O par perfeito

Pássaros cantando


“Por você o sol estará brilhando. Porque sinto que quando estou com você está tudo bem, eu sei que está tudo bem... E os pássaros continuam cantando como se eles soubessem a partitura...”

(Songbird – Eva Cassidy)

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Francamente eu não podia chegar atrasada no meu primeiro dia. Não fora nada fácil conseguir uma vaga no Departamento do FBI de Nova York. Tive que passar por vários processos, fora os testes de aptidão física como: abdominais, corrida cronometrada e flexões. Devo agradecer ao meu pai pelas horas de treinamento na academia do seu amigo Chaff em Boston. Papai queria que eu servisse a CIA, mas não era meu objetivo ter que trabalhar lado a lado com ele. Não tenho nada contra meu pai, mas acredito que se eu traçasse o meu caminho finalmente ele veria o quanto posso ser independente.

— Katniss, dá para você relaxar? Desde que saímos não para de estalar os dedos, sabe o quanto isso me irrita. – Madge, minha prima por parte de mãe tem razão, desde que saímos do apartamento que dividimos não paro de estalar meus dedos.

A verdade é que estou nervosa, o parceiro com o qual vou trabalhar, é um mistério e de certa forma isso me deixa aflita. Será que ele será um velho rabugento, ou um metido a besta que fica se gabando 24 horas do dia? Não sei, só sei que tenho um mal pressentimento que não consigo explicar.

— Madge, só estou apreensiva com a pessoa que irei trabalhar.

— Relaxe, tenho certeza que será alguém experiente. – Ela pisa no freio bruscamente fazendo com que eu quase bata minha cabeça no vidro da frente. – Pronto, chegamos. Boa sorte, tenha um ótimo dia e qualquer coisa me ligue.

— Você disse mais cedo que iria se encontrar com a Annie num bar hoje a noite – comento ajeitando minha bolsa em meu ombro e segurando com firmeza minha pasta.

— Sim, Annie e o marido, que aliás trabalha aqui. Ela disse que quer me apresentar alguém, seja lá quem for. – Annie e Madge trabalham em um escritório de advocacia na avenida Lexington, as duas são amigas desde que minha prima iniciou o curso de Direito. – Você pode vir com a gente se quiser.

— Acho que não quero ser segura vela, prima – desabafo sem parecer rude.

— Te entendo perfeitamente, mas se mudar de ideia me avise, agora vai se não levará advertência em seu primeiro dia.

Dito isso, trocamos dois beijinhos no rosto e saio em disparada, e quase caio na entrada do Departamento devido ao chão de mármore muito bem lustrado e meus saltos nos pés. Mostro meu distintivo e o segurança diz algo em seu rádio, deduzi que queria confirmar minha presença, e logo me deixa passar. Confiro mais uma vez meu itinerário e sigo até a sala na discrição da tabela que estou segurando.

— É de extrema importância que...

— Com licença – digo um tanto sem graça, já que acabo de atrapalhar uma explicação.

— Pois não?

— Sou a agente Everde...

— Katniss Everdeen, finalmente. Pode entrar e se acomodar em alguma cadeira que já falo com você.

Sinto minhas bochechas esquentarem em constrangimento, afinal a sala está abarrotada de agentes federais e meu “chefe” corpulento parece estar bem concentrado no que diz. De cabeça baixa procuro um assento desocupado e me sento. Quando ergo a cabeça para olhar para o homem que fala, sinto um cutucão em minha cintura. Giro meu pescoço para dar de cara com, Gale?

— Surpresa em me ver, Catnip?

— Ga-gale... é você mesmo?

— Claro que sou eu, ou acha que existe outro Gale Hawthorne por aí...

— Sr. Hawthorne quer compartilhar conosco sua interação?

O homem à frente fala com rispidez e Gale encolhe imediatamente os ombros.

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— Desculpe senhor.

— Como dizia, é de extrema importância estarem cientes com quem vão lidar. Nesse coquetel pode, ou não haver algum infiltrado da máfia russa.

Ao final da reunião todos são dispensados e sobram apenas meu chefe - o agente especial Boogs - e Gale.

