— Eu não me lembro desse caminho.- Susana comentou e Pedro riu com ironia.

— Esse é o problema das garotas, não conseguem guardar um mapa na cabeça.- Lucy o fuzilou com os olhos.

— Claro, porque nós temos algo dentro delas.- rolou os olhos me fazendo rir baixo.

— Que engraçadinha.- Pedro falou irónico e subiu em uma pedra.- Eu não estou perdido. Você disse que viu o príncipe Caspian no Bosque Trêmulo e esse é o caminho mais curto para chegar lá.- olhou para o NCA, apelido que Lucy e Susana criaram para o homenzinho.

— Não, você só está indo pelo caminho errado.- o NCA comentou subindo em outra pedra.

— Eu sei exatamente o que estou fazendo, se tem alguém aqui errado, é você.- Pedro rolou os olhos. Passámos por uma abertura nas rochas, seguindo por uma trilha rodeada de árvores até...um precipício, e bem no fundo deste, um rio corria velozmente.

— Sabe, com a erosão...

— Cala a boca, Susana.- Pedro bufou.- Mas eu não estava perdido!

— Tem algum jeito de descer?- Edmundo perguntou ao anão.

— Aham. Caindo.- falou entediado.- Tem uma passagem por Beruna. O que acham de ir a nado?

— Prefiro nadar a andar, com certeza.- Su comentou. Fiquei parada encarando o outro lado, quando notei olhos amarelos com fendas negras que pertenciam a um leão...mas não me parecia um leão qualquer.

— Aslam?- Lucy perguntou surpresa. Arregalei os olhos, eu não tinha sido a única a vê-lo. Lucy tinha um enorme sorriso no rosto e se virou para os irmãos que encararam incrédulos.- É o Aslam, olhem!- mas ao voltar o olhar para o outro lado, ele já não se encontrava lá e o seu sorriso morreu.- Você o viu, Mary?- me perguntou.

— Para ser sincera, sim.- falei para os meus primos.

— Ele queria que o seguíssemos.- Lucy continuou, mas ninguém parecia acreditar na pequena ou em mim.

— É cheio de leões nesse bosque, Lu...vocês podem ter visto qualquer um.- Pedro falou com cuidado.

— Eu reconheço o Aslam quando o vejo!- Lucy falou irritada.

— Eu não vou me atirar de um penhasco por alguém que não existe!- o anão resmungou cético.

— A última vez que eu não acreditei na Lu, acabei por fazer papel de idiota.- Ed nos apoiou.

— Então porque nós não o vimos Lu? Porque só você e Mary o viram?- Pedro perguntou.

— Talvez não estivesse olhando.- comentei dando de ombros. Eu sabia muito bem o que tinha visto e não era um leão comum, se ele não acreditava, problema dele.

— Sinto muito Lu.- Pedro tomou a sua decisão. Coloquei as mãos nos ombros de Lucy que olhou para onde Aslam estava.

— Eu o vi...sei que o vi...- murmurou.

— Acredito em você querida.- sorri para ela.

— Obrigada Mary.- agradeceu voltando a andar pela trilha, troquei um olhar com Ed.

— Talvez Aslam quisesse dizer alguma coisa e só vocês perceberam.- Ed falou caminhando ao meu lado.

— Mas porquê eu? Eu nunca estive aqui...pelo menos acho que não.- falei.

— O que quer dizer com isso?- perguntou curioso.

— Eu sonhava com este lugar quando era pequena. Com Aslam e um reino belo que ficou gelado. Sempre que tento lembrar, a minha cabeça dói. Parece um déja vu.- contei.

— Isso é estranho.- murmurou e eu concordei com um suspiro. Chegámos a um local aberto onde havia homens a trabalhar e cavalos a relinchar, nos abaixámos atrás de alguns troncos de madeira. De longe pude ver um homem com uma barba pontuda no queixo e de vestes negras, encarava tudo como se fosse dono do mundo.

— Aquele é Miraz.- o anão falou baixo. Nos embrenhámos na floresta quando Miraz se afastou.

— Devíamos ter ido pelo outro caminho.- Su comentou.

— Eu falei que não estávamos perdidos.- Pedro rolara os olhos quando voltámos ao local onde eu e Lucy vimos Aslam.- Lucy, onde você acha que viu Aslam?

— Quer parar de falar como se fosse um adulto?- caminhou até parar na berma.- Eu o vi bem...aqui AH!- gritou quando caiu.

— Lucy!- gritei correndo até ao buraco que se abrira debaixo dela, a encontrando sentada sobre uma formação rochosa.

— Aqui.- falou olhando para cima.

— Bem, olhem pelo lado positivo...acabámos de encontrar uma passagem.- NCA falou rolando os olhos indo ate onde Lucy estava. Descemos a passagem que Lucy encontrara por acidente.

— No fim, vocês estavam certas.- Ed falou e eu assenti. Parámos quando o NCA falou para descansarmos um pouco, achámos alguns galhos secos e fizemos uma fogueira. Me deitei perto de Lucia e prendi a respiração ao ver o céu estrelado, completamente lindo.

— Lindo não é?- Lucy perguntou.

— Perfeito, poderia passar anos assim.- ela riu.- Lu...porque acha que eu vi o Aslam?

