A Chantagem
Parte 06
A sala principal daquela casa seguia o padrão dos demais cômodos, já não desconhecido para Kiba: um lugar austero, com decoração quase inexistente e móveis em tom neutro. A única coisa destoante no ambiente era um grande recipiente de vidro ocupando parte significativa da estante de madeira, que parecia estar cheio de areia, com vãos perceptíveis e arvorezinhas minúsculas em cima. Já tinha visto algo assim na televisão uma vez, era um formigueiro.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Perdeu um segundo tentando espiar, curioso. Mas nova ordem do dono da casa acabou com o súbito interesse em formigas.
— Sente-se.
Kiba obedeceu. Foi acomodar-se no confortável estofado, mas antes tirou a mochila das costas e a colocou sobre o colo, mantendo-a meio abraçada. Atento para qualquer movimento estranho em que precisasse usá-la como arma e correr pra fora da casa.
Aburame Shino continuou de pé, olhando o garoto de cima, dando a impressão de avaliar a situação.
— O que você quer? — Kiba não aguentou o silêncio por mais tempo.
— Quero que devolva o que me roubou.
A acusação confundiu o outro.
— Mas eu não roubei nada! — franziu as sobrancelhas sem entender a exigência.
Em resposta, Aburame pegou o celular do bolso da calça e desbloqueou a tela. Tocou duas ou três vezes, atrás de um arquivo. Então aproximou-se da mesinha de centro e colocou o aparelho sobre o tampo, deslizando-o em direção ao garoto.
— Então explique isso.
Kiba pegou o telefone e descobriu um vídeo pausado. Se reconheceu na imagem sem chance de equívoco. Preocupado; mas um tanto curioso, tocou no play e deu vida à gravação.
Não havia som. Assombrando, viu-se agachado mexendo numa das gavetas da cômoda. Então o Kiba da gravação parou de procurar nas roupas e levou a mão ao bolso. Pelo angulo da câmera, quem assistia tinha a nítida impressão de que enfiava algo no bolso da bermuda!
— E-está enganado! — gaguejou sentindo um frio na barriga — Eu não roubei nada!
— Então o dinheiro sumiu por mágica...? — Aburame cruzou os braços. Dava a impressão de indiferença, mas tal postura não enganou Kiba nem por um segundo.
— Como é que eu vou saber?! — um misto de sentimentos o inundou. Não pensou que seria chamado ali pra ser acusado de roubar! Estava esperando só a acusação por invasão...
— Então vamos deixar o juiz decidir isso.
— E eu vou contar que você estava chantageando minha amiga com propostas obscenas! Você será preso como um depravado virtual!
O dono da casa, por fim, sentou-se no sofá do outro lado e cruzou as pernas. A postura confiante colocou Kiba imediatamente na defensiva.
— É a sua palavra contra a minha gravação. Qual você acha que vale mais? — deu uma breve pausa — Ou tem alguma prova de que eu fiz qualquer coisa contra essa sua amiga?
A pergunta fez Kiba hesitar. Se tinha alguma prova? Não exatamente. Era a palavra de Hinata (em quem confiava cegamente), talvez alguns prints da conversa dela com o perfil do depravado. Não sabia se Aburame Shino usava o perfil real ou um fake. Era mais provável que fosse a segunda opção, que ele se escondesse atrás de um nick inexistente. E tanta confiança na postura só poderia indicar que ele apagou o rastro e seria difícil ligá-lo à chantagem feita contra Hinata.
— Eu não roubei nada! — repetiu, colocando o celular sobre a mesinha de centro. Se continuasse com aquilo na mão era bem capaz de jogar na cara do homem — Se é dinheiro que você quer, me diz quanto foi e eu dou um jeito de arrumar! É um chantagista mesmo!
— Chantagista? E você é o quê? Um ladrão?
— Já disse que não peguei nem um centavo! Não sou ladrão! — o medo de ser assassinado, a essa altura, já havia desaparecido por completo. O que sobrepujava era a irritação por estar sendo acusado de um crime que sequer cometeu!
— Repito: é a sua palavra contra o meu vídeo.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Tá, entendi. Não sou tão burro assim, você quer me extorquir dinheiro! E quanto é que você quer que eu pague?
O homem saboreou o momento por um instante. Kiba remexeu-se inquieto, segurando a mochila com força para evitar acertá-la na cabeça do dono da casa.
— Quinhentos mil dólares.
Tempo deu a impressão de parar.
— Q-quinhentos mil dólares?! — aquilo soava como tanto dinheiro, que a mente do pobre garoto não conseguiu calcular. Porém, em seguida, caiu em si sobre o disparate da acusação — Não tem condições de enfiar esses dinheiros no bolso!! — esbravejou — Só se eu fosse um ninja! Você é louco o quê?!
Juiz nenhum no mundo acreditaria naquela mentira.
Mas, para receio de Kiba, Aburame suspirou.
— Não falo de dinheiro em espécie. O que sumiu foi Bitcoin — explicou.
— E que porra é Bitcoin?
— Um tipo monetário. Eu tinha um cartão com quinhentos mil créditos virtuais convertidos em dólares. Vale exatamente o mesmo que dinheiro real, e pode ser usada em qualquer transação na internet.
Kiba já tinha ouvido falar daquilo, claro. Não se lembrava que o nome era “Bitcoin”, porque nunca tinha dinheiro real... quem dirá dinheiro virtual...? E... aquela grana toda estava em um cartão?!!
Sentiu o rosto ficar lívido, enquanto relembrava a gravação. Com essa nova informação, a cena mudava totalmente de figura! Acreditar que ele enfiou um cartão no bolso seria plausível. Nada absurdo, pelo contrário.
— Porra, cara. Não fode... eu juro que nem sabia disso — passou a mão pelos cabelos bagunçados, em desespero — Convertendo pra iene da quanto?
— Alguns milhões — Aburame respondeu como se não fosse nada.
— Milhões?! — Kiba saltou do sofá, transtornado, a mochila quase caiu no chão. Ele mal tinha trocados o suficiente pra pagar o ônibus!
— Imagino que não tenha como devolver. Espere a visita do meu advogado, até lá pode ir imaginando o que fazem com ladrõezinhos como você na cadeia...
Na cadeia? Na cadeia??? Pois cadeia era a última das preocupações de Kiba. Sequer conseguia imaginar o que Tsume ia fazer quando descobrisse que o filho era acusado de invasão e roubo. E que supostamente surrupiara quinhentos mil dólares! Aí sim seria morto, lenta e dolorosamente. Se a mãe prezava algo na vida, era a dignidade e a predominância dos valores. A mulher sempre falava com orgulho sobre como criara bem a ambos os filhos.
E lidar com tal acusação destruiria seu futuro. Poderia dizer adeus a qualquer faculdade, à carreira como policial. Nunca seria detetive e jamais faria da sociedade um lugar melhor, salvando vítimas e prendendo bandidos de verdade.
Seria o fim da sua vida.
Sem forças, voltou a sentar no sofá. Abraçado a mochila de um jeito diferente do anterior. Antes, a usaria como arma de defesa. Agora estava mais para um pedaço de madeira que o salvava de afundar de vez.
A mente era um mar branco de confusão, incapaz de encontrar solução para o problema em que se envolvera.
Até ouvir a voz de Aburame Shino ecoar cheia de confiança, embora completamente fria.
— A não ser que me divirta um pouco.
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