Efeito Borboleta

Desentendimento.


Vou em direção a um dos armários que a na garagem e encontro o notebook de Haymitch, mas para vasculhar seus arquivos é necessária uma senha da qual não possuo. Até arrisco algumas palavras ou números, mas infelizmente nada funciona e sou obrigado a vasculhar por entre as diversas coisas presentes naquele local. Já estava quase desistindo da tarefa de encontrar a maldita senha, quando me dou conta de que a porta do carro quebrado de Haymitch está aberta. Entro no carro e remecho em alguns papeis que estavam sobre o banco, novamente não encontrando nada. Solto um suspiro frustrado e bato minhas mãos no volante, fazendo com que o porta-luvas se abra, revelando alguns CDs e umas fotografias. Retiro os mesmo de dentro do porta-luvas e franzo o cenho, rindo logo em seguida ao analisar os CDs. Haymitch até poderia ser um paranoico idiota, mas eu tinha que admitir, ele tinha um ótimo gosto musical. Ainda rindo, deixo os CDs de lado e passo analisar as fotos, encontrando uma onde estava Clara e ele debaixo de uma árvore, abraçados e sorrindo. Giro a foto em minhas mãos e em seu verso encontro uma data, juntamente com as palavras “Vamos nos casar”. Aquela data tinha que ser a senha, pelo menos eu estava rezando para que fosse. Sem perder tempo, digitei os números no local pedido e em um piscar de olhos a tela desbloqueou.

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Isso! Peeta Hacker ataca novamente!

Abro a pasta com os arquivos de Haymitch e a primeira coisa que encontro é uma foto de Johanna e Marvel se beijando. Aquilo me pegou completamente de surpresa e foi impossível não arregalar meus olhos ao analisar, não somente aquela foto, como também às varias outras dos dois juntos. A Johanna definitivamente estava saindo com o Marvel. Mas por que o Haymitch se importaria com isso? Balanço a cabeça para dissipar as perguntas que já começavam a surgir em minha mente. Eu estava sem tempo e era melhor deixá-las para depois. Abro mais alguns arquivos e vejo mais fotos de Madge, inclusive algumas minhas também. Ele estava me vigiando?

Mas que desgraçado bizarro!

Solto um suspiro pesado enquanto massageio a minha têmpora, pensando em como eu iria contar sobre as fotos da Johanna com Marvel para a Katniss, porque mesmo sabendo que aquela seria só mais uma das infinitas coisas que a deixaria triste e indignada, eu tinha que contar.

Volto para a sala de jantar em passos apresados e encontro Katniss sentada desleixadamente na cadeira. Quando seus olhos se encontram com os meus, ela me questiona silenciosamente se encontrei algo e apenas afirmo com um breve aceno, me aproximando dela para lhe contar o que vi. Mas antes que eu possa ter a chance de abrir a boca, Haymitch surge a nossa frente com a sua costumeira postura intimidadora.

— Belo café da manhã. — fala ironicamente, intercalando o olhar entre mim e Katniss.

— Haymitch, já está de volta? — indaga Clara, surpresa, ao adentrar a sala de jantar com um prato de panquecas.

— Tenho que tirar uma soneca depois de escrever relatórios de vandalismo ontem à noite. — responde mal humorado.

— O que aconteceu? — pergunta cruzando os braços após depositar o prato com as panquecas sobre a mesa.

— Alguns vândalos ridículos invadiram a piscina. Isso é o que acontece nessas escolas ridículas politicamente corretas. Alunos mimados tomando o campos! — pragueja.

— Você tem certeza de que foram alunos da Blackwell? — indaga ao se aproximar de Haymitch, enquanto Katniss e eu permanecemos calados.

— Quem mais faria isso? E pode ter certeza que eu vou pegá-los. — ele se afasta de Clara e repousa as mãos sobre a mesa, encarando-me com deboche — Faz sentido você estar aqui. Essa é a sua fantasia baseada em Johanna Mason para o dia das bruxas? — questiona com um sorriso presunçoso e sinto a raiva subir por meu corpo.

— Me diga você, já que sabe mais sobre ela do que eu! — rebato e seu sorriso prontamente some.

— Não, você e a Katniss acham que sabem mais do que todos. Como todos os adolescentes. — ele volta para a sua postura de durão enquanto aproxima-se de mim.

— Deixe o Peeta em paz, Haymitch. Pare de ameaçar as pessoas. — ralha Clara, puxando-o pelo braço.