— Muito prazer em conhece-la Srta. Everdeen, seja bem-vinda a equipe. Pelo visto já conheceu seu parceiro, o agente Hawthorne.

As palavras parecem ter fugido da minha boca, não acredito que irei trabalhar com meu ex-namorado, isso ultrapassava o “constrangedor”.

— Tudo bem com você senhorita? – ele pergunta analisando meu rosto que neste momento deveria estar como folha de papel.

— Estou bem senhor – falo com a voz trêmula.

— Ok. Gale lhe colocará a par da missão.

Nas próximas horas que se seguem Gale apresenta uma pasta contendo informações necessárias do que iremos enfrentar e quais posições cada agente estará.

— Eu vou ficar apenas observando de dentro da Van? – pergunto perplexa, já que imaginava entrar em ação.

— Katniss será uma assembleia de três dias, a qualquer momento você será escalada para um posto, como está entrando agora eu te protegerei.

Minha história com Gale foi bem simples, ou talvez não. Quando eu tinha onze anos nos tornamos amigos inseparáveis. Andávamos de bicicleta, passávamos tardes e mais tardes procurando minhocas para pescarmos no lago que havia próximo as nossas casas, dentre outras atividades. Ele é três anos mais velho que eu e acabei me apegando, pois via nele um irmão mais velho que nunca tive. Na adolescência tudo começou a ficar estranho, pois Gale passou a me olhar diferente, notei isso quando o número do meu sutiã havia aumentado. Na escola fazíamos parte do time de futebol – ele do masculino do terceiro ano, e eu do feminino do primeiro colegial, sim eu entrei mais cedo na escola e era um ano adiantada - ao final de um campeonato, quando consequentemente o seu e o meu time venceram, nos empolgamos e acabamos por trocar um beijo. Eu tinha quatorze e ele dezessete. Foi muito estranho, mas depois daquele beijo percebemos que não queríamos mais ficar com nossas bocas longe uma da outra.

Iniciamos um namoro um tanto indecente. Meu pai queria morrer com aquilo e não deixava ficarmos nem meia hora juntos e sozinhos. Prim, minha única irmã, ficava de vigia, as vezes pagávamos um sorvete, ou algo do tipo para se distanciar de nós, mas isso não adiantou com o passar do tempo, meu pai colocou um tipo de rastreador num bip e me controlava 24 horas. Papai sempre foi um tanto “protetor excessivo” talvez o motivo seja por termos perdido mamãe cedo demais. Mas de nada adiantou essa proteção toda, pois duas semanas antes de completar meus dezessete anos tive minha primeira vez com Gale. Seus pais haviam viajado e tínhamos a casa só para nós dois. Ele estava com vinte anos na época, eu era uma garota boba e apaixonada pelo primeiro namorado e me entreguei de corpo e alma. Gale desde sempre quis me levar pra sua cama e devo confessar que todas suas tentativas foram uma tortura pra mim, mas queria esperar e achei que aquele era o momento certo, entretanto eu estava sendo enganada e chifrada há três anos desde sua ida para a faculdade enquanto não atingia a idade para ser agente, algo que ele sempre quis ser. Quando descobri da pior forma possível terminei o namoro na mesma hora, mesmo estando apaixonada. A loira oxigenada fez questão de gritar aos quatro ventos que transava com ele sempre que o indecente não estava comigo. Me senti humilhada da pior forma possível. Gale sempre fora um garoto lindo e forte, via os olhares furtivos das garotas e o pior de tudo ele como um galanteador nato dava atenção a tais olhares, eu é que fui uma tapada por muito tempo. Depois de tudo pensei que nunca mais conseguiria gostar de outro alguém e na verdade, os que quiseram algo sério comigo, meu pai simplesmente não permitiu que eu namorasse. Eu ficava com um garoto aqui e ali e nunca consegui me apegar a alguém de verdade, foi aí que decidi partir para o FBI. Treinei afinco durante anos, me dedicando somente as táticas e estudava as leis e pré-requisitos dia após dia. Praticava milhares de esportes e adquiri força e assim consegui passar em meu teste e cá estava. Mas descobri que o destino gosta de brincar conosco e nos coloca a prova de fogo e resistência, eis que à minha frente o moreno tagarelando era a confirmação viva disso.

