O apartamento que está dividindo com Maíra não é como sua antiga casa. Não tem sala de estar, as paredes são cinzentas, os moveis velhos e desbotados. Comparar ambas as coisas é como comparar uma moeda de um centavo com um besante, Lavínia sabe.

Ainda assim, ela gosta daqui.

Se focar apenas nisso, no apartamento, quase, quase, pode não pensar nas últimas palavras da irmã.

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Não pode ignorar, entretanto, o toque do celular.

Muito menos o número na tela.

O estômago de Lavínia embrulha.

Ainda assim, sabe-se lá porque, ela atende.

— Alô, filho?

É a primeira vez que ouve a voz da sua mãe em seis meses.

— Você está aí?

Por que é que a sua mãe ligou?

— Eu estou preocupada, filho. Muito.

Preocupada?

— Talvez se a gente conversasse...

“Eu quero conversar”, Lavínia quer dizer.

Não consegue.

— Você não precisa seguir por esse caminho...

“Esse caminho”? É assim que sua mãe chama?

— Pode ser perigoso para você... O que os outros podem pensar?

Ela sente o sangue gelar.

“O que os outros podem pensar?”.

“O que os outros podem pensar?”.

Depois de tanto tempo, é com isso que ela está preocupada?

Com os outros?

Lavínia desliga o telefone.