As férias estavam passando como eu previ. Muitos filmes, muitos lanches, muitas dormidas até tarde, caminhadas, sorvetes, churros, quermesses de festa junina e tudo o que a época tem de bom para oferecer. Apesar de tudo estar ótimo, eu estava sentindo muita falta da escola e do pessoal. Não via a hora de voltar para o litoral. Era nesses momentos que eu pensava como lidaria com o final do ensino médio. Eu teria que colocar todo mundo na mala e trazer pra cá.

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Felizmente os últimos dias passaram rápido e quando percebi, era segunda-feira e eu estava arrumando minha mala. Pegaríamos o ônibus na terça de manhã, então eu queria deixar tudo pronto o mais rápido possível.

Eu estava animada com o novo semestre. Sentia que coisas boas viriam e nós começaríamos com tudo.

Não consegui dormir muito bem de noite. Consegui pegar no sono pra lá das três horas e acordei as sete. Me arrastei para fora da cama, ainda sentindo o ar gelado do meio do inverno e já me troquei, colocando três blusas, duas calças e meias, uma touca e botinas. Se aqui estava frio, nem queria imaginar como estaria lá na escola.

Fui tomar café na companhia da Caju e do Batata, mesmo que eu tivesse dito para eles continuarem em suas camas quentinhas. Pelo menos eles estavam de roupinhas, coisa mais fofa. Minha mãe acordou e veio comer comigo, reclamando do frio e agradecendo que não morava perto da praia. Depois, veio meu pai, Ana e Camila, que pegou alguns dias de folga para ficar com a gente. No final, todo mundo acordou cedo e passou frio para ficar mais alguns momentos comigo.

Uma hora depois, minhas coisas estavam no carro, eu estava me despedindo das minhas irmãs e dos pais do Bebê, e meus pais nos levaram até o terminal. Nos despedimos, guardamos as malas e subimos no ônibus de viagem, apenas querendo nos enfiar em algum lugar quentinho.

Consegui cochilar durante a viagem, mas mesmo assim cheguei cansada em Bertioga. Pegamos um táxi e, finalmente, chegamos na escola. Eu quase beijei as paredes da secretaria enquanto esperava Bebê assinar a lista depois de mim, mas me segurei porque seria vergonhoso e estranho. Assim que seguimos para o próximo prédio, o cheirinho típico de café e pães no forno invadiu minhas narinas e eu senti a nostalgia que provavelmente sempre sentiria depois de voltar das férias.

— Se eu não tivesse comido, ia comer agora — disse Bebê olhando para a cantina, andando. — Seria muita gulodice.

— Talvez, mas uma vez só não tem problema... O Carlos já chegou?

— Acho que não. Até vou avisar que estamos aqui... — E pegou o celular, começando a digitar uma mensagem.

— Deve estar morrendo de saudade. — Enchi seu saco e ele me ignorou.

— É uma pena que eu não possa te zoar também, mas daqui a pouco você arranja outro carinha, e aí você vai ver.

— Ah, tá bom. — Dei risada, soando sarcástica.

— Vou falar pro Carlos te apresentar alguns amigos.

— Sai fora, não inventa. Eu não quero conhecer ninguém e nem arranjar ninguém. Tô ótima assim.

— Me engana que eu gosto. — Ele riu, guardando o celular.

Cada um seguiu para seu dormitório. Achei minha chave pendurada na fechadura da porta do meu quarto e a virei, destrancando, e entrei, vendo tudo em seu devido lugar. Sorri, sentindo a saudade me invadir.

Puxei a mala para perto da cama e já comecei a arrumar minhas coisas, pensando quando Lili chegaria. Estava com muita saudade daquela menina, assim como dos meninos também. Não via a hora de agarrar eles e demorar para soltar, igual carrapato.

— Bru! — Dei um pulinho no lugar e me virei, notando Bia na porta do quarto. Eu sorri, feliz por vê-la.

Ela entrou e veio me abraçar. — Que bom que você chegou! Eu quero muito te mostrar uma coisa!

— O quê?! — Fiquei totalmente curiosa com seu tom.

— A professora me avisou que os trajes para a peça chegaram! Eu quero muito ver e você tem que ir comigo!

