Sea You

Realmente, não precisava mais de resgate algum


Annabeth Chase não tinha um plano, e isso era uma novidade até para a própria. Devia se sentir incapaz e insegura, mas a curiosidade para saber do futuro incerto e misterioso a motivaram a continuar. Ela pediu ajuda de Merion, que ajudou a princesa de bom grado. Elas saíram sorrateiras até a cozinha, indo para a despensa e saindo pela porta de reabastecimento de alimentos, onde a antiga Annabeth nem sonharia que colocaria seus lindos pés.

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O lugar, segundo Merion, nunca era devidamente vigiado pelos guardas noturnos, que resumiam suas noites em rondas pela sala do trono e corredores reais, ainda mais agora que o rei e a rainha não estavam no palácio e a maioria da guarda real acompanhou a realeza em sua viagem.

Com nada mais que a roupa do corpo e adaga embainhada, a loira saiu noite a fora, com a voz de sua criada a guiando em sua mente, se perguntava por que não havia feito isso antes. Ela corria pelo gramado, seu vestido escuro e curto se camuflando na grama engrumecida pela lua nova, o sentimento de liberdade invadindo seus pulmões tão rápido quanto o ar que puxava quase que desesperadamente, já cansada da corrida.

Ela olhou para atrás, pensando no povo que abandonaria, nos rostos que observou pela carruagem no primeiro dia em que voltou. O peso em seu coração estava ali, mas junto com ele, o plano de encontrar Percy e pedir pelo menos uma parte do dinheiro de volta. Ela não podia simplesmente esquecer da necessidade de seu reino. Se fosse fazer o que queria, que era fugir, que pelo menos fugisse com dignidade.

Voltou o olhar novamente para os limites do palácio, para a pequena e quase inexistente porta dos currais. A suja e feia porta que a levaria finalmente de volta para onde não parava de sonhar, desde que voltou. Ela saiu. O sorriso incrédulo com os próprios atos, ela não conseguia parar de correr, não conseguia parar de puxar o ar com força e não parava de imaginar o rosto inexpressivo de sua mãe quando lhe contassem de sua fuga.

Pela primeira vez na vida, Annabeth Chase não estava nem aí para ninguém além dela mesma. Sem duques e duquesas para impressionar, sem espartilhos e saltos para lhe conter. Ela era ela, pura e concreta, correndo pela vilelas nortenhas até encarar a luz fraca ligada na janela de uma casa estreita e lembrou-se das palavras de Merion.

Ela tinha uma sobrinha que morava no subúrbio, se lembrava bem, seu nome era algo como Zarina, Zara... ZOE, era Zoe seu nome. Merion disse que era a única casa que não desligava as lamparinas durante a noite, e a loira não perguntou o motivo. Sua criada lhe assegurou que Zoe não se importaria de oferecer abrigo e ajuda para sair do continente.

A loira se aproximou da porta, vendo a mesma entreaberta e empurrando-a.

— Zoe? — A princesa foi adentrando a casa cuidadosamente, desembainhando a adaga devagar, sem fazer barulho. Quando ela entrou pela sala, algo pulou sob a porta, atrás dela, fechando a mesma e deixando tudo num breu.

Ela sentiu algo cobrindo sua cabeça, suas mãos sendo amarradas agilmente e seu corpo sendo empurrado para uma cadeira. Depois de imobilizada, a pessoa tirou o capuz da cabeça da princesa, deixando ela observar a porta que já estava mais uma vez aberta e seus olhos acostumando-se com a escuridão, enxergando uma mulher de pele morena, como Merion, e cabelos trançados.

— Quem é você? — A loira, ainda com adaga em mãos, começou a desfazer as amarras com cautela.

— Como não sabe quem eu sou, Merion disse que estaria disposta a ajudar, não que fosse me prender.

As duas começaram uma discussão sobre a princesa ter entrado na casa de Zoe de soslaio, e sobre Zoe prender a princesa em uma cadeira. Thalia, que estava no segundo andar da casa, acordou incomodada com os barulhos, e foi até a escada, observando a loirinha já sem amarras e armada, preparada para atacar.

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Ela reconheceu a arma, uma adaga com safiras azuis e lascados, a mesma arma que deu a Annabeth no navio.

— Ei você! — A voz das duas se cessou quando Thalia se pronunciou, descendo as escadas rapidamente, com a pessoa sentada ainda de costas para ela. — Onde conseguiu essa adaga?

Annabeth soltou a adaga no chão e levantou da cadeira, impressionando Zoe, por não estar mais presa, e impressionando Thalia, pelo rosto familiar que portava. A pirata soltou um suspiro em surpresa e alívio, abraçando a loirinha com força, colocando toda saudade, irmandade e orgulho naquele ato.

— Eu... Eu vim para o Norte te resgatar! — Elas continuavam abraçadas.

— Acho que não preciso mais de alguém que me resgate. — Elas se separaram. — Consigo fazer isso sozinha agora.

Zoe fechou as portas da casa, evitando demais surpresas e levou as duas para o andar de cima, para o segundo quarto de hospedes, que Annabeth ficaria instalada. A princesa sentou na cama, observando Zoe e Thalia sentarem também, esperando-a contar tudo que havia passado no castelo, e ela contou.

Contou da frieza de sua mãe, da chateação de seu pai, das perguntas intermináveis de Hermes e da crise que levava seu povo ao fundo do poço.

— Fugi porque não suportava mais aquelas paredes, mas ainda sim me importo com essas pessoas, elas não merecem pagar pelos erros da minha família com sua família, Thalia. — A voz da loirinha era baixa. — Não tem como devolvermos o dinheiro furtado, ou até mesmo alguma parte dele?

Thalia sorriu. Annabeth Chase era realmente uma pessoa melhor e diferente, desde que Percy colocou uma adaga em seu pescoço e a própria pirata a chamara de burra por enfrentar os dois maiores piratas do Sul, no calabouço nortenho. Mas ela não estava sendo nem um pouco burra, aquilo era só os vestígios da coragem que a loira sempre teve, mas não tinha chance de praticar graças aos muros do palácio.

Thalia sorriu pelo acompanhando na evolução de uma mulher poderosa e determinada, que vestia pele de ratinha e princesa mimada. Mas que agora, era algo nada menos que palpável, maciça e forte.

Realmente, não precisava mais de resgate algum.