— Ele os ameaça com câmeras de vigilância. Assim ele pode espionar todo mundo... — começa Katniss se pondo de pé — Assim como espiona todos nós aqui. — completa cruzando os braços.

— Não comece, Katniss. Agora não. — Haymitch fala entre dentes.

— É, eu estou sempre causando problemas, não é? Você é um completo paranoico, Haymitch. — ela o encara de forma desafiadora.

— Agora. Não. Katniss. — fala pausadamente, fechando as mãos em punhos.

— Você costumava me chamar de otária... Então, quem é a otária agora, Haymitch? Quem você não acusou ou ameaçou? — a morena questiona sem se sentir intimidada pelo olhar ameaçador que o ex-militar a está lançando — Entre as investigações da Johanna e da Madge, o que você fez além de se meter em furada?

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— Você se acha o todo poderoso, Haymitch. — falo, dando continuidade as palavras de Katniss — Eu vi você incomodar a Mad quando ela estava passando por um inferno! Você poderia muito bem tê-la ajudado! — profiro com raiva — Todos da Blackwell são suspeitos para você, exceto o Gale Hawthorne... É por isso que os alunos e o corpo docente não gostam de você. Você até me ameaçou! — solto indignado — Eu respeito o seu serviço, mas você não respeita ninguém. — completo.

— Eu só estava fazendo o meu trabalho! — ele se exalta.

— E isso incluía espionar pessoas da sua família e da Blackwell?! — rebato, sentindo meu peito inflar devido à raiva — Por que você tem fotografias da Madge e da Johanna nos seus arquivos, afinal de contas?

— O quê? Isso é verdade, Peeta? — pergunta Clara e eu assinto. Seus olhos se voltam rapidamente para Haymitch — Bom, então nos diga Haymitch, por que você tem todos esses arquivos? Porque eu acho isso muito perturbador.

— Eu não tenho que passar por esse tipo de interrogatório! — ele bate a mão na mesa, furioso.

— Acho melhor você se acalmar! — Clara intervém.

— Ah! Agora está se virando contra mim? — questiona incrédulo, mas logo em seguida solta uma risada cheia de sarcasmo — É claro que você ficaria ao lado desses pirralhos, não é mesmo? Quer saber, Clara? Vá se ferrar! — vocifera e tenho que segurar Katniss para que ela não voe no pescoço dele.

— Haymitch! — exclama surpresa com as palavras do mesmo — Sabe de uma coisa? É melhor você ir para um hotel até resolvermos isso! — as palavras de Clara saem duras e frias.

— Você não pode me expulsar da minha própria casa! — protesta indignado.

— A casa é minha, Haymitch! Paguei por ela e está no meu nome. Você conhece a lei, não é? — eu até teria rido com a cara que ele fez ao ouvir tais palavras saírem da boca de Clara, mas a situação estava tensa demais para isso.

— Achei que sabia de varias coisas... tipo quando passam a perna em mim. — fala com amargura antes de começar a se afastar.

— Tenha um bom dia. — Katniss solta com deboche enquanto acena freneticamente para ele, que sai porta a fora sem olhar para trás.

— Katniss, pelo menos uma vez... Apenas cale a boca. — Clara pede em um suspiro, parecendo cansada, e então volta para a cozinha.

Eu me sentia aliviado por uma parte, mas um pouco culpado pela outra. Era visível o quanto Clara gostava do Haymitch e vice e versa, mas ele havia ultrapasso os limites e eu não podia me culpar por ter dito a verdade.

— Essa foi de arrepiar. Obrigada por ter me ajudado, Peeta. — Katniss sorri.

— Amigo é para essas coisas. — retribuo o seu sorriso e ela me arrasta pela mão até a sua caminhonete, dando partida logo em seguida pelas ruas de Arcadia. Os primeiros minutos de viagem são silenciosos, mas enfim tomo coragem para lhe contar sobre o que vi na garagem.

— Escute só, Katniss... quando mexi no notebook do Haymitch, acabei encontrando imagens da Johanna e do Marvel sendo mais que... Ahn... Bem... — hesito um pouco antes de prosseguir — Sendo mais que amigos. — completo em um sussurro, alto o suficiente para que ela ouça.

— Ah, claro. Até parece, Peeta. — ela ri alto — Ela só estava posando para provocar o Marvel.

— Se não vai acreditar em mim, que tal olhar o que o Marvel tem no trailer? — proponho ao cruzar os braços. Eu me sentia um tanto quanto indignado por ela não acreditar em mim.

— O que isso vai provar? — indaga, olhando-me pela visão periférica.

