Maria, dama felina.

Ela, Maria.


Cá estou eu novamente, pendurada no peitoril da janela, escondida atrás das cortinas, apenas esperando para vê-la passar.

Eu a chamo 'Felina', mesmo sabendo que seu nome é Maria.

Ela sobe a rua com passos lentos, o cigarro que pende entre os dedos, arranca alguns murmúrios descontentes das finas damas perfumadas que passam ao seu lado e a única reação que conseguem, é um riso torto que causa um estremecimento em minhas pernas.

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Suas unhas sempre vermelhas, assim como os lábios carnudos que se abrem num meio sorriso a cada tragada e todas as vezes que isso acontece, repito a mim mesma que aquela dama é sem dúvida nenhuma a mais bela serendipidade* que a vida me trouxe.

Como todos os dias, três besantes* e outro maço de cigarros é comprado, colocado cuidadosamente dentro da bolsa de mão e eu seria capaz de descrever seus próximos passos, com os olhos fechados. A ida rápida até a padaria, a parada quase obrigatória a fim de admirar na vitrine o casaco de peles tão desejado e então o caminho refeito para a casa na rua debaixo.

Eis que nesse dia, justamente quando prega-se pelas bruxas soltas, a dama Felina muda seu caminho. Traça passos elegantes até estar embaixo da minha janela e quando penso que meus olhos me pregam uma peça, ela se vira para mim e sinaliza para que eu desça.

Felina caçadora, que se finge de presa.

Uma sopesa* obscura, devo eu esconder-me em meio as cortinas ou cumprir sua vontade?

Abro a porta com as bochechas coradas e a respiração falha. Maria me olha, com seu meio sorriso e então cola seus lábios aos meus, com sofreguidão.

—Não se cansa de apenas olhar? - Pergunta-me, antes de virar as costas e ir embora, refazendo seu caminho.

Maria, dama Felina.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.