Capitulo 16: Plúmbeo

O céu estava plúmbeo naquela manhã, mas o animo de Jéssica destoava completamente. Havia encontrado um lugar onde passar a noite e onde conseguia roupas novas. Seus cabelos já começavam a crescer novamente e era hora de se reestabelecer como pessoa.

O cinema não ficava muito longe e placa ainda estava lá. Ela fora muito cativante e certeira em suas respostas e o inglês, aprendido à força da convivência não parecia um problema, mas quando chegou na parte de dar seu endereço eles não pareceram gostar muito. Sim, ela morava em um abrigo de desabrigados, mas havia um grande preconceito, ninguém lá era bêbado e menos ainda drogado, afinal as duas coisas eram proibidas nesses abrigos.

Eles a encararam com pena quando ela disse aquilo.

— Sinto muito, mas você não é o que procuramos.

— Eu posso fazer o serviço — ela comentou com um sorriso cansado — Eu trabalhei como vendedora por muito tempo.

— O problema é que temos pessoas mais qualificadas — ela sabia que era mentira — Qualquer coisa, entramos em contato.

Ela não discutiu. Conhecia aquela desculpa, havia ouvido várias vezes quando tentava trabalhar no clube. Então saiu para a rua com a alma tão plúmbea como o céu.