— Katniss, o Marvel está com a pulseira da Johanna, o que já é bem estranho. — respondo como se fosse obvio — O que mais você acha que ele tem lá?

— É melhor aquele filho da puta não ter nada, para o bem dele. — pragueja, e então entra no estacionamento dos Winchesters, estacionando a caminhonete logo em seguida — Vamos ver a porta do trailer primeiro, porque às vezes ele fica tão doido que se esquece de trancá-la. — assinto antes de sairmos do carro, seguindo em passos apreçados até o trailer do Marvel.

— Ainda não consigo acreditar que você saia com ele. — falo torcendo os lábios em uma careta e ela revira os olhos, repousando a mão sobre a maçaneta logo em seguida.

— Certo, agora temos que ser ninjas oportunos aqui... — ela tenta abrir a porta, mas sua tentativa se torna falha — Droga! — pragueja — Beleza, eis o plano: vou ao restaurante distrair o Marvel dizendo que estou com o dinheiro, mas que ele precisa sair comigo e... Ahn... E... — ela franze o cenho em busca de mais palavras e eu rio.

— Katniss, eu cuido disso, ok? Fique aqui que eu já volto. — aviso enquanto me afasto.

— Certo, só não deixe o meu plano épico atrapalhar o seu! — brinca, arrancando-me uma gargalhada.

Ok, Peeta, agora você só precisa de uma maneira rápida e fácil de pegar as chaves do Marvel.

Respiro fundo e entro no restaurante Winchester, encontrando o mesmo sentado mais ao fundo enquanto toma seu café da manhã. Aproximo-me dele e pigarreio para chamar a sua atenção.

— Você é muito corajoso, garotinho... — fala ao erguer os olhos para me encarar — Mas sair com a Katniss, brincar com armas e vestir camisetas com o estilo da Johanna não faz de você legal, muito menos durão. — ele faz uma careta — O que você quer? Tire uma fotografia minha e eu vou quebrar a porra da sua câmera.

— Não vim tirar uma foto sua... e como você sabe que essa camisa é do estilo da Johanna? — questiono ao cruzar os braços.

— Porque ela fica bonita com estampa de caveira, já você fica uma desgraça. — ri debochado, mas então ele apoia os braços sobre a mesa e me encara de maneira séria — Você tem sorte de eu ter tomado aquela arma d...

— O Haymitch está procurando aquela arma, sabia? — o interrompo e ele eleva uma sobrancelha — Ele pode aparecer no seu trailer.

— Estou tremendo. — ironiza — Eu não preciso daquela velharia dele. Agora vá procurar o que fazer e me deixe em paz. — ele volta a dar atenção ao seu prato enquanto eu resmungo baixinho.

Vamos, Peeta, pense em algo!

E como um sinal do universo, avisto suas chaves prestes a caírem de seu bolso. Então sem querer querendo, derramo a xícara de café sobre suas pernas, fazendo o mesmo levantar-se rapidamente, e com seu movimento brusco as chaves vão de encontro ao chão.

— Olha o que você fez seu moleque! — pragueja irritado — Só não quebro a sua cara agora porque essa porra está me queimando! — ele me empurra e sai às pressas em direção ao banheiro. Isso! Pego as chaves rapidamente e guardo-as no bolso.

Sorrio vitorioso enquanto sigo em passos rápidos para fora do restaurante. Não seria nada bom estar ali quando Marvel saísse do banheiro. Volto para a porta do trailer e vejo Katniss apoiada no mesmo, enquanto cantarola alguma música desconhecida por mim. Paro a sua frente e balanço as chaves no ar.

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— Eu já devia saber. O incrível “Peeta-Aranha”. — ela sorri, mas logo em seguida faz uma careta — Credo! Esse apelido não ficou bom.

— Não mesmo. — rio, entregando-lhe as chaves — Agora vamos entrar rápido e sair rápido.

— Ok. Mas você precisará disso. — me estende um osso, da qual aceito mesmo que confuso — Preparar, apontar... — ela põe a chave na fechadura e a destranca —... Agora! — abre a porta e um Boxer surge de dentro do trailer, vindo rapidamente em minha direção. Droga!

— Vá pegar, garotão! — jogo o osso nos fundos do restaurante e o Boxer sai correndo para pegá-lo.

— Acho que esse cachorro virou a nossa cadela... entendeu? — ela ri com a própria piada e eu balanço a cabeça negativamente.

— Você está horrível para piadas hoje, marrentinha... Mas agora pelo menos poderei xeretar em paz. Só não vamos perder tempo. — puxo-a pela mão e finalmente entramos no trailer de Marvel.