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— Ai meu Deus, eu vou sim! — Larguei as coisas lá e eu tranquei a porta do quarto.

— O James já chegou? Eu quero muito que ele experimente as roupas do Aloys!

— Ainda não. Nem sei que horas ele vai chegar.

— Tudo bem, depois vamos procurar por ele.

Descemos praticamente correndo e assim que saímos do prédio, quase esbarramos na Lili. Nos abraçamos apertado e Bia também a cumprimentou, muito animada.

— Lili, a gente vai ver as roupas da peça que chegaram, vem também!

— Opa, claro. Onde? No teatro?

— Sim.

— Tá, eu vou só guardar as minhas coisas e eu vou lá.

— Sabe se o James chegou?

— Sim, nós entramos juntos até. Quer que eu mande mensagem para ele ir também?

— Sim, por favor.

— Ok, daqui a pouco aparecemos lá.

Andamos rapidamente para o anfiteatro e entramos, já que a porta estava destrancada. As luzes estavam acesas e ouvimos conversas vindas de trás das cortinas. Descemos e fomos até lá, encontrando as professoras Eduarda e Aline, tirando peças de roupas de caixas grandes e pendurando em cabides no suporte de ferro.

— Nossa, você foi rápida. — Eduarda riu, falando para Bia.

— Professora, você tem noção de como eu estou animada?! — Ela se aproximou dos cabides e foi pegando peça por peça para olhar. — Isso é um sonho. O próximo passo será o filme. — Nós rimos.

— Primeiro você precisa publicar o livro, aí vem o filme — comentou Aline.

— É, verdade. Bem lembrado... Aqui, Bru, a roupa da Amice! — Eu me aproximei, pegando o vestido pendurado no cabide. Era azul claro, com a gola quase até o pescoço, mangas compridas e longo.

— É bonito. Posso provar?

— Óbvio!

Tomada pela animação de Bia, corri para o vestiário e me troquei, notando que a barra do vestido arrastava no chão. Teríamos que fazer alguns ajustes. Me olhei no espelho e já me imaginei atuando no palco. Já estava ansiosa para ver James com as roupas de Aloys. Saí do vestiário, animada para mostrar como tinha ficado, e vi James falando com Bia próximos às roupas.

Corri até ele praticamente me joguei, lhe dando um abraço desajeitado. — Vai se trocar logo! Temos que fazer parzinho!

— Calma, menina. — Ele riu na minha orelha. — Eu vou experimentar as roupas, respira fundo.

— Eu sei, eu sei, mas olha só! — Me afastei para que ele e Bia vissem a roupa. — Ficou ótimo, mas acho que vai ter que arrumar a barra.

— Não precisa, é assim mesmo. Você acha que naquela época, eles tinham dinheiro pra comprar roupas sempre? Elas tinham que durar pelo menos vinte anos — comentou ela rindo.

James sorriu e me observou. — Não vai cumprimentar os outros, não, sua mal-educada?

Fiquei sem entender e desviei o olhar para o grupinho mais à nossa direita, vendo as professoras, Lili e...

Pisquei duas vezes para ter certeza de que eu não estava vendo miragens. Comecei a sentir a minha pulsação acelerar e minha boca abrir em total surpresa, sem que eu pudesse impedir. Meus pés congelaram no chão. Tudo o que eu achei que sentiria, estava sentindo, só que com uma força trezentas vezes maior.

Yan sorriu, dando um passo à frente em minha direção e eu me forcei a andar para frente. Nos abraçamos no meio do caminho e aí eu sorri, totalmente chocada e sem acreditar que aquilo realmente estava acontecendo. Enfiei o rosto entre seu pescoço e meu braço e senti os olhos marejando. Suspirei, inalando seu perfume que eu já havia esquecido sem me dar conta.

Seus braços me apertaram, como se quisesse matar a saudade toda de uma vez. Eu nunca imaginei que voltaria a abraçá-lo, não tão logo, pelo menos. Mesmo sentindo seu corpo, seu perfume, ainda não estava acreditando. Eu nem sabia o que dizer, mesmo que tivesse milhões de perguntas em algum canto da minha mente. Eu não queria soltá-lo.

Será que ele estava apenas de passagem? Veio fazer uma visita para Gabriel? E resolveu vir ver a escola para matar a saudade?