— Por acaso você escutou minhas últimas explicações? – Balanço minha cabeça me sentindo ligeiramente confusa e absorta. – Ok, você não prestou a atenção em nada, mas vou simplificar. Iremos agora mesmo até o museu, aonde estão colocando todos os artefatos em exposição e reconheceremos o perímetro.

— Por que o museu? – Meu parceiro revira os olhos, mas dá um risinho sínico ao balançar a cabeça como se perguntasse para si mesmo o que ele tinha feito para merecer alguém como eu pra trabalhar.

— Katniss vários políticos, tanto dos Estados Unidos quanto de outros países estarão em uma assembleia para discussões de emendas dentre outros assuntos e escolheram uma das salas do museu para tais reuniões e as exposições serão mais uma atração para eles. Vários artefatos chegaram recentemente da Jamaica, Egito e do Peru. Ouvi dizer que são coisas fantásticas e até místicas. Nossa missão é assegurar que nada atrapalhe esse encontro, mas o departamento detectou interações suspeitas e descobriram que eram russos com alguém infiltrado. Pode ser que estejam planejando algo. Garota, você não leu os relatórios que com certeza deve ter recebido? – Dou de ombros lembrando que recebi sim, mas um terrível acidente havia acontecido. Eu estava flambando uma sobremesa e lendo na beirada do fogão, quando dei por mim a chama havia pego na pasta que lia e em segundos queimou metade, e o que restou não consegui deduzir o significado.

— Estou um pouco tensa, é meu primeiro dia, certo? – Me defendo dando a pior desculpa esfarrapada.

✗✗✗

Chegamos ao museu e antes de adentrá-lo atravessamos o parque que ficava de frente e entramos em uma Van preta com algum slogan de canal de TV. Eu sabia que nesse ramo teríamos que usar muitos disfarces e estava preparada para o que viesse.

— Finn, meu chapa, o que manda hoje?

— O que posso dizer é que estamos monitorando todas as câmeras internas e externas do museu inclusive todo o itinerário de eventos que haverá.

— Hã, entendi... ah, deixe-me apresentar a nova agente Katniss Everdeen.

— Prazer Katniss, sou o agente Finnick Odair, mas pode me chamar de Finn. Trabalho para o FBI, mas fico mais nos bastidores, sou o hacker e invado o que for preciso.

Finnick parecia ser bem jovem e tinha uma bela fisionomia, com toda certeza me apaixonaria perdidamente por ele, se não fosse a aliança de ouro branco de espessura grossa em seu anelar da mão esquerda.

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— Uau, isso deve ser um tanto tenso – digo impressionada com a quantidade de notebooks e outros aparatos tecnológicos sobre a bancada da Van.

— Garota, sou hacker desde sempre, nunca ninguém conseguiu me vencer nos meus games e nem me pegar quando invadi o Banco de Dados do Governo aos quinze anos, daí decidi que queria fazer algo surpreendente e aqui estou.

— Finnick é bem modesto sabe Catnip...

— Catnip? – Finnick faz uma careta de confusão e bato no ombro de Gale.

— É um apelido idiota que ele me deu.

— Nossa Hawthorne, você é um pé no saco mesmo, mal a garota entrou pra equipe e já coloca apelido.

— Na verdade, eu e ela nos conhecemos desde crianças e... – Acabo por pisar com meu sapato de salto em seu pé e ele dá um grito. – Auuuu... tá louca garota?

— Oh, me desculpe se pisei sem querer no seu pé.

— Ok, crianças vamos voltar ao trabalho, deixe me ver aqui se o Mellark ainda está vivo.

— Ele nem deu as caras no departamento hoje, onde ele se meteu desta vez? – Gale pergunta enquanto Finnick digita habilmente em um dos notebooks e logo diz algo através do comunicador auricular.

— Está na escuta, Mellark? Ok, estou no mesmo ponto ainda. Precisa que eu vá busca-lo? Entendido, mas deixe pra polícia agora.

— O que houve?

— O bom e defensor dos inocentes acabou de impedir um assalto no beco perto de uma cafeteria na Livingston. Paylor havia dito para ele vir comigo, mas sabe como ele detesta ficar parado e disse que ia buscar um café pra nós e olha no que deu – diz Finnick jogando a cabeça para o lado e logo escutamos batidas na porta do veículo que estamos.

Gale puxa a porta lateral e um loiro alto, com um terno impecavelmente alinhado ao corpo e com um perfume extremamente enlouquecedor entra desajeitadamente na Van.

— Cara você não consegue ficar longe do perigo por um segundo? – inquere meu parceiro.

— Eu não podia ficar parado vendo a mulher com duas crianças sendo ameaçada com uma arma de fogo naquele beco fétido. – O agente parece estar com um inchaço incomum no olho direito e o nariz sangrando, e é nesse momento que seus olhos claros param em mim. – Você é nova na equipe, certo? – pergunta estendendo a mão e eu a seguro sentindo o aperto confiante.

— Sim, hoje é meu primeiro dia, sou Katniss Everdeen.

— Prazer, Peeta Mellark. – Ele me presenteia com um sorriso enviesado que me deixa trêmula por completo, minha habilidade de falar novamente parece ter sucumbido.

Acho que acabei de escutar pássaros cantando do lado de fora, pois o ser que estava a minha frente era dotado de uma beleza angelical e apesar da pouca claridade do local aonde nos encontrávamos, percebi que seus cabelos - muito bem penteados - eram loiros e seus olhos, bem acho que são azuis.

— Você está ferido? – Foi mais uma afirmação do que uma pergunta e ele não pestanejou em me assegurar que não era nada.

— Tome. – Finnick lhe entrega um estojo de primeiros-socorros e por força do hábito pego de suas mãos e aponto para ele sentar em uma cadeira.

— Moça eu estou bem.

— Eu sei que está, mas e se tiver quebrado esse nariz? – observo levantando seu queixo lindamente esculpido meio quadrado e de brinde uma covinha bem no centro.

— Quando quebra faz um estalo bem horrível e não foi isso que aconteceu quando fui atingido.

Começo meu trabalho embebedando algumas gases com soro e pressionando sob seu nariz.

— Mellark, me explica como conseguiu ser atingido? – pergunta Gale que estava até há pouco calado só observando a cena.

— O cara era um brutamontes, o que esperava?

— Bem, você é outro brutamontes então...

— Eu desarmei o cara e fiquei com medo dele atirar na mulher, mas logo pedi para ela se afastar.

— Ah, sim.

— Você tem mãos firmes e ao mesmo tempo delicada, onde aprendeu isso?

— Minha mãe era enfermeira e me ensinou algumas coisas.

— Entendo... e ela não é mais enfermeira?

— Ela morreu quando eu tinha treze anos.

— Sinto muito.

— Tudo bem.

— E nessa idade ela te ensinou como a fazer um curativo?

— Sim, desde que eu tinha onze ela já ensinava muitas coisas, mas aprendi a suturar antes dela ter recaída e nunca mais voltar do hospital.

— Me desculpe por ficar fazendo perguntas.

— Imagine, não teria como você adivinhar.

— As bonecas vão querer um chá pra acompanhar a conversa, ou iremos entrar nesse museu e averiguar se está tudo correto? – Gale com uma voz um pouco mais perturbada nos apressa.

— Pronto, agora é só colocarmos uma bolsa de gelo nesse olho e logo, logo estará novinho em folha.

— Obrigado moça, você já fez um ótimo trabalho aqui, mas não temos tempo pra isso, Gale tem razão temos que iniciar nosso trabalho aqui, pois o show começa às 18 horas.

Finnick me entrega um comunicador auricular e saímos do veículo sentindo a leve brisa do parque arborizado.

Sim, definitivamente os pássaros estavam cantando e a minha frente se encontrava o moreno de olhos cinzentos que só ficou mais bonito ainda com o passar dos anos, e o loiro de olhos da cor do céu que, eu corria o sério risco de estar mais do que encantada pela sua cortesia, coragem e charme.