O véu entre os mundos havia arrefecido. Esta era a única noite do ano em que isto ocorria, e, portanto, a mais propícia. Sabia que o que fazia o tornaria um anátema entre todos se funcionasse (ao menos, entre os que acreditavam no pós-vida): ninguém em sã consciência deveria mexer com o outro mundo – aos mortos, reservava-se o descanso. Ele, contudo, nunca estaria em paz se não fosse adiante.

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Apesar de decidido, a inexperiência atrapalhava. As mãos tremiam enquanto prosseguia com os preparativos: velas, incensos, glifos e, por fim, os cânticos. Sua voz falhava enquanto os entoava, num latim capenga aprendido em um semestre da faculdade.

Esperava que o resultado fosse conspícuo mas, em vez disso, apenas o vento e o farfalhar das folhas o responderam. Talvez tivessem razão. Talvez devesse ter encarado como brincadeira, ido às festas típicas da data e se divertido sem levar esta baboseira ocultista a sério. Ao invés disso, estava nos recônditos do parque municipal, sem nada nem ninguém por perto.

Fechou o livro, passando os pés no chão e apagando os sinais que fizera. As velas foram para o lixo, enquanto deixava o vento levar a cinza dos incensos queimados. Nenhum vestígio de suas ações sobreviveria até a manhã seguinte.

Voltou ao seu apartamento no centro da cidade. Na TV, filmes de terror, enquanto embotava a mente com garrafas de cerveja, tentando esquecer do quanto fora estúpido. Ao deitar, ainda ouvia os murmúrios da cidade.

Sequer revirou-se na cama: não havia nada a temer ou considerar. Ao menos, até sentir em meio do seu sono a pressão sobre o peito, e os braços a lhe enlaçar, ou ao não conseguir gritar ou sequer respirar quando algo vindo das sombras tapou sua boca e sussurrou em seus ouvidos.

— Eu respondi ao seu chamado. Não era o que queria?

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.