O Jogo do Poder

O Caos é uma Escada


Admirou a visão à sua frente. O salão estava escuro, frio devido a pouca luz que adentrava a janela, possuindo um aspecto que arrepiava o pelo em seu corpo. Assemelhava-se ao tom cinza. O brasão posto em lança na Sala do Trono era de Aegon, o Conquistador, e o veado coroado dançando com o leão dourado estava caído sobre o mármore cinzento.

É tudo o que me restou, pensou, acariciando a sua barbicha pontuda. Sou o rei das cinzas, causei o caos em Westeros, a guerra dos Cinco Reis. Fiz com que Lorde Hoster Tully, Eddard Stark e seus malditos homens, com o sangue tão gelado quanto à neve, pagassem pelos meus anos de humilhação. E o que me restou? Cinzas.

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Pisoteou o pó, olhando para o magnífico Trono de Ferro, que se encontrava destruído. Milhares de espadas desfeitas e devastadas. Assim como estou.

Não entendia o motivo daquele sentimento que lhe queimava o peito e o choro que lhe chegava repentinamente à garganta. Aquela reação seria esperada de Petyr, não de Mindinho, que proporcionou a destruição aos grandes homens.

O homem, Mindinho, conseguiu o que tanto desejava. Conquistou a sua vingança. A sua sede pelo poder foi saciada como um senhor que encontra um rio em meio ao deserto escaldante. Mas o menino, o jovem sonhador de Correrrio que levou uma cicatriz do aço brilhante de Brandon Stark, perdeu tudo o que um dia amou.

Embora tenha lutado ferozmente contra Ned Stark e o descartado quando não era mais uma peça tão importante para o seu tabuleiro, ele havia ganhado. Eddard tivera Catelyn em sua cama, com os seus brilhantes olhos azuis, apresentando-se com sorrisos meigos e bochechas coradas. Possuiu o prazer de seu calor. Construíram um amor tão forte quanto às muralhas de Winterfell.

Enganara-se durante muito tempo de que aquele castelo sombrio e gelado não a fazia feliz para que se sentisse um pouco melhor na situação em que se via, entretanto, estava enganado. Nunca em sua vida Cat fora tão contente como quando esteve ao redor dos braços de um nortenho, amando-o, beijando a sua pele fria.

Sofreu com a sua ambição, que lhe consumiu desde o dia em que sua carta à Catelyn havia sido queimada pelas chamas de uma lareira faminta. Afundou-se em desgraça. E o que lhe restou? Nada.

Eddard Stark constituiu uma família, com filhos para abraça-lo e chama-lo de senhor meu pai. Cat o esperava noite após noite para ama-lo, e velou pela sua morte durante um ano. Não se casou desde que soube da tragédia em Porto Real. Uma parte dela morreu com o marido. Imaginava o quanto Catelyn chorara ao saber que a cabeça do homem que amou estava cortada, esbanjada nos portões da Fortaleza Vermelha, para que os inimigos se lembrassem de quem eram os Lannister que arruinaram aos Reyne de Castamere.

E para mim, o que restou além de cinzas?

Permitiu que sua amada fosse morta, observando o seu primogênito sendo traído pelos Frey em um massacre sangrento denominado de Casamento Vermelho. E o que fizera? Nada. Não moveu um único dedo mindinho por alguém que outrora fora o seu mundo azul, com risadas tão doces quanto o mel. Lágrimas escorreram de seus olhos, lacrimejando-os. Catelyn buscou ar em seus pulmões, mas desistiu de lutar ao sentir sangue sob suas unhas. Louca. Ela estava louca. Um grito escapou de seus lábios. Qual era o sentido da vida quando tudo o que amava havia desaparecido? Entendi-a perfeitamente.

No final, o homem que queria ter tudo, acabou não tendo nada.

E eu sou esse homem, refletiu miseravelmente, percebendo o quão sozinho estava naquele grande salão. O caos é uma escada, e eu subi os seus degraus, lento, deixando pingos de sangue sobre cada um desses mármores brancos. Agora, quando meu trabalho enfim terminou, nada me restou além de uma pilha de ossos quebrados em minhas lembranças.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.