Um minuto para o fim do mundo... O que eu fiz até agora? Eu não me formei, não passei na faculdade, não ingressei numa carreira de sucesso como médico ou
engenheiro. Não comprei uma casa, não me casei ou tive filhos. Não fiz nenhuma dessas coisas que a sociedade diz ser tão importante.

Mais uma mulher esbarra em mim com força, cambaleando, desesperada. Para todos os lados pessoas gritam sem parar. Um grande evento está prestes a chegar ao seu ápice; nós somos a plateia.

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49 segundos para o fim do mundo.

Eu não conheci a garota dos meus sonhos. Não fiz teatro. Não beijei na chuva. Não vi meu time ganhar a final. Nunca disse a minha mãe que eu gosto de garotos também. Não beijei muitas bocas, nem conheci muitas pessoas para que tivesse a chance de beijá-las. Não fiz sexo em grupo. Não andei de mãos dadas. Não fiz um coração numa árvore. Não amei a pessoa que mais me amou, tampouco deixei que as que eu amei soubessem disso.

Outra explosão. Consigo ver um prédio se transformar em destroços, o terceiro
ou quarto desde que cheguei; a fumaça se misturando à poeira.


34 segundos para o fim do mundo.

Não fui um super-herói, não fui um super espião, muito menos um pirata. Não lutei pelos direitos dos animais, parei de comer carne ou doei sangue... Nunca fiz essas coisas que eu sempre disse que faria. Não deixei nenhuma contribuição para a sociedade. Nunca comi bolo de cenoura com chocolate. Não vivi uma louca história de
amor, nem fui ao show da minha banda favorita. Não li todos os livros da minha estante ou assisti a todos os filmes que estavam na minha lista. Eu nem sequer cumpri aquela promessa de dedinho com o meu melhor amigo.

Um homem cai com a filha que levava nos braços. Ele grita, pedindo socorro, e chora de dor por causa da perna que sangrava. Eu fico observando, estático, enquanto as outras pessoas passam correndo por cima dos dois.


22 segundos para o fim do mundo.

Nunca ganhei uma canção com o meu nome. Não enchi a cara. Não morei em outro país. Não aprendi a tocar violão e nem fui a Vegas. Não fiz uma tatuagem. Não fugi de casa. Não ganhei na loteria. Não pintei meu cabelo de azul. Não fui o melhor da turma. Eu nunca perdoei de verdade as pessoas que me machucaram. Tantas vezes eu não fiz o que queria por medo do que os outros podiam pensar.

Um clarão surge no céu e eu paro de enxergar por alguns segundos, esfregando os olhos desesperadamente até que tudo voltasse ao normal.


13 segundos para o fim do mundo.

Não descobri o que queria fazer da vida, não fiz as coisas que eu realmente queria fazer. Eu não tinha tempo. Deus, eu nunca tive tempo para nada. E a troco de quê? Eu sempre tive medo de perder meus amigos e minha família, de ficar sozinho. Eu estou com medo agora, e nunca me senti tão sozinho. Mais do que medo, eu sinto que tive uma vida, mas que não a vivi. Fora algo tão superficial quanto o vento da praia que bate na pele e contorna meu corpo. E essa angústia, que decide me atormentar justo agora, é como um buraco negro no meu peito que me consome de dentro para fora.

Um vazio.

Tantos rostos passaram por mim nesse curto período de tempo, e eu me sinto mal por não conhecer nenhum, não saber seus nomes, seus medos, seus amores, absolutamente nada sobre nenhum deles. Me sinto mal por não conseguir enxergá-los através dos rostos assustados e, principalmente, por não possuir laços com eles que me permitam ficar abalado com o fim de suas vidas.

No fim das contas é vida é algo que nunca começa realmente. Eu nem sei qual o propósito de tudo isso, ou talvez não compreendesse até agora que a vida, tudo que a compõe, não carrega nenhum significado realmente. Eu vejo isso nitidamente agora. Ergo minha mão, posso sentir-la aquecer levemente, como se estivesse perto de uma lareira. Deve faltar 3 segundos apenas. Eu não posso voltar o ponteiro do relógio, não posso fazer um “Play again” da minha vida inteira. Tudo que eu desejo, e posso dizer que é meu desejo mais puro, já que não tenho tempo, é que os

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