Estava tudo uma completa bagunça. Roupas espalhadas por todos os lados, a pia estava repleta de louça suja enquanto o ambiente exalava um forte cheiro de bebidas e drogas.

— Caramba! E eu achando que meu quarto era um lixo. — ela ri, desviando de algumas garrafas vazias que estavam sobre o piso.

— Você não é uma traficante bizarra. — digo, vasculhando todo o local com os olhos.

— O Marvel tem problemas, mas não é bizarro... Pelo menos era o que eu achava até vê-lo com a pulseira da Johanna. — ela senta-se ao volante e sorri — Uou, nós poderíamos viajar para qualquer lugar nessa belezinha! — fala animada antes de direcionar seus olhos para mim — Consegue nos ver indo para a costa de Big Sur e outros lugares?

— Claro! Pegaríamos uma boa estrada, e você provavelmente iria querer que eu te beijasse novamente... — lanço-lhe uma piscadela e ela gargalha alto — Certo, agora chega de brincadeira. Temos coisas a fazer, marrentinha. Precisamos de pistas sobre a Johanna.

— Eu sei. — suspira — Só estou sonhando acordada. — ela se levanta e vai até a pequena mesa, sentando-se de frente para o laptop de Marvel — Eu vou invadir o computador dele para conseguir algumas informações, enquanto você vasculha pelo resto do trailer, pode ser?

— Claro. Então, mãos a obra Sherlock. — elevo minha mão e fazemos um toque high-five. Logo em seguida começo a vasculhar por entre a bagunça espalhada nos armários de Marvel e acabo dando de cara com a arma de Haymitch.

Será que eu devo devolvê-la para a Katniss?

Paro alguns segundos para pensar, refletindo sobre as consequências que aquilo poderia trazer, e após tomar uma decisão não muito sensata, mas que achei ser a certa naquele momento, pego a arma e me dirijo para onde a morena se encontra.

— Tenho um presente horrível para você. — digo com as mãos atrás de meu corpo. Ela ergue o olhar e me encara com expectativa.

— Umas gramas de um verdinho? — nego antes de lhe estender a arma. Seus olhos rapidamente adquirem um brilho diferente — Ah! Você é demais, Peeta! Obrigada! — ela pega a arma com cuidado — Estou me sentindo muito melhor agora.

— É melhor você devolvê-la para o Haymitch, logo. — aconselho.

— Sim, claro, pode contar isso. — ela sorri, mas algo em seu sorriso me diz que ela não fará isso. Talvez eu tenha cometido uma loucura da qual posso me arrepender, mas não poderia deixar o Marvel machucar alguém.

Volto a vasculhar os armários, mas tudo o que encontro são enlatados e alguns saquinhos de drogas, por isso me dirijo até o quarto, que assim como o restante do trailer estava uma completa bagunça. Analiso mais algumas coisas em meio aquela desordem e acabo encontrando uma espécie de diário em baixo da cama. Ao abrir a primeira página encontro uma foto de Johanna com o Boxer, e logo em seguida um bilhete seu para Marvel.

Marvel, espero que leia isso assim que acordar. Sinto muito sobre ontem à noite. Eu estava sendo uma escrota monstruosa e descontei em você. E no coitado do Pompidou. Tem muita merda acontecendo na minha vida e às vezes acho que nunca vou sair de Arcadia Bay. Ainda bem que tenho você. Você é uma das melhores coisas que tenho aqui e sempre sorrio quando penso em nós juntos. Vamos dirigir para fora daqui. Amo você para sempre.

Beijos, Johanna.

A relação dos dois era muito mais séria do que eu imaginava, e me preocupava bastante a reação da Katniss quando descoubesse sobre aquilo. Toda aquela história só a faria sofrer ainda mais e, consequentemente, deixá-la muita mais quebrada.

Suspiro pesadamente enquanto folheio mais algumas páginas, encontrando mais fotos da morena de mechas vermelhas, agora na companhia Marvel, e também mais alguns bilhetes. Fecho o diário e vou até Katniss, repousando o mesmo sobre suas mãos. Os minutos seguintes se tornam silenciosos ao passo que sua expressão divertida e curiosa se transforma em uma séria e amargurada conforme ela vai analisando cada página e foto.

— Fico enjoada só de pensar que a Johanna posou assim para o Marvel... ou que escreveu cartas de amor para ele. — sua voz sai baixa, porém repleta de magoa — Não acredito que ela estava dando para o Marvel! A Joanna mentiu na minha cara, Peeta! Por que ela não me disse nada?! — questiona enraivecida enquanto seus olhos adquirem um tom avermelhado por conta das lágrimas.