De repente, percebi o silêncio que estava naquele ambiente e me lembrei de que todos deviam estar nos observando. Funguei, tentando secar as lágrimas que escaparam com a manga do vestido e o soltei, querendo ver seu rosto.

Ele continuava com a carinha de bebê, porém, parecia mais maduro. Mas era o Yan que eu conhecia, inclusive com os cachinhos escuros começando a formar em volta do rosto. Provavelmente ele tinha crescido, seus ombros estavam mais largos, o maxilar um pouco mais marcado, e as covinhas continuavam ali, encantando qualquer um que as visse.

— Oi — disse ele rindo, como se tivéssemos acabado de nos esbarrar.

— Oi... — respondi, meio abobada, e resolvi olhar ao redor, confirmando que todos estavam mesmo nos encarando. Até que vi Gabriel, que acenou e eu retribuí. Voltei a observar Yan. — Resolveu vir nos visitar no final das férias?

— Hm... Quase isso. São férias prolongas pelo menos até ano que vem.

Como é?! — Espera, então... você vai ficar...?

Seu sorriso se alargou. — Vou. Fiquei sabendo do curso de vestibular que começou a ter aqui e eu pensei... Por que não?

— E sua mãe? Ela melhorou?

— Sim, melhorou.

— Que ótimo! Nossa, eu estou tão feliz em saber disso! — Mal parecia, meses atrás, que eu o vi triste na varanda da biblioteca, quando me disse sobre sua mãe... Era tão bom saber que ela tinha melhorado.

— É, eu também estou muito feliz. Depois desse rolo todo, quando recebemos a notícia de que o câncer tinha sumido por completo, minha mãe quis se mudar para cá.

— Vocês estão morando aqui?

— Sim. Nos mudamos faz menos de um mês. Assim que acabaram as minhas aulas, nós viemos.

— Caramba... Que incrível.

— Muito... — E, pela primeira, Yan olhou ao redor, como se sentisse que atrapalhava algo. — Acho que atrapalhei o desfile de vocês.

— Imagina, é bom ver vocês juntos de novo — comentou Eduarda, sorrindo para nós ao chegar perto. — E eu fico mais feliz ainda por você ter voltado.

— Obrigado, professora. — Ele sorriu, contente. — É muito bom voltar.

— Como eu estou? — Nos viramos, vendo James com as roupas de Aloys: blusão branco, calças marrons acima das canelas e descalço.

— Ficou ótimo! — Bia deu pulinhos no lugar. — Só falta bagunçar esse seu cabelo.

— Mais ainda? — Lili deu risada, também nos fazendo rir.

— Ei, meu cabelo não é bagunçado — protestou James fazendo um bico para ela. — Isso é charme.

— Vem, deixa eu tirar uma foto de vocês! — Bia tirou seu celular do bolso de trás da calça, fazendo sinal para que eu fosse até lá. Fiquei ao lado de James e ela tirou algumas fotos, totalmente extasiada. — Ai, meus nenéns estão aqui, em pessoa.

— Tá faltando o livro — comentou James — pra foto ficar completa.

— Verdade, mas ainda não temos um livro perfeito. Mas acho que logo, logo arranjamos um. Tudo bem, vocês estão liberados, por enquanto.

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— Vamos nos trocar, aí você pode conversar direito com o Yan. — James me deu uma cotovelada no braço, de leve, enquanto íamos para o vestiário.

— Eu não estou acreditando ainda...

— Imagino. A sua cara foi engraçada quando viu ele.

— Besta. — Devolvi a cutucada e entrei na sala.

Me troquei rapidamente e voltei, deixando o vestido com Bia e indo para perto do grupo. Abracei Gabriel, feliz por vê-lo. Eu estava muito ansiosa para conversar com Yan, quase pulando no lugar.

Sem esperar alguma reação, ele me olhou e indicou com a cabeça, querendo que saíssemos. Concordei e nós dois seguimos sozinhos para o jardim, sem sermos seguidos.

Como fazia tempo que não sentia meu coração martelar daquele jeito. Não tinha noção de como sentia falta dessa sensação, e com ele ao meu lado, eu me lembrava de cada mínima reação que meu corpo tinha. Era muita saudade para uma pessoa só.