O grupo logo chegou ao que parecia ser uma colina do outro lado do vasto campo. Os irmãos Pevensie fizeram uma pausa para absorver a paisagem e seguiram em frente. Ao chegar lá, um grupo de centauros se alinhou ao caminho de pedra que levava à colina e, à medida que os reis e rainhas se aproximavam, eles desembanhavam as suas espadas, erguendo-as em seguida. A realeza se sentiu confiante e amada por seu povo, prosseguindo em frente, enquanto Caspian e Lottie ficavam pra trás. O príncipe ainda não se achava digno do amor e afeição de seu povo, assim como Charlotte não se sentia pertencente aquele lugar. Charlotte sorriu compadecidamente para Caspian que retribuiu dissipando a tensão em sua face. Eles ouviram alguns anões cochicharem e quando voltaram a olhar para o caminho, viram Edmund correndo em sua direção.

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— Ed, o que faz aqui? O seu lugar é com a realeza. - ela disse confusa.

— Não posso seguir sabendo que está aqui atrás. - ele puxou-a pela mão e a guiou.

— Obrigada. Significa muito. - agradeceu ruborizada.

Eles seguiram pelo caminho de mãos dadas sem se importar com os olhares, só aproveitavam a companhia um do outro. Os narnianos observaram a cena e constataram que em breve teriam uma nova rainha.

Ao adentrar, viram alguns narnianos fundindo e moldando ferro para construir armas. Era um ambiente escuro, porém iluminado por tochas dispostas nas paredes rochosas.

— Não é o que estamos acostumados, mas é defensável. - Caspian pontuou.

— Vossa Majestade! - um fauno chamou. - Precisam ver isto.

Ele trouxe consigo uma garota humana, cujo rosto estava coberto por um pano negro. Ela se contorcia e gritava para libertá-la.

— Tirem o pano! - Pedro ordenou.

Ao realizar a tarefa, todos ficaram extremamente confusos quando viram o rosto da garota. Ela tinha cabelos loiros longos, olhos azuis, lábios rosados e cheios. Em resumo, era igual a Charlotte.

— Como isso pode ser possível? - Lottie indagou sem fôlego.

A garota encontrada olhou bem para Charlotte e ficou espantada, não crendo no que os seus próprios olhos testemunhavam.

— Quem é você? - Edmund perguntou chocado.

— Me chamo Leah. Vim trazer informações do meu tio para vocês, mas este... animal estranho pensou que eu fosse uma espia de Miraz e me prendeu.

— Quem é o seu tio? - Susana indagou.

— O professor. - ela respondeu olhando para Caspian.

— Que tipo de informações você veio trazer? - Pedro perguntou desconfiado.

— Ele disse para não subestimar Miraz como fez o seu pai. - ela mirou Caspian. - Muitos já morreram por causa daquele trono.

— O que? Miraz assassinou o meu pai? - Caspian indagou desolado.

— Sinto muito.

Caspian saiu em direção a qualquer lugar sem saber o que pensar. Susana foi atrás do garoto. Enquanto isso, Pedro perguntou à informante:

— Por que se arriscaria tanto para dizer essas simples palavras?

— Porque preciso da ajuda de vocês...Miraz tem meu tio como prisioneiro.

— Como saberei que não é realmente uma espia?

— Não saberá.Terá que confiar em mim. - retrucou firmemente.

Por algum motivo, Pedro acreditava na garota, algo em seus olhos lhe dizia isto. Ele chegou perto da garota e a ergueu do chão, sem desviar o olhar de seus olhos assim como Leah o devolvia intensamente.

— Vamos ajudá-la...mas se você nos trair, não irei lhe defender dos narnianos.

— Aceito o desafio.

Eles se encararam por mais alguns longos segundos e Pedro finalmente a soltou.

— Tragam-lhe roupas e a alimentem. Temos uma nova aliada. - ele ordenou.

— Venha, Leah. Vou te emprestar algumas roupas de quando eu era adulta. - Lúcia disse, tirando o sorriso de alguns presentes.