— Porque ela sabia como você reagiria. — respondo calmamente, apertando levemente seu ombro para passar-lhe conforto.

— Então ela não era tão amiga assim, não é? Apenas outra pessoa que só fodeu comigo! — pragueja enquanto as lágrimas escorrem por suas bochechas — Por que todas as pessoas da minha vida me decepcionam? — sinto meu coração ser comprimido em meu peito ao ver a dor em seus olhos — Meu pai morreu, você sumiu por anos, minha mãe se prendeu ao merda do meu padrasto, agora descubro que a Johanna me traiu...

— Katniss, a Johanna está desaparecida. Ninguém traiu você. — argumento e ela levanta-se em um sobressalto, retirando minha mão de seu ombro com certa brutalidade.

— Mentira! Quem não traiu?! — explode — Quer saber? Que se fôda todo mundo! — ela passa por mim e sai às pressas do trailer.

— Katniss! — chamo, mas ela não dá ouvidos.

Sigo seus passos apressados e entramos em sua caminhonete, da qual ela faz questão de bater a porta com toda a sua força antes de dar partida pelas ruas de Arcadia em alta velocidade.

— Katniss, você não pode continuar culpando a mim e a todos por tudo que deu errado em sua vida. Não é justo. — falo angustiado.

— Tenho que culpar alguém ou a culpa será toda minha, então fôda-se! — rebate sem desviar o olhar da estrada.

— Então é culpa da Johanna também? — pergunto exasperado e seus olhos se voltam para os meus rapidamente.

— Cara, ela estava dando para o porco do Marvel! A vadia mentiu na minha cara, Peeta! — exclama enraivecida, com as lágrimas banhando suas bochechas. Ela estava quebrada mais uma vez e aquilo fez um nó se formar em minha garganta — Não posso mais confiar em ninguém. — murmura — Todos fingem se importar, quando na verdade não se importam. Até você!

Aquelas palavras me machucaram. Me machucaram para valer. Eu sabia que havia errado, mas ela não tinha o direito de dizer que eu não me importava, se tudo o que eu havia feito tinha sido por ela. Exclusivamente e estritamente por ela.

— É melhor você retirar o que disse, Katniss. Agora mesmo. Porque não é justo você falar isso se tudo o que eu tenho feito é por você! — exclamo nervoso e magoado.

— Eu posso até fazer isso, Peeta, mas você não entende... É como se eu estivesse sendo punida pelo universo. — solta com um ar sôfrego.

— Quem mais você quer culpar? — pergunto em um suspiro após alguns segundos de silêncio.

— A porra do meu pai, é claro! — responde, pegando-me de surpresa.

— Você culpa o Thomas? Sério? — questiono incrédulo.

— Sim, culpo. Isso mesmo. Ele escolheu sair por aquela porta e me deixar para sempre. — a magoa e o sofrimento se tornam cada vez mais presentes em seu tom de voz.

— Katniss, o seu pai não escolheu... “deixar” você. — murmuro abalado.

— Eu sei disso, Peeta. Mas até minha mãe se culpa... só porque queria uma carona do trabalho para casa. — sua voz falha por conta do choro — Às vezes até eu a culpo...

— Não, não culpa.

— Sim, Peeta, eu culpo. Sabe o que é esperar o seu pai voltar para casa quando você é uma criança e ele nunca aparecer? — um soluço escapa por seus lábios.

— Não, é claro que não. Mas eu estava com você naquele dia. Foi só um terrível acidente. — pontuo aflito, quase que me entregando as lágrimas também.

— Queria que isso fizesse eu me sentir melhor. — ela passa a mão direita pelas bochechas no intuito de secar suas lágrimas. Eu odiava vê-la tão quebrada daquele jeito.

— Você não quer ouvir isso, mas... você ainda está aqui. Viva. Comigo. E isso não é um acidente. — falo encarando-a fixamente, mas seus olhos permanecem vidrados na estrada.

— Tem razão. Não quero ouvir isso. — se limita a dizer.

— Katniss, não posso fazer isso sozinho. Preciso de você comigo. E a Johanna também precisa de você... — argumento, mas ela permanece em silêncio, ficando assim durante todo o percurso até a Blackwell.

Solto um suspiro frustrado e apoio minha cabeça na janela, pensando no quanto a vida é injusta por fazer pessoas boas sofrerem.