No compasso do receio

Quando você voltar


Você desapareceu por uma semana. Dormiu a meu lado. Acordei sozinho. Minha vida não parou por um só minuto. Se eu queria ser médico, precisava estudar. Mas, à noite, ficava esperando alguém me trazer café. Nunca foi tão doloroso fitar a cafeteira.

Tão súbito quanto fora embora, você reapareceu. O triunfo brilhava em seus olhos, mas era um brilho gélido. Eu não queria brigar. Não queria brigar. Nós brigamos. Palavras mordazes escapavam de meus lábios. Mas as suas eram mais, porque seu vocabulário sempre foi melhor. Seus olhos dardejaram escarlates quando disse que não precisava de mim.

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E eu quis que você calasse a boca.

**

Você estava me beijando. Depois de todo aquele tempo, o beijo era a sua atitude menos consentânea. Uma parte de mim quis matá-lo. A outra quis fugir. Um paradoxo que não se encaixava na minha personalidade.

Quando você se afastou, eu suspirei. E a parte que queria matá-lo passou a querer matar a mim mesmo. Mas acho que ela matou a parte que queria fugir. Porque eu fiquei parado te olhando. Você e suas idiotices. Você e sua eterna capacidade de me excruciar... Meus olhos brilhavam, rubros. Você disse que me amava.

Eu não respondi.