— Acho que você o viu porque queria ver. Quer dizer você está aqui, sem surtar por estar longe de casa num mundo mágico.- comentou mantendo-se atenta no céu.

— É esse o problema Lu...é como se eu já tivesse vindo aqui antes.- ela me encarou surpresa.

— Como assim?

— Quando eu era pequena...tive um sonho estranho, um lugar onde as árvores dançavam e os animais falavam, um reino belo e maravilhoso, até que o gelo chegou e com ele um mulher branca com olhos assustadoramente negros, um leão que falava me tirou do reino e me levou de volta a casa.- contei.

— Feiticeira branca.- ela arregalou os olhos e me encarou.- Você já esteve aqui antes Mary, assim como nós.

— Mas eu não me lembro de muita coisa, não me lembro de como vim. E sempre que tento lembrar, a minha cabeça dói.- sorri triste.

— Nós vamos descobrir a verdade Mary.- prometeu.- Boa noite.

— Boa noite Lucy.- sorri um pouco melhor.

….

Acordei horas depois e não encontrei Lucy perto de mim, me levantei alerta e com cuidado para que não acordasse os meus primos e o anão.

— Aslam?- ouvi a voz de Lucy e fui até ela, perto dela estava um...aquilo era um minotauro?

Cobri a sua boca e nos escondi atrás de uma pedra, levei um dedo aos lábios para ela fazer silêncio, peguei na espada e me coloquei em posição de defesa, era como se eu já tivesse manejado uma espada. Logo outra espada encontrou a minha e eu me assustei, dando um passo para trás e agarrando melhor a espada, era um rapaz, com cabelo até ao pescoço, moreno e olhos escuros, ele era incrivelmente belo. Ele estava de armadura e quando vi um tigre, outro anão, um centauro e faunos aparecerem, percebi que eles eram os narnianos sobreviventes e que muito provavelmente o garoto era o príncipe Caspian.

— Pare!- Lucy falou e os meus primos e o anão apareceram. Senti duas mãos fortes me puxarem e logo Pedro tomara meu lugar, lutando contra Caspian.

— Não!- falei firme tentando chegar até eles, mas Ed me segurara.- Parem!

— PEDRO!- Su gritou e eles pararam. Caspian encarou a espada nas suas mãos e Pedro largara a pedra que apanhara no chão.

— Príncipe Caspian?- Pedro falou confuso.

— Grande Rei Pedro?- Pedro assentiu.

— Acredito que nos chamou.

— Sim, mas...achei que seriam...ahm...mais velhos.- falou franzindo a testa confuso.

— Se quiser, podemos voltar daqui alguns anos.- Pedro falou irónico.

— Não! Está...tudo bem, é que...não era o que eu estava esperando. Nenhum de vocês, para falar a verdade.- encarou Su e depois me encarou com curiosidade, sorri.

— Você pode me soltar agora, Edmundo.- sibilei e Ed se engasgou.

— Desculpe.- tirou as mãos rapidamente como se temesse apanhar uma surra.

— E com todo o respeito, vocês também não são o que esperávamos.- Pedro riu.

— Um inimigo em comum pode unir até os adversários mais antigos.- um ratinho com uma pena vermelha na cabeça falou fazendo uma leve mesura na frente de Pedro.- Nossos corações e espadas estão ao vosso serviço.

— Ai meu Deus que gracinha...- Lucy cochichou para mim, sorri concordando.

— Quem falou tal coisa?- o ratinho falou alerta.

— Desculpe.- Lucy falou cruzando as mãos.

— Vossa majestade, com todo o respeito, acho que, corajoso, cortês e cavalheiro se encaixe melhor num cavaleiro de Nárnia.- o ratinho disse guardando a sua espada.

— Bem, pelo menos alguns de vocês sabem usar uma espada.- Pedro debochou e Caspian fez uma careta.

— E eu usei dessa habilidade para garantir armas para o seu exército, meu senhor.- o ratinho falou.

— Ótimo. Porque vamos precisar de todas as armas que pudermos.- Pedro falara.

— Bem, talvez então queira a sua de volta.- Caspian falou um tanto irónico e eu contive um riso.

— Obrigado.- agradeceu e o olhar de Caspian caíra em mim, mas ao que parece não foi o único.

— Rainha Mary?- um centauro, muito familiar para mim me chamou e todos me olharam.

— Sim. Você me é familiar.- falei e o centauro fez uma reverência.- Sinto muito, mas eu não me lembro de muita coisa.

— A primeira filha de Eva a reinar Nárnia, Aslam tirou a rainha quando a feiticeira branca surgiu e transformou muitos em gelo. Você é a Rainha Mary, a Guerreira, a primeira rainha de Nárnia.- então todos os animais fizeram uma vénia longa.

— Que ela reine por muito tempo.- todos os narnianos falaram.

— Eu me lembro que a feiticeira Branca queria me matar.- falei confusa.

— A senhora poderia matar a feiticeira, sendo uma filha de Eva. Aslam salvou você porque foi escrito que quatro irmãos derrotariam a feiticeira.- o centauro continuou. Assenti ainda confusa.

— Agora que estamos aqui, porque não nos leva até ao resto dos narnianos?- Edmundo perguntou mudando de assunto.