Em uma daquelas tardes de outono onde éramos apenas eu e Bach, o passado me veio à cabeça.

Naquele passado, eu tinha onze anos e morava em outra cidade. Era movimentada: os sons constantemente mudavam, além de se conflitarem com mais frequência. Eu morava no alto. Nono andar. De minha varanda, eu ouvia distante a música das grandes obras, das buzinas e das sirenes, além de outros sons incomuns, como batidas.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Eu ainda estudava, então meu tempo se dividia entre a escola e a varanda do apartamento.

Dentre meus colegas de classe naquela cidade, apenas dois falavam comigo, já que os outros cochichavam coisas sobre terem medo ou pena de mim e isso era o suficiente para me evitarem. Um era Zayn, um garoto muçulmano que apesar de gentil e carinhoso, era deixado de lado. A outra era Martha, uma menina que tinha problemas de interagir com outras pessoas, porém confiava em mim e em Zayn.

Éramos o grupo-que-ninguém-se-importa.

Passávamos o tempo inteiro juntos, mas em algum momento no meio do ano, precisei sarpar. Foi quando meus pais se mudaram para onde moro hoje.

Nunca me despedi deles. Nunca os encontrei depois.

Aquela lembrança súbita me fez querer vê-los novamente.