O par perfeito
Dezembro
“Dezembro venha até mim. Eu espero que eu consiga ver. Você não apenas em sonhos. Eu te deixarei estar. Porque você não pode acreditar... O quanto você realmente significa...”
(December – Norah Jones)
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Eu cortava uma cenoura quando a faca fez um corte pequeno em meu dedo.
— Ah, Katniss querida o que você fez nesse dedo? – Tia Maya logo pegou um guardanapo de papel para estancar o sangue que vertia do corte insignificante.
— Já vai parar tia, está tudo bem – asseguro, mas ela insiste nos cuidados.
— Mamãe, deixa que eu cuido da Kat, vigie o forno para o peru não passar do ponto. – Madge segura meu pulso e me arrasta até o banheiro social. – Katniss o que está acontecendo com você?
— Comigo nada. – Dou de ombros ignorando seus lábios se torcendo de um lado para o outro demonstrando um pingo sequer de credibilidade no que falei.
— Desde que chegou, está com essa cara de paisagem. Aconteceu algo que não quer me contar?
Claro que aconteceu prima, por que acha que peguei uns dias a mais de folga para passar o feriado com você? Penso.
— Madge, não quero pensar e nem falar no assunto...
— Ahaaa... então realmente aconteceu algo. Desembucha.
— Mad...
— Anda, Kat, ou vou tomar algumas medidas que você não irá gostar. – Ela me lança um olhar diabólico e solto uma lufada de ar.
— Tá legal, mas vai ter que esperar eu contar para depois falar alguma coisa.
— Minha boca é um túmulo a partir de agora.
— Na sexta-feira a tarde Peeta apareceu me convidando pra treinarmos na academia do departamento, e lá estávamos treinando quando acabei por derrubá-lo no chão, ele revidou ficando por cima de mim e... me beijou.
Minha prima arregala os olhos e ficamos em silêncio durante alguns segundos.
— Não acredito que ele fez isso... que cachorro safado! Ele não namora aquela dona...
— Ele disse que não estão mais namorando.
— Pelo menos teve a decência de terminar. Isso significa que terminou com ela por sua causa?
— Na verdade, ele disse que já estavam em crise antes mesmo de me conhecer.
— Mas e aí, vocês estão saindo?
— Não.
— Como assim, não?
— Depois que ele me beijou eu saí correndo, e antes de ir embora perguntei para meu chefe se podia me dar alguns dias de folga antes do feriado.
— Então quer dizer que não fala com o Peeta desde o beijo? – Assinto com a cabeça e ela revira os olhos. – Kat, isso significa que ele está afim de você. Acorda garota!
— Não quero me precipitar, Madge. Sabe que não tenho sorte com relacionamento.
— Mas Kat, já parou pra pensar que o destino pode ter colocado vocês dois no mesmo caminho?
— Creio que o único destino, seja aquele que nós mesmo traçamos.
— Não faz isso prima... olha, deixa ele se aproximar e veja o que realmente quer. Você mesma disse que se tornaram amigos tão facilmente. De repente Peeta quer mais do que ser seu amigo.
— Ah, Madge fala sério.
— Eu estou falando sério.
— Vamos voltar pra cozinha antes que sua mãe venha nos buscar.
Madge suspira profundamente e diz para eu pensar no assunto. A verdade, é que eu queria esquecer aquele beijo, mas não foi isso que aconteceu. Seus lábios vêm atormentando meus sonhos e pensamentos desde então. Sei que parece criancice da minha parte ter fugido assim dele, ainda assim prefiro esperar pra ver qual é a dele.
— Aí estão vocês duas. Teve que suturar o dedo da sua prima, filha? – Tia Maya pergunta quando retornamos para a cozinha.
— Não mãe, estávamos conversando sobre o dia de hoje. O tio Hay e a Prim devem estar chegando, né?
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!E foi nesse momento que a campainha toca e minha prima sai para atender.
— Onde está minha filha desnaturada? – Escuto a voz do meu pai e assim que me encontra me toma em seus braços. – Preciso colocar a guarda nacional atrás de você para me visitar, ou até mesmo me ligar?
— Também estava com saudades, papai.
— Docinho, você mente mal. Se estivesse com saudades me visitaria com mais frequência.
— Pai, tenho trabalhado dobrado nos últimos meses. E ainda têm muitos casos não solucionados.
— Bem, você não é a fada das causas perdidas, não pode querer resolver tudo, certo?
— Você também tem trabalhado bastante que eu sei.
