem estudando.

— Não é como se fizesse diferença, é? No fim, vamos todos comer. Ou quase. — Ingram, o quarto irmão, se corrigiu maldosamente. Voltou o olhar à criança de uns dez anos brincando com um cavalo de madeira; a única garota entre eles. Apesar de ser pouco mais velho, seu olhar era cheio de malícia. — Alguns são feios demais pra merecer sequer um farelo. Se não fosse a bondade do nosso irmão mais velho, esses passariam fome.

— Hm..? — a garotinha ergueu o rosto ao perceber que era observada, confusa. Alyshie era a sexta irmã, e a menor de todos, mesmo contando o caçula ao seu lado. Ela sorriu e concordou com a cabeça ao entender a frase. — É! Obrigada, irmãozão. Vocês são todos gentis!

— Hey! Não, não. Tá tudo errado. Não é assim que uma protagonista faria. — Hyuuga, o quinto irmão, se aproximou e ergueu-a bruscamente. Inclinou seu rosto pro chão, juntou seus dois indicadores em um gesto que simbolizava timidez, e se afastou. — Agora repita gaguejando e o chamando de kun.

— D-Desculpe. O-Obrigada pela gentileza, Ingram-kun, Daiichi-kun. E-Eu não merecia.

Hyuuga e Ingram assentiram satisfeitos, mas Todd, o caçula, pareceu incomodado. Olhou como se quisesse dizer algo, tentando tomar coragem, mas não perceberam. Daiichi, porém, notou, e levantou-se da cadeira, aproximando-se do caçula do alto de seus impressionantes 202 centímetros, olhando-o do alto.

— Quer dizer algo, Todd? Acha que pode discutir com os mais velhos? — a voz de Daiichi soava cortês e elegante, e mesmo com tenros 17 anos parecia um cavalheiro, mas seu sorriso e seu olhar denunciavam o que todos naquela casa já sabiam: ninguém discutia com Daiichi. Era o mais velho, alto, forte, e o provedor da família. Não devia ser contrariado.

— N-N-Não. N-N-Nada. — Todd tinha nove, mas parecia ter três ao ficar de frente ao irmão, pequeno e magricela, maior apenas que Alyshie.

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— Então volte a olhar o chão e espere o que sobrar pra comerem. Agradeça o jantar de hoje.

Alyshie apenas assistiu. Não gostava quando implicavam com Todd, preferia quando era com ela. Quando recebeu o jantar, dividiu sua porção com o caçula em segredo. A hierarquia, naquela casa, parecia natural à pequena, afinal, tinha teto, comida, e amava a todos eles, e sabia que a amavam.

Nada parecia fora do normal.

Se alguém a conhecesse nessa época, porém, afirmaria outra coisa. Daiichi era bruto e abusivo, dando ordens à ela só por capricho. Baki gostava de assustá-la com histórias de terror que ele mesmo inventava, se sentindo satisfeito quando olheiras denunciavam que a pequena não dormira à noite. Tsutao lhe usava como empregada particular usando apenas a lábia, apesar de preferir fazer isso com Todd. Hyuuga lhe obrigava a seguir padrões de comportamento do que ele considerava ser ‘a garota ideal’, enchendo sua cabeça com ideias e noções falsas da realidade, todas tiradas de videogames e animes shoujo.

E Ingram...

O quarto irmão da família Midoriyama era quem tinha um interesse mais particular na garota. Ingram era o irmão mais bonito desde sempre. Não era o mais alto ou o mais forte ou o mais inteligente, e sua beleza era seu único trunfo. Por isso, mesmo jovem, já conhecia a arte da sedução, e já era capaz de conseguir o que queria com o flerte. Com doze anos, nenhuma garota de sua idade resistia a ele.

Mas Ingram não queria nenhuma delas. Desde sempre, a única garota que achava realmente bonita, a que mais se parecia com ele próprio, era sua irmã. E desde sempre, amargava a realidade de que, por isso mesmo, era a única garota do mundo que jamais poderia ter, cujo flerte de nada adiantaria.

Ciumento e rancoroso, Ingram passou a destruir a auto-estima de Alyshie. Com apenas dez anos, a criança acreditava piamente que era feia, que não merecia o amor de ninguém, e que apenas os irmãos a amariam de verdade. E estava satisfeita com isso. Estava conformada em ser, para sempre, a menor, indefesa e submissa.

Mas isso mudaria muito em breve.