— Fique de olho nela. - Pedro ordenou ao fauno.

— Sim, Majestade.

Lúcia emprestou um vestido verde escuro à moça. Era bastante parecido com o que Lottie usava, porém um pouco mais decotado já que esta tinha maior volume nesta área. A pequena observou Charlotte chegar no local onde estavam e ainda achava assustadora a semelhança entre as duas.

— Você está bonita.

— Obrigada... se bem que o elogio é reflexivo. - ela sorriu.

— Como podemos ser tão parecidas? Nem somos do mesmo mundo! - pontuou chegando perto de Leah.

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— Eu não sei, mas conheço alguém que talvez saiba.

— O professor. - Lúcia concluiu.

— Exatamente. Precisamos resgatá-lo.

— E nós vamos!... não liga para o que o Pedro disse, ele está passando por um momento complicado. - Lúcia confessou.

— Tudo bem, eu sei quem sou, não será um garoto que me fará duvidar disso, mesmo que ele seja o Grande Rei de Nárnia.

— Garotas, Pedro está as chamando. - Edmund apareceu.

— Estamos indo. - Lottie informou.

Elas seguiram Edmund que passou um braço pela cintura de Charlotte. Ao chegarem no pátio principal, todos ouviam Pedro falar. Lottie especulou que um telmarino havia espiado o local de refúgio dos narnianos, deste modo era só questão de tempo para eles atacarem.

— As tropas de Miraz estão a caminho. Isto significa que não há proteção no castelo.

— O que sugere, Majestade? - Ripchip perguntou.

— Precisamos estar prontos...

— Começar a planejar...

Pedro e Caspian disseram ao mesmo tempo, fazendo todos pensarem que haveria outra discussão entre eles.

— A nossa única esperança é atacar antes que nos ataquem. - Pedro proferiu.

— Isto é loucura! Ninguém atacou o castelo. - Caspian retrucou.

— Sempre há uma primeira vez.

—Teremos o fator surpresa. - Trumpnik disse.

— Mas temos maior vantagem aqui! - Leah saiu em defesa de Caspian.

Pedro olhou rudemente para a garota nova e disse:

— Desculpe, mas ainda não confiamos em você o suficiente para lhe ouvir.

— Caspian está certo! Se ficarmos aqui e nos prepararmos, podemos vencê-los indefinidamente. - Susan pontuou.

— Eu sou um que se sente melhor estando debaixo da terra. - um texugo disse.

— Olha, eu aprecio o que fez aqui. - Pedro começou. - Mas isto não é uma fortaleza, é um túmulo.

— Sim, se eles forem espertos, esperarão até morrermos de fome. - Edmund defendeu o ponto de vista do irmão.

— Podemos pegar nozes! - um esquilo sugeriu.

— Sim! Depois as jogaremos nos telmarinos! - Ripchip retrucou ironicamente. - Cale a boca!...o senhor sabe a minha opinião a este respeito, Majestade.

Pedro procurou por argumentos para defender o seu ponto. Leah havia ouvido histórias sobre o grande rei Pedro, que ele havia lutado bravamente para defender o seu povo, porém naquele momento parecia mais um tirano tentando impor as suas vontades. Ela já havia estado no castelo, não tinha sentido atacar a fortaleza com o número de narnianos que sobraram. Leah torcia para que, pelo menos, o seu tio saísse vivo desta. Pedro olhou para o líder dos centauros e perguntou:

— Se eu colocar as suas tropas lá dentro, acha que conseguem deter os guardas?

— Ou morreremos tentando, Majestade.

— É isso que me preocupa. - Lúcia confessou.

— Como? - Pedro indagou confuso.

— Estão agindo como se houvesse apenas duas opções: morrer aqui ou morrer lá.

— Lúcia...

— Ou você se esqueceu quem realmente derrotou a Feiticeira Branca, Pedro!

— Já esperamos tempo demais por Aslan.

Pedro deixou o cômodo do túmulo quase esbarrando em Leah.