— Sim, cheguei recentemente de Bruxelas e tenho uma novidade.
— Novidade?
— Haymitch, onde estão seus modos? – Tia Maya que havia acabado de tirar o peru assado do forno, adverte meu pai.
— Oh, me perdoe Maya. Feliz dia de Ação de Graças.
— Feliz dia de Ação de Graças a você também.
— E o Joe, onde está?
— Saiu com Andrew para comprarem a árvore de natal, mas já devem estar chegando.
— Natal, mas já?
— Ora, Hay daqui a pouco já é dezembro. O tempo voa, você não acha?
— Ah, claro que voa, estou até ficando careca.
— Papai, você será o careca mais charmoso da CIA. – Minha irmã fala graciosamente surgindo atrás dele com uma bolsa grande de mão.
— Ah, meu pudinzinho, por isso que o papai te ama.
— Kat, que saudades. – Prim e eu nos perdemos em um forte abraço.
— Ainda bem que nos falamos sempre por telefone.
— É uma pena que eu tenho estado tão atarefada e quase não vou te visitar.
Tio Joe e meu primo Andrew com sua esposa chegam das compras e logo todos nós nos sentamos à mesa para nosso jantar especial de Ação de Graças.
— Como está indo a vida no departamento, filha?
— Ah, um pouco de agitação aqui e outra ali, mas quase nunca estou entediada.
— Saiba que essa não era a vida que eu queria pra você. Por que não escolheu ser professora, arquiteta, engenheira, ou até mesmo uma renomada na moda?
— Papai, você não existe.
Após o jantar nós dois nos sentamos na varanda para tomarmos vinho. Sempre me dei bem com meu pai, e sei que ele não queria que eu escolhesse essa profissão - mesmo querendo que eu servisse a CIA - justamente para poder tomar conta de mim. Ele sempre teve esse instinto protetor e eu não podia reclamar disso. Ele prometeu a minha mãe que cuidaria de nós com sua vida, no entanto, ele faz de tudo para me apoiar na decisão que tomei.
— Conheci alguém, Niss – diz ele com o olhar distante.
— Quem?
— Ela se chama Effie Trinket. – Saboreia o nome ao pronunciar.
— Como foi isso? Me conta. – Encosto minha cabeça em seu ombro e logo sua mão afaga meu rosto.
— Lembra a viagem que fiz para a Nigéria?
— Lembro, faz alguns meses.
— Pois é, estava em uma missão e foi em trabalho de campo que a conheci. Ela é uma renomada professora de letras e intérprete em Harvard.
— Gosta dela?
— Acho que sim, mas estou enferrujado...
— Ah, papai pare já com isso. Não admito que fale assim de si mesmo. Você está muito enxuto e conservado para sua idade. – Me afasto um pouco e seguro seu rosto entre minhas mãos. – E ela, gosta de você?
— Talvez.
— Talvez?
— Eu não quero me apressar, sabe... quero marcar um jantar para vocês se conhecerem, o que acha?
— Perfeito. É só marcar e irei conhece-la.
✗✗✗
Após retornar para o departamento comecei a me esquivar de Peeta. Sei que isso parece ridículo, mas eu não sabia onde enfiar minha cara.
— Achei você! – Acabo por dar um salto me assustando com a voz grave da bendita graça às minhas costas. – Está se escondendo de mim, Katniss?
— Eu, me escondendo de você? Ah, faça-me um favor, Mellark. Mal retornou pra cá e já está cheio de gracinhas. – Continuo a passos firmes meu caminho até os arquivos e acabo me esquecendo o que procurava.
— Se foi pelo beijo. Peço desculpas pelo meu atrevimento. Quero que saiba que, não saio por aí beijando como um maníaco possessivo, mas é que naquele dia você estava tão linda e determinada treinando que não conseguia pensar em outra coisa que não fosse seus lábios...
— Peeta Mellark! Você está me distraindo. Nem me lembro o que vim fazer aqui.
— Você deve estar procurando o caso Malone, o qual Boggs disse ontem na reunião.
— Você estava na reunião ontem?
— Sim, sentado no fundo. Tentei chamar sua atenção, mas o Gale disse para eu lhe dar espaço.
— Gale disse isso?
— Sim, ele me disse que você não funciona sob pressão.
Assim que passou o feriado, Gale me procurou para saber como eu estava. Ele me contou que Peeta tinha falado sobre o beijo, e meu amigo de longa data explicou que minha reação a intimidade era a fuga. Gale ficou estranho quando soube do beijo, mas depois pareceu relaxar.
