Monster

Encanto


Antes eu fui um cara comum. Desenhei, escrevi. Trabalhei. Perdi o emprego. Terminei namoros. Refleti sobre minhas frustrações na terapia. Diverti-me com amigos e desconhecidos. Beijei mulheres e homens. Cantei em karaokê. Aprendi a nadar e a andar de skate. Consegui outro emprego.

Vivi, existi, senti e até me tornei um homem. Até que os horizontes se abriram bruscamente e pude conhecer o que de mais vil há na terra.

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Deitado no quarto, sozinho (ou aparentemente sozinho) eu refletia e revia um filme em minha cabeça.

As banalidades importantes da vida. Eu dei valor, mas eu perdi. Me agarro a cada pedaço de história para não sucumbir. Lembro que ele não tem história. Lembro que ele suga o que falta nele. Por mais que ele roube tudo de mim, as minhas histórias serão sempre minhas. Só eu vivi cada segundo, respirei cada ar, senti cada momento, falei, ouvi, toquei, abracei. Cada segundo que tento guardar. Cada sonho que tento transformar em palavras e escrever até a mão doer. Cada som que tento transformar em música. A dor da verdade. Isso ele nunca terá.

Eu vivi como sob encanto. Me tornei arrefecido. Outro homem ferido com cicatrizes de perda e culpa.