— Caso Malone – digo em voz alta para mim, achando a tal caixa contendo as informações que procurava.
— Katniss, aceita tomar um café comigo no Donuts? – pergunta ele calmamente. Encaro seus olhos tão azuis como o mar e noto toda a serenidade que só ele tem.
— Aceito, mas só se for agora. Estou morrendo de fome. Almocei depressa e...
— Vem tagarela. – Ele nem espera que eu termine de pronunciar algo e já pega em minha mão me puxando pra fora do nosso ambiente de trabalho.
É um momento bom e descontraído. Falamos sobre nosso feriado de Ação de Graças e ele diz que Annie e Finnick irão passar o natal com os pais dele.
— Você tem irmãos? – pergunto curiosa.
— Não. Minha mãe teve vários abortos antes de mim. Os médicos disseram que talvez eu morresse quando ainda estava em seu ventre, mas ela conseguiu seguir com a gestação e pouco antes de completar os oito meses nasci.
— Você nasceu prematuro?
— Sim, mas disseram que eu era um bebê muito saudável e fiz tudo de acordo com a época certa de uma criança. Cresci até com o QI a mais, né? – Ele ri e observo a tranquilidade com que conta os acontecimentos. – Me conte mais sobre sua família.
— Bem, eu tenho uma irmã, ela é totalmente diferente de mim. Tem os cabelos loiros como meu pai, mas seus olhos puxaram os de mamãe. Ela está cursando o segundo ano em medicina na Harvard.
— Nossa ela deve ser muito inteligente.
— Ela é sim. E meu pai é agente, trabalha na CIA.
— Quem é o seu pai mesmo?
— Haymitch Abernathy Everdeen.
— Ah, minha nossa! Eu o conheci há uns dois anos. Estávamos em um caso e acabei me esbarrando com ele. Seu pai é muito respeitado na CIA. Ele já participou de um caso área 51 em Montana, lembro muito bem. Sempre fui fascinado por tudo que é do espaço, mas a NASA não divulga tantas coisas assim.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Meu pai já trabalhou em muitos casos sim, inclusive na Casa Branca, mas ele é do tipo que gosta de fortes emoções como Iraque, Sudão, Nairóbi, dentre outros lugares perigosos em que já esteve.
— E como você quis seguir carreira aqui?
— Eu queria ter um propósito. Ajudar a combater o crime como uma verdadeira patriota.
— Nossa, poucas agentes pensam assim. Precisa conhecer os Carreiristas.
— Quem são?
— Os agentes Ludwing, Quaid, Rambin e a Fuhrman. Esses quatro são terríveis, digamos que são os agentes da pesada. Ajudam a combater o crime, mas são metidos e se acham os maiorais. Boggs sempre designa pra eles os piores casos de assassinatos.
— Acho que já os vi em alguma de nossas reuniões. Eles sempre andam juntos, não é?
— Sim, são um bando, ou clã. Foi o Finnick que os apelidou de Carreiristas, e eles nem se importam com o apelido, até gostam.
Conversar com Peeta nunca era entediante. Ele não deixava o assunto morrer e sempre que eu terminava de contar algo, ele já emendava com outro assunto.
— Vai passar a virada do ano com sua família? – pergunto quando estamos retornando para o departamento.
— Não. Sempre passo por aqui. O Finnick geralmente organiza algum tipo de festa, mas pelo que sei esse ano terá uma festa a fantasia em Manhattan. Nossa amiga Johanna fará um show no Ace of Clubs, e a propósito você está convidada.
— Não sei se eu vou... não curto muito essa coisa de fantasia.
— Bem, eu também não, mas teve uma no ano passado que o Finnick e o Gale fizeram uma aposta e tive que ir, daí optei por James Bond.
— Você de James Bond, deve ter ficado engraçado.
— Pois é, não posso dizer muito. Meus amigos me fizeram pagar o maior mico.
O restante do dia foi tranquilo e no fim ficamos investigando pistas do caso Malone.
✗✗✗
Dezembro já havia chego e novamente eu estava em Middletown, Ohio com meus familiares e em especial a namorada do meu pai. Minha irmã e eu conhecemos Effie em um jantar que meu pai fez questão de reservar num restaurante francês. O namoro dos dois estava ressente. Effie era adorável, muito simpática, educada e amorosa. Prim e eu tivemos certeza de que ela faria papai feliz. Ela era divorciada e a única filha que teve, morreu há alguns anos de um câncer raro que ainda estava sendo estudado pela medicina. Nós a acolhemos como da família. Tanto tia Maya, quanto tia Maysilee a adoraram.
Minha tia geralmente sempre dispensa os empregados para passarem o natal com seus respectivos familiares, eles deixaram alguns itens adiantados e nós é que preparamos a ceia e tudo mais.
Após a ceia nos reunimos na sala da lareira para a troca dos presentes, mas não sem antes cantarmos Christmas Time is Here. Era uma tradição há anos, meu primo Andrew com seu violão dedilhou a canção e nós acompanhamos no vocal. Depois tio Joe colocou Jingle bell rock, de Bobby Helms para tocar em seu vinil e começamos a trocar os presentes.
— Kat, meu presente pra você. – Prim me entrega uma caixinha verde com um lindo laço vermelho. – Abra, espero que goste.
Ao abrir a pequena caixa vi que era uma corrente dourada e um tordo como pingente.
— Oh, Prim... adorei. É lindo. – Logo a abracei e pedi para que colocasse em meu pescoço.
— Comprei um pra mim também. Esse tordo é pra nos proteger e nos manter unidas, mesmo que estivermos uma longe da outra.
— Eu te amo.
— Também te amo.
— Também tenho o meu presente. – Entrego uma caixa mediana e ela abre com curiosidade.
— Kat... não acredito!
— Bem, uma vez você me disse que iria escolher a área da Pediatria Oncológica.
Eu havia comprado para ela um estetoscópio personalizado. Tinha um urso panda na ponta.
— Eu adorei. Sabe... estou decidida em atuar nessa área. – Seus olhos brilhavam ao falar dos objetivos que traçava. - Obrigada mana. – Agradece me dando um abraço fraternal.
Entregamos mais presentes aos demais da família e até para Effie que se emocionou com o presente que eu e Prim coordenamos. Da nossa prima eu ganhei uma linda echarpe verde e Prim uma estola cor beterraba que ela adorou. Nosso natal foi perfeito. Tivemos momentos pra lá de inesquecíveis. E antes de irmos dormir tomamos chocolate quente.
De volta a Nova York e com o feriado de ano novo, quase tudo estava em recesso.
— Vamos pra Times Square escolher uma fantasia? – Madge estava empolgada com a tal festa. Finnick fez questão de conseguir ingressos e me deu um a mais caso eu quisesse convidar mais alguém. Nem preciso dizer que assim que comentei com Prim, ela disse um sonoro e feliz “quero ir”.
— Prim deve estar chegando. É bom ela ir com a gente – comento dando mais uma olhada para fora por instinto.
— Ainda bem que você vai, caso contrário acho que eu não iria.
— Que isso, Madge. A Annie é sua amiga.
— Eu sei, mas sei lá... o Gale... – Ela fica sem graça de repente.
— O que tem ele?
— Ele fica me encarando de um modo estranho. Fico incomodada.
— É porque ele está afim de você, bobinha.
— Afim de mim? Se tá louca, né? Pirou Katniss Everdeen!
— Viu como é ficar incentivando... – Sorrio e ela me encara irada. - Calma, não precisa ficar agitada. Eu só fiz uma observação e digo que ele não tem saído com ninguém desde que comecei a trabalhar... vem cá. Vocês dois não se encontravam antes?
— Como assim?
— Os amigos... Annie, Finnick, Peeta e... Gale.
— Não Kitkat, conheci o Finnick na noite em que descobri que o meu “encontro às escuras” era com o Gale. Antes disso eu estava com o Wes, e a Annie nunca me chamava pra nenhum programa porque sabia que o Wes encarnava com tudo.
— Entendi.
Logo Prim chega e juntas vamos as compras. Faz muito frio e a ponta do meu nariz parece um cubo de gelo. Demoramos pra decidir que fantasia comprar, mas no fim deu tudo certo e optamos por tomarmos um chocolate quente em nossa cafeteria preferida.
Já era trinta e um de dezembro e estávamos frente ao Ace of Clubs.
— Vem logo Kat, saia desse carro. – Madge basicamente me puxa de dentro do veículo.
— Não sei se vou conseguir tirar esse sobretudo.
— Ah... você vai sim, mana. – Prim ajuda nossa prima a me puxar e conseguem.
— Sua fantasia está linda e sei que irá arrasar. – Madge elogia.
— Vocês duas vão pagar por fazerem minha cabeça.
Madge estava de Mulher Maravilha, Prim de Anjo e eu... bem, Princesa